A Lista escrita por Autor


Capítulo 2
Maya


Notas iniciais do capítulo

Enjoy it ♥️



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Maya sempre se considerou uma boa garota, nunca perdeu tempo com bobagens nem se distraiu com homens bonitos, ela tinha vinte e um anos e nenhum plano pra cinco anos. Ela estava confusa, por vários fatores, mas também sentia-se esperançosa porque há uma ou duas semanas atrás ouviu rumores de que um novo fotógrafo estava se mudando para seu bairro e que traria um estúdio para o lugar. Seu pai riu quando ela contou a novidade “esses brancos ricos gostam de vir aqui e usar nossa arte” seu pai estava velho e não entendia a oportunidade de crescimento para Maya, ela poderia conseguir um emprego como assistente e aprender com ele ou ela, quem sabe apresentar suas próprias fotos.
O pai de Maya trabalhou muitos anos na empresa de ônibus da cidade até que um dia, há anos atrás, sofreu um acidente e pessoas morreram, seu pai sofria com sequelas emocionais e físicas, ele jamais se recuperou então Maya aprendeu como lidar com finanças e como sobreviver com o pouco que ganhava trabalhando em uma lanchonete no centro da cidade.
Ela amava seu pai, o homem tinha seus problemas mas a criou muito bem mesmo com as dificuldades que passaram, como a morte de sua mãe quando ela tinha quatorze anos, o acidente e tantos outros problemas ao decorrer dos anos. Seu pai suportou tudo com tanta dignidade, não o culpava por perder um pouco da sanidade, ela lutava para manter sua própria todos os dias.
Enquanto caminhava em direção ao trabalho ela se examinava entre os reflexos das vitrines, sua jaqueta jeans estava desbotada mas a aquecia junto com um moletom preto que mais se parecia com um vestido, não eram seu moletom ou jaqueta jeans, pertenciam a John mas ela gostava de andar por aí com uma parte dele, fingir que ele era dela de verdade mas ela não era boba, John Parker iria se casar e ela iria seguir em frente enquanto isso se aconchegava em suas roupas e sentia seu cheiro mesmo odiando cigarros.
Maya conheceu John alguns anos atrás, foi ele quem a levou a seu pai no dia do acidente e a ajudou com toda aquela burocracia, ela mal se lembra do que realmente aconteceu mas John esteve lá para ela durante todo tempo. No borrão de lembranças o rosto dele continuava presente e de alguma maneira ela acabou o levando para casa, depois disso não conseguiu esquecê-lo.
Mas John não era o centro de sua vida, ela estava se preparando para deixá-lo porque era o certo a fazer, só precisava de tempo e coragem pra acabar com aquilo.
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Ash ligou para sua chefe pedindo para chegar mais tarde, Miranda resmungou mas no fim autorizou porque Ash só chegava cedo para enrolar os pacientes até que sua chefe chegasse, sem a secretária lá a psicóloga teria que cumprir os horários e ela não gostava da ideia.
A mulher de cabelo azul e pele clara esperava ansiosamente pela garçonete, que também era a número seis da lista. Kim continuava mandando várias mensagens muito curiosa sobre o que Ash faria, ela não faria nada, apenas queria conversar com Maya e abrir seus olhos sobre o que John estava fazendo com elas.
Talvez ela deveria xingar Maya, exigir que ela se afastasse de John, ela era a número dois e a número um tinha chances de estar morta então John era dela mais do que as outras, mais do que Kate, ela ficou com ele quando ele resolveu se afundar em drogas no seu último ano do colégio e foi quem o incentivou a fazer o treinamento para entrar no departamento de polícia de Greenville. Eles tinham um acordo, de todos os homens e mulheres que passaram pela sua vida ela foi fiel a ele, ela fez tudo por ele, deu tudo de si para John.
John não merecia Maya, todos em Greenville sabiam que ela lutava por seu pai e deixou tudo por ele. O que ela viu em John?
“Bom dia Ash.” A voz de Maya assustou Ash, ela entendia o que John tinha visto em Maya, ela tinha pele caramelo, olhos negros, lábios avermelhadas, rosto fino com bochechas sobressalentes, alguns diziam que a garçonete foi aspirante a modelo antes de sua mãe falecer. “Tudo bem?”
“Café.” Murmurou Ash franzindo a testa. “Preciso de café Maya.”
Maya sorriu. “Claro.”
Kim. Ash digitou enquanto Maya enchia sua xícara de café.
Tem alguma foto da Abby?
Maya era mais alta que Abby mas Ash se perguntava se as duas tinham algumas semelhanças, além do tom da pele é claro.
Talvez Maya fosse uma substituição para Abby, afinal as duas eram doces e sorridentes, mas Abby tinha o cabelo alisado e Maya dreads, mas elas poderiam ter uma certa semelhança afinal...
Vá se fuder. Kim respondeu imediatamente. Abby era uma anã com rosto de boneca, Maya saiu de algum catálogo da Victoria Secret’s. Não faça isso.
Mesmo que Kim estivesse longe Ash acabou corando e encolhendo os ombros, sentindo vergonha se si mesma ela tomou um gole de café.
“Maya.” Chamou quando percebeu que a garçonete já estava indo em direção a outros clientes.
Maya se virou e levantou as sobrancelhas escuras e colocou a mão na cintura. Ash levantou-se se aproximando dela, talvez fosse o momento perfeito para tentar arrancar os dreads com os dentes.
“Ash?” Perguntou Maya confusa.
Não valia a pena machucar ela, o que estava prestes a dizer já faria estrago suficiente.
“A quanto tempo você e John estão juntos?” Perguntou Ash sem saber como iniciar aquela conversa estranha.
“Porque não cuida da sua vida Ash?” Perguntou Maya sorrindo, o sorriso não alcançava seus olhos que estavam estreitos e desconfiados.
“Três anos.” Respondeu Ash. “Sabia que você e a número três fazem aniversário na mesma semana? Ela e John estão juntos a muito mais tempo é claro.” Explicou sorrindo.
“Do que você está falando Ash?” Perguntou Maya engolindo seco.
“A Lista do John.” Respondeu cruzando os braços. “Você é a número seis.”
Maya riu.
“Seis de cinquenta.” Continuou Ash. “Ele vem aqui todos os dias não é? Quer perguntar a verdade para ele?”
“Vocês ficavam antes dele conhecer a Kate não é?” Maya debochou. “Não desiste Ash?”
Ash bufou e pegou seu celular abrindo a conversa com John que havia mandado uma mensagem na última noite. Ela mostrou para a garçonete que arregalou os olhos e imediatamente se encheram de lágrimas.
Talvez fosse demais mostrar uma mensagem de John dizendo eu te amo, era cruel mas necessário.
“É mentira.” Maya insistiu. Alguém chamou por ela a fazendo suspirar.
Ash sabia que estava atrapalhando a garçonete mas não podia se conter.
“Eu volto amanhã.” Disse guardando o celular, ela saiu rapidamente tentando ignorar o olhar de Maya. Ela parecia estar prestes a desabar e Ash não queria presenciar aquilo.
“Você é horrível.” Disse a garota loura que a esperava fora da lanchonete. “Amber ficaria orgulhosa.”
“Você soa como ela.” Resmungou Ash ajustando sua bolsa e voltando a caminhar, o escritório onde trabalhava ficava a dois quarteirões dali, ela poderia ir andando.
A loura a acompanhou rindo, seus cachos dourados estavam bagunçados, sua jaqueta de couro preta cobria sua blusa vermelha, suas botas faziam um barulho irritante por isso Ash usava tênis, odiava o som que as botas da loura fazia.
“Sentiu minha falta?” Perguntou ela sorrindo.
“Não.” Respondeu Ash imediatamente. “Estou atrasada.”
“Maya não merece isso.” A loura disse triste.
“Desde quando vocês duas são melhores amigas?” Ash perguntou irritada.
“Nenhuma mulher merece ser tratada assim Ash.”

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Maya serviu os clientes com um sorriso e fez seu melhor para ser gentil mas ela sentia como se suas botas pensassem cem quilos, toda vez em que ela ouviu o barulho do sino da porta da frente sentia seu coração batendo mais forte.
“Você conhece aquela garota de cabelo azul?” Perguntou um cliente, Maya piscou confusa, ela não conhecia o homem, ele não parecia ter mais de vinte e cinco anos, era louro, os braços com o cobertos por tatuagens, tinha um olho azul e outro castanho. Lindo, pensou ela.
“Ash?” Aquela vaca? Completou mentalmente. “Sim, ela mora num prédio em West Place. Você é novo por aqui?”
“Sim, sou Drew.” Ele sorriu. “Vocês são amigas?”
“Uh, não.” Ela encolheu os ombros. “Quer fazer seu pedido?”
“Na verdade eu só entrei porque vi ela aqui.” Ele sorriu sem jeito. “Mas ela saiu antes que eu tivesse chance de dizer alguma coisa e...” Ele se interrompeu quando percebeu o olhar perdido. “Quer saber, qual o prato do dia?”
Mas Maya estava olhando para a porta onde John Parker estava parado olhando para com um sorriso, ela engoliu seco sentindo as lágrimas molharem seu rosto. Ele sorria e fingia que não andava pela cidade quebrando corações, como ele teve coragem de abraçá-la prometer ficar ao seu lado nos momentos difíceis e dormir com outras, como ele teve coragem de se aproximar e deixá-la tão frágil?
Ela sentiu como se estivesse nua.
O sorriso de John sumiu quando ele percebeu que ela chorava mas ela não vacilou, não correu, não gritou por mais que esse fosse seu desejo. Ela deveria expulsá-lo dali, o expulsar de sua vida.
“Tudo bem?” Perguntou Drew confuso, ele se virou para ver um policial a olhando parecendo tão confuso quanto ele. “Moça?”
Maya piscou e tirou o avental branco que usava.
“Eu me demito!” Aquele não era seu sonho, ela estava cansada dali, passou cinco anos naquele lugar, enquanto seu pai estava no hospital, enquanto todos iam pra universidade, enquanto John pedia Kate em casamento.
Maya sempre foi forte, ela aguentou perder sua mãe, aguentou perder a chance de ir para a universidade, mas John a ajudou a ver seu pai perder o movimento das pernas e um pouco da sanidade e era ela a perder uma parte da sua naquele momento.
John caminhava em direção preocupado com o que ela estava fazendo mas ela não fraquejou, jogou o avental em cima da mesa de Drew e passou por John sem olhá-lo, ela voltaria depois e explicaria a Anna, sua chefe, o que a fez tomar aquela decisão.
No momento Maya só precisava pegar seu carro e fingir que nunca se apaixonou por John Parker.


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