Entre Páginas escrita por Raíssa Duarte


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Capítulo grandinho para compensar a demorinha ;)



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   Amanda estava atordoada. Á procura de palavras.

   O rosto de seu pai, no entanto, não vacilou em momento algum. Estava determinado. Porem não lúcido.

   Pois de modo nenhum Amanda poderia ou deveria ser reconhecida publicamente. Uma coisa era ter uma bastarda crescendo na cozinha, longe dos olhos alheios. Outra era ter uma bastarda andando pela rua, vestindo roupas finas, ostentando o sobrenome e a fortuna da família.

   Seu pai não fazia a menor ideia do que aquela decisão poderia acarretar. Ou estava fora de si.

   -Sua solução para me fazer ‘parar de saracotear’ por aí é me expor diante de todos? – Amanda ergueu o queixo, pronta para a discussão que sabia que iria começar. – O senhor prometeu que respeitaria minha decisão. Ou já se esqueceu?

   O semblante do homem endureceu.

   As crianças perceberam a atmosfera tensa. Os olhinhos iam da irmã para o pai.

   Regina puxou ambos pelos braços diminutos;

   -Para a sala de brinquedos, pequenos.

   A contra gosto, eles seguiram a ordem.

   Assim que os três deixaram o aposento, a discussão recomeçou;

   -Se você pensou mesmo que eu permitiria que passasse o resto de sua vida enclausurada naquele lugar... enganou-se.

   Amanda cruzou os braços, insatisfeita;

   -Então aí vamos nós de novo.

   -Aquele lugar é um antro de doenças e sujeira! Um pardieiro!

   -Então porque pessoas estão vivendo lá todos os dias?! – Perguntou.

   -Não distorça as coisas. É sobre você que estamos falando! Minha filha, trabalhando em uma pensão, trabalhando por trocados e exposta á todo tipo de gente naquele lugar. Não me obrigue á arrancar você de lá.

   -Então toda a liberdade de escolha que o senhor me ofereceu para partir com minha mãe não passava de palavras ao vento?

    As sobrancelhas vermelhas franziram-se, demonstrando seu descontentamento;

   -Achei que você acabaria por ver a razão.

   -Eu estou satisfeita com a minha vida. – Insistiu Amanda, lentamente, para que seu pai compreendesse cada sílaba. – Já me refiz. Não quero ficar trancada nesse palacete, vestida em tafetá, e tampouco quero andar pela rua sendo julgada por todos que me virem. Já pensou no que acontecerá com esta família se descobrirem?

   -Há muito tempo deixei de me importar com o que pensa a sociedade.

   -Então importe-se com o que eu sinto! – Apelou a moça.

   -Garota teimosa! — Esbravejou seu pai, passando a mão pelo cabelo ruivo. – Está me tirando o sono pensar em você e sua mãe ali.

   Amanda olhou para as pontas desgastadas de sua botina escura.

   Parecia que nunca se entenderia com o pai sobre aquele tema.

   Nenhum dos lados cederia.

   -Se está tão atormentado em pensar em mim e minha mãe no cortiço, então faça algo á respeito. - Murmurou.

   O olhar verde encontrou o seu, pensativo.

   -O senhor ainda tem alguma influência, não tem? – Perguntou. – Pense também em todas as pessoas que estão lá e não tiveram nem têm para onde ir. Muitos ex-escravos estão voltando para seus antigos senhores em busca de qualquer coisa. Eles não têm nada. Meus vizinhos. Minha avó e minha mãe. O senhor pode tentar algo com autoridades...

   -É um novo governo. – Comentou seu pai, um tanto constrangido. – Alguns nobres tentam reconquistar o que perdemos com o fim do Império. Não é tão simples assim.

   -O senhor costumava ter influência com a Família Real. Não conhece ninguém importante na República? – Franziu o cenho.

   Seu pai colocou as mãos no bolso, desconfortável com o novo tema da conversa.

   -Você me dá mais crédito do que tenho, Amanda. Nada posso prometer. Têm sido um ano de mudanças. – Seu olhar perdeu-se em lembranças. Era evidente que havia muito a ser feito com relação aos recém libertados.

   -Eu sei. – Falou baixinho.

   Um silêncio constrangedor instaurou-se na grande sala de estar.

   -Nós já conversamos sobre isso tantas vezes. – Tentou Amanda, olhando novamente para os sapatos. – Eu não tenho mais vontade de argumentar sobre isso. O senhor já sabe todos os meus motivos. Por favor, reconsidere.

   Heitor negou com a cabeça.

   -Vai me magoar se fizer isso. – Afirmou Amanda. – De verdade.

   Diante do impasse, Amanda recolheu sua bolsinha simples de pano, e saiu pela porta dos fundos após avisar que o faria.

   Seu pai não a impediu.

   Atravessando a rua, retirou uma mecha de cabelo do rosto, chateada.

   Detestava brigar com o pai. Detestava ter de escolher entre o mundo da mãe e o dele. Detestava ter de ser invisível desde pequena.

   -Amanda! – Uma vozinha infantil chamou.

   Amanda revirou os olhos e deu passos para trás, parando na calçada que pretendia atravessar.

   -O que vocês estão fazendo aqui? – Indagou sem rodeios. – Onde está Regina?

   Nicole estava zangada;

    -Ouvimos tudo que vocês disseram! Você não quer ficar com a gente! Você não vai mais morar em casa.

   Manda suspirou ruidosamente.

   Não estava com paciência nenhuma para dar explicações para eles. Era bem provável que até mesmo fosse grosseira.

   -Voltem para casa! – Ordenou. – Agora.

   Inácio franziu o cenho e estufou o peito, ousadamente;

   -Você deve algumas explicações.

   Amanda teria rido se não estivesse brava. Era claro que seu irmão tentava imitar o pai. Mas ainda era carente de verdadeira autoridade. E muitos centímetros de altura

   -Não, não devo. Agora, se não voltarem, vou levá-los de volta pelas orelhas. – Como nenhum empregado não os tinha visto? Nem mesmo o jardineiro... Como Regina sempre se deixava ludibriar por eles?

   Ambos hesitaram diante da ameaça. Olharam um para o outro em busca de confiança.

   Respirando fundo, abaixou-se para encará-los;

    -Conversaremos com mais calma depois, certo? – Colocou as duas mãos nos ombros deles, decidindo que seria muito mais sábio levá-los de volta ela mesma.

   Ao levantar-se, avistou a alguns passos, um rosto conhecido.

   Oh, não...

    Amanda ficou incerta sobre o que fazer...

   O rapaz que atendera um dia no bar andava calmamente pela mesma calçada, quando a viu. 

   -Fiquem quietos. – Mandou.

    O sol forte atingiu seus cabelos castanhos, dando-lhes um reflexo dourado. Os olhos estavam animados.

   -Bom dia. – Cumprimentou amistoso ao cobrir a pouca distância entre eles. – A senhorita por aqui?

   Amanda pigarreou e sorriu nervosamente.

   -Belo dia, não é? Eu diria o mesmo para o senhor. – Desconversou.

   Ele colocou as mãos nos bolsos da calça de cor escura. O tecido era de boa qualidade;

   -Procurando emprego. – Afirmou. Estavam em um bairro nobre, afinal.

   -Trabalhando... – Disse. – Que coincidência.

   Nicole a olhou estranhamente.

   -Ora... – Inácio começou.

   Um pisão de força calculada em seu pé, ocultado por sua saia, o interrompeu.

   -Ai! Amanda!

   -Com licença, desejo boa sorte em sua procura. Eu gostaria muito de conversar, mas... –Na verdade, não. Ela mal o conhecia, e não o queria bisbilhotando em sua vida. – Mas cuido dos infantes para o Sr. Passos, eles já tiveram seu banho de sol, devo levá-los.

   Arrastou os irmãos antes que a entregassem.

   -Por que você fez aquilo? Meu pé está doendo. - Reclamou seu irmão.

   -Calado. – Mandou novamente enquanto os levava para dentro da propriedade pela entrada da frente.

 

                                                ***

   -A modista vai acabar desistindo. – Alertou Luísa vendo o cenho franzido da irmã, que sentada sobre uma cadeira, estudava criticamente todas as suas revistas de moda, espalhadas sobre a mesa, algumas sobre as outras.

   Melissa colocou a ponta do lápis sobre o lábio inferior, alheia ao comentário.

   A verdade é que nenhum vestido a agradara, por mais que a costureira estivesse se esforçando. Todavia, a data do casamento se aproximava, e nada de vestido pronto. Pouco mais de quatro meses, e apenas seu enxoval estava pronto.

   -Vou acabar tendo uma síncope. – Resmungou pressionando a têmpora com as pontas dos dedos.

   -Ou provocando uma. – Luísa escrevia para os pais.

   -Talvez meu vestido seja autoral demais... Mas não quero me contentar com qualquer coisa. Ele precisa ser lembrado por anos.

   -Que tal fazê-lo você mesma? – Murmurou a mais jovem, de cabeça baixa, concentrada em sua atividade.

   Melissa ajeitou-se sobre o assento e observou novamente todos os desenhos sobre o papel das magazines, cansada.

   Modelos lindos e refinados, feitos pelas mãos mais caprichosas do exterior, verdadeiras sensações no mundo do estilo.

   Se quer uma coisa bem feita, faça você mesmo. Não era esse o ditado popular?

   Batucou o lápis sobre a borda da mesa.

   A idéia pareceu ridícula assim que surgiu em sua mente. Como sequer comparar com o talento de tais modistas? Todavia, o que teria a perder? Seu gosto seria assim tão exigente que nem mesmo ela própria poderia satisfazê-lo?

   Ora, se a melhor costureira do Rio de Janeiro nem ela mesma pudessem satisfazer seu gosto, ela bem poderia cancelar o casamento.

   -Boa ideia. – Olhou para Lu, que ergueu a cabeça, confusa;

   -Como disse?

   -Talvez seja mesmo melhor que eu faça o vestido.

   Luísa a encarou confusamente, deixando de escrever;

   -Não está falando sério, está?

   -Muito sério. Eu não aprendi aulas de desenho? Considero inútil pintar vasos de flores, contudo, um vestido de noiva é uma chance e tanto de mostrar se tenho algum talento nisso.

   -Foi uma brincadeira.

   -Eu sei, sua boba. – Gesticulou pedindo que ela a ouvisse. - Não vou eu mesma fazer embora seja muito boa com agulhas. Posso tentar criar e desenvolver o modelo. A modista ainda terá o prazer de transformá-lo em realidade.

   Lu rolou os olhos, exausta;

   -Eu nem sei mais o que dizer, a não ser que se todos os casamentos dão todo esse trabalho, nunca mais quero me intrometer com tal assunto.

   -Não diga isso. – Sorriu. – Quando chegar sua vez, estará feliz.

   -Ou maluca.

 

                                                *** 

   Melissa desenhou por dias um vestido que em sua opinião deveria ser inesquecível. Seu desenho não era ruim, tampouco excepcional. Precisava melhorar em muito. Contudo, o que realmente importava, era que a modista captasse exatamente o que a jovem queria.

   A profissional claramente não gostou de receber material pronto, mesmo que apenas uma ‘planta’ do traje. Todavia, os réis falavam mais alto do que qualquer indignação que ela pudesse sentir. E ninguém tinha coragem o suficiente de contrariar Melissa aquela altura.

   Também foram necessários nervos de ferro para suportar a interferência quase diária da Srta. Albuquerque. Ás vezes, parecia que ela estava a ponto de tomar a agulha das mãos da responsável pelo vestido, e terminá-lo ela mesma.

   Com dois meses de preparativos ainda pela frente, Melissa perguntou-se como seu noivo conseguia parecer tão neutro. Infelizmente, ela não se surpreenderia se soubesse que ele escolheria seu traje na véspera. Na verdade, até desconfiava.

   Sentados em um banco no jardim, com relativa privacidade, conversaram a respeito da lista de convidados.

   Ele estava de acordo com todos, mesmo não conhecendo intimamente muitos. Mel surpreendeu-se ligeiramente ao constatar que ele fazia questão da presença de alguns. Seus amigos, provavelmente. Todos empresários, do mesmo nicho social, suspeitou.

   Incluindo o Sr. Ferraz.

   Melissa manteve a serenidade, pensando consigo mesma que não haveria motivos para Bianca tentar vingar-se dela no dia de seu casamento. Provocaria um escândalo que seria particularmente pior para ela mesma, que acabara de ficar noiva de Frederico. E ninguém acreditaria nela, de qualquer modo.

   Ainda assim, saber que a Srta. Ferraz poderia estar na recepção a deixava com um gosto amargo na boca.

   Henrique, no entanto, ficou minimamente tenso ao passar o olhar por um casal de convidados especial. A mudança minúscula em sua postura poderia ter passado despercebida, se Melissa já não estivesse tornando-se mestra em ler as emoções tão bem escondidas dele.

   -Algum problema? – Questionou, lendo mentalmente o nome;

   Sr e Sra. Paiva.

   Vasculhando em sua memória, não recordou-se de nada relacionado á eles, exceto pela informação dada previamente por sua tia, de que o casal em questão havia viajado e retornado para o Rio de Janeiro recentemente. Naturalmente estavam na lista por sua importância na sociedade carioca. Não tendo sido criada ali, podia apenas confiar na experiência de sua tia, que convidara ‘todo mundo que é alguém’ para a ocasião.

      -Nenhum. – Apanhou seu relógio e viu a hora. Estava apenas de camisa e colete, por conta do calor. Seria deselegante despir-se do casaco dentro de uma propriedade alheia, mesmo no jardim. Contudo, Mel não se atreveu a comentar sobre aquilo com ele. Diferentemente de Rodolfo, que tinha um físico trabalhado por jogos em clubes particulares, Henrique o tinha por tanto tempo trabalhando pesado antes de conseguir sua fortuna. Para seu horror absoluto, percebeu que gostava da visão de seus ombros largos não cobertos por tanta roupa.

   Uma descarada, de fato.

   Limpou a garganta delicadamente;

   -Podemos retirar, eu mal os conheço...

   -Não. – Ergueu uma mão, indicando que o assunto deveria terminar por ali. – Deixe-os. Se todos os cariocas da cidade virão em peso...

   A moça soltou uma leve risada de decepção;

   -Você faz parecer uma futilidade desnecessária.

   -Não futilidade... apenas... – Tocou as abotoaduras. – exibicionismo. Se você não os conhece, então porque convidá-los?

   Melissa atirou-lhe um olhar perspicaz;

   -Mas você os conhece, não é?

   -Este é o nosso casamento, entretanto, sinto que sua tia intromete-se demais em tudo.

   -Ela quer que tudo saia bem para mim. Assim como sua mãe. Ela também se intrometeu mais do que devia.

   A expressão de Henrique enrijeceu.

   Em todo o tempo que se conheciam, aquele era o primeiro momento em que mais se aproximaram de ter uma discussão.

   Henrique levantou-se, pegando seu paletó.

   Ótimo. Nem sequer estavam casados e já estavam começando mal.

   -Eu não quis ofender. – Desculpou-se Melissa, á contra gosto.

   Castro vestiu seu casaco em silêncio, sem encará-la;

   -Já estamos sozinhos por tempo demais, eu devo ir. Mantenha todos os convidados.

   Henrique deixou a propriedade á passos largos, deixando Melissa perplexa;

   Ele se atrevia a deixá-la sozinha com uma lista e assunto inacabados?

   E pensar que ela usava um de seus vestidos mais bonitos, com o camafeu que ele lhe dera pendendo sobre o colo.

   Quando perguntou á tia o que sabia sobre o par em questão, Amália respondera que era um casal jovem com uma filha pequena. Nada mais.

   Obviamente, Melissa não deixaria o assunto morrer sem obter as devidas respostas, porem não arriscaria um enfrentamento com o noivo.

   Amanda comentou com a mãe e a avó, sobre o plano estapafúrdio de seu pai, o que causou uma reação esperada; nenhuma das duas acreditava que era uma boa opção. Indignaram-se também, naturalmente. Manda esperava que no mínimo a discussão que tivera com o progenitor fora o suficiente para desestabilizá-lo e dissuadi-lo de tal decisão.

      Seu pai, no entanto, era um homem complicado de se lidar.

 

                                                ***

   A Srta. Albuquerque testou o peso da cauda do vestido com cuidado. Rodeando-o, tocou-o zelosamente, avaliando cada centímetro.

   A modista carregava no rosto uma expressão desgostosa. Tanto por não ser totalmente responsável pela roupa, tanto por estar exausta da intromissão de sua futura dona;

   -Está belíssimo. – Elogiou. – Do jeito que imaginei.

   Um alívio enorme passou pela face da mulher, que finalmente conseguira agradar a cliente.

   Agora seria necessário um espartilho bem amarrado e determinação de ferro para não engordar um grama a mais do número. Melissa era alta e magra, com o espartilho colaborando para uma cintura e curvas admiráveis. Sua mãe sempre dizia que ela deveria cuidar da própria beleza mesmo após casada, para manter o interesse do marido. Algo fácil, já que Mel sempre fora vaidosa.

   Depois de mais alguns acertos com a Sra. Lúcia, deixou a parte privada do ateliê, reunindo-se no salão receptivo com a tia e a irmã.

   -Melissa, mas que bobagem é essa? – Amália estava contrariada. – Não nos deixar ver seu vestido? Mas era só o que faltava! – Bateu com o leque em uma das mãos, demonstrando sua insatisfação. Luísa estava apenas entediada, segurando sua bolsinha de seda rosa.

   -Todas verão no dia do casamento. – Tranquilizou. – Manter um pouquinho de curiosidade não faz mal algum.

   Chegando na mansão, soube que seu futuro marido estava á sua espera no jardim.

   -Cinco minutos. – Cedeu sua tia. Ela e a sobrinha entraram enquanto a dama entregava sua sombrinha, bolsa, chapéu e luvas de renda branca para Dolores.

   Com toda certeza viera se desculpar pela conduta rude.

   Caminhou lentamente, esperando aumentar sua aflição.

   Encontrou-o perto dos muros de arbustos de flores brancas.

   Estava com as mãos nos bolsos, trajando todo o conjunto de terno, desta vez.

   Melissa formou uma expressão neutra, esperando que ele falasse.

   -Quero pedir desculpas por ontem. – Encarou-a firmemente. – Não queria que as coisas saíssem do modo como saíram.

    Melissa ignorou o comichão que a acometeu sob o olhar dele.

    -Lamento o desentendimento também. – Abriu um sorriso doce. – Não achei que se importasse com o auxílio da minha tia.

    -E eu não sabia que ainda guardava rancor de minha mãe.

   Mel ergueu as sobrancelhas ligeiramente, irônica;

   -Talvez seja necessário um tempo maior do que imaginei para as coisas se normalizarem.

   O sapato dele raspou no chão em um movimento distraído, provocando ruído na grama.

   -Desejo muito que vocês duas se entendam. É realmente muito importante para mim.

   O desejo na verdade parecia-se mais com uma ordem. É claro que Melissa entendeu que ele absolutamente não deixaria a lealdade com a mãe de lado por causa dela. O lado mais fraco da corda era evidentemente o dela. Seria necessário uma boa dose de paixão e convivência para Henrique tornar-se tão interessado no bem estar dela como era pelo da mãe.

   -Entendo.— Concordou Melissa, inclinando a cabeça. – Farei o meu melhor para ser uma boa nora.

   Era simplesmente ridículo que ela tivesse que ‘prometer’ ter boas relações com a sogra quando Carolina começara todo o infortúnio. O que ela faria a respeito da esposa do filho?

   Henrique franziu o cenho;

   -Eu não sou seu dono, Melissa. Apenas peço que pense em como nossa vida será com rusgas pendentes.

   Nossa?

   Por que aquilo não parecia envolver apenas os dois?

   -Acredite, eu detestaria iniciar nossa vida juntos assim, também. – Alisou a saia.

   Notando seu começo de nervosismo, Castro aproximou-se, tomando sua mão, tocando com o polegar seu anel de noivado sutilmente. Ousadamente, com a outra mão, tocou sua cintura, em um aperto suave.

   O coração da jovem passou a bater em um ritmo mais rápido.

   Os dedos másculos então acariciaram o punho feminino.

   -Quando nos casarmos... – Começou Henrique. – formaremos uma família. Quero que meus filhos, nossos filhos tenham o que eu não tive. Vamos construir um lar juntos.

   A jovem inspirou fundo;

   -Totalmente de acordo. Eu e sua mãe faremos as pazes.

   Entretanto, mesmo após o diálogo entre os dois ter acabado, Henrique não a soltou. Pelo contrário, ele a aproximou mais.

   Melissa perguntou-se se ela a beijaria naquele instante.

   Se deixaria.

   E o mais importante; se havia algum calor sob todo aquele autocontrole rígido.

   Infelizmente, ela não descobriria naquela tarde.

   Um pigarro abruptamente arruinou o momento, fazendo com que os dois se afastassem, ficando lado a lado, com a mão do Sr. Castro sobre suas costas, gentilmente;

   Sua tia Amália encontrava-se diante deles, em uma postura endurecida que evidenciava que vira absolutamente tudo que estavam prestes á fazer, e o pior de tudo; não aprovava nem um pouco.

   -Sr. Castro. – Manteve o tom cordial. – É melhor entrarmos, está entardecendo.

   O homem, entendendo muito bem o recado, afastou-se de Melissa, provocando uma onda de desapontamento na dama;

   -É claro. Estou de saída.

   Beijou a mão de Melissa e deixou a propriedade Tavares.

   Sozinhas, a senhora da casa olhou a sobrinha reprovadoramente.

   -Acho que devemos colocar Luísa novamente como sua acompanhante, não é?


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Notas finais do capítulo

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