Entre Páginas escrita por Raíssa Duarte


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771172/chapter/13

Melissa deixou Juliana na área informal da casa e foi recebida no quarto de Bianca, que tagarelou sem parar sobre seu namoro e banalidades, enquanto Melissa pensava em como começar o que tinha vindo fazer.

Era como se um nó estivesse em sua garganta. Seu desconforto era tão grande que admirou-se que a dama ruiva não o tivesse notado.

Todavia, viera ali com um único objetivo, e não iria embora sem terminar com aquilo. Não poderia.

Limpou a garganta;

   -Bianca, eu tenho algo para contar.

   A jovem parou, acenando para que continuasse;

   -Alguma novidade?

   A morena inspirou, retirando a luva da mão direita. Estava fria por conta do nervosismo.

   -Sim. – Ergueu-a, deixando que o anel brilhasse á luz do sol que entrava pela janela. – Estou noiva.

   Bianca arregalou os olhos, segurando sua mão e levando-a para perto do próprio rosto, para examinar a joia.

   -Minha nossa! -Exclamou surpresa. Um sorriso formou-se em seu rosto. - Eu estou tão feliz por você! Por que não me contou que estava sendo cortejada? Quem é o cavalheiro?

   -Eu não tinha certeza de como a situação sairia. Aprendi a não contar vantagem. – Abaixou o braço. – Bianca, eu não quero de procrastinar, mas não sei como dizer isso. – Recolocou a luva, respirando fundo e dizendo de uma vez. – Estou noiva do Sr. Castro.

   Bianca ficou em um silêncio inquietante.

   Melissa já imaginara em sua mente vários cenários e possibilidades, e ver o quanto Bianca lutava para assimilar o que ouvira e a decepção crescer aos poucos em seus olhos castanhos foi pior do que ela imaginou que seria.

   -Como? Eu... – Ela tinha dificuldades para encontrar palavras. – Seus pais...

   -Eu tomei a decisão. Estamos todos de acordo.

   -Mas todas as coisas que você disse sobre ele! Eu achei que fosse um homem inadequado para qualquer mulher! - Bianca gesticulava incoerentemente, incapaz de expressar-se de modo satisfatório.

   -Não para mim. - Afirmou calmamente, o completo oposto da outra garota. - Na verdade, ele é perfeito para o que desejo.

   -Você está tão calma... – Os olhos a avaliaram. – Você mentiu para mim?

   -Menti. – Respondeu simplesmente. – A respeito dos boatos. Entretanto, ele teria sido inadequado para você de qualquer modo.

   O rosto enrubesceu de maneira que as sardas se destacassem ainda mais;

   -Por quê? - A pergunta saiu em um sopro confuso.

   -Eu temi que você fosse pedida em casamento por ele, e fiz o que achei necessário para mantê-la afastada.

   -Aproximou-se de mim com este intento?

   Melissa molhou os lábios rapidamente, com a língua, sentindo-os secos;

   -Sim. Mas Henrique não a pediu, afinal. Pediu a mim. Eu o conheci antes, e tenho certeza de que formaremos um bom par.

   -Não importa! Você se fez de minha amiga e estava me manipulando este tempo todo! Até mesmo empurrou-me para Frederico!

   -Eu ajudei você. E gosta de Frederico, caso contrário, não o teria escolhido. Minha intenção de auxiliá-la na temporada era genuíno.

    -Contanto que eu ficasse bem longe do Sr. Castro, não é? – Bianca parecia tão chateada, tão... irritada. Uma mistura de ambas as coisas.

   -O que você sentia era uma paixão boba e infantil. Já passou, não foi? Não é como seu eu tivesse destruído a história de amor de um casal loucamente apaixonado. Henrique nunca nem sequer a cortejou.

   -Você era minha amiga! Eu confiei em você. Mas você é como todas as outras. Não! – Encarou-a com o olhar tempestuoso. – Você é pior! As outras simplesmente me ignoram, você é ardilosa e falsa!

   -Sei que está zangada, porem...

   -Eu quero que saia. E nunca mais volte. - Ordenou com os punhos fechados.

   Melissa apertou sua bolsa de cetim, consciente da fúria controlada de Bianca. Nada entre as duas jamais seria como antes, e esperou que ao menos Bianca um dia se esquecesse daquele dia tanto quanto ela desejava agora.

   -Não precisa pedir duas vezes.

   Deu-lhe as costas e saiu, chamando por Juliana enquanto descia a escadaria.

 

   No dia do aniversário de Melissa, uma algazarra de preparativos como o de Luísa foi feita. A diferença era que Amélia tinha Melissa e Amália opinando e querendo administrar tudo. A casa tornou-se um caos.

   Á noite, tudo estava como deveria ser, mas a filha moça mais velha dos Albuquerque estava uma pilha de nervos, querendo até mesmo manter-se bem longe da mesa de bebidas, temendo manchar o vestido perfeitamente engomado.

   Enquanto sua irmã cumprimentava os convidados, Lu percebeu que Bianca não viera. Questionou a si mesma se ficaria zangada com ela também. Nunca quis magoar a jovem. No fim das contas Melissa conseguira seu corcel premiado e Bianca estava arranjada com um rapaz de quem gostava. Tudo estava bem. Não é?

   Sua mãe deu-lhe um ligeiro toque na saia, tirando-a de seus devaneios, ao perceber a chegada da Família Medeiros. Revirou os olhos. Sua família realmente depositava esperanças de algo sério entre os dois? De todos os cariocas da cidade, justamente ele? Roberto teria sorte o suficiente se ela não derramasse ponche nele novamente. Era melhor que mantivessem distância um do outro.

   Sorriu para Sofia que deu uma piscadela marota, demonstrando que a coleguismo das duas não seria desfeito por conta de um irmão idiota.

   -Amiga bonita, a sua. – Gracejou Leonardo, ao seu lado.

   -Não se atreva! – Censurou Lu. – Sem brincadeirinhas, Leo.

   -Eu só vou chamá-la para dançar... - Tranquilizou. - E quem sabe... Mamãe já me dá charadinhas... Dizendo que é hora de eu sossegar.

   -Ela diz isso para todos nós.

   -Vida monótona no campo, somando e dividindo no escritório, observando gado e cultivo de café... E uma esposa de cabeça vazia com uma penca de crianças esperando por mim no fim do dia. Animador. - Sua voz demonstrava justamente o contrário.

    Luísa riu;

   -Ás vezes você é quase tão dramático quanto Mary Bennet.

   -Quem?

   -Esqueça.

   Carolina e Henrique Castro chegaram, causando uma leve comoção, a julgar que o Sr. Castro nunca era visto em tais eventos sociais.

   Ele beijou a mão de Melissa formalmente, provocando uma pequena onda de murmúrios. Não demoraria muito e todos saberiam do noivado dos dois.

   Durante o afinamento dos instrumentos, enquanto pares se formavam, Roberto veio em sua direção.

   -Por favor, passe reto, por favor, passe reto, por favor... — Luísa sussurrou.

   Mais alguns passos.

   -Srta. Albuquerque concede-me a próxima dança?

   Luísa considerou seriamente a possibilidade de forjar uma dor de cabeça, atrair atenção de todos ao sair do salão e ganhar o ódio eterno da irmã.

   -Mas é claro que sim... – A voz elegante e firme de sua mãe surgiu velozmente. – Querida, seu cartão de dança...

   Lu ergueu rigidamente o braço com a pequenina planilha.

  -Tudo conforme o esperado... – Murmurou sua mãe, deliciada após a saída do Medeiros. – Se tudo for ainda melhor, terei duas filhas casadas uma em seguida da outra...

   Luísa teve vontade de gritar.

   Quando os instrumentos estavam prontos, os cartões de dança preenchidos, os casais seguiram rumo ao centro do grande cômodo.

   Luísa aceitou a mão de Roberto e posicionou-se á espera da valsa.

   -Chamei a senhorita porque não quero que pareça que existe alguma rusga entre nós. – Contou enquanto colocava uma mão em sua cintura, preparando-se para o início da atividade.

   -Mas não há. - Afirmou com inocência articulada.

   -Algumas das moças que viram nosso... debate algumas semanas atrás pensam que sim. E agora as famílias delas também.

   -Ah. – Foi tudo o que saiu de sua boca.

   -Sei que pareci um estúpido, mas sei reconhecer quando erro. E fazer um escândalo na porta de uma livraria de respeito é inconveniente.

   -Ainda acha que sou inadequada para ser amiga de sua irmã? – Testou.

   -Encontrei o tal livro escondido nas coisas dela. A senhorita ficaria muito ofendida se eu perguntasse se tem algo a ver com isso?

   Lu sentiu a pontada da raiva querendo invadi-la. Mas ele parecia mais curioso do que acusatório.

   -Sim, eu ficaria. Entretanto, lamento desapontá-lo ao dizer que não tenho nada a ver com isso.

   Ele soltou um minúsculo suspiro.

   -Como imaginei. Sofia não precisa de ajuda quando quer se encrencar.

   -Eu na verdade sequer sabia do teor do livro quando o comprei. Gostaria que parasse de fazer pré-julgamentos a meu respeito.

   -Sua tia é uma mulher respeitável, então imagino que estando sob a tutela dela tenha realmente cometido um pequeno engano ao comprar tal leitura.

   -O senhor já leu?

   Ele franziu as sobrancelhas por um momento.

   -Sim.

   -E é uma companhia inadequada para sua irmã? Pior ainda, para mim? - Ironizou.

   -Mas é claro que não.

   -Pois bem. – Retrucou com um sorrisinho zombeteiro.

   -Na verdade, devido ao histórico impecável de sua família, gostaria se ‘colocasse’ minha irmã nos trilhos. Uma boa e refinada companhia é exatamente o que ela está precisando.

   -É um alívio saber que estou em tão alta conta com o senhor agora.

   -A senhorita não consegue se segurar, não é? Não percebe que ofereço bandeira branca? - O cenho franziu, formando vincos.

   -Sim. Todavia, não deixa de ser irônico.

   -Certo. Já pedi desculpas. O que mais seria necessário?

   A morena pensou;

   -Apenas pare com comentários engraçadinhos a meu respeito e com os pré-julgamentos. Sua irmã é muito divertida, não vejo motivo para não continuar a amizade.

   -Ótimo.

   -Mas não prometo nada quanto aos ‘trilhos’.

    Ele acenou amistosamente, guiando-a pela pista de dança.

   Parecia que finalmente haviam chegado á um meio termo.

 

 

   Enquanto usava o intervalo entre uma dança e outra, Melissa aproveitou para conversar com seu noivo em uma área mais reservada.

   -Você está linda.

   A garota ergueu as sobrancelhas, surpresa, e então sorriu.

   -Ganho elogios agora que estamos noivos?

   Ele parecia de bom humor, embora não sorrisse.

   -Naturalmente. Quebrei alguma regra do cortejo?

   -De forma alguma. Eu amo receber elogios. – Indagou-se quando ele a convidaria para dançar. Apesar de seu cartão, como noivo, ele tinha vantagem. – Sua mãe não parece muito á vontade... Talvez ela queira retirar-se para a biblioteca... – Carolina estava sentada em uma das várias cadeiras destinadas á solteironas, viúvas ou idosas.

   -Ela não está acostumada a eventos noturnos. - Explicou.

   -Nem você. Causou um rebuliço ao aparecer. Não falarão sobre outra coisa amanhã. – Ou talvez sobre a Família Ferraz não ter comparecido. Mel torceu para não darem importância.

   A boca de Henrique apertou-se em uma expressão de repreensão.

   -Se tivessem algo melhor para falar... - Parecia realmente incomodado com aquilo.

   -A senhora minha mãe escolheu músicas tão lindas. – Comentou em tom casual, esperando que ele entendesse a deixa.

   -Você certamente puxou o bom gosto dela.

   Reprimiu o desejo de bufar.

   No fim das contas, ele não a chamou para bailar, e ela tampouco insistiu. Porem ficou irritada e decepcionada, até ser levada á pista de dança por outro cavalheiro.

   Quando o baile acabou a madrugada, os residentes foram dormir rapidamente, enquanto os empregados desfaziam os arranjos e limpavam as sujeiras ocasionais.

   Dois dias depois, os pais e irmão das meninas partiram para casa. Conrado precisava checar a administração de suas terras, e Leonardo parecia prestes a ter um faniquito de ansiedade para voltar para São Paulo.

   Melissa estava na sala de estar, terminando um lenço bordado. Seu enxoval já estava quase pronto, e sua mãe deixara sua tia no comando para orientar Melissa na escolha do vestido de noiva perfeito. Os preparativos para o casamento começariam imediatamente.

   Quando ouviu uma batida na porta, esperou que Dolores atendesse, continuando a costurar.

   -Espero não estar incomodando... – A voz doce e calma de Carolina se fez presente.

   Mel imediatamente deixou o trabalho de lado e levantou-se para cumprimentar sua futura sogra.

   -De modo algum... Titia está fazendo compras e minha irmã está no clube de leitura... Dolores, sirva um refresco para a Sra. Castro...

   -Não, não é necessário. Eu na verdade vim convidá-la para um passeio.

    Melissa ponderou.

   Lorena Ramos também insistia para que fizessem passeios juntas. Atividades ridículas onde Mel tinha de ouvir sua vozinha irritante tagarelando sobre como seriam perfeitas uma para a outra. Carolina era o completamente diferente, com um tom de entonação baixo e rosto de emoções plácidas.

   -Bem... Por que não? A senhora se importa de apenas esperar enquanto me troco? Dolores! – Chamou e apanhou a saia com uma das mãos para auxiliar o andar.

  

    Lu analisou a lista de livros emprestados e se todos já estavam devidamente em suas prateleiras. Ao final da ação, retornou para o escritório de sua professora.

   Bianca nem sequer olhara para ela.

   A verdade era que não sabia como aproximar-se sem sentir culpa. Ao revelar estar á par de toda a situação, perderia definitivamente a amizade dela. Ao mesmo tempo, duvidava que Bianca iria querer ter qualquer coisa com qualquer uma das meninas Albuquerque. Talvez o melhor fosse simplesmente deixar as coisas como estavam.

   Balançou a cabeça, deixando de lado os devaneios, e concentrou-se em levar a lista para sua professora.

   Em uma pequena saleta, sua tutora encontrava-se, sentada em uma poltrona verde simples, com uma mesa de madeira rústica á sua frente, com pilhas de papel bem organizadas, um tinteiro e um abajur á gás tradicional. Ela estava focada em escrever um relatório. Os óculos sobre o nariz, vestindo roupas formais e sem muito luxo.

   -Terminou? – Mesmo com os olhos no papel, percebeu a entrada da aluna.

   -Sim. – Deixou sua lista sobre a pilha. Observou o trabalho da mais velha.

   -O que você quer, Luísa?

   Lu ficou pensando na pergunta, em uma postura dócil;

   -A senhora gosta de trabalhar aqui?

    A Sra. Castelo a olhou, interessada.

   -É que... me parece tão bom estar rodeada de livros... – Explicou desajeitadamente.

   -É verdade... – Concordou a mulher, com um leve acenar de cabeça. – Mas não leio nenhum deles. Não tenho tempo. Estou mais rodeada de leitores e papelada, como vê.

   Chegou perto da mesa, batendo com a ponta dos indicadores sobre a borda, distraidamente;

   -A senhora... gosta de trabalhar?

   -Sim. – Foi a resposta rápida e tranquila.

   Luísa agradeceu pela resposta e refletiu.

   A Sra. Castelo era a primeira mulher conhecida que trabalhava estando em classe média. A vida toda, Lu sempre esteve em contato com dois tipos de mulheres; as de sua família e ambiente social, que nunca trabalharam, nem sequer precisavam, e as empregadas de sua casa, que trabalhavam porque precisavam de dinheiro. Mas a Sra. Castelo não era uma doméstica, e era casada. Todavia, ainda assim tinha um emprego, e era feliz nele.

   -Se já terminou a lista, pode ir. 

   Luísa acenou obedientemente.

   -Sim, senhora.

   Luísa encaminhou-se para a porta de entrada da biblioteca silenciosamente. Do lado de fora, uma carruagem aberta de sua tia já a esperava de acordo com seu novo horário. E pensar que sua mãe e tia pensavam que ela fazia trabalho voluntário! Não queria nem imaginar o que fariam caso descobrissem o motivo de estar ajudando a professora.

   Voltaria para casa mais tarde. Antes faria uma visita á Sofia.

 

 

   Melissa abanou-se o mais delicadamente que pôde com seu leque, mas o calor pedia por um esforço mais enérgico. Luísa estava usando a carruagem aberta, e Carolina Castro tivera a ideia estapafúrdia de convidá-la para sair em um veículo fechado.

   O ambiente claustrofóbico aumentava ainda mais o clima quente.

   -Mil desculpas... – Disse Carolina com sua voz suave. – Eu deveria ter trazido outra, mas estou tão acostumada com esta.

   Mel deu um sorriso tranquilizador, embora estivesse louca para arrancar seu casaquinho vinho e luvas. Precisava urgentemente de um refresco ou sorvete. Qualquer iguaria gelada.

   -Antes de chegarmos ao destino de nosso passeio, quero que cheguemos á um entendimento antes. – Sra. Castro também aliviou-se com seu próprio leque. – Eu não gosto de ser invasiva, contudo se você será mãe dos meus netos, preciso conhecê-la melhor.

   -Deveras. – Concordou Melissa, olhando a paisagem pela janela.

   -Não sei o quanto meu filho já sabe sobre a senhorita, mas eu ouvi alguns comentários desconcertantes a seu respeito.

   Melissa empertigou-se e retirou o olhar da rua e seus pedestres.

   -Desejo saber o quanto de verdade existe neles. – Continuou a mulher. – Se importa em contar-me sobre sua ligação com o tal Sr. Ramos?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se está gostando, que tal deixar um comentário?
;D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Páginas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.