Wintershock escrita por ariiuu


Capítulo 9
1917 - 1944


Notas iniciais do capítulo

Olar gente! Cá estou com o capítulo adiantado. E como prometido, sexta à noite. Espero que não me matem dessa vez =D
Quem quiser conferir as imagens desse capítulo e também as músicas, acesse o Tumblr: https://wintershock.tumblr.com
Divirtam-se.



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1917 – 1944

Seu coração começou a disparar descompassadamente, quase como se quisesse pular para fora de seu peito. A respiração mais pesada que o normal, mãos e joelhos trêmulos, além do estômago revirando, fizeram com que o Bucky saísse do local quase se segurando pelas paredes...

.

Tudo nunca fez tanto sentido como naquele momento...

.

Todas aquelas misteriosas memórias da década de 40, sua vida como o Sargento Barnes, o alistamento no exército, as batalhas junto com Steve na segunda guerra...

Sua vida como Bucky Barnes havia encerrado em 1944, o ano de seu óbito.

Ou pelo menos era o que deveria ser...

O Soldado Invernal, provavelmente nasceu em 1944. A partir dali, as memórias do seu verdadeiro eu foram apagadas e o novo punho da HYDRA surgiu.

“Quantos anos se passaram...? ”— Pensava, pois não tinha ideia do tempo perdido desde que Bucky Barnes “faleceu”.

Em que ano estavam...?

O soldado correu desesperadamente para fora do museu e seguiu na direção onde a Darcy se encontrava.

A garota estava ali, e segurava seu telefone tranquilamente, observando a movimentação.

Ao redor, viaturas de polícia e poucos agentes do FBI transitavam. Apesar de ter passado quase cinco dias desde o incidente com a SHIELD, o governo americano cuidava de tudo com extrema vigília.

Sorte ninguém ter lhe reconhecido...

Bucky rapidamente se aproximou de Darcy, e ela se assustou com a aparição repentina dele, além da feição aterrorizante em sua face.

Em que ano estamos...?— Mal havia chegado e já lhe fazia uma pergunta totalmente fora de realidade, deixando-a ainda mais curiosa com tudo o que estava acontecendo com ele. Queria respostas daquela que era a única em que podia confiar no momento.

.

2014. Hoje é dia 11 de Maio de 2014... — Replicou, séria. Darcy sabia que ele não estava bem, mas por que precisava saber a data em que estavam?

Os olhos do soldado se alargaram em resposta e sua respiração ficou ainda mais intensa, por conta do choque.

2014? Ele não imaginava que tanto tempo havia se passado e aquilo lhe assustou completamente. Em sua mente, totalmente embaralhada, talvez 30 anos, mas... Foram 70 anos desde a sua morte...?

Era muito tempo...

Sua ameaçadora feição derreteu-se completamente e deu lugar a um semblante de medo...

Um dos maiores agentes da história da espionagem estava com medo...

Se sentia totalmente perdido e desorientado...  Em um século que não lhe pertencia...

Deveria ter morrido na queda do trem... Não merecia estar ali...

Bucky não se achava digno de ser o Sargento Barnes e sentia repulsa quando vagas recordações de coisas horrendas que o Soldado Invernal fez lhe sobrevinham à mente...

Ele não queria ser o Soldado Invernal...

Queria apenas ser um cadáver num túmulo, cuja lápide estivesse escrita o seu verdadeiro nome…

.

James Buchanan Barnes

.

Mas...

A voz de Darcy interrompeu seus devaneios...

Você descobriu sua identidade!!?— Ela o questionou, um pouco curiosa e preocupada, pois a feição do soldado era de assombro.

Bucky assentiu com a cabeça, mas não disse nada.

Mesmo sendo incrivelmente forte, estava muito abalado mentalmente e não sabia o que pensar, muito menos o que fazer.

Se tudo estava um caos antes, agora, sabendo quem era, as coisas ficaram ainda mais complicadas em sua cabeça.

Sua mente se desdobrava em várias lembranças que surgiram no momento em que descobriu sua identidade...

Um estrondo potente preencheu seus ouvidos. Os sons das batalhas que lutou na segunda guerra...

Balas, granadas, tanques de guerra... Explosões de grandes proporções…

Uma festa onde comemoravam algum acontecimento especial… Steve estava ao seu lado, fardado… e os dois bebiam, alegres… não tinha ideia sobre o contexto exato daquela lembrança...

Porém, mais uma crise traumática por conta do choque surgia, efemeramente... Uma dor fantasma começou a desabrochar em cada centímetro de seu corpo, quando a descarga de adrenalina em suas células aumentadas, explodiram.

Aquele não era o momento... Não ali... Não naquele lugar...

A garota notava que mais uma vez, Bucky apresentava os mesmos sintomas da noite anterior, mas também percebeu que alguns homens suspeitos os observavam de longe.

Talvez desconfiando que aquele com quem estava, era quem procuravam…

Não eram do FBI, muito menos policiais… Seriam agentes que procuravam por ele?

Darcy resolveu agir na mesma hora.

— Hey, acho melhor sairmos daqui, porque já te descobriram… - A estudante sussurrou, tentando ser discreta.

Bucky não sabia o que responder. Estava desnorteado o suficiente para não raciocinar direito. Sua cabeça voava como um ciclone indomável e mais pedaços de memórias inundavam sua mente, não conseguindo se focar em absolutamente nada.

Excesso de informações que corriam loucamente pelos quatro cantos de seus sentidos... imensamente perdido... tentando se encontrar...

O soldado não assimilava a realidade à sua volta.

O mundo ao seu redor começou a girar e escurecer...

E percebendo tudo aquilo, Darcy apenas o pegou pelo braço, abriu a porta do carro e o empurrou para o banco do passageiro.

Não dava para ser discreta naquele momento. Precisavam fugir dali, imediatamente.

Ela fechou rapidamente a porta, deu a volta, abriu a porta do lado do motorista, enganchou a chave, ligou o veículo e logo pisou no acelerador.

Os homens que os observavam, entraram num veículo e começaram a se locomover na direção deles.

— Maldição... Eles realmente estão atrás de você... – A estudante retorquiu em tom de preocupação, mas Bucky não estava em condições de responder. Permanecia desorientado, pouco entendendo o que acontecia ao redor.

Estavam em fuga... perseguidos por agentes que julgava serem da SHIELD.

Ao menos não era a polícia e sim aquela seita satânica que costuma esconder tudo até mesmo do governo americano. Então por ora, a garota estava segura quanto ao fato de fugir e cometer qualquer delito.

Darcy andou por três quarteirões, tentando despistá-los. As Avenidas estavam um pouco congestionadas, mas ela conhecia Washington DC com a palma de sua mão e usaria todos os atalhos possíveis para ir para a rodovia que os levariam para...

.

Nova York...

.

A estudante dirigia a mil, porém, derrapou para a direita quando um dos agentes dentro do carro começou a atirar.

Provavelmente para acertar os pneus.

Depois de driblar tantos veículos, ela ainda dirigia de forma irresponsável e acima da velocidade.

O objetivo era despistá-los e fugir. Sem se importar com o que aconteceria.

Aos poucos, Bucky foi recuperando a noção da realidade e percebeu que Darcy estava dirigindo...

Como uma louca...

O carro ainda os perseguia e o tal agente atirava.

Algumas balas acertaram partes do veículo.

— Mas que... p-... O Terry vai me matar...— Suprimiu um palavrão, enquanto mais balas acertavam o carro.

Darcy entrou num dos muitos parques de Wahsington DC e Bucky estranhou...

— Você por acaso sabe... O que está fazendo e... Para onde está nos levando...? – Ele perguntava com um pouco de dificuldades para falar, ofegante.

Não tinha ideia que mais uma vez aquela garota assumiria a frente e lhe salvaria, mas não havia escolha. Não estava em condições de reagir, pois seus sentidos se encontravam caóticos e sua mente transtornada.

— Claro que sei! Eu sou a rainha do pedaço! – Redarguia, deixando novos pontos de interrogação na mente de Bucky.

Odiava aquelas expressões idiomáticas que a estudante dizia o tempo todo.

.

Darcy contornou o parque completamente e caiu numa estrada pouco movimentada, acelerando o máximo que podia.

— Quero ver aqueles manés me acharem aqui...! – Sorriu convicta e pisou fundo no acelerador.

Bucky ficou impressionado, por causa da reação inconsequente.

Mas não importava... ambos estavam em fuga...

— Eu vi isso num filme... E sempre quis fazer! – A estudante estava animada, rindo e satisfeita por dirigir de forma irresponsável e insana.

Porém, por mais que Bucky tivesse se surpreendido com o fato de a mesma agir tão rápido e tirá-lo dali, achou que deveria adverti-la sobre algo.

— Não está achando que se livrou deles porque os despistou? Com certeza anotaram a placa e-

— Ela está com uma letra um pouco apagada....

— O quê...? – Indagou, confuso.

— Isso é apenas uma falha técnica, ok? Não se preocupe com isso por enquanto.

— Por que está fazendo tudo isso? Eu não pedi que me ajudasse a escapar… - Articulava com certa dificuldade. Era como se seu corpo e sua mente tivessem travado e suas habilidades estivessem neutralizadas.

— Eu fiz porque quis... Não podia ter te deixado lá para aqueles caras te encurralarem e te levarem para... Sei lá onde... – Darcy ponderava com um tom de voz um tanto animado e Bucky não estava nada satisfeito com aquilo.

— Devia ter ficado por lá... essa viagem com você terminou... – A voz combalida mostrava o quão perdido ainda se encontrava.

— Eu não estou com pena de você... Estou curiosa...! – Darcy afirmou, revelando o real motivo do porquê ainda estava ali com ele. Sua voz era de puro entusiasmo. Era notável que para ela, tudo parecia apenas uma aventura...

Enquanto que para ele, era o inferno na terra...

— Você não tem que fazer isso. Me deixe em algum lugar dessa estrada e siga viagem sozinha...

— Então... Você não vai me dizer seu nome...? – Perguntava, indiscreta e na maior cara de pau, pouco se importando com o que Bucky dizia anteriormente.

Típico de Darcy Lewis.

.

Não...

.

A resposta dele foi fria, apática e incisiva.

— Por quê!? Eu te salvei duas vezes, ajudei com seus ferimentos, paguei todas as diárias nos hotéis, te acompanhei todos esses dias, te levei no museu e te ajudei a fugir! Eu mereço saber!

— Você merece ficar quieta... – A voz do soldado voltava ao habitual, cheio de desprezo e frieza.

— Mas-

— É melhor você não perguntar mais nada, se quiser continuar viva...

— Você está mesmo me ameaçando pela milionésima vez depois de ter colocado o meu dinheiro e pescoço em jogo pra te ajudar...!?

— Você fez tudo por livre e espontânea vontade... – A voz fria e sem emoção ficava mais enfática a cada pergunta que a mesma fazia.

— Ok... Me desculpe então... – Um pouco decepcionada, ela desistiu. Mas ao menos percebia que o soldado parecia menos tenso ao lado dela, do que dias atrás.

Seu instinto ainda dizia para não confiar naquela garota, mesmo que ela tivesse dado muitas provas de confiança.

Talvez fosse porque o Soldado Invernal era assim... e ele estava com medo do que era capaz...

Estava com nojo de si mesmo...

Depois de despistarem os agentes, sentiu seus músculos relaxarem, mas sua mente ainda girava...

Bucky tirou o boné de baseball, passando a mão pelos cabelos, deixando-os soltos novamente. Então seu rosto virou alguns milímetros na direção dela e passou a observá-la dirigindo o veículo pela estrada...

Darcy parecia uma pessoa normal... Claro, normal na definição de que não devia carregar um passado obscuro em suas costas, porque no quesito excentricidade, não se recordava de ter conhecido nenhuma mulher assim…

A garota virou o rosto e começou a fita-lo de volta.

— Será que eu posso pelo menos ligar o rádio...? – Perguntou, com a voz mais suave que o comum.

Ele assentiu com a cabeça.

Músicas diferentes com um estilo um pouco pesado começaram a tocar.

O volume estava baixo...

Gêneros musicais que ele nunca tinha ouvido, mas que eram afáveis em seus ouvidos. Algumas melodiosas... Outras mais rítmicas... Outras mais harmoniosas, de diferentes andamentos...

O som estava lhe distraindo e fazendo-o focar apenas na paisagem da estrada...

E embora várias memórias ruins quisessem alagar a sua mente novamente, seu corpo se sentia exausto...

Todas aquelas noites sem dormir, sua mente estraçalhada e seu físico fatigado, haviam lhe derrubado de uma forma que não conseguia se locomover...

Um cansaço que não lembrava de sentir há muitos anos… décadas...

Aquela sensação que parecia mais um calmante natural, era completamente automático, que só um ser humano podia sentir... E não uma máquina...

O sono...

Foi forçado a dormir em tanques de nitrogênio com baixas temperaturas, durante décadas...

Aos poucos, seu corpo foi recobrando a memória do sono com exatidão e então...

Suas pálpebras passaram a ficar cada vez mais pesadas...

A noite ia fluindo... Flutuando em sua cabeça... Sonolenta e suave, esmorecia a música que tocava no rádio...

Os faróis do carro iluminavam a estrada escura... Poucos carros passavam por ali e tudo o que podia enxergar era o brilho soturno da lua, de alguns postes de luz, outdoors acesos em pontos da estrada e de poucos estabelecimentos clareados...

A música que tocava no rádio, tinha uma letra estranha... sobre acordar de um sonho ruim...

.

I wake up, it's a bad dream, no one on my side...

I was fighting but I just feel too tired to be fighting...

.

Os olhos de Bucky se fecharam completamente sem que percebesse e ele começou a cochilar ao som daquela música...

O monstro feroz adormecia junto... O Soldado Invernal não poderia sair por enquanto...

Sua última visão antes de cair no sono foi a de Darcy, dirigindo tranquilamente pela estrada, mantendo seu olhar firme e com um quase meio sorriso no rosto.

E então, ele dormiu...

Bucky ficou tanto tempo congelado, que seu corpo não se lembrava de como era estar esgotado e dormir naturalmente, sem interferência de terceiros...

Depois de alguns minutos, a estudante olhou para o lado e percebeu que ele havia adormecido...

A fisionomia do soldado era impressionante... Porque era nítido que mesmo sendo um misterioso homem que ela não sabia a identidade, um assassino ou agente, tinha certeza que dentro dele havia algo benevolente que não existia em pessoas ruins...

No meio da penumbra da noite, seu rosto era iluminado pelas luzes da estrada... O cabelo castanho cobria parte de sua face... A expressão dele era melancólica e seu sono profundo...

Darcy ficou se perguntando qual era o seu verdadeiro nome... De onde ele veio... Como acabou parando na SHIELD e tendo amnésia... Como aquele braço de metal for parar ali...

Não sabia o porquê, mas estava um pouco interessada nele desde que o conheceu. E mesmo não sabendo nada sobre o mesmo, de alguma forma, aquele misterioso homem lhe causava alguns efeitos indecifráveis...

A estudante o observou de novo... curiosa e um pouco atraída por sua fisionomia...

.

Ele era encantador...

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Não parecia que aquele homem, antes ameaçador e extremamente violento, podia ter uma expressão tão atenuante e nobre...

Sem perceber, encontrava-se completamente submersa na imagem dele...

E então, Darcy ficou convicta que quanto mais escura é a estrada, maior é o brilho das estrelas...

.

.

O tempo passou...

Finalmente seus olhos se abriram... Lentamente e pesadamente... A escuridão da noite não imperava mais no céu e tudo o que Bucky podia enxergar era o firmamento dividido em vários tons de laranja e amarelo, com diversos contornos azuis escuros...

Automaticamente, esculpia com os olhos as nuvens tênues no céu, realçadas pelos primorosos raios solares de uma manhã de primavera, mais fria que o comum...

Uma música tocava suavemente no rádio...

Uma música agradável... Cuja voz era de uma mulher com sotaque em inglês britânico...

A letra também era bonita e a melodia ressoava no ritmo de uma valsa rápida, embora o estilo fosse parecido com os das outras músicas em que Darcy ouvia, antes de adormecer.

.

I shield you from this life,

Your heart is kept on ice,

I file you where I need,

And keep you from the heat,

Running, running away...

.

O canto dos pássaros do lado de fora... O barulho de poucos carros passando pela estrada... As batidas em ritmo ¾ de uma valsa rápida, unido ao som de um piano grave, a melodia de um violino, uma guitarra harmoniosa e a voz cujo sotaque britânico e o timbre inigualável, tornavam tudo ainda mais inexplicável e esplêndido a cada segundo que passava...

Toda aquela harmonia catalisava o silêncio...

Bucky se posicionou melhor no banco do passageiro.

Depois de tantos anos... Tantas décadas... Ele não se recordava de ter dormido de verdade, como um ser humano...

Quando olhou para frente, notou Darcy… Sentada no capô do carro, segurando um copo plástico com tampa, bebendo algo...

Estava vulnerável quando dormiu profundamente enquanto a estudante dirigia, mas mesmo assim... ela não fez absolutamente nada de errado e que julgasse suspeito...

Talvez aquela garota fosse uma boa pessoa...

A julgar por seu atual estado emocional, o Soldado Invernal parecia estar controlado, dentro de alguma jaula em sua mente, sem poder sair.

Tudo estava sob controle, pelo menos por enquanto...

Bucky resolveu abrir a porta do carro e finalmente ficou de pé.

A dor dos hematomas ainda lhe incomodava, mas podia sentir sua recuperação um pouco acelerada, talvez porque finalmente havia repousado e dado sossego ao seu corpo e a sua mente, antes atordoados.

Quando passou a caminhar lentamente por conta da dor, ainda que mais leve, notou a grama molhada e o orvalho das folhas das árvores, mostrando que a noite foi enevoada.

Deve ter sido difícil dirigir com névoa...

Fazia um pouco de frio do lado de fora. Embora fosse primavera, o clima fresco do país continuava levemente gélido, abaixo dos 15 graus.

Darcy ouviu o barulho da porta do carro e se virou.

Os olhos deles colidiram imediatamente...

Ela o fitou, um pouco sem saber o que dizer, já que o soldado não estava disposto a responder qualquer coisa que a mesma perguntasse.

O tom alaranjado do sol, esverdeava o azul dos olhos dela...

Não havia se dado conta, mas Bucky se encontrava um pouco envolvido pela cor vivaz de sua íris, toda vez que a estudante o fitava com surpresa.

O arejo das árvores em volta, o clima fresco, levemente álgido, o imenso verde em volta e a estrada quase deserta ao lado... Conseguiu notar tudo com mais precisão depois de descansar por...

Horas...

Então, repentinamente a garota ofereceu um copo com uma tampa e protetor para não queimar os dedos.

— Aqui está o seu café.

Bucky ergueu uma sobrancelha.

— Café...?

— Sim. Depois de uma noite agitada como a de ontem e um descanso profundo, nada melhor do que um café para despertar. – A estudante sorria, lançando uma mecha de seu cabelo para trás da orelha.

O tom de sua voz era doce, ameno e florescente... O sorriso em seus lábios soava infantil e amplo, iluminando os olhos dele, como nada que se lembrasse de ter visto antes.

E ele observava fixamente os primeiros raios de sol tocarem o rosto dela com perfeição...

Sentindo todo o calor que seu corpo irradiava...

Os olhos dela, cor de céu... Quando os fitava, reluzia a paz que ele desesperadamente ansiava ter...

E então, o soldado desmemoriado aceitou a gentileza dela e pegou o copo de suas mãos.

— Você dormiu...? – Ele questionou, sem nem saber por que estava perguntando aquilo, mas talvez por gratidão por tudo o que ela tinha feito por ele.

— Não... Mas já estou acostumada a madrugar. Eu dirijo por essa estrada toda semana para ir a Willowdale.

Bucky não entendeu o que ela quis dizer quando disse que dirigia toda semana por aquela estrada. Tudo o que sabia sobre aquela garota era o fato de ser uma estudante universitária, pois a mesma fez questão de frisar isso.

Não queria aproximação alguma com ela, mas depois de ter visto seus atos sinceros para lhe ajudar, talvez devesse ser cortês, até mesmo para se despedir dela adequadamente e seguir o seu caminho.

— Como estão os seus ferimentos? E o seu ombro? – Questionou-o, com uma leve preocupação.

Não podia explicar que se recuperava muito mais rápido do que qualquer ser humano por ser um Super Soldado, então teria de dar uma resposta normal.

— Estão melhores.

— Que ótimo, mas precisa tomar os medicamentos para continuar se recuperando.

Bucky não respondeu a última afirmação dela, apenas porque queria ir direto ao ponto.

— Você achou algum livro... sobre o que me disse antes?

— Não! Procurei em algumas lojas ao redor do museu, mas não havia muita coisa sobre a segunda guerra, infelizmente...

— Entendo... – O soldado desviou o rosto e olhou mais uma vez ao redor. Depois de tantas noites sem dormir, e dos dias de suplício ao lado dela, tentando se recordar sobre quem era, descobrir sua identidade foi libertador...

Darcy percebia que o tom de voz e os gestos dele amenizaram completamente. Aquele homem nem parecia ser o mesmo ao qual viajou, lado a lado durante dias.

Quando o soldado percebeu o olhar desconfiado da garota, já entendia que a mesma supunha sobre sua mudança de comportamento, então, depois de tudo, ao menos devia ser civilizado com ela.

A estudante merecia...

— Não sei muito sobre formalidades... Considerando que eu seja perigoso... Mas acho que deveria saber o seu nome...

Darcy alargou um pouco os olhos em resposta.

Depois de toda a hostilidade daqueles cinco dias, as ameaças, os olhares mortíferos e as impressões nebulosas que tinha dele, finalmente uma bandeira branca foi erguida?

O misterioso agente e espião baixou a guarda, abrindo uma brecha, e aquilo a deixou feliz.

— Meu nome é Darcy... Darcy Lewis... Seria muito atrevimento da minha parte saber o seu...?

Ele hesitou por um tempo, mas a garota merecia saber...

.

Bucky...

.

Os olhos dela brilharam quando o ouviu dizendo seu nome.

Não parecia que o nome dele era Bucky, mas sim um apelido, porém, a estudante se limitou a fazer qualquer pergunta sobre aquilo. Ele merecia espaço, depois de tudo...

— Inesperado... Mas acho que combina perfeitamente com você, Bucky... – A voz de Darcy ressoava calorosamente serena e ele se sentia estranho por ouvir alguém dizer seu nome depois de...

Tanto tempo...

— Então, Bucky... Por que estavam atrás de você? – Já que havia baixado a guarda, ela agora tentaria agir normalmente com ele.

Mas o soldado hesitou, de novo.

— Eu não sei exatamente... – Não diria o motivo real a ela. Não havia necessidade.

— Não sabe? – Arqueou uma sobrancelha, um pouco desacreditada.

— Não.

— Você parece combater esse tipo de gente há um tempo. Trabalha para alguma organização secreta? Trabalha pra SHIELD? - Sua maldita curiosidade sobre a SHIELD lhe fez ser indiscreta, mesmo não querendo.

— Por que tantas perguntas? Você não entendeu que não posso responder o que quer? Por que deveria confiar em você? – Ele semicerrou o olhar, cismado.

— Eu não dei provas de que pode confiar em mim!? – Ela insistiu.

— Isso não prova nada. – Replicou, austero.

— Por que não!? – A garota choramingou. Depois de tudo o que tinha feito por ele, por que ainda não confiava plenamente nela?

— Chega de perguntas. – E então, Bucky olhou para a estrada, tentando reconhecer o local.

— Olha... Depois daquela ponte, vamos estar em Nova York. – Darcy respondeu, apontando para frente da estrada, mostrando uma ponte que ficava entre um rio.

— Nova York...? – Os olhos dele alargaram quando ouviu o nome “Nova York”.

— Sim... A Big Apple, a cidade que nunca dorme, a capital do mundo...

O soldado se virou e a olhou profundamente, confuso... O que ela estava dizendo...? O que eram aqueles termos que não conhecia...?

Darcy estranhou e mesmo que ele não quisesse responder tudo o que perguntava, a mesma resolveu insistir com mais uma pergunta incoveniente.

— Desculpe a intromissão, Bucky, mas... Por que raios você sempre faz essa cara quando cito coisas tão conhecidas e óbvias? Você por acaso é um agente escalado de algum vilarejo distante da Ásia ou Europa e caiu de paraquedas aqui na América...?

— Não... Eu... – Se perguntava o que ela quis dizer com “cair de paraquedas”.

— Você também se refere a mim de uma forma um tanto... Antiquada... O que há com esse vocabulário? No lugar onde você vivia, eles não falam de modo informal?

— Estou com amnésia. Não me recordo de nada... – Bucky tentou escapar, mas Darcy estava desconfiada e o mesmo se sentia desconfortável com o olhar descarado dela.

Porém, depois de um tempo, a estudante sorriu.

— Não se preocupe. Você não tem que me dizer mais nada... Sei que não confia em mim, então não vou insistir. – Ela deu mais um gole em seu café, observando a paisagem incrível a frente.

Bucky olhou fixamente o copo de café que a garota deixou para ele. Não se sentia confiante de abrir tanto a guarda para ela, por mais que quisesse.

— Ah, se você quiser usar o banheiro, tem o da cafeteria ali na frente. – Darcy estava fazendo de tudo para deixa-lo confortável, mas não sabia se estava tendo êxito.

Ele acenou com a cabeça e aceitou a sugestão dela.

Passou a caminhar calmamente para o local, deixando-a sozinha.

— Céus... o que realmente está acontecendo com ele...? – Se perguntava, tentando entender o real motivo por trás de tudo.

Estava imensamente curiosa em descobrir.

Alguns segundos depois, Derek ligava.

This is the rhythm of the night...

Precisava trocar o toque de seu smartphone, ou toda vez que aquela música tocasse, iria perder suas ligações pela vontade gigante de dançar a música.

Por ora, ignorou tal vontade e atendeu a ligação.

.

— E aí, já descobriu quem ele é...? – Darcy fazia cara de raiva pela demora de seu amigo em lhe dar informações sobre o homem ao qual viajou lado a lado durante cinco dias.

.

Você deve pensar que sou muito bom pra achar alguém com as descrições pobres que me deu!

— Ah, não é tão difícil pra você!

Se você pelo menos soubesse o nome dele, talvez as minhas suspeitas estivessem certas, mas-

— O nome dele é Bucky... – Darcy respondeu naturalmente, dando outro gole em seu café, despreocupadamente...

.

Silêncio...

.

Mais silencio do outro lado da linha...

.

— Alô... Você ainda t-

.

FOGE DAÍ AGORAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!— O rapaz gritou com todas as suas forças.

Darcy pulou de susto e o copo de café caiu no chão enquanto segurava o telefone em seu ouvido com a outra mão.

HEY, SEU IDIOTA, VOCÊ QUER ME DEIXAR SURDA!!! PORQUE ESTÁ GRITANDO!!?— A garota respondia com raiva. Derek era mais histérico que aquelas baratas quando viravam o casco pro chão enquanto fugiam de um chinelo.

Darcy, saia daí agora! Você vai morrer!!!— O rapaz insistia em gritar e a garota perdeu a paciência.

— Por que você está dizendo que vou morrer!? Quem vai morrer é você, se continuar gritando no meu ouvido!!!

Você confirmou as minhas suspeitas depois de dizer o nome dele! Eu descobri nessa madrugada enquanto pesquisava. Isso só foi revelado há poucos dias por causa dos arquivos vazados da SHIELD pela Viúva Negra!

— O quê...? Porque a Viúva Negra iria vazar arquivos da SHIELD se ela trabalha pra eles? – Indagou, confusa.

O incidente com a SHIELD aconteceu justamente por causa de infiltrados da antiga organização de inteligência dos nazistas!

— A HYDRA...? – Darcy perguntou, boquiaberta.

Sim! Isso ainda não foi revelado para o mundo, mas eu consegui achar algo depois da minha compulsão e obsessão pela KGB... Tenho uns colegas na Ucrânia que me ajudaram nessa pesquisa, e...então...

— E então...?

O cara que está com você é a maior arma da história da HYDRA! Um assassino, espião e atirador de elite. A maioria dos grupos de espionagem não acreditava que ele existia. Foi responsável pelo assassinato de mais de 20 pessoas importantes que eram obstáculos para a HYDRA e seus aliados. Um fantasma conhecido por alguns por...

— Conhecido por...?

.

Soldado Invernal...

.

O... O quê...?— Darcy estava desacreditada. O que acabara de ouvir era extremamente grave e passou a ter calafrios no mesmo instante.

Darcy, saia daí agora! É perigoso! Quando ele se distrair, saia correndo, peça ajuda, chame a polícia, mas não fique perto dele!

— Ai meu Deus... – A estudante estava alarmada. Não tinha ideia do quão perigoso aquele misterioso homem era.

Não se deixe enganar! Ele não é mais o mesmo soldado patriota que lutou pelos Estados Unidos na segunda guerra! Agora ele é um assassino sem identidade!

— Como assim soldado patriota que lutou pelos Estados Unidos!? Do que você está falando!?

O Soldado Invernal é o Sargento James Buchanan Barnes! Membro do Comando Selvagem e o melhor amigo do Capitão América. Ele foi encontrado pelos cientistas da HYDRA e transformado numa arma secreta! Ficou congelado durante décadas! Precisamente setenta anos!

Darcy estava sem chão... Sem querer, tirou o telefone do ouvido e tentou processar toda a informação que seu amigo lhe deu.

Não sabia exatamente o que fazer. Estava tão nervosa que seus joelhos tremiam.

Mas antes que pudesse dar qualquer passo, uma sombra já se encontrava atrás dela...

Suas pupilas se dilataram e o medo estava destravado, trincando a íris de seus olhos a ponto de quase mudarem de cor...

Ela não conseguiria disfarçar...

“Céus... Ele ouviu tudo...?” – A garota se contestava ao sentir uma presença impiedosa tão perto...

Suas mãos estavam tão trêmulas que seu telefone caiu no chão e a queda fez a bateria se desencaixar, encerrando a ligação com Derek.

A estudante não se virou, pois já sabia quem estava atrás dela...

Podia sentir a aura assassina tomar conta do local e aos poucos, seus joelhos cambalearem mais do que uma folha oscilando ao vento.

Aquele sentimento de abismo em seu estômago...

O soldado desmemoriado parou de enxergar Darcy como uma aliada e passou a vê-la como uma possível inimiga, depois de tudo o que a ouviu dizer no telefone.

Ela agora sabia sobre sua identidade real e identidade de espião...

Sua sobrevivência estava ameaçada, já que agora uma reles civil sabia demais sobre ele...

Bucky se aproximou dela, ainda mais, lentamente... E então...

.

Você... Sabe quem eu sou...?— Indagou-a, como se estivesse ordenando que lhe respondesse, com um tom de voz mortífero, intimidando-a de modo severo.

.

A raiva esmagadora fervia dentro de si novamente...

Sua voz ressoava como a de um verdadeiro assassino que cometeria um homicídio...

O Soldado Invernal estava saindo da prisão...

Darcy ficou em silêncio. Não soube o que responder...

Porém, ele insistiu...

— Eu vou perguntar mais uma vez e quero a verdade... - Se aproximou ainda mais dela, ficando a pouco centímetros das costas da garota, que se encontrava virada.

Bucky estava perto o suficiente de Darcy, a ponto de a mesma sentir a atmosfera assassina dimanando implacavelmente dele...

Com a distância muito comprimida, ele fixou seu olhar nela, petrificando-a apenas com a vibração de sua voz...

Pela última vez... Você... Sabe quem eu sou...?

A garota engoliu a seco... Uma gota de suor escorria por sua testa...

Ainda de costas para ele, segurando a respiração e com um nó na garganta, ela disse, totalmente chocada...

.

Você é... O Soldado Invernal...

.


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Notas finais do capítulo

Pra quem quiser ouvir as duas músicas que tocaram no rádio do carro em que a Darcy e o Bucky estavam, acessem o tumblr: https://wintershock.tumblr.com
A músicas são:
Keane – A Bad Dream
Agua de Annique – Ice Water
Alguém notou a referência dos “colegas da Ucrânia”? A Viúva Negra conseguiu os arquivos do Soldado Invernal com alguém de Kiev, capital da Ucrânia.
E agora? Darcy descobriu que ele é o Soldado Invernal e também o Sagento Bucky Barnes. Como as coisas vão se desenrolar? Descubra no próximo capítulo!
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Até o próximo.



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