Wintershock escrita por ariiuu


Capítulo 7
Ajudando quem não quer ser ajudado


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, como vão?
Trago mais um capítulo novinho e cheio de referências de coisas semelhantes aos anteriores: Músicas, séries, filmes e por aí vai :D
Esse capítulo será mais fofo e seguirá com o tom dramático, porém cheio de comédia, porque né... Darcy Lewis está aqui pra isso.
Mais detalhes técnicos no Tumblr: https://wintershock.tumblr.com
Divirtam-se, crianças.



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Um dia depois de esbarrarem com o agente da HYDRA e o mesmo se suicidar na estrada, Bucky e Darcy resolveram adiar a viagem para Washington por mais um dia.

A estudante já estava descabelada, pensando o que seria do seu emprego, do seu trabalho de conclusão de curso e de suas últimas aulas na faculdade. Mas tinha de seguir os planos do soldado desmemoriado. Não tinha como contestar.

Jane havia ligado e a garota teve que inventar mil desculpas. Por sorte a cientista acreditou...

Já Bucky, não dormia há três dias. Seu humor estava péssimo, seu corpo exausto e ferido... E sua mente...? Quebrada e estilhaçada...

Estava prestes a perder o controle...

A dupla parou em Silver Spring, um local mais próximo de Washington, e pela manhã, iriam para o museu.

No meio do caminho, enquanto sondavam um hotel, ao saírem do carro, Bucky percebeu dois elementos estranhos lhes observando.

Temendo serem agentes, ou qualquer outra pessoa que soubesse quem ele era, a dupla decidiu que deveria despistá-los.

O soldado assegurou à garota que os impediria de segui-los, usando seus métodos...

Depois da última noite e as condições estranhas em que estiveram juntos, Darcy sabia que algo estava errado e mexendo terrivelmente com seu coração...

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Com certeza era um infarto...

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Loucos dias se passaram e a garota estava prestes a ter um colapso emocional, porém, em um dia cumpriria a missão de deixar o Serial Killer a qual acompanhou todo aquele tempo, no museu.

A estudante chegava à conclusão de que nem as histórias dos filmes mais dramáticos conseguiam ser mais deprimentes que a sua vida...

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— E pra onde eu vou!? – Darcy o questionava, se referindo para onde devia ir, até que Bucky desse um jeito nos elementos que os observavam do outro lado da rua.

— Me encontre naquela igreja que passamos em frente há três quarteirões, daqui há quinze minutos.

— Mas-

— Vá, agora! – Ele conclamou, impaciente, saindo do local no mesmo instante.

Darcy caminhou para longe, indo em direção à pequena igreja com paredes de pedra, perto dali.

Enquanto andava, a garota tentava ligar pra seu melhor amigo nerd/cdf/hacker que sempre lhe dava informações privilegiadas sobre qualquer coisa. Ele era um banco de dados ambulante, e necessitava falar com o mesmo por causa de toda aquela viagem perigosa...

O intuito era ver o que seu amigo podia descobrir sobre aquele serial killer.

Mas o sinal estava péssimo e a ligação nunca completava.

Ao chegar na rua da igreja, ainda com o smartphone na mão, Darcy percebeu uma grande movimentação.

Quando se aproximou ainda mais, reparou em algo bastante chamativo naquele lugar...

Uma discoteca.

Era isso mesmo? Por quê ali?

A garota estreitou o olhar, encarando a movimentação.

Estava imensamente curiosa, então, quando chegava cada vez mais perto, notava o volume alto de uma música que amava, tocando de fundo...

Toto – Hold the line.

Nem sonhava em nascer quando aquela música bombava nas rádios... seus pais provavelmente nem se conheciam nessa época...

Uma fila mediana estava formada e muitos jovens vestidos a caráter esperavam para entrar no local.

Darcy roía a unha, com uma sobrancelha levantada, descarada o suficiente para rodear o lugar, como se quisesse entrar ali e vislumbrar a decoração de todo o ambiente.

Ela amava danceterias e sempre que tinha oportunidade ia para algumas em Nova York, junto com seus colegas de trabalho, vulgo acompanhantes de bebida.

Era ridículo e clichê, mas desenvolveu tal hábito depois de tomar um pé de seu ex-namorado.

Ela achava "Eu te amo" a coisa mais linda que se podia dizer, até escutar "3 latões por 6 dólares".

A garota já havia se esquecido da igreja e toda a sua atenção estava na entrada da danceteria.

Ali, acabou puxando conversa com algumas pessoas que estavam na fila, se distraindo e esquecendo-se de esperar por Bucky.

— Vocês não vão entrar? – Darcy perguntava para um grupo de amigos que se queixava do alto preço do ingresso.

— Estamos esperando uma brecha pra entrarmos de penetra. – Uma das garotas sussurrou no ouvido da estudante, que ficou admirada por tamanha ousadia.

— Como vocês fazem isso em pleno século 21!? Existe uma fórmula!? Se sim, quero aprender agora! – Darcy não se importava de cometer pequenos delitos. Entrar de penetra numa festa? Ok. Roubar um carro? De jeito nenhum pois não queria a polícia na sua cola.

Existiam pecadinhos e pecadões, segundo ela. Ai se seus pais ouvissem tamanha infâmia...

Já havia se passado dez minutos e a garota se esqueceu totalmente que se encontrava numa missão suicida junto com o assassino e agente secreto. A única coisa que importava naquele momento era a descontração com o grupinho de amigos de visual meio retro e meio pin-up, que esperava uma brecha para entrar de penetra na danceteria.

Darcy trocou seu e-mail com as garotas, pois aquele grupo tinha grandes coisas em comum com ela. A estudante possuía certa facilidade de socialização quando o assunto era música e cinema.

Eles divagam nos diálogos descontraídos, onde compartilharam relatos de quando seus pais foram ao festival Woodstock em 1969, até teorias da conspiração que diziam que Bruno Mars era um filho ilegítimo do Michael Jackson.

E por falar em Michael Jackson, lá estava “Beat it” entrando em cena...

A música tocava alta de dentro da danceteria, ecoando lindamente do lado de fora.

Antes que Darcy percebesse, já estava dançando a música com eles... A estudante adorava o Rei do Pop e aprendeu a dançar suas músicas desde pequena, então seus passos eram bem precisos, sincronizados nas exatas batidas e simetricamente harmoniosos.

O grupo a aplaudia pela habilidade, mas em meio à gritos e assobios...

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Darcy percebeu que Bucky lhe observava do outro lado da rua, em frente à igreja... com os braços cruzados, encostado na parede...

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O semblante extremamente furioso, mas ao mesmo tempo gélido soou como um soco no estômago... Céus, ela havia se esquecido de encontra-lo ali...

— Pessoal, tenho que ir. – Ela parou de dançar e se retraiu por completo, numa pose mais tímida e temerosa. Nem parecia a mesma pessoa de antes.

Uma das garotas reparava no misterioso homem do outro lado, que parecia estar esperando por Darcy.

— Hey, ele é seu namorado? – A garota perguntava, inocentemente.

— Não, não... ele não é meu namorado... – Darcy replicou, calmamente. Aqueles poucos minutos lhe tiraram da realidade que estava vivendo ao lado do soldado desmemoriado.

— Uau, ele tem um visual totalmente grunge...! – Outra garota dizia, notando a aparência dele.

— É um gato! – Já a outra, babava enquanto o observava indiscretamente.

— Se você não é namorada dele, por que não o traz aqui e apresenta pra gente? – Dessa vez era um garoto do grupo que sugeriu, dando uma piscadela para Darcy.

— Ahahahaha, acho que ele não vai querer! Mas de qualquer forma foi um prazer, gente! Beijos e me liguem! – Darcy acenava, dando tchau para os amigos que acabara de fazer, enquanto do outro lado...

Bucky a esperava, com uma carranca sombria...

— Dizem que Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus melhores soldados... Acredito que ele tenha me confundido com o Rambo... – A garota desabafava consigo mesma enquanto se aproximava dele.

Ao parar na frente do soldado, ele a fitou com desprezo.

— Por que você estava com aquelas pessoas e... fazendo aquilo...? – Bucky franziu o cenho. Não se lembrava de ter visto alguém dançando daquele jeito antes... o tipo de dança que tinha em sua mente era um tanto diferente...

— Aquilo o quê? Dançar? – Contestou, revirando os olhos.

Ele acenou com a cabeça, em silêncio.

— Foi mal. Eu sou um ser humano que trabalha, estuda, come, canta, dança, conta piadas... e você... eu não sei exatamente o que você é ainda... – A garota rebatia, um tanto desanimada. Estava muito cansada daquela aventura perigosa e tudo o que queria era ir para casa.

“Que saudades de assistir minhas séries na Netflix, debaixo do meu edredom quentinho, com uma canequinha de chocolate quente...”— A estudante se recordava das últimas semanas de inverno que haviam se passado.

— O alerta era falso. Aquelas duas pessoas eram só dois ladrões. – Bucky lhe tirava de seus devaneios.

— Só dois ladrões!? E isso não é motivo suficiente pra ficar assustado!? Aah, mas esqueci que você é um assassino sangue frio nível A, e meros ladrões são como formiguinhas pra você... – Revirava os olhos, de novo, totalmente irritada. Queria ir embora, mas teria de passar o resto da noite com ele e mais o dia seguinte até retornarem a Washington. Ali ela diria adeus e seguiria com sua vida normal.

Ao menos era o que esperava...

O soldado desmemoriado observava Darcy em silêncio. Seus olhos traçavam sua silhueta...

Aquela garota tinha um estilo estranho, que não se lembrava de ter visto em nenhum lugar...

Darcy trocou de roupa naquela manhã, com medo de ser reconhecida pela polícia. Mas seus trajes sempre eram tenebrosos... Calça jeans, tênis e uma touca por baixo do capuz da blusa de moletom... O cabelo estava totalmente desgrenhado e um pouco ensebado por baixo da touca, além da maquiagem borrada... Seu disfarce era terrível... não havia nada de feminino nela...

A garota notava os olhos dele mapeando seu corpo... sabia que não estava muito bem vestida, mas foi o que conseguiu comprar quando passou na loja de departamento na outra cidade.

Darcy franziu a testa, e colocou as mãos em volta do pescoço enquanto se levantava na ponta dos pés, tentando disfarçar o constrangimento.

— Olha, eu não sou assim normalmente... quer dizer, sou, mas não fico tanto tempo vestida tão desleixadamente e-

— Isso não me interessa. Vamos procurar outro lugar para ficar. Estamos expostos aqui fora. – Bucky olhou para os dois lados, incomodado por estarem naquele lugar tão movimentado, sendo alvo de vários olhares curiosos, e tudo por culpa dela...

Mas ainda assim...

Ele olhava para ela e se recordava de alguém... no mais profundo abismo de sua memória, havia uma recordação de uma mulher semelhante a ela... seria esse o motivo do porquê não a deixou para trás e seguiu sozinho com a missão de descobrir sua identidade? Havia algo nela que o prendia? O que aquilo significava afinal? Desde que se encontraram pela primeira vez, carregava aquela dúvida em sua mente...

Tinha capacidade suficiente para chegar ao museu de Washington sem ela... mas por um motivo desconhecido, ele não estava cogitando a possibilidade de deixá-la ir... pelo menos por enquanto...

Mas se ela quisesse ir... ele não a impediria...

A garota suspirou, impaciente. Suas mini-férias como fugitiva ao lado daquele Serial Killer tinha que acabar amanhã.

Ou iria se atirar do penhasco como forma de protesto.

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Pela quarta vez na semana, ela fez check-in em outro hotel. Céus, aquilo cansava e custava dinheiro... Estava no vermelho, literalmente.

Ser empática e ajudar as pessoas, ao mesmo tempo em que cedia às ameaças de um espião e assassino, lhe faria trabalhar muitas horas-extra para pagar. Se lembraria disso da próxima vez que visse outro agente secreto perdido. Sairia de fininho, pouco se importando se o sujeito tinha amnésia ou não.

Porém, entretanto, contudo, todavia...

Era um pouco triste assistir o declínio de um ser humano que não dormia há três dias, ferido e machucado fatalmente por causa de um tiro no ombro.

Tinha horas que sentia raiva, mas quando esfriava a cabeça, a compaixão por ele era um pouco mais forte.

Bucky saia do banheiro, depois de tomar um banho.

A estudante reparava que ele costumava correr para o banheiro, como se um banho fosse a coisa mais importante a se fazer, em todos os dias que viajaram juntos.

— Minha vez! – Ela articulou, animada. Mas tudo o que teve em resposta, foi o olhar de aversão dele...

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“Que seja...”— Pensava enquanto pegava a toalha pendurada e corria para o banheiro.

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Naquele instante, a garota olhou para a banheira... Pensou em enche-la e cair dentro. Estava tão tensa por conta dos últimos dias, que tudo o que precisava era relaxar.

E assim ela fez... por uma hora...

Darcy não viu o tempo passar e quase dormiu na banheira. Só percebeu que o mundo estava girando quando seu telefone tocou.

.

This is the rhythm of the night ♫ ♫

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No visor, sua melhor amiga...

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Kimberly Campbell.

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— Alô?

E aí mongolona do interior, onde você está!?— A voz estridente do outro lado da linha, soava alta e Darcy teve de abaixar o volume.

— Kim, é por isso que seus vizinhos te adoram... Você fala muito baixo, sabia?

Deixa de ironia e me fala onde você está!? Por que não voltou pra Nova York?

— Nem te conto... Minha vida tá uma desgraça nesse momento... – Ainda deitada na banheira, ela levantou o pé para cima, deixando a espuma escorrer por seu tornozelo.

O que tá pegando!? Nós não íamos sair no sábado!? Amanhã é sábado e nada de você voltar... mas... Espera aí!!! Não me diga que você está com o Terry!!? DARCY LEWIS, NÃO ME DIGA QUE VOCÊ ACABOU COM A SOLTEIRICE E RESOLVEU DAR UMA CHANCE PRO TERRY E-

TÁ MALUCA!!? EU NÃO DEI CHANCE PRA NINGUÉM NÃO!!! BEBEU QUANTAS!!? AINDA SÃO SÓ NOVE HORAS!!! – A voz de Darcy pôde ser ouvida nos quartos vizinhos do hotel, e por Bucky também.

Então o que você está fazendo aí em Washington!!? QUEM É O BOY!!?— Kimberly insistia, tamanha curiosidade.

— Que boy!? Não tem boy!!! Eu estou solteira, tá!?? Não se esqueça disso!!! Solteiro não é um estado civil, é um estado de paz!!! DE PAZ, ENTENDEU!!? – Quem dera que seu único problema fosse a solteirice... estava dividindo outro quarto de hotel com um agente secreto, vulgo assassino, vulgo espião, vulgo psicopata? Ela nem sabia mais como caracterizar aquele homem que não tinha ideia de quem era, de onde era e nem qual era seu nome.

Pensei que você tinha arrumado um boy e superado o Robert...— A amiga dizia tristemente, como se a vida de uma mulher dependesse disso [?].

— E o que faz você pensar que eu preciso de um homem pra ser feliz?

Não precisa, mas você desistiu de encontrar sua metade da laranja?

— Kim... Minha metade da laranja já deve ter virado suco... – Darcy pegava um pouco de espuma na palma da mão e assoprava.

Tá, tá... Não vou perguntar o que está fazendo, mas como você está...?

— Tirando os problemas, a vida continua ruim mesmo assim... – Desabafava, rindo de si mesma.

Lá vem você, com essas frases que dão em crises existenciais...— A melhor amiga de Darcy parecia se preocupar muito com ela.

— Na vida eu sou o Chris, branca e versão feminina, sacou? – A estudante se preparava para sair da banheira.

E eu sou o Greg, versão feminina e loira.

— E o que seria de mim sem você, Greg!? Estou com tantas saudades! – Ela pegava a toalha.

— Mas nos vimos na semana passada!

— Essa semana está demorando pra passar! Está levando uma eternidade!

 - Você não vai mesmo me dizer o que está acontecendo?— A amiga contestava, preocupada.

— Não tem nada demais acontecendo... quando chegar em Nova York eu te ligo.

Você está escondendo algo! Eu te conheço!

— Não estou não!

Está!

— Kim...!!!

O quê...?

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— Alguém manda eu perder a vergonha na cara e largar todas essas responsabilidades que me impedem de ter uma vida alcoólatra e inconsequente...?

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Mas você já tem...

.

.

* Cri... cri... cri... * – Grilos e mais grilos em meio ao silêncio...

.

.

— Passar bem, Kim.

— Hey-

*Biiiip*

Darcy desligou na cara dela.

“Com uma melhor amiga dessas, quem precisa de inimigo?”— A garota pensava, sem paciência.

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Darcy ficou no banheiro por mais um tempo, trocando de roupa e secando o cabelo, arrumando suas mechas castanhas com um secador, deixando-as com um aspecto melhor, pois mesmo estando naquela situação estranha com o soldado desmemoriado, ele ainda reparava nela, e não queria deixar uma impressão tão ruim de sua aparência.

Quando saiu do banheiro, lá estava ele, mais uma vez... no escuro, vigiando a janela.

Ela revirou os olhos, tamanha desaprovação. Era fato que ele precisava dormir.

E aquilo estava começando a incomodá-la...

“Um, dois, três... respire fundo e esqueça tudo isso. Vá dormir, pois amanhã você estará livre e...”

Ela bem que tentou seguir seu pensamento, mas não conseguiu.

— Hey! Preste atenção no que eu vou te dizer! – A voz de Darcy ecoou pelo quarto e Bucky apenas a ignorou, pouco se importando com o que a mesma tinha a dizer.

— Sei que amanhã vamos para o museu, mas você está a três dias sem dormir! Tenho certeza que ninguém virá atrás de nós, então hoje é você quem vai dormir nessa cama! – Ela apontou para a única cama de casal que havia no quarto. Era o segundo hotel que se hospedaram que não possuía quartos com camas separadas.

— Eu já disse que não preciso dormir. – Replicou, friamente.

— Você tem que tentar... sei que você não confia em mim e está receoso de novos agentes te acharem, mas você precisa dormir! Sua cara está péssima!

E de fato, estava... Olheiras ao redor de seus olhos, a feição fatigada e meio anêmica revelava isso.

Depois de ouvir tais palavra, Bucky se levantou, caminhando na direção dela.

Os olhos impassíveis a miravam... nefastos...

E lá vamos nós de novo...— Ela sussurrou, já fazendo uma careta, se lembrando das noites anteriores com ele.

A garota franziu o cenho, mas diferente de antes, não recuou.

Porém...

Bucky parou no meio do caminho e esboçou uma expressão indigesta.

Seus olhos percorreram por todo o quarto, como se estivesse perdido... demasiadamente erradio e procurando algo.

Em poucos segundos, ele caiu de joelhos e começou a suar frio. Suas mãos tremiam, seus joelhos estavam fracos e um formigamento passou a tomar conta de seu corpo.

Darcy ficou perplexa, mas como sempre, sua reação era se aproximar e tocá-lo. Já era instinto.

— O que está acontecendo!? Você está bem!? – Ela se ajoelhou e sua mão já estava erguida para tocá-lo, mas parou no meio do caminho, porque se lembrou que ele odiava aquilo.

Bucky não disse nada. Tudo o que a estudante teve em resposta foi a respiração pesada do mesmo.

Darcy o examinava, sem saber o que fazer. Seus gestos expressavam uma espécie de crise traumática.

Fazia sentido, por causa da amnésia, e era nítido que o soldado tinha o perfil de uma pessoa com sérios problemas emocionais e mentais, mesmo não entendendo o porquê.

Sem pensar duas vezes, a garota decidiu tirá-lo daquela crise, fazendo algo totalmente inesperado, pois talvez um ato imprevisto lhe acordaria, dando um choque de realidade para lhe despertar.

Ela correu para o banheiro e encheu um recipiente com água.

Quando voltou, se agachou e atirou a água no rosto dele.

— Hey, se concentre em mim! – Sua voz fez com que Bucky olhasse para ela.

Já era um bom sinal.

Logo em seguida, Darcy segurou seus ombros e começou a sacudi-lo, para que saísse do êxtase daquele colapso.

— Preste atenção em mim! Eu estou aqui! Olhe pra mim, agora! – A garota repetiu o ato diversas vezes.

Bucky a observava, se concentrando... Seu rosto estava molhado e vários pingos caiam em cima do carpete do quarto.

Seu coração estava martelando em seu peito...

— Respire fundo! Jogue o ar pra dentro e solte lentamente pelo nariz! Isso vai te acalmar! – Ele reparava que a estudante parecia habituada em lidar com crises de ansiedade, pois tudo o que lhe instruía, estava surtindo efeito.

Ela o puxava para fora de sua cabeça, dando-lhe foco...

Bucky cedeu, porque precisava... sua mente estraçalhada e o corpo esgotado não estavam ajudando... A privação do sono não era uma opção, porque não tinha escolha... Havia sido treinado para agir daquela forma.

Aos poucos, sentia seus músculos relaxarem, atenuando seus pensamentos, que insistiam em lhe trazer para um imenso labirinto, sem certeza de achar a saída...

Darcy notava o brilho penetrante e cheio de mistério naquele olhar tão enigmático, revelando a nudez de uma grande dor... Desvendando-se em ocultas razões e encontrando-se nos olhos dela...

Bucky estava tão desnorteado, que sem perceber, suas palavras saíram em outro idioma...

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Ich brauche... den Führer... zu finden…

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— O quê…? – Indagou-o, sem entender nada do que dizia. Ele falou em russo no dia anterior e agora estava sibilando palavras em... Alemão...?

O soldado ficou em silêncio por um tempo, se recompondo, pois por um momento, o inglês americano sumiu de sua mente, lembrando-se apenas do alemão.

Bucky respirava fundo, forçando sua mente em não perder o foco, que se encontrava nos olhos da garota. Ele sabia que teria de se concentrar apenas nela para que não enlouquecesse de vez...

O olhar dele queimava... inebriante...

Sua mente em pedaços, doendo... Sentindo corroer o que restava de sua alma... desmedidamente...

Já Darcy, se sentia flutuar sobre aquele mar tempestuoso de seus olhos, à deriva... no escuro... Era como se as ondas lhe devorassem, batalhando contra um dilúvio... Tudo o que não precisava era se afogar... Tinha de ancorar... e correr para a beira do oceano daquele mesmo olhar...

— O que está acontecendo com você...? Por que não se abre comigo...? – Articulava, com uma feição melancólica, vendo-o sofrer daquela forma e não ter ideia do que podia fazer para tirá-lo daquela situação.

— Isso é... algo que está além da sua compreensão... – Redarguiu, com um pouco de dificuldade, por causa da falta de ar.

— Não vamos saber se você não me contar... – A estudante insistia, porque pensava que podia fazer algo, ainda que não fosse muito.

— Eu não preciso de sua compaixão... – A voz soou um pouco tenebrosa, e grave o suficiente para voltar a assombrá-la. As sensações horríveis tentavam retornar e Bucky já se desconcentrava dela, mais uma vez...

— Minha intenção é te ajudar... mas você não me dá chance... – O tom de sua voz soou ameno... e aquilo lhe enfurecia...

— Eu não aceitei que viesse comigo porque podia me ajudar a finalizar minha missão... Eu não preciso que ninguém me guie... você não tem capacidade pra isso... – Suas palavras foram duras, mas era assim que as coisas tinham de ser. Bucky não tinha a mínima necessidade de desenvolver qualquer vínculo com ela, muito menos entrar em uma dívida de gratidão...

Foi forjado pelos cientistas mais desumanos e treinado pelos agentes de elite da HYDRA... Sentimentos humanos não faziam parte de sua natureza...

A estudante não conseguia acreditar totalmente no que ele dizia, mas estava cansada de tentar convencê-lo de que devia confiar nela.

— Então você não precisa mais de mim, certo? Eu posso ir embora...? – Contestou, seriamente.

De todos os dias em que estiveram juntos, aquele foi o único momento em que Bucky pôde vislumbrar austeridade na estudante.

Ela parecia decidida.

A expressão do soldado foi de... indefinição. Não sabia o que era decidir algo... Só sabia obedecer ordens e coordenar outros agentes que trabalhavam consigo em missões especiais. Não se recordava de fazer uma escolha por outra pessoa, fugindo dos comandos programados por seus superiores.

Porém, antes que pudesse lhe dar uma resposta, ele fechou os olhos novamente quando percebeu que aquele frenesi infernal tentava lhe roubar a sanidade mais uma vez.

Darcy, por sua vez, não conseguiu recuar. Não podia deixa-lo naquele estado.

— Ok, ok... Eu prometo que vou decidir se vou embora, mas só depois que você estiver bem, então olhe pra mim de novo! Eu não posso te deixar aqui com uma crise dessas!

E então, Bucky a fitou... Demasiadamente desolado... Estava sofrendo, e toda aquela dor psicológica que se apossava de cada parte de seu corpo, cada músculo e cada veia, lhe fazia sentir suas entranhas arderem por dentro...

Mas Darcy não podia deixa-lo ali, mesmo se quisesse...

O olhar dela era de... Misericórdia...

Ele odiava aquilo, mais do que tudo...

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Vá embora...

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Bucky exprimiu, furiosamente, com muito desprezo... Mas Darcy não aceitou.

— Eu não vou embora! Eu disse que iria, porque você é teimoso e não aceita a minha ajuda! – A garota insistia.

— Não preciso mais da sua ajuda... você pode ir...

— Não vou!

— Vá... – Redarguia, com dificuldade, por conta da respiração pesada.

— Não vou te deixar aqui e está decidido!

— Não... – Ele não conseguia contestar, pois se sentia cada vez mais fraco.

Darcy segurou sua mão, mesmo contra sua vontade.

— Olhe pra mim, por favor... – A garota permanecia insistente, e ele não conseguia entender o porquê.

Bucky não queria, mas precisava se concentrar nela. Naquele momento, aquela garota era a única pessoa no mundo que podia tirá-lo da fronteira entre um agente desmemoriado e o Soldado Invernal... Frio, calculista e letífico.

— Eu não sei por que você está passando por isso, mas seja como for, não é culpa sua! Você me salvou em Washington...! sei que aí dentro deve ter um senso de direção moral que implora para ser ouvido... então ouça a voz da sua consciência, por favor!

Consciência? O que era mesmo? Aquela voz que gritava o tempo todo dentro de sua mente, tentando lhe impedir de cometer os piores crimes...? aquilo era a sua consciência? Mas foi adestrado para matar aquela voz... nunca dava ouvidos a ela, então por que de repente aquela garota lhe dizia para ouvi-la?

— Hey, se concentre em mim! – Darcy tentava tirá-lo da suposta metamorfose que traria o Soldado Invernal de volta.

Ela se aproximou ainda mais e num movimento ousado, suas mãos tocaram o rosto dele, a fim de que se concentrasse nela.

Darcy estava disposta a fazê-lo se acalmar...

— Olhe pra mim, por favor...

Bucky insistia em fechar os olhos e apertá-los com força, por perceber que a mesma tentava dominá-lo... Mas seria impossível, pois ninguém além da HYDRA tinha aquele poder.

— Olhe pra mim... – Insistia, notando que suas pálpebras abriam-se, lentamente...

Selvagens olhos azuis perfuraram os dela quando ambos se entreolharam.

Ela acariciou o rosto dele, num ímpeto afeto, tentando trazê-lo de volta...

Darcy nem ao menos sabia o que se passava com ele... A garota apenas achava que o mesmo estava aflito e fisicamente cansado, por isso tinha perdido o controle de sua mente.

Mas aquele meigo gesto, fez sua mente estraçalhada e confusa se aquietar... lentamente...

A estudante estava com um semblante absorto... ela estava sofrendo por causa dele? Aquilo não era possível... não possuíam conexões pra que a mesma expressasse tais feições...

Os olhos dela o fitavam com muita comiseração... e ele... odiava aquilo... Talvez pior do que ser olhado com indiferença enquanto era apenas uma cobaia nas mãos de Arnin Zola, ou mesmo depois de passar nas mãos de dezenas de cientistas que encarregaram-se dele no decorrer dos anos... ser visto como uma vítima que merecesse tamanha compaixão por não ter o controle de sua mente era indigno e não conseguia aceitar...

Ele afastou as mãos dela, com agressividade, mas Darcy insistiu.

— Não tente me afastar!

— Eu não preciso que você me ajude... – Não conseguia aceitar... não ter capacidade de se manter são... não queria ser guiado por ela...

— Para com isso! Se estamos nessa juntos, vamos até o fim! – A voz da garota soou estridente.

— Você não tem que se sentir obrigada a isso... – Ele se levantou, num desespero de fugir... era por uma questão de hierarquia? Aquela garota era uma simples estudante universitária e não tinha ideia do que acontecia com ele.

— Não estou me obrigando a nada! Faço porque quero! – Darcy gritou, teimosamente irritante.

— Isso não faz sentido... – O soldado replicou, perplexo.

— Não faz sentido porque não sou uma agente secreta, ou seja lá com que tipo de pessoas você conviveu!

— Não preciso de sua ajuda... – Bucky sabia que a quantidade de argumentos para afastá-la havia esgotado.

— Se não precisa, o que estou fazendo aqui nesse lugar a essa hora com você!? Eu deveria estar em casa, dormindo pra me preparar para o trabalho, mas escolhi estar aqui com você...! então por favor, me ouça pelo menos uma vez... eu estou te pedindo...!

Não...

— Por favor... – Darcy insistiu, ela encostou no braço humano, pouco se importando se ele se queixaria por lhe tocar.

Não queria enxerga-lo como um monstro, mas como alguém perdido que necessitava ser guiado e orientado, ainda que não soubesse o que se passava com ele.

— Eu prometi que te levaria ao museu... Quero cumprir minha promessa... Me deixe fazer isso por você... – Ela segurou a mão humana com força, com os olhos fixados nele. Algo estava errado e ele não tinha mais certeza de nada.

Sem saber o que dizer ou fazer, ele cedeu... e Darcy se afastou, quando percebeu que o mesmo havia se acalmado.

— Eu vou ficar aqui com você... olha! Tem duas poltronas! Posso te fazer companhia até que você fique com sono e-

— Eu não vou dormir. – A interrompeu, rejeitando qualquer possibilidade de ceder ao sono e dormir.

— Então eu também vou ficar acordada! Não é justo que eu durma e você fique aqui sozinho!

— Você não tem que fazer isso...

— Mas eu quero.

— Você não precisa...

— Mas eu vou.

— Eu não quero...

— Eu também não quero que você fique aqui sozinho... você não dorme há três noites... vai desmaiar de cansaço...!

— Eu não vou... – De alguma forma, Bucky já não sabia como convencê-la do contrário, ou mesmo assustá-la. Durante aqueles dias, por mais que a garota mostrasse medo e arrependimento de estar ali com ele, parecia sempre voltar atrás. O que aquilo significava? Ela era louca ou ingênua?

— Eu não vou te deixar sozinho e eu estou falando muito sério. Pare de tentar me convencer... – Ela insistiu e ficou ali com ele...

Por horas...

Sem dizerem uma palavra sequer.

A madrugada seguia densa, enevoada e um pouco fria, pela típica brisa da primavera que acabava de chegar ao hemisfério norte...

Aos poucos, Darcy foi pegando no sono. Não era difícil pra ela, que tinha uma mente saudável e um corpo normal, que se cansava facilmente...

Quando Bucky deu por si, a estudante havia adormecido na poltrona.

Ele a observou por longos minutos...

Por que ela estava fazendo tudo aquilo por ele...?

A expressão serena e confina daquela garota, lhe irritava, ao mesmo tempo que lhe intrigava profundamente... e o fato de sua fisionomia lhe lembrar de alguém que não se recordava, só alimentava mais incertezas dentro dele.

Sem pensar duas vezes, ele a pegou no colo, no intuito de colocá-la na cama.

Enquanto a carregava lentamente, tentou assimilar o aroma que os longos cabelos castanhos exalavam... uma mistura de chantilly, baunilha e pêssego...

Seu perfume doce... era estranhamente aprazível de se inalar...

.

Aquela garota era tão delicada e frágil...

.

Ela parecia ter um sono muito pesado e não percebeu que ele a carregava, uma característica evidente de que a estudante era apenas uma pessoa normal... Sem traumas, sem marcas ou cicatrizes... sem grandes problemas que lhe comprometesse em todos os sentidos.

Quando a acomodou na cama, Darcy se moveu naturalmente, numa posição mais confortável, e ele pôde vislumbrar um tênue sorriso nos lábios dela...

A expressão de uma jovem no auge do entusiasmo de seus sonhos...

Bucky suspirou, pesadamente... toda aquela viagem era desgastante e se encontrava extremamente exausto...

A privação do sono não era uma opção, mas seu corpo implorava por um alívio... Por mais que seus instintos de espião lhe dissessem para não dormir, sabia que em breve desmaiaria de exaustão.

Não tinha escolha. Sua condição humana suplicava por descanso.

Ele deitou ao lado dela na cama, deixando um largo espaço entre ambos...

Bucky observou cada detalhe do rosto da garota, e como os cachos ondulados se encontravam simetricamente perfeitos em torno de seu rosto...

Seus olhos piscaram lentamente, suas pálpebras foram pesando, vagarosamente e então...

.

Ele finalmente adormeceu... ao lado dela...

.

No dia seguinte, Darcy acordou e percebeu que estava na cama.

Ele a colocou para dormir!? Por quê!?

— Que vacilo... eu dormi quando disse que ficaria a noite toda acordada junto com ele... – A estudante colocou as mãos na cabeça, se praguejando por ter um sono pesado.

Bucky estava no banheiro, e ela ouvia o barulho do chuveiro ligado.

Darcy sentiu uma sensação estranha... como se ele tivesse passado a noite ao lado dela...

Mas sabia que aquilo era impossível...


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Notas finais do capítulo

Iti malia, que foi isso? Capítulo mais fofo, porém cheio de drama. Coitado do nosso Winter Soldier :(
Alguém reparou na referência do "Ele tem um visual totalmente grunge?" Pois é... Capitã Marvel, pra quem assistiu ao último trailer :P
Me digam o que estão achando e mandem sugestões para os próximos capítulos. Reviews são bem importantes, pra saber se devo continuar... *ameaça mode on.
Acessem o Tumblr pra coisas exclusivas desse capítulo. Tem muuuuita coisa lá: https://wintershock.tumblr.com
Até o próximo.



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