Wintershock escrita por ariiuu


Capítulo 6
O azul de seus olhos


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, tudo bem cocês? :D
Estou trazendo um capítulo um pouco semelhante ao anterior. Espero que não me matem pela tortura que causarei em vocês. Desde já, me perdoem, tá? :P
Não esqueçam de acessar o Tumblr: https://wintershock.tumblr.com
Ignorem os erros por enquanto e divirtam-se!



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Era a noite do terceiro dia e Bucky e Darcy saíram de Calverton, seguindo para Carriage Hill.

A garota estava com tanto medo de ser descoberta pela polícia, que se disfarçou: peruca loira, maquiagem borrada e roupas de frio. Completamente diferente de como saiu de Washington.

Já Bucky, seguia com seu típico traje de Soldado Invernal por baixo de um sobretudo preto.

Ele sempre estava alerta quanto às câmeras de segurança de certos pontos da estrada e alertava Darcy a desviar de certos caminhos. Não podia deixar que os CFTV, seja de onde transitassem, fizessem reconhecimento facial. Sabia que era um alvo e teria de tomar drásticas medidas de precaução.

Darcy dirigia, pegando a rodovia da Brooklyn Bridge, mas por erro do GPS, foram parar num lugar deserto, onde as placas diziam ser uma área de recreação.

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Mas estava mais para a floresta da Bruxa de Blair...

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— Aprenda uma coisa... Se o GPS mandou você virar à direita, então vire à esquerda! – A garota reiniciava o aplicativo no smartphone.

— Por que está me dizendo isso se é você quem está dirigindo? – Bucky contestava, frio e indiferente, como de costume.

— Porque a nossa tecnologia ainda possui diversas falhas... E só há falhas porque foi construída por seres humanos! – Afirmava, completamente indignada. “Se os E.Ts tivessem desenvolvido isso aqui, não teria falhas.”— Ela pensava, sendo preconceituosa com sua própria raça.

Bucky aprendeu a ignorá-la, se habituando aos devaneios fora de hora da garota.

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Um tempo depois, Darcy percebeu que estava perdida. O GPS não estava ajudando em nada.

Eram duas e meia da manhã.

Estava numa estrada escura e deserta, perto de uma floresta assustadora, no meio do nada, com um espião e assassino ao seu lado.

Algo normal que qualquer um fazia no dia a dia...

— Céus, eu não sei por onde ir... – Ela suspirou, cansada e um pouco atordoada.

— Dê meia volta. É só pegar a rodovia que estávamos antes. – Ele sugeria, calmamente.

— Como você pode estar tão calmo!? Estamos num lugar bizarro!!! – Indagava, alarmada.

— Você não tem ideia do que seja bizarro... – Retorquiu, severamente. Como aquela garota lhe irritava...

Em meio ao breu da estrada, uma luz se aproximava... de longe...

Darcy entrou em pânico e começou a olhar para os dois lados, completamente aterrorizada.

Bucky arqueava uma sobrancelha, não entendendo seus gestos.

— Meu Deus, nós estamos em Maryland! Será que viemos parar na floresta onde a Bruxa de Blair mora!!?

— Do que você está falando...? – Bucky replicou, impaciente. Mais uma vez ele a indagava sobre algo que não fazia a menor ideia.

— Aaaaaaah meu Deus!!! O que é aquilo que está se aproximando!? – Darcy gritava, tirando as mãos do volante, com o olhar imerso no vidro retrovisor do carro.

Não sabia se saia correndo por medo de ser algum espírito maligno, ou se corria para averiguar, caso fosse um óvni.

— Só vamos descobrir quando chegar aqui. – Bucky retirou uma arma, preso nas costas de seu colete e olhou para trás, cautelosamente, estreitando o olhar.

— Você só diz isso porque nunca jogou Resident Evil e nem maratonou várias temporadas de Supernatural!!! – A estudante já se encontrava trêmula e sem saber o que fazer.

— Eu já estou cansado de ouvir todas essas coisas desnecessárias que não entendo. Se você disser mais alguma coisa, eu juro que vou tapar a sua boca com fita adesiva. - Ele encaixava o carregador em sua pistola, se preparando para qualquer ameaça que surgisse.

E a garota... se abaixou, encolhendo-se no canto, entre o banco e o volante.

Bucky apenas a fitou nebulosamente com desprezo enquanto carregava sua arma... odiava pessoa medrosas...

A luz que antes se encontrava longe, já estava perto suficiente, e o soldado reconheceu que tipo de carro era o que se aproximava...

Um veículo que mais parecia uma lamborghini...

Ele estranhou... Não fazia sentido alguém trafegar com um carro daqueles por uma estrada deserta... A menos que...

Os olhos dele abriram mais do que o comum, e o mesmo esboçou uma feição de surpresa.

Automaticamente, saiu do carro e Darcy ficou apavorada.

— Por que está saindo do carro!? – Gritou, amedrontada.

— Fique quieta e não saia daí. – Ele bateu a porta do veículo com força.

Os sentidos de Bucky se expandiram e ele passou a caminhar lentamente contra o que se aproximava.

O carro que veio numa velocidade incrível do nada, freou violentamente em sua frente.

Ooh meu Deus...— Darcy sussurrava, encolhida dentro do veículo e com as mãos na cabeça.

O carro ficou parado. Não era possível enxergar o motorista por conta do vidro fumê.

Mas depois de longos segundos, alguém abriu a porta.

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Um homem alto, cabelos escuros, olhos claros, trajando uma roupa preta com o emblema da SHIELD...

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Um agente estava na cola deles e Bucky nem ao menos havia percebido.

O misterioso homem fechou a porta do carro e passou a se aproximar dele.

Um sorriso cínico podia ser notado, em meio à escuridão do lugar, com apenas os faróis de ambos os carros acesos.

— Finalmente te encontrei... – O agente proferiu, em meio ao sorriso.

Bucky se perguntava quem era ele.

— Como me achou?

— Estou te procurando há dois dias...

— Você não é um agente da SHIELD de verdade... – Ele afirmou, sabendo que só os agentes infiltrados da HYDRA sabiam sobre sua existência.

— Fui enviado pelo atual líder para leva-lo de volta... – Afirmou, dizendo seu propósito ali.

— Quem é o atual líder? – Bucky indagou-o. Precisava saber como ficaram as coisas depois da morte de Alexander Pierce.

— Você não o conhece, mas não se preocupe, pois não irá demorar para estarem frente a frente. – O agente articulava despreocupadamente tais palavras. Sua postura estava relaxada e ele não parecia estar portando nenhuma arma consigo.

Bucky o analisou por longos segundos. Seus instintos de espião lhe asseguravam uma perita leitura corporal. Ele sabia exatamente se uma pessoa estava mentindo, se estava armada, se faria algum movimento imprevisível. Estava muitos passos além de qualquer um, quando se tratava de avaliar seus inimigos.

Já que aquele agente estava ali para leva-lo, teria de aproveitar a oportunidade e investigar sobre aquele que iniciou a série de lavagens cerebrais e o transformou no Soldado Invernal.

— Onde está Arnin Zola...? – Bucky arriscava. Não tinha nada a perder e precisava saber onde aquele cientista desgraçado estava escondido.

— Ora ora... Acho que alguém andou se recordando de alguns acontecimentos, não é mesmo...? – O agente riu. A postura dele permaneceu descuidada.

— Onde ele está...? – Ordenou. A expressão de Bucky mudava drasticamente...

O Soldado Invernal estava prestes a entrar em cena...

— Bem, acho que não há nada demais em responder sua pergunta... então... – Ele se aproximou, parando a um metro de Bucky.

— Arnin Zola está morto... Desde 1972. – Afirmava, com um meio sorriso macabro.

Ao analisa-lo, Bucky percebia que o mesmo não parecia estar mentindo, mas o sussurro de uma memória lhe dizia que o cientista não havia morrido.

— Vou reformular a minha pergunta... Onde está o que restou dele...? – Insistiu, pois sabia que algo naquela história não fazia sentido.

— Mesmo sem memória, você é mais perspicaz do que imaginei.

— Responda... – Bucky exigiu. Estava se segurando para não matá-lo.

— O que restou dele foi pelos ares quando um míssil balístico de curta distância explodiu uma das antigas bases da SHIELD em Nova Jersey... há poucos dias... – O agente afirmava, convicto.

Bucky fitou o chão. Não estava acreditando que Arnin Zola estava vivo há poucos dias e não tão longe dali... Havia tantas coisas que precisava saber daquele cientista... Além da sede de vingança que pulsava dentro de si, de mata-lo da forma mais dolorosa possível, depois de tudo o que o mesmo fez... De tê-lo transformado numa arma mortífera e lhe torturado da pior forma possível, isso jamais seria possível por ter se transformado em algo que não era físico.

Se recordou que o maldito havia morrido fisicamente, mas sua mente foi mantida como um banco de dados em um lugar que não fazia ideia. Sua mente foi arquivada e ele ainda atuava nos bastidores da HYDRA... tais informações vieram à tona, antes de mais uma lavagem cerebral, décadas atrás... ele conseguia se recordar...

A expressão do agente se desfez e uma aura nebulosa podia ser vista.

— Você não acha que está passando dos limites, querendo saber sobre seus superiores como se fosse dono de si mesmo...? – O tom de sua voz era de repulsa. Era como se o mesmo tivesse nojo daquele que estava diante de si no momento.

— Eu sou dono da minha vida agora. – Bucky redarguiu, sombriamente impassível. Um brilho nebuloso podia ser vislumbrado em seu olhar.

— Não... você não é... – E então, efemeramente, o agente que antes sorria debochado, exprimiu uma feição colérica, e iniciou um combate quando o mesmo desferiu um soco na direção de Bucky.

Ele apenas desviou e ambos começaram a se enfrentar.

Darcy ouvia os ruídos dos dois homens lutando, enquanto permanecia encolhida dentro do carro.

O agente tirou a arma da mão de Bucky, jogando-a para longe.

A estrada permanecia escura, silenciosa e deserta, com apenas os faróis dos carros iluminando o caminho.

A luta seguia intensa, ofensiva e implacável, no mesmo nível, mas apenas porque Bucky ainda se encontrava ferido e exausto por não ter repousado um minuto sequer desde que despertara há menos de uma semana.

Mesmo em desvantagem, ele desempenhou movimentos precisos contra seu adversário, porém... O agente tinha uma incrível velocidade e sua agilidade em facilmente se esquivar lhe trazia muito mais rendimento numa luta corpo a corpo, sem armas.

Ele conseguiu derrubar Bucky no chão e nocauteá-lo, deixando-o imóvel, numa posição em que não conseguia se mexer.

Estava convicto de suas habilidades e por isso não portava nenhuma arma. Achava que seria páreo para o Soldado Invernal.

O agente sorriu e começou a dizer algumas palavras estranhas...

— Antes de me designarem a missão de trazê-lo de volta, me foi dada uma lista de palavras-chave... e disseram que essas palavras podem te despertar... isso é verdade...?

O olhar de Bucky alargou em surpresa. Ele sabia exatamente do que aquele agente falava...

Como ele sabia sobre aquela informação? Só o topo da pirâmide da HYDRA e da KGB tinham acesso aquelas palavras-chave...

Mediante a isso, automaticamente o corpo dele reagiu...

Sua mente passou a produzir memórias instantaneamente... Memórias de um lugar fechado e escuro... clareado por luzes fracas...

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Um quarto vermelho...

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Ele se recordava de ter sido treinado ali... numa época intitulada como...

Guerra Fria...

Imagens de batalhas contra outros soldados... com o mesmo propósito que ele e...

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Uma mulher de cabelos ruivos, olhos verdes e pele branca...

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Bucky chacoalhou a cabeça, tentado se desvencilhar de tais lembranças, pois a sensação de tê-las diante de seus olhos, eram as piores possíveis...

O agente o puxou pelo pescoço, deixando-o numa posição desconcertante, e se divertia ao contemplar a expressão confusa do Soldado Invernal, tendo um colapso mental, apenas porque citou sobre ‘tais palavras-chave’...

No mesmo momento, ele começou a soletrar palavras confusas, desconexas e fora de contexto, separadas aleatoriamente, não fazendo o mínimo sentido...

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Em russo...

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желание... ржавый... семнадцать...

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Bucky começou a gritar, como se algo aterrorizante estivesse prestes a acontecer...

Darcy ouvia seus gritos, sem saber exatamente o que fazer.

Рассвет... печь...

O agente seguia soletrando tais palavras russas e os gritos dele aumentaram...

Sem entender o que estava acontecendo e não tendo opções, a estudante sabia que precisava fazer algo. Se aquele Serial Killer desmemoriado havia sido encurralado, então precisaria salvá-lo, caso contrário, ela também seria pega...

Apanhou o taser que se encontrava preso em sua calça, abriu a porta do carro rapidamente e logo apontou a arma de choque na direção do agente.

Surpreso por não esperar que a garota saísse do veículo, ele deixou de soletrar as palavras-chave e direcionou seu olhar para ela, dando uma abertura...

Bucky imediatamente o contra-atacou, derrubando-o no chão... violentamente...

Darcy ficou imóvel, com o taser na mão e uma expressão de surpresa.

A feição do soldado naquele momento era puramente desumana... Algo insano e atroz... ele estava prestes a trucidar seu inimigo, fazendo-o em pedaços...

Seu sangue fervia, numa invasão arrebatadora de mata-lo da pior forma possível...

A garota arregalou os olhos quando percebeu que Bucky parecia ter perdido o controle. Não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas era nítido que ele já não era mais a mesma pessoa de minutos atrás.

O agente que havia caído no chão, se afastava com dificuldade, se arrastando enquanto tentava respirar, pois levara um golpe no rosto a ponto de sentir seu sangue escorrendo pelo nariz...

Ele o encarou temerosamente. Não tinha terminado de recitar todas as palavras-chave que havia memorizado, mas aquilo foi o suficiente para despertar o Soldado Invernal?

Bucky desferiu um potente chute que quase o deixou quase inconsciente.

O agente cuspia sangue, mas em meio a isso, sentiu novamente um chute violento, dessa vez no estômago.

Ele o espancava com a brutalidade de um animal feroz e selvagem, totalmente descontrolado e desprovido de emoções... Irracional, torturador e com uma sede insaciável de sangue...

Um sorriso audaz se formou em seus lábios... O Soldado Invernal sentia prazer em massacrar seus inimigos... e tortura-los, dando-lhes uma infinidade de dor...

A estudante continuou imóvel, sem reação. Sabia que havia se aventurado em algo perigoso quando aceitou acompanha-lo naquela jornada sombria na descoberta de sua identidade... e não podia permitir que ele matasse alguém, então...

Teria de agir...

Bucky puxou o braço do agente e ouviu o estalar de seu osso sendo deslocado.

— AAH! – Ele gritou, tentando escapar, mas sem êxito.

Ele sorria, pretensiosamente sombrio ao ouvir os gritos de agonia daquele em que havia acabado de quebrar um braço.

O Soldado Invernal sussurrou palavras em outro idioma...

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Я убью тебя, ублюдок...

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“Russo...?”

Darcy se perguntava porque ele estava falando em russo? E por que aquele agente também começou a falar russo momentos antes?

“O que aquilo significava?” – Pensava, completamente perdida.

Bucky retirou a faca que estava presa em seu traje.

Os olhos da estudante se alargaram.

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Ele o mataria...?

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Bucky o degolaria, mas Darcy correu no mesmo instante e...

Segurou seu pulso impedindo-o de matá-lo.

— Não faça isso!

— Saia... – Ele ordenou, sem expressão alguma em sua voz.

— Não vou deixar que você mate ninguém! – A estudante sabia que estava se arriscando fazendo aquilo, receosa em se complicar ainda mais, caso a polícia descobrisse que estava junto de um assassino desconhecido, como se fosse cúmplice.

— Se você não se afastar, essa faca rasgará a sua garganta e não a dele... – Exigiu, sem se virar na direção dela.

— Eu não quero me encrencar com a justiça porque viajei com um assassino! Vamos embora agora! – Darcy tentou puxá-lo, mas Bucky a empurrou e voltou sua atenção para o agente, que estava com os olhos fechados, quase inconsciente.

— Por favor...! Você disse que precisava da minha ajuda e eu não quero ser uma fora da lei!

Ele a ignorou, pronto para dilacerar o pescoço daquele agente.

Vendo que não teria seu pedido atendido, Darcy olhou para os dois lados, procurando uma forma de evitar que ele o matasse e então...

A garota correu para a lamborghini, tirando a chave da ignição, desligando o veículo.

Bucky franziu as sobrancelhas... não entendia o que ela estava fazendo.

E então, Darcy correu para o carro que antes dirigia, sentou no banco do motorista e fechou a porta, com a janela ainda aberta.

A estudante o encarou com furor.

— Se você quiser ficar aí e mata-lo, faça como bem entender, mas não terá a minha ajuda pra sair daqui e nem te levar ao museu! Eu vou embora!  - Darcy ligou o carro, prestes a pisar no acelerador.

Bucky largou o agente, jogando-o no chão e fixando seu olhar na direção onde a mesma estava.

шлюха...— Seus lábios se moveram e formaram uma palavra em russo, que ela não tinha ideia do que era. Será que ele estava lhe xingando?

De repente, o agente começou a espumar pela boca e a se debater.

Darcy ficou alarmada diante da cena bizarra...

— O QUE ESTÁ ACONTECENDO...!? – Contestava, amedrontada.

Quando o agente parou de se debater, balbuciou algumas palavras...

Hail... Hydra...

E então, seu rosto tombou para o lado, ainda com os olhos abertos.

— Ooh meu Deus, o que aconteceu!? – A garota começava a ficar ainda mais apavorada.

Bucky apenas observou o agente se suicidar com cianureto, como todos os outros agentes da HYDRA. Provavelmente aquela missão só lhe dava uma opção...

Sucesso ou morte.

Ele deu a volta, pegando sua arma do chão e caminhou até o carro onde a estudante estava, abrindo a porta que dava acesso ao banco do passageiro.

— Dirija. – Exigiu, com a expressão impassível e completamente nebulosa.

— Ele morreu!? – Ela questionava, pois não tinha certeza de mais nada.

— Se você não pisar agora nesse acelerador, te jogarei para fora do carro. – Afirmava, sem sequer olhar para ela.

— Eu quis fugir daqui porque você ia mata-lo!

— Dirija.

— Mas-

— Eu disse para dirigir. Agora. – A voz dele soou mais ameaçadora e Darcy imediatamente pisou no acelerador.

Deixaram o corpo do agente ao lado do carro e sem as chaves do veículo.

Ela acelerou pela estrada deserta, completamente amedrontada.

— Me dê a chave do carro dele. – Bucky exigia.

— Por quê?

— Me dê agora.

— Ok... – A garota arqueou uma sobrancelha, desconfiada, mas obedeceu. Estava extremamente apavorada por dentro e não faria perguntas. Depois de ajudar a roubar dois carros, agora seria culpada por conta de um suicídio também? Só de imaginar, começava a tremer de medo.

No mesmo instante, Bucky quebrou as chaves do veículo com sua mão de metal.

— Você sabe dizer como ele nos achou?

— Havia um rastreador no meu traje. – Retorquia, ríspido.

— E você não tinha percebido?

— Eu já o removi.

— Céus... O que está acontecendo...? Por que você está sendo perseguido por eles? Você é algum agente de elite insubstituível?

— Continue dirigindo e não me faça perguntas.

— Mas-

Ele exprimiu um olhar demasiadamente aterrorizante. Darcy podia jurar que se fizesse mais uma pergunta, ele lhe mataria no mesmo instante.

O que diabos era aquilo tudo? Estava no meio de uma perseguição perigosa com aquele assassino do qual nada sabia.

Mesmo em meio a tantos mistérios e a arriscada situação que se encontrava junto dele, a garota dirigiu para uma cidade mais distante de onde haviam planejado se hospedar anteriormente.

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Darcy dirigiu até Adamstown, já que a gasolina do carro estava acabando.

Aquele era um ótimo motivo para roubarem outro carro e a estudante estava odiando o rumo que tudo aquilo estava tomando.

Era um lugar estranho e deserto... bem diferente das outras cidades onde estiveram.

Ambos notaram uma casa abandonada logo a frente... As janelas tinham os vidros quebrados e o assoalho podre...

Antes de deixarem o veículo, limparam suas digitais de todos os lugares e não deixaram vestígios que pudessem os comprometer.

Darcy estava se sentindo mal por estar em uma desventura com um assassino e agente secreto, que ela já nem sabia mais se era da SHIELD.

A dupla saiu do carro, abandonando-o em frente a casa assustadora.

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Bucky roubou um novo veículo.

Ambos seguiram viagem para Ellicott City e procuraram outro hotel.

O dinheiro de Darcy já havia acabado e lá estava ela, passando o cartão de crédito novamente para pagar a estadia e fazer check-in.

— Só temos um quarto sobrando. – A recepcionista afirmava.

— Tudo bem. – Darcy não se importou.

— Uma suíte de casal. – A mulher sorriu e a estudante arregalou os olhos.

— O quê...? – O olhar da garota correu de um lado pro outro, um tanto alarmada por saber que era uma suíte de casal.

E então, Bucky assumiu a frente ao perceber sua reação.

— Não tem importância. Nós vamos ficar. – Ele pegou as chaves da mão da recepcionista e olhou para a estudante, como se estivesse lhe dando uma ordem apenas com o olhar.

Darcy o seguiu, atônita.

Enquanto o acompanhava pelo corredor, a garota se aproximou e começou a cochichar.

— Nós não podemos entrar nesse quarto!

— Por quê? – Indagou, friamente.

— Por que só tem uma cama!

— E por que isso te preocuparia...? – A voz dele era tão indiferente e emblemática, que não sabia se naquele momento o mesmo estava agindo naturalmente, ou curtindo com a sua cara.

— Esquece... – Ela esboçou uma careta, indignada.

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Os dois entraram no quarto e de fato, só havia uma cama.

Bucky não acendeu a luz, propositalmente, e a garota sabia que era por conta de seu problema com a claridade.

Ele também não disse nada e ficou em silêncio por um longo tempo, tirando o sobretudo e as armas espalhadas pelo traje, deixando-as numa mesa ao lado da porta do banheiro.

A estudante percebeu uma luz fluorescente sendo ligada, clareando levemente o quarto...

“Um abajur ao lado da janela... de novo...”— Se recordava de quando o mesmo deixou um abajur ligado enquanto permaneceram no outro hotel.

Darcy colocou sua mochila em cima de uma poltrona e examinou a suíte... Mais uma noite em um hotel na margem da estrada, acompanhada de um homem que não tinha ideia de quem era...

Estava disfarçada, com roupas que não costumava usar... até uma peruca loira estava servindo nessas horas, tamanho medo de ser descoberta pela polícia, agências de inteligência e até mesmo o FBI...

“Céus... o que eu tô fazendo com a minha vida...?”— Pensava, aflita.

A estudante suspirou fundo e depois se virou para ele, fitando-o com muito receio.

— Eu não quero ser invasiva, mas ao menos me diga o que está acontecendo! Eu não posso continuar viajando com alguém que não sei nada, nem mesmo o nome!

— Já disse que foi sua escolha... Nós temos um acordo. Não tenho que te dizer nada. – Contrapôs, severamente, sem olhar para ela.

— Você tem me usado apenas como um mapa e alguém conveniente para situações de emergência...! você é tão estranho que nem sequer perguntou meu nome e-

— Não me interessa o seu nome... – Ele a interrompeu, num tom lesivo.

— Certo... acho que me enganei a seu respeito... mas o que eu esperava? Que um agente secreto, espião, assassino, ou seja lá o que mais você seja, agisse como alguém normal...? Preciso rever meus conceitos sobre os seres humanos... – A garota desabafou, inquieta e preocupada.

— Você age como se não soubesse como são os seres humanos... – Ele sabia que a estudante era ingênua, mas não a ponto de ser tão inocente em não ter ideia no que estava se metendo.

— Eu pensei que você fosse agir normalmente com o passar do tempo e confiar em mim, já que estou me arriscando para te ajudar e-

— Você não me conhece...

— Sim, mas você é alguém tão horrível assim!?

— Não sabe nada sobre mim... – Ele escapou da pergunta, respondendo a mesma coisa... o obvio... Também não sabia nada sobre si mesmo...

— É, eu não sei... – Ela não tentou contestar mais uma vez. Estava cansada de arriscar um diálogo e convencê-lo de seu ponto de vista. Aquele homem era extremamente pertinaz e não cederia, em momento algum.

Bucky estava numa condição turbulenta. Não dormia há três dias e sua mente permanecia atormentada.

No último embate com o tal agente da HYDRA infiltrado, e que os perseguiu até a estrada perto da floresta, acabou se machucando ainda mais e quase teve o ferimento de seu ombro reaberto.

Por um momento, sua visão ficou turva e se desequilibrou, quase caindo no chão.

Darcy percebeu e logo correu para ajudá-lo.

— Hey, você está bem!? – Se aproximou, tocando suavemente suas costas.

Mas ele a empurrou, num reflexo, como mecanismo de defesa... Não podia deixar que ninguém o tocasse...

Mesmo depois do dia anterior, de tê-la deixado lhe tocar, ainda não conseguia ceder facilmente... era algo muito difícil pra ele, e não tinha confiança suficiente nela... tudo estava fora dos eixos dentro de sua mente e não tinha certeza de nada...

Bucky mirou a face da garota, lançando um olhar predatório... e abertamente ameaçador...

Sua feição era como uma arma carregada com todas as balas... e a estudante ficou paralisada, temendo se mover e ter qualquer gesto interpretado como uma intimidação...

Darcy apenas atentou para a feição dele... olhando seu cabelo caindo em torno de seu rosto... uma única mecha obscurecia seus penetrantes olhos azuis...

A garota recuou um passo... Ele era belo como um anjo, mas assustador como um demônio...

Um brilho ameno irradiava de sua pele... Um azul palidamente suave...

Ela permaneceu imóvel. Não sabia o que fazer, pois qualquer palavra que ousasse dizer, era facilmente descartada pelo mesmo.

Ele sempre lhe dava respostas vagas... Não aprofundava o diálogo e a cortava, tentando se desvencilhar de qualquer coisa que sugerisse.

A voz dela não passava de insignificantes palavras jogadas em vão, no vento, e pisoteadas pelo silêncio...

Sentiu-se furioso, sonolento, derrotado e atormentado... Queria destruir a HYDRA por completo, até seu último membro...

Bucky serrou os punhos... Uma raiva esmagadora fervia dentro de si...

Seu coração batia forte e descompassado quando se lembrava o quão torturado foi... e o quanto sua mente se encontrava errática e fora do tempo...

Darcy observou tudo, quieta, tentando entender o que havia de errado com aquele misterioso assassino...

Ele tinha amnésia. Aquilo já era motivo suficiente para deixa-lo inconformado e furioso na maior parte do tempo, mas por que tanta agressividade? Aquela era sua real personalidade? Mesmo se tivesse suas memórias de volta, agiria exatamente daquela forma?

Que tipo de pessoa ele era...? Sua conduta era tão hostil a ponto de sempre afastá-la? Se sim, então significava que ele era uma pessoa ruim? Ou se tornou daquele jeito por ter perdido sua memória?

Em meio à tantas perguntas sem respostas, Darcy quebrou o silêncio.

— Sei que está aflito por uma série de fatores... mas não seria melhor agir racionalmente e lidar com os obstáculos que estão na sua frente nesse momento? – A garota ponderava, no desígnio de clarear a mente dele.

Seu olhar cruzou com o dela, e em um piscar de olhos, Bucky parecia se recompor, mas em outro piscar, soava como se quisesse trucida-la. Seu temperamento oscilava, como uma onda inconstante na imensidão do oceano... e nem mesmo ele entendia o porquê.

Sua feição era nebulosa, arrogante e firme... Algo demasiadamente perverso, que Darcy temia, mas ao mesmo tempo não conseguia odiar... o que era estranho...

Sem resposta, a garota mais uma vez tentou tocá-lo, estendendo a mão em sua direção, mas Bucky flexionou seu braço cibernético, agarrando firmemente o pulso feminino...

Ela tentou puxá-lo de volta, mas não conseguiu... ele era incrivelmente forte...

Recuando alguns passos para trás, se aproximou dela, encurralando-a entre ele e a parede...

O Soldado Invernal era alto... e sentia-se vulnerável diante dele...

O contato gélido do metal em seu pulso... era terrivelmente feroz...

Seu coração batia erraticamente enquanto a mão metálica prendia seu pulso contra a parede...

Os olhos dele... frios e impiedosos... expressavam um verdadeiro inferno glacial... mas em vez de se sentir congelada, Darcy vivenciava suas entranhas se derreterem...

O braço de metal flexionou-se ainda mais no momento em que a estudante tentou se mover... O rosto dele estava muito mais perto do que pensava, e seus olhos azuis fixos nela...

A estudante piscou, assustada, tentando afugentar todo pânico que ousava em lhe sucumbir...

De fato, havia momentos em que a garota não se sentia ameaçada perto dele, mas na maioria das vezes, a sua postura era de um terrível assassino...

— Você prometeu que não me ameaçaria de novo... – A garota sussurrou, receosa, não tendo coragem sequer de encará-lo.

— Eu disse desde o começo... que estou no comando...

A estudante suspirou e ficou em silêncio por alguns segundos, sentindo seu pulso prensado contra a parede.

— Eu nunca quis comandar nada, se é isso que você tanto teme... só estou sugerindo um caminho alternativo...

— Não sugira nada... – A voz áspera e grave, lhe causava calafrios.

— Mas eu estou nessa com você... isso não seria o bastante pra considerar o que eu falo...? – Retorquia, seriamente, e dessa vez, arriscando lhe encarar.

Quando Darcy pensou que o mesmo reagiria de forma agressiva e lhe rebatesse com suas respostas cortantes, ele apenas...

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Sorriu....

Sórdido e ousadamente opressor...

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O que aquilo significava?

Ela nunca tinha lhe visto sorrir abertamente e nitidamente antes... Era um tanto surreal e demasiadamente bizarro...

Aquele homem estava escarnecendo do que ela dizia?

— Por que está rindo...? – A garota contestava, inocentemente.

Bucky ergueu a mão humana, sutilmente, e empurrou uma mecha do cabelo loiro da frente dos olhos dela, deixando-a lhe fitar, completamente confusa...

Aquele gesto foi ousado... e o sorriso dele ainda mais...

Misterioso, devastador e... eversivo... perfeito como o caos pairando sob o abismo...

E ainda que aquele sorriso fosse sádico, ela não imaginava que podia ser tão belo e envolvente... Estava surpreendida... Vislumbrada... mas nada disso fazia sentido algum...

A fraca luz fluorescente do abajur retocava o semblante sombrio... Pincelando seus traços pálidos...

Aquela visão era muito mais requintada e exorbitantemente esmerada que a noite mais escura que já contemplou em sua vida...

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Mais incrível do que qualquer estrela que vislumbrou ao redor do mundo com Jane...

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Completamente perdida diante da vastidão escura em sua frente, sufocando seu respirar... Darcy tentou se desencadear daquele maldito sortilégio que a embalava, pois aquele homem...

Era um enigma...

Ela desviou o olhar, mas a voz dele a trouxe de volta...

— Você é só uma garotinha indefesa... sem proteção alguma e que não sabe de nada... O que te dá o direito de dizer o que devo fazer...? – O tom de sua voz era indiferente e completamente apático...

Bucky não desfez o aperto no pulso dela. Pelo contrário. Se manteve firme naquela posição.

E o olhar da estudante que antes era de confusão, surpresa e receio se transformou...

Em uma carranca impetuosa...

— Você não precisa agir dessa forma comigo. Não é necessário ser gentil, mas ao menos educado, pois estou te fazendo um favor. – Redarguiu, um tanto incomodada.

— Eu não preciso de favores...

— Não haja como se não soubesse que isso é um favor! Você pode ser uma máquina de matar, desmemoriado e ter instintos selvagens, mas lá no fundo você entende o que eu digo!

Ele a encarou... em chamas... furioso pela coragem de falar naquele tom e por afrontá-lo, como se não o temesse.

— Você se arriscou por conta própria... Eu disse que tenho amnésia.

— Sim, me arrisquei e me arrependo por isso, mas você também tem se arriscado, mesmo ferido! Saiu com uma arma na mão quando um agente veio atrás de nós, pouco se importando com o que aconteceria no final! – Retorquiu, temerária.

Mas sem esperar, Darcy não calculou o movimento audaz dele...

Bucky estreitou ainda mais o espaço que havia entre ambos... seu rosto se encontrava incrivelmente perto... e então...

.

Os únicos que podem atirar, são aqueles que estão preparados para levar um tiro...

.

Surpreendida com a recém afirmação intrépida... Darcy conseguiu descortinar a tonalidade dos olhos do Soldado Invernal...

Azul... Translúcido, etéreo... sidéreo... elíseo... demasiadamente celestial...

E então, se recordou da tradicional história criacionista... Do livro de Apocalipse... onde revelava que alguns seres divinos foram expulsos do paraíso... e se transformaram em anjos caídos...


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Notas finais do capítulo

Pra quem não sabe as palavras russas que são soletradas para despertar o Soldado Invernal, lá vai: Saudade – Enferrujado – Dezessete - Amanhecer – Fornalha – Nove – Benigno – Retorno – Um – Vagão de carga.
Alguém percebeu que ele se lembrou da Viúva Negra mas ainda não se deu conta?
Novos personagens entrarão em cena, então vou criar um link com todos os personagens que estarão nessa fanfic. Teremos desde Tony Stark até a melhor amiga da Darcy (inventada). Vocês também vão cair pra trás sobre quem é o ex-namorado da Darcy, que foi citado no primeiro capítulo. Surprise! Ahahaha!
Leitores fantasmas, estou esperando vocês, ok? Apareçam e deem sugestões. Elas podem ser usadas nos capítulos futuros. No Spirit, alguns leitores deixaram sugestões e já comecei usá-las. Não fiquem de fora também, leitores do Nyah :D
Para mais detalhes dessa história, acessem o Tumblr. Lá tem bastante coisa legal: https://wintershock.tumblr.com
Até o próximo.



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