Wintershock escrita por ariiuu


Capítulo 4
Em um hotel na beira da estrada


Notas iniciais do capítulo

Hello, galerë linds, leitores fantasmas e moscas! Como vão vocês?
Trago mais um capítulo, cheio de referências de filmes de terror e músicas dos anos 80/90, só pra descontrair! Eu amo escrever coisas que façam menção ao passado, pois sou uma mulher das antigas que odeia muito essa década chata de 2010, tão mimizenta e cheia de futilidades... Quem deu sorte de pegar os anos 90 sabe bem do que eu falo :P
O capítulo saiu um pouco mais comprido dessa vez... Sorry...
Embora não tenha montado uma playlist, essa fanfic terá algumas músicas, acidentalmente tocadas em tempo real ao longo da história. A primeira delas (sem ser o toque do telefone da Darcy) é Frozen da Madonna. Confiram lá no Tumblr: https://wintershock.tumblr.com ou procurem no YouTube.
Espero que gostem!
Divirtam-se!



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Bucky e Darcy viajavam para um lugar pouco movimentado, mas não tão longe de Washington DC. A garota sugeriu a pequena Poolesville, uma vila localizada no estado de Maryland, no Condado de Montgomery.

Sabia que ainda estariam atrás dele, mas por enquanto, teria de esperar alguns dias antes de voltar para a capital junto com ela, que prometeu levá-lo até museu.

Bucky dirigia com muita dificuldade, por causa do ombro ferido.

Já Darcy, estava um pouco ociosa e desenhava um sol sorrindo no vidro úmido e esfumaçado da janela do carro, que se encontrava molhado por conta da névoa e da leve garoa daquela madrugada.

Só queria se lembrar o tempo todo que sairia daquele marasmo com o assassino e espião que acompanhava. Ela precisava manter algum otimismo para esquecer que estava viajando naquelas circunstâncias, mas por livre e espontânea vontade, claro.

Eles tiveram que trocar de lugar, pois Bucky não estava conseguindo manter o braço em cima do volante, então Darcy assumiu.

Teria de ficar com o braço imobilizado até fechar o local onde anteriormente se encontrava a bala e ser extremamente cuidadoso.

Além disso, a garota possuía um aplicativo em seu telefone que lhe ajudava a transitar facilmente pelas estradas, indo sempre na direção certa. Algo que ela chamava de GPS.

Os dois ficaram em silêncio a maior parte do tempo. Darcy se forçou a não fazer perguntas, e ele fez o mesmo, embora não estivesse interessado no que ela pudesse lhe dizer.

Bucky só ficou atento ao que a mesma dizia sobre o local para onde iriam e o que deviam fazer. De resto, nada lhe interessava.

Ela era patética... e não conseguia entender como os dois podiam estar viajando juntos, mas por ora, não tinha outra escolha.

Ele não se recordava de nada, nem mesmo de como o mundo era... A garota sabia como tudo funcionava... Então a deixaria lhe guiar, mesmo contra sua vontade.

— Eu olhei no GPS e vi que há um hotel na beira da estrada. Podemos nos hospedar lá, até que você decida se vai procurar um hospital pra tratar esse ferimento de bala e-

— Eu já disse que não vou para um hospital. – A interrompeu, ríspido.

— Você sabe que precisa fechar esse ferimento, certo?

— Eu sei suturar. Só preciso do material certo para isso... – Ele respondia à pergunta da garota, que estava muito impressionada por ver que o mesmo possuía muitas habilidades para um agente secreto desmemoriado.

— Onde aprendeu a fazer isso...? – Questionou, um tanto curiosa.

Ele não respondeu.

Assim que a tensão entre os dois começou a crescer de novo, ela vislumbrou o semblante colérico dele, porque o mesmo parecia evitar a interação humana.

O silêncio pairou entre ambos mais uma vez.

Darcy seguiu em frente e dirigiu até o estacionamento do hotel. O lugar era deserto e ao redor só havia um campo com um pequeno lago e várias árvores...

O cenário lembrava Sexta-feira 13...

— Uau... Estamos no Crystal Lake Camp!? Que ótimo! Só falta aparecer o Jason por aqui e a história fará mais sentido! – Ela afirmava, totalmente empolgada e risonha, e Bucky não tinha ideia do que a mesma estava falando.

A garota abriu o porta-luvas e tirou um casaco de moletom preto que estava dobrado no canto, jogando na direção dele logo em seguida.

— Se está fugindo, devia ser mais precavido e se disfarçar. Tem uma mochila aqui atrás e eu vou colocar tudo o que precisamos para entrar, sem levantar suspeitas.

Bucky ficou em silêncio, um tanto irritado pela mesma lhe dizer o que fazer. Ele não precisava ser lembrado do obvio. Era um agente da HYDRA. Um espião que foi treinado para agir impecavelmente a cada passo que dava, sem deixar rastros, mas se estavam juntos nisso, teria de haver trabalho em equipe, então ele ignoraria a petulância dela, pelo menos naquele momento.

Ele retirou seus acessórios, armas e jogou na mochila que ela lhe deu, vestiu o casaco, cobriu sua cabeça com o capuz e a seguiu até a entrada do hotel.

Chegando ao local, Bucky sabia que pediriam os documentos dos dois para hospedá-los, então teria de instruí-la no que fazer.

— Haja normalmente, seja simpática e sorria. Não gagueje e nem gesticule muito quando a mesma pedir nossas identificações. – Ordenou, com o semblante sério.

— Eu sou assim naturalmente, sabia? Eu já sei que você não tem como se identificar, não sou tão tapada assim. Então deixa comigo! – A garota piscou para ele, com um sorriso maroto.

Bucky odiava aquilo.

E um tempo depois, Darcy conseguiu conquistar a confiança da recepcionista, pagou pela estadia, fizeram check-in e pegaram as chaves do quarto.

A parte ruim de ter conseguido convencer a recepcionista? Que eles precisavam fingir que eram um casal.

Sim, era bizarro, mas não havia outra forma.

Ainda assim, eles escolheram um quarto com duas camas, já que...

O hotel estava vazio...

Os dois andaram pelo corredor escuro, procurando o número da porta.

A paisagem lembrava um verdadeiro filme de terror dos anos 80.

— Por que esse corredor está parecendo com o do Hotel Cecil e estou ficando com medo, mas ao mesmo tempo feliz...? – Ela sorria, enquanto sentia calafrios.

— Do que você está falando? – Contestou, irritado, pois não entendia nada do que aquela garota maluca falava.

— Um famoso hotel em Los Angeles, conhecido por ter sido o local de uma onda de crimes de Serial Killers, redes de prostituição e diversos suicídios. Nunca ouviu falar?

— Não.

— Em que mundo você vive? – A estudante indagou, arqueando uma sobrancelha.

— Eu vivo no mesmo mundo que você, mas não sei se você continuará vivendo nele se não calar a boca. – Rebateu, totalmente furioso.

— Hey! Combinamos que você não me ameaçaria de morte de novo!

— Eu tenho amnésia. – Ele deu um leve empurrão nela, passando na frente e pegando a chave de sua mão.

— Veja só! Ele sabe ser irônico...! ou não...! – A garota revidou, um pouco cismada, mas deixando-o tomar a frente e abrir a porta.

Aquele homem continuava sendo assustador...

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Eles entraram no local e escolheram um quarto normal.

Realmente era muita sorte ter um quarto com duas camas. Darcy ainda cogitava a possibilidade de sair correndo dali.

Havia uma janela enorme do lado esquerdo daquele quarto e o banheiro ficava no lado direito.

Havia também uma TV e um frigobar ao lado das camas.

Darcy pediu para que ele lhe dissesse o que deveria comprar para que suturasse a ferida em seu ombro, que ainda estava aberta.

Rapidamente, a estudante saiu do hotel e procurou por uma farmácia.

Na verdade, Darcy não tinha medo de sair àquela hora, pois estava encantada com os cenários que lhe lembravam seus filmes de terror prediletos.

No caminho, ela achou uma mini galeria com algumas lojas. Lá, comprou roupas e algumas coisas úteis para a viagem, já que havia saído de Washington sem nada além de sua carteira, seu celular, um pen-drive, seus óculos e documentos.

Encontrou uma farmácia por perto e a mesma correu até o local para comprar o material necessário para o ferimento dele.

Fio de sutura, duas pinças de aço inox, uma tesoura afiada, agulhas e um tubete de anestésico, além de mais gazes, fita, curativos a prova d’agua e ataduras.

Era muita sorte ter uma farmácia que vendia tudo aquilo pelos arredores do hotel.

Não tinha ideia de como ele aprendeu a fazer tal procedimento, mas não faria perguntas, até por que, não era estratégico. Se ele se sentisse confortável, responderia sem maiores problemas.

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Quando Darcy chegou, a TV estava ligada e o mesmo assistia ao noticiário. Ele estava muito concentrado.

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Bucky acabava de descobrir que Alexander Pierce havia morrido.

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— Hey, será que eu posso tomar banho primeiro...? – E depois da pergunta, ela apenas ficava no vácuo, vendo o quão atento ele estava ao noticiário.

— Minha vida está tão boa, que a coisa mais legal que pode acontecer hoje é um caminhão me atropelar. – E então, ela pegou a toalha que se encontrava no guarda-roupa e logo foi para o banheiro, pouco se importando com tudo.

Estava tão cansada e tão desacreditada com o que havia acontecido, que não estava nem um pouco preocupada de estar ao lado de um agente secreto, vulgo assassino, no mesmo quarto de hotel. Ela só queria um banho quente e cama.

.

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Quando Darcy saiu do banheiro, a TV estava desligada e Bucky analisava o material para suturar seu braço.

A garota revirou os olhos e se dirigiu a sua cama.

“Só preciso dormir, pra recuperar a bateria mental e ter paciência pra leva-lo até o museu...” – Ela pensava, exausta.

Quando a mesma deitou e jogou o cobertor por cima da cabeça, levou um susto com a porta do banheiro sendo fechada, violentamente.

Ela espiou, descobrindo parte do rosto, deixando os olhos fixados na porta.

Mas tomou um susto, pulando da cama quando ouviu seu celular tocar.

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This is the rhythm of the night

The night

Oh yeah

The rhythm of the night

This is the rhythm of my life

My life

Oh yeah

The rhythm of my life

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Darcy ainda não estava acostumada com aquela música da Corona como seu toque, e em vez de atender...

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Ela começou a dançar [!?]

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Depois de algum tempo, a garota pegou o celular na mão enquanto vibrava. Terry estava ligando.

— Alô. – Atendia, impaciente.

Darcy, onde você está!? Por que demorou pra atender!?— A voz dele era de desespero.

— Não atendi porque eu estava ocupada dançando o toque. – Ela revirou os olhos enquanto se jogava na cama.

Para de colocar Eurodance de toque no celular!!!— Terry estava muito nervoso por trás da linha.

— Eu coloco o que bem entender. Meu celular, minhas regras... mas por que você está tão alterado? O que aconteceu?

Eu liguei várias vezes para o seu telefone e só dava fora da área de cobertura! Pensei que você tinha morrido!

— Só você mesmo pra pensar uma besteira dessas... – Ela replicava, deitada, enquanto enrolava uma mecha de seu cabelo no dedo indicador. Era obvio que não teria sinal... Aquele lugar era o fim do mundo... e é claro que ela também omitiria o fato de que quase foi morta de verdade...

Onde você está agora!?

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Estou num quarto de hotel na beira da estrada com um assassino.— Respondia, com sono, bocejando logo em seguida.

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Muito engraçado! Em qual hotel você está!? Você conseguiu pegar um táxi!?

— Terry, é uma da manhã... eu estou com sono, sem sorte e com pouco dinheiro, então pare de me torrar a paciência, procure o caminho da cama e me deixe em paz...

É sério, Darcy! Você não pode fazer essas maluquices e fingir que está tudo bem! Seus pais sabem que você faz essas coisas!? Por que eu vou contar tudo para eles e-

— Eu sou maior de idade, independente e quase formada. Não adianta me chantagear com isso, porque não vai colar... – Darcy sorriu, petulante e com o ego nas alturas por vê-lo tão preocupado com ela.

Eu sei o quanto seus pais se preocupam com você!

— Isso é uma desculpa que você usa pra me vigiar... Sério, eu não sou o amor da sua vida, não sou sua alma gêmea e nem a sua metade da laranja, então aceite e siga em frente. – Ela revirou os olhos enquanto segurava o telefone.

Eu me preocupo com você!

— Se eu pudesse voltar no tempo, jamais teria te dado um pedaço da minha coxinha na terceira série... – Retorquia, irritada... e com muito sono, relembrando como os dois ficaram amigos no ensino fundamental.

Você só se mete em encrenca! Você é um imã de situações perigosas e-

— Pare de me dar lição de moral... – Darcy estava com tanto sono, que não tinha nem ânimo para discutir.

— Só estou dando minha opinião!— O rapaz protestava, indignado, do outro lado da linha.

— Pegue sua opinião, escreva em um papel, enrole e fume, porque ela é uma droga. Adeus. – E então, a garota desligou o telefone na cara dele.

Terry lhe cansava... Não tinha a mínima paciência em lidar com ele. O rapaz parecia seu pai, lhe chamando a atenção o tempo todo e lhe lembrando em sempre fazer as escolhas certas, mas...

Às vezes o certo era chato... e já que estava na lama, era melhor se sujar.

Quando colocou o telefone em cima da mesa de cabeceira, olhou para o outro lado e viu um aparelho de rádio...

A garota sorriu de canto e resolveu ligar.

Sempre ouvia uma estação de rádio que tocava músicas antigas, em casa, no carro, no smartphone, ou seja, em qualquer lugar. Estava habituada a tal prática desde criança e costumava adormecer ao som de diversas músicas dos gêneros de rock e pop... no colo de seu pai, um entusiasta de músicas antigas.

Mas a melodia era um tanto depressiva e aquilo lhe despertava uma sensação de tristeza, fazendo a mesma refletir sobre tudo o que estava acontecendo, principalmente suas últimas decisões...

— Ooh Deus... Aos poucos vou subindo na vida... Se tudo der certo, ano que vem estou na metade do poço... – E então, a garota cobriu o rosto novamente, morrendo de sono, e torcendo para que quando acordasse, descobrisse que aquele pesadelo era apenas uma brincadeira... de muito mal gosto...

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Bucky fechou a porta e trancou-a pelo lado de dentro. Teria de se concentrar para fazer a sutura em seu braço.

Estava muito irritado depois de assistir ao noticiário... O mundo parecia estar de ponta cabeça depois da queda da SHIELD...

Ele pôde ouvir aquela garota barulhenta falando com alguém, provavelmente no telefone. Mas não tinha importância. O que mais desejava no momento, era esquecer que ela estava ali e apenas focar em seu ferimento.

Com o material espalhado no lavatório do banheiro, ele tirou o casaco e em seguida o colete interno do traje de Soldado Invernal, exibindo todo o seu torso.

O ombro estava enrolado com ataduras, e quando as tirou, sentiu as gazes úmidas de sangue.

Muito lentamente, as tirou, deixando a ferida exposta...

Havia muito sangue ao redor, que passou a escorrer por seu braço.

Ele foi limpando a ferida aos poucos, desinfetando a região com mais álcool e gaze.

O ferimento estava um pouco inchado e ele conteve um gemido de dor ao sentir o álcool tocar a região lesionada.

Encheu a seringa com anestésico e aplicou nos pontos corretos de seu ombro, preparando a região para fechar a fenda causada pela bala e posicionando a agulha e o fio de sutura devidamente no lugar...

Aos poucos, penetrou lentamente a agulha no último ponto de seu ombro e sentiu uma fisgada no local. Sabia que teria de ser rápido, mas meticulosamente cuidadoso.

Lentamente, passou a tecer sua pele, alinhavando sem dificuldades, e quando terminou, deu alguns nós no fio e depois o cortou com a tesoura.

O procedimento foi rápido...

Por fim, seu ombro estava protegido, mas teria de desinfetar a região de tempos em tempos, para não haver complicações.

Além do mais, os vários hematomas em suas costas e tórax ainda doíam e provavelmente se encontrava com algumas costelas quebradas, o que retardaria um pouco mais a sua recuperação.

Se tratasse seu corpo da forma correta, em poucos dias estaria recuperado.

Ele olhou para frente e viu o chuveiro. Automaticamente, ele sabia o que fazer.

Quanto tempo não tomava um banho sozinho...? Quando terminava suas missões, ele era enviado para uma câmara, onde o limpavam... Mas não se lembrava de fazer aquilo sem agentes da HYDRA ao redor.

Ele ligou o chuveiro, e antes de entrar, deixou a água bater em sua mão esquerda, estendida.

Estava quente... E sentia uma sensação familiar...

Decidiu finalmente se despir e entrar debaixo da água quente...

Quando o fez, se lembrou de coisas que estavam presas em sua mente... e que a cada nova experiência lhes vinham à tona no mesmo instante...

A sensação da água batendo em sua pele era confortante...

O calor e a umidade eram tão agradáveis que o mesmo permaneceu ali por longos minutos...

Agora que havia fechado sua ferida e a protegido com curativos a prova d’água, ele podia entrar de corpo inteiro para debaixo do chuveiro...

E foi o que ele fez...

A água quente passou encharcar seu cabelo aos poucos, e ele pôde sentir o efeito anestésico e agradável preencher seus músculos...

Aquilo era extremamente relaxante e por um momento, pensou que talvez pudesse ficar preso naquele torpor por toda a sua vida, a fim de fugir do inferno que enfrentaria por não ter lembranças de nada...

Sua musculatura relaxou... Era um alívio conseguir aquele pequeno momento de descanso... Não sabia o que aquilo significava, mas era o período mais plácido que se lembrava de ter, desde que sua missão havia terminado...

Ele não sabia como, mas todas as recordações de como se limpar vinham em sua mente e ele fez tudo o que estava em sua mente.

Havia sabonete, xampu e vários produtos ao lado... e ele usou todos eles...

O tempo foi passando e o banheiro já se encontrava repleto de vapor...

E mesmo que estivesse se sentindo bem, acabou se recordando de quando estava preso numa maca, com vários homens mascarados vestidos com jalecos, ao redor...

No mesmo instante, ele desligou o chuveiro e resolveu sair dali, pois estava começando a ter recordações de quando foi preso pelos cientistas da HYDRA...

Pegou a toalha que estava pendurada ao lado do chuveiro e secou-se rapidamente...

Quando passou ao lado do espelho, olhou para o seu corpo...

Seu ombro recém costurado, as cicatrizes ao redor do braço de metal, o abdômen repleto de hematomas e seu rosto... Ele não se lembrava de quanto tempo não se via no espelho, mas uma imagem vinha em sua mente...

Seu cabelo costumava ser mais curto e seu semblante mais jovial...

Tinha flashes em sua mente de como era a sua aparência... Ele ainda não se recordava nitidamente, mas tinha uma leve ideia.

As únicas coisas presentes em sua memória, se resumiam a balas, facas, miras, força contundente, suas missões...

Ele chacoalhou a cabeça para sair do frenesi, no ímpeto de não ser dominado por aqueles pensamentos.

O piso do banheiro se encontrava molhado, por conta das gotas que respingavam de seu cabelo...

Saiu da frente do espelho, esfregou a toalha pelas madeixas escuras, secando-as levemente.

Teria de se vestir.

Havia roupas masculinas ao lado da banheira, devidamente limpas e dobradas.

Desconfiou que a estudante havia deixado aquelas roupas ali... Para ele...

Mesmo sendo uma idiota, ela era bastante detalhista e atenta.

Bucky ainda estava bastante molhado quando puxou a camiseta escura sobre a cabeça e as demais roupas logo em seguida.

Quando abriu a porta do banheiro, observou o vapor escapar pelo quarto.

Esperava que a garota estivesse encolhida, com medo em algum canto ou que a mesma nem estivesse mais ali, e fugido, mas em vez disso...

Ele a encontrou deitada em uma das camas, de barriga para baixo, com os braços segurando o travesseiro, uma perna engatada e a outra um pouco curvada...

Seu rosto estava enterrado no travesseiro, com uma expressão serena...

Ela estava com um short jeans e uma camiseta larga na cor cinza.

Tudo sobre ela era novo, peculiar e extremamente irritante... Nada que lhe chamasse atenção, mas era estranhamente agradável aos olhos... O que não fazia sentido.

Ao lado da cama dela, havia uma mesa de cabeceira com duas gavetas e um pequeno aparelho de som ligado.

Uma música melancólica tocava no rádio...

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You only see what your eyes want to see…

How can life be what you want it to be?

You're frozen…

When your heart's not open...

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A voz, cujo timbre feminino ressoava de modo ecoado pelo quarto, falava sobre uma pessoa que tentava ajudar outra... Mas ambas pareciam ter uma ligação profunda... Ou seja, algo que ele não entendia...

Bucky percebia seus sentidos se expandirem... Sua audição e visão trabalhavam em conjunto, lhe trazendo uma sensação estranha ao olhar para aquela garota ao som daquela música...

Algo ameno, suave e aconchegante...

Não entendia o significado daquilo...

.

.

Horas depois, Darcy acordou... no escuro...

Ela olhou ao redor e percebeu que não parecia estar de noite, pois os pássaros cantavam do lado de fora...

Se recordou de tudo o que havia acontecido no dia anterior e logo entrou em pânico...

Estava uma escuridão total... A garota se levantou rapidamente, tentando procurar o interruptor da luz.

Um brilho suave delineava da janela do quarto, mas a luz do sol estava fraca e entrava pela beirada das cortinas...

Seu coração ainda estava martelando em seu peito enquanto colocava seus pés no chão gelado...

Um momento depois, a luz de um abajur perto da janela se acendeu e revelou o homem com o braço de metal, sentado numa poltrona...

— Hey, o que tá pegando...!? – A garota perguntava, aturdida, tentando afastar o sono que pairava sobre seu corpo e sua cabeça.

— Estou vigiando.

— Vigiando o quê? – Ela esfregou os olhos, tentando focalizar sua visão.

— Qualquer ameaça que possa surgir. – A voz fria e enigmática lhe respondia, sem a menor preocupação.

— Que ameaça!? Que horas são!?? Por que o meu celular não despertou!?

— Eu o desliguei.

— Você o quê!!? – E então, a garota começou a procurar por seu aparelho por todos os cantos.

Bucky percebia o quanto ela parecia desnorteada naquele momento.

— Por que tudo está escuro!? Já é de manhã!?

Eu não gosto de claridade...— O tom de sua voz era extremamente sombrio e ele segurava uma pequena faca em sua mão, rodando-a facilmente, como se estivesse fazendo aquilo porque estava entediado.

Darcy reparou que ele parecia ser um assassino que vagueava nas sombras, entre o crepúsculo e o amanhecer, imerso na penumbra que reinava sobre as aflições daqueles que temiam a morte...

E ela estava no meio de todo aquele cenário com ele, o que lhe ocasionava fortes calafrios...

Olhando ao redor, a garota viu seu celular na mesa de cabeceira entre as duas camas e a mesma percebeu que a cama ao seu lado não estava bagunçada, pelo contrário. Estava igualzinha ao dia anterior.

— Você dormiu...? – Contestou, um tanto desconfiada.

— Não.

— Por quê?

— Eu não preciso dormir.

Darcy fez uma careta horripilante ao ouvir aquilo.

— Você por acaso é um vampiro!? Como assim não precisa dormir!? Vai dizer que você pode ficar sem dormir pra sempre!!?

— Não.

— Então durma!!! – Ela protestou, em bom e alto tom.

Ele ficou em silêncio, ignorando o surto da garota.

O sono não era algo que estivesse acostumado. A coisa mais próxima disso era quando precisava de manutenção... invasivo e torturante o suficiente para que os médicos fossem obrigados a sedá-lo, contra a sua vontade e pelo bem de sua própria vida.

Sedá-lo quando havia missões de um dia para o outro, ou com intervalos semanais, e o congelamento criogênico quando as missões eram pausadas por anos. Um padrão de retenção que não dava a ele um sono natural.

A HYDRA o forçava a tudo em sua vida... E ele nem ao menos sabia o porquê.

— Você pode sair no sol né? – Darcy ainda estava meio acordada e meio dormindo, por isso a pergunta idiota saiu sem que percebesse, porque era obvio que ele não era um vampiro de verdade e não viraria cinzas se saísse na claridade.

— Nós vamos embora ao cair da noite. Quando chegarmos em outra cidade, teremos de nos desfazer daquele carro e roubar outro. – Ele ignorou a pergunta dela, lhe dizendo sobre seus planos para mais tarde, enquanto olhava para o lado de fora da janela, pela fresta da cortina.

— Vamos roubar um segundo carro pra não levantar suspeitas... super normal... mas pra onde vamos depois...? – Darcy já estava completamente mal-humorada depois de ouvir tantos absurdos. Era uma fora da lei, e com certeza seus pais se envergonhariam dela, se soubessem.

— Vamos para outra cidade perto de Washington e depois de três dias vamos para a capital. Você vai me deixar perto do museu e depois não precisamos mais continuar juntos. Você pode ir embora...

A estudante exibiu uma careta de abismo, mas não quis contestá-lo.

Ele era mesmo um assassino? Depois que saíssem do museu, quem ele assassinaria? Era obvio que o mesmo caçaria seus inimigos e haveria uma linda carnificina depois de tudo que aconteceu em Washington...

— Céus... O mundo anda tão difícil, que até o diabo não aguentou... Nomeou seus substitutos, e se mandou daqui... – E então a garota pegou seu celular, que estava devidamente carregado.

Era onze e quarenta da manhã, de uma terça-feira e teria de voltar ao trabalho na quinta. Ou seja, ela tinha dois dias pra voltar pra casa, mas ele disse que precisaria de três dias antes de voltar para Washington. Conclusão = Jane lhe mataria e ela já estava prestes a contratar um serviço funerário.

Além disso, precisaria ir para Willowdale na sexta, assistir aula e voltar para casa. Estava fazendo seu trabalho de conclusão de curso e cada semana era de extrema importância para a reta final de sua formatura na faculdade.

— Será que não podemos ir antes? Tenho compromissos importantes. – Ela implorou.

— Não. Você decidiu vir comigo, então terá de seguir minhas decisões. Depois de três dias, você estará livre.

— Eu não posso nem dizer não? Você vai me ameaçar de morte de novo!? – Ela contestou, sem saber o que fazer.

— Não posso correr riscos por sua causa. Temos um acordo. – A voz apática e robótica já era algo natural dele.

— Mas você decidiu sobre esses três dias sozinho e não me consultou!

— Eu não preciso te consultar. Está decidido.

— Você não pode decidir isso sem mim!

— Posso decidir o que quiser.

— Não pode!

— Cuidado com suas palavras... — Ele lançou um olhar mortífero e extremamente perigoso. Darcy congelou.

— Você prometeu que não me ameaçaria! Está quebrando sua promessa!

— Não estou... – Finalizou, e então passou a ignorá-la logo em seguida.

Aquele homem era tão frio, indiferente e assustador, que não havia como contestá-lo.

Darcy suspirou, irritada.

Um tanto indignada e sem saber o que fazer, a garota apenas se levantou e foi ao banheiro, tirar água do joelho e escovar os dentes.

Quando voltou, pegou os óculos ao lado da mesa e os colocou. Sua visão não era tão boa para perto.

A estudante desbloqueou seu celular novamente e tentou se conectar à internet, mas não obteve êxito. Não havia sinal naquela pequena vila, longe de tudo.

— Eu mereço... – Ela jogou o celular na cama e se sentou, olhando a penumbra ao redor.

Se arrependia amargamente por ter saído de Nova York e ido para Washington DC.

Ela observava tudo em silêncio, um tanto impaciente.

Darcy empurrou uma mecha de cabelo para trás da orelha e começou a assobiar, como se estivesse disfarçando.

O metal refletia a luz amarela do abajur aceso, fazendo o braço dele quase parecer dourado.

— O que vamos fazer nesses três dias até que a gente vá pra Washington?

— Esperar.

— Você tá brincando...? – A estudante estava incrivelmente mal-humorada. Ela morreria de tédio se tivesse que esperar por horas a noite cair, ao lado de um serial killer e sem INTERNET.

Seu trabalho no laboratório de física quântica estava ameaçado, seu tempo se dedicando ao trabalho de conclusão de curso iria para o ralo, e sua aula na sexta-feira estava fora de cogitação.

O que ela faria?

Enquanto o fitava, a garota se lembrava das cenas do dia anterior e o quanto ele era absolutamente aterrorizante. O viu desempenhar o papel de uma máquina de matar com uma elegância exímia e perturbadora, mas...

Talvez aquele serial killer merecesse um pouco de sua confiança, já que ele não a tocou durante as horas em que ela dormia em uma cama a poucos metros de distância.

— E você vai me ignorar até a gente chegar ao museu? Não vai nem falar comigo? – Perguntava, olhando para o braço de metal levemente iluminado pelo abajur ao lado dele.

— Estou falando com você. – Ele respondeu, friamente.

— Posso fazer algumas perguntas...? – A garota tentava simpaticamente quebrar a tensão que havia entre ambos e ele desferiu um olhar medonho em resposta, mas ela sorriu, debochadamente, como se não estivesse com medo, o que não era verdade.

— Qual é a sua pergunta? – Rebatia, totalmente impaciente.

— Tem certeza que não vai me matar se eu perguntar?

— Pergunte. – Replicava, impertinente.

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Por que você tem um braço de metal?

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Ela foi direta, mas ele não se incomodou com a pergunta.

— Por que sim. – Retorquiu, com o rosto impassível e despreocupado.

— Isso não é uma resposta decente, mas ok, vamos para a próxima: Onde você conseguiu esse braço? – Darcy sabia que estava sendo cara de pau o suficiente com um serial killer, mas não estava nem aí. Talvez só lhe custasse a cabeça, mas nada fora do normal.

Bucky ficou em silêncio por um tempo e a garota apenas observava que suas sobrancelhas estavam franzidas, como se ele estivesse tentando encontrar a resposta adequada para aquela pergunta.

— Era necessário e me foi atribuído, para completar as missões...

— Essa não foi uma resposta esclarecedora. Eu quero saber quem te colocou esse braço. Não pode responder?

— Já respondi.

— Claro, isso é o que um agente secreto diria, então vamos tentar outra pergunta: Por que você quer ir ao museu?

— Preciso recuperar minha identidade...

Darcy arqueou uma sobrancelha. Ele estava mesmo com amnésia?

 

— E por que a resposta está no museu? – A garota se questionava se ele realmente tinha alguma coisa a ver com os heróis da segunda guerra mundial.

— Apenas está... – Bucky tinha certeza que sua identidade estava ali. Não só porque a estudante mencionou que ele lembrava um herói de guerra, mas porque tinha certeza que o simples fato de Steve ser o Capitão América, lhe dava a sensação de que ela estava certa. Suas lembranças com o loiro deixavam isso claro.

— Entendi... Bem, sei que vivemos tudo aquilo ontem e passamos a noite juntos, mas eu não sei o seu nome. Você poderia me dizer...?

No momento em que ela perguntou o seu nome, os olhos de Bucky abriram mais que o comum... Eles vaguearam pelos dois lados do quarto, um tanto perdidos...

Não conseguia lembrar de seu nome... Tudo o que lembrava era de ser chamado por seus superiores de...

Soldado...

Steve o chamou de Bucky... Mas... Não tinha certeza de nada...

— Hey, você está bem...? - Ela se aproximou para tocar seu ombro, mas ele empurrou severamente a mão dela.

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Não me toque...

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— Ah, foi mal... Eu esqueci que você não gosta que te toque... – A garota se afastou, mas atentou para o ombro dele, um pouco preocupada, já que ele havia sido baleado.

— Você suturou seu ombro?

— Sim.

— Por que não me pediu ajuda?

— Eu pediria, se fosse necessário... – Bucky olhava para baixo, mais precisamente para os pés dela, um pouco incomodado com o fato de a mesma tentar tocá-lo...

Ela era tátil... E seu toque lembrava coisas que não gostava de se recordar...

Bucky não tocava as pessoas, a menos que fosse para matar ou torturar e ninguém o tocava por livre e espontânea vontade... Com exceção dos cientistas que o amarravam numa máquina...

Um arrepio gelado percorreu sua espinha e sentiu seu estômago revirar quando se lembrava das placas de metal em sua cabeça enquanto seus braços estavam presos numa cadeira, lhe deixando imóvel, segundos antes de sentir uma dor absurdamente violenta e insuportável lhe sucumbir e apagar todas as suas memórias... dizimando todo o seu ser...

Ele também estava com o braço debilitado e sentindo uma dor aguda no ombro, por causa da sutura... As coisas não estavam sendo fáceis...

Darcy percebia o quão estranho ele estava naquele momento... E se perguntava o quão difícil deve ter sido a vida dele...

Ignorando o fato de a mesma ter perguntado o nome dele e não ter tido resposta, ela partiu para uma nova pergunta, ainda mais ousada.

— Você se lembra de alguma coisa do seu passado...?

Os olhos impassíveis tentaram fita-la, e por um momento pensou em responder que ele era um Soldado da HYDRA, mas não conseguiu... Não confiava o suficiente nela para revelar quem ele de fato era.

— Sem mais perguntas... – Finalizou, impaciente.

— Hey, mas eu quero saber! Como é que eu vou conviver com um estranho que eu nem sei o nome!?

— Você prestou ajuda a um estranho e decidiu viajar com ele porque quis. Lide com suas escolhas. – Replicou, intransigente.

— Mas-

— Eu disse que não apontaria uma arma na sua cabeça de novo, mas isso não quer dizer que sou obrigado a responder suas perguntas. – Ele se levantou, dirigindo-se ao banheiro.

— Oh, claro, mas ainda assim eu preciso saber! – E então ela o seguiu, mas o mesmo bateu com a porta em sua cara.

A garota ficou imóvel, com uma veia pipocando na testa.

Darcy Lewis era uma faladora de primeira linha. Uma tagarela completa. É esse silêncio que você está ouvindo? Não, porque Darcy preencheu com uma piada, uma história, uma observação, ou começou a cantarolar... completamente desafinada.

Que serial killer mais mal-educado...— A garota deu de ombros e resolveu sair do quarto, decidindo ir tomar café em algum lugar.

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Notas finais do capítulo

Quem ficou curioso com o toque da Darcy, procure no YouTube a música: The Rhythm of the Night – Corona. Foi uma música que fez muito sucesso em 1993, do gênero eurodance. O pessoal da minha idade deve conhecer, mas se você tem menos de 20 anos (e não joga GTA), com certeza não tem ideia do que foi a onda Eurodance. Foi maravilhosa ♥
Pra quem ainda não sabe, sugiro que acompanhe o Tumblr da fanfic, pra entender com mais detalhes as maluquices que posto aqui: https://wintershock.tumblr.com Vale muito a pena e vocês, leitores fantasmas que não possuem conta aqui no Nyah, podem perguntar qualquer coisa por lá como anônimo, já que o Tumblr não obriga ninguém a se cadastrar pra fazer uma pergunta. Então sintam-se à vontade para irem para lá. É um espaço aberto para vocês, pra quem quiser ^^
E mais uma vez, lá vai o apelo: SAIAM DA MOITA, LEITORES FANTASMAS COM CONTA NO NYAH! DEEM SUAS SUGESTÕES, PRA EU SABER SE ESTOU ME SAINDO BEM, POIS PASSEI TRÊS ANOS SEM ESCREVER NADA E PRECISO DO FEEDBACK DE VOCÊS, OK?
Obrigada, de nada. Nos vemos no próximo :P



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