22 de janeiro de 2018

Querido Daniel,

Essa carta, como já relatada anteriormente, será totalmente reservada para o nosso primeiro churrasco de amigos que passamos juntos. Dia 23 de janeiro de 2016. Um dos melhores dias que eu já tive.

São Paulo estava em um calor infernal, eu não entendo como essa cidade pode ser 8 ou 80. Nossa, eu odeio verão. E nesse verão, nosso casal de amigos favoritos decidiu alugar uma chácara em Atibaia. Claro, eles não perderiam a chance de curtir um final de semana que batia 35º com bastante cerveja, carne e piscina. Ninguém em sã consciência perderia se tivesse a oportunidade. Cerveja nunca é demais.

Eu decidi ir no sábado pela manhã, sabia que o Thommy e a Dani dormiriam na sexta para o sábado junto com outros colegas, não estava com nenhuma vontade em dividir um quarto com pessoas bêbadas gritando até 04:00 da manhã depois de um longo dia de trabalho.

Cara, eu queria me divertir, sério. Depois das nossas mensagens, a gente não se falou na semana. Confesso que esperava sua mensagem no dia seguinte, mas depois que passou do horário do almoço, percebi que era besteira esperar por um barulho em meu celular. Sempre fui tão ansiosa, isso era tão prejudicial, minha ansiedade me fez tão dependente das pessoas, me fez dependente de você. A parte boa é que eu comecei um tratamento. Foi muito bom admitir que eu precisava de ajuda nessa questão. Prometo falar sobre isso em outra oportunidade. Depois que deixei de lado o pensamento sobre o que poderia rolar em uma segunda conversa contigo, foi a vez de pensar apenas e somente no meu merecido descanso. Sai de casa cedo no sábado, queria aproveitar o máximo possível. O caminho de pouco mais de 50km foi tão tranquilo, lembro que tocava 10.000 destinos do Engenheiros. Sempre Engenheiros me acompanham.

            Quando eu cheguei na chácara, a primeira coisa que eu quis fazer foi beijar o Thomas. Puta lugar bonito que ele arranjou, além disso, era tão afastado das demais chácaras que parecia que era um lugar dentro do imenso verde que nos cercavam. Uau, aquele ia ser meu dia. Vi velhos amigos, vi pessoas novas e interessantes, vi cervejas e mais cervejas, picanha e mais picanha e eu também vi você. Vi você na mesa de sinuca todo concentrado tentando ao máximo humilhar o Matheus no jogo. Você fazia uma cara tão fofa enquanto estava concentrado, espero que tenha continuado com essa mania.

            No começo do dia não se falamos muito, apenas oi e tudo bem, mas depois de algumas doses de corote e a ‘briga de galo’ que resolvemos fazer na piscina, nosso papo virou uma avalanche. Sim, espero que você se lembre que o Diego me carregava nos ombros e você levava a Cecília. Era a nossa final. Daniele e Thomas perderam antes mesmo de dá 1 minuto de jogo. Era você contra eu. Daniel, você aguentou bem, não sei como você chegou até lá com a Cecília. Sabe, eu adoro ela, de verdade, mas sabemos que ela nunca seria párea para eu. Seja na briga de galo, seja no futebol ou seja em qualquer coisa.

            Depois, você me puxou de lado, queria conversar, disse que foi legal aquela noite de mensagens e, que, infelizmente, nossos gostos eram muito parecidos. Eram mesmo! Acho que você pensou que não seria nada que uma amizade, tô ligada que você gosta da ideia de que romance só funciona com alguém oposto a você.

            Acho que passamos 1 hora andando fora da chácara, observando aquilo que nos cercavam. Meu cabelo ficou até seco de tanto que andamos. Você sempre de cabeça baixa e dando aquele sorriso de olhos fechados. Como pode ser tão bonito? Como pode mudar de um olhar sereno para um olhar que te deixa nua por completo. Recebi esse olhar quando expliquei para você porque não queria me relacionar com ninguém, o que eu pensava sobre o amor. Sonhei tanto em ter o meu Darcy, mas só encontrei Fernando’s. Lindos por fora, mas sem nada para oferecer por dentro. Reclamei do fato de que vocês não se esforçavam para serem um pouco mais profundo na questão sentimental, e sim, eu julguei todos os homens naquele dia. Juro que mudei isso. Eu dava risada enquanto argumentava e você, ah Dan, você me observava com tamanha paciência. E, depois de tudo isso que eu falei, a única coisa que você falou foi: Keira Knightley é a Elizabeth Bennet perfeita! Aí você sorriu.

Naquele momento eu quis te matar. Te mata porque depois de tudo o que eu falei, a parte que você pegou foi a relacionada ao Darcy e tudo isso para falar da Keira?! Você seria mais um Fernando? Nem para fingir que estava interessado? Foi por isso que eu andei mais rápido para chegar no riacho que tinha por dentro a mata, por isso eu cai, e por causa dessa queda você veio correndo perguntar se eu estava bem.

Eu quase gritei se você não tivesse falado que o amor é sempre mais complicado do que imaginamos, e mais simples do que queremos. Você me puxou para dentro daquela água, mergulhou e emergiu. Seu cabelo molhado e seu sorriso. Tão lindo, e ainda tinha prestado atenção no que eu falei. Depois disso eu decidi te conhecer mais, o que eu pensei em apagar na semana em que você não se comunicou, voltou em dobro depois dessas palavras. Fiquei curiosa em saber se você já tinha lido algum soneto inglês, qual a sua visão sobre Hamlet e o que você achava da Megera Domada de 67.

            Sim, eu queria saber mais sobre você e como alguém poderia ser tão interessante. Eu realmente queria ser sua amiga. O problema é que quanto mais eu descobria de você, mais você se encaixa naquilo que eu sonhava.

Daniel, por que você não foi um Fernando?

Com carinho,

L.