Cartas para você escrita por Mika


Capítulo 3
Segunda carta


Notas iniciais do capítulo

Estou postando o terceiro capítulo por motivos de que a irresponsável aqui deixou pra fazer no relatório do estágio no último dia, ou seja, o quarto capitulo vai demorar. Mas vou aproveitar para assistir PLL.



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São Paulo, 10 de janeiro de 2019.

 Daniel, imagino que você já deve saber sobre o que essa carta irá falar. Sim, eu não deixaria de comentar sobre a nossa primeira e desastrosa saída como meros conhecidos.

 Depois da cafeteria na paulista, o Fernando, finalmente, pareceu se tocar de que eu não queria nada com ele e nem com ninguém. Espero que ele tenha mudado, seria desastroso ele ficar enchendo o saco de outras mulheres. Mas quando você se livra de uma pedra, surge sempre uma cruz no seu caminho.

Thomas virou a cruz na semana seguinte. Eu espero, de verdade, que ele tenha contado para você de como ele não largou do meu pé até eu aceitar a ideia de ir ao cinema com vocês. Pior do que isso, ele usou a Daniele para me convencer. Deus, não se pode usar sua namorada para fazer com que a sua amiga concorde em sair com os dois, principalmente se a sua namorada for a melhor amiga da menina. E você sabe, quando o Thomas quer, ele consegue fazer até uma freira abandonar seu chamado. Teve um tempo que você pegou essa mania dele, foi um tempo chato, mas comentarei sobre isso na carta propícia.

A semana do dia 16 de janeiro foi uma completa loucura. Daniele me ligava todo dia no horário do almoço e no da saída, certamente ela me mataria se eu não fosse com vocês no cinema. O mais cômico disso tudo era que a Dani sabia fingir muito bem, nos dois primeiros dias eu fiquei feliz por ela está ligando, me senti muito mais querida, mas Deus, como eu sou idiota em não perceber as segundas intenções das pessoas. Esse é um dos meus maiores defeitos, eu devia ter aprendido isso antes de tudo que aconteceu entre a gente.

Enfim, as ligações da Daniele e as malditas mensagens do Thomas não foram em vãs. Como você bem sabe, eu aceitei ir no cinema. Ora, era apenas um filme idiota de verão. Era apenas uma saída com um casal de amigos maduros, ou que deveriam ser, com um amigo deles que veio de fora e que eles estavam tentando ao máximo incluir no círculo de amizade. Que mal tinha?

E antes que você pense coisas, quero deixar claro que eu não fiquei pensando em você e de como isso poderia ser constrangedor. Não era isso que estava me impedindo de aceitar o convite de cara, na verdade, eu só queria ficar no meu apertado e aconchegante, como você mesmo descrevia, apartamento no décimo sexto andar. Eu só queria ficar algumas noites sozinhas.

É normal, sabe? Não é saudável dizer “vamos” para tudo que seus amigos estiverem preparando, mesmo que sejam seus dois melhores amigos. Você estava certo, eu ligava muito para a opinião das pessoas sobre mim. Acho que eu não aprendi nada com a Elizabeth Bennet.

Noite do dia 16 de janeiro de 2016. Minhas mãos estavam suando e não era de calor, já que ventava e uma possível chuva poderia vir sobre a cidade. A minha mão soava porque eu fiquei nervosa, e não pense que eu estou me contradizendo, eu realmente não pensei em você na semana, mas naqueles 30 minutos antes da Daniele passar em casa, me toquei de como tinha sido uma ideia estúpida, principalmente depois que desci o elevador, entrei no carro da minha amiga e passei o trajeto inteiro até o Center Norte ouvindo ela falar de como você era um bom cara, inteligente e tímido rapaz. Nossa, naquele momento ficou claro as intenções do nosso casal de amigos. Malditos sejam Daniele e Thomas por lerem e assistirem muitos romances.

Minha vista escureceu de tanto nervoso ao te ver conversando todo entusiasmado com o Thomas na entrada do cinema. Minha cabeça girou de uma forma que fez meu estômago revirar e a situação só piorou ao ver a escolha do filme que eles fizeram. Eu comentei com você, mas quero ressaltar que foi o pior filme de terror que eu vi na minha vida. Péssima fotografia, trilha sonora sem sentido e, principalmente, a desastrosa, para não falar horrorosa, cortadas de câmeras.

 Deus, como aquilo foi ridículo! Foi tão ridículo, mas tão ridículo, que me fez esquecer que eu estava sentado ao seu lado enquanto Daniele e Thomas se beijavam de uma forma nada discreta. Me fez esquecer que a gente estava dividindo a pipoca mais amanteigada que o normal. Na verdade, me fez esquecer até o momento em que ouvi sua risada de constrangimento. Não pude deixar de olhar para você, foi muito rápido, mas aquela troca de olhares me fez enxergar que você estava tão mais envergonhado do que eu. Foi a primeira vez que você me fez sorrir, mesmo que tenha sido um sorriso para tirar a tensão entre nós. Daniel e sua incrível capacidade em conseguir tirar um peso invisível no ambiente.

Tudo bem, Dan, até aquele momento estava tudo bem. Por mais que tenha sido constrangedor, eu sobrevivi ao cinema com interesses ocultos por parte do nosso casal. Mas o que aconteceu em seguida, ah! Como eu odiei o Thomas e a Daniele por isso. Sinto que a raiva que eu senti por eles está voltando enquanto escrevo esse parágrafo. Nunca, nem em minhas mais loucas loucuras, nem nos meus mais profundos dos sonhos, nunca imaginaria que o Thomas poderia ser tão idiota. Eu já estava me dirigindo ao carro da Daniele quando aquele imbecil e infantil do seu amigo teve a brilhante ideia de você me levar para casa, afinal, morávamos perto, segundo ele.

Ele sabia, Daniel, ele sabia que São Paulo tem um trânsito caótico, ele sabia que piorava nas noites de sábado e eu tenho quase certeza que ele tinha visto o canal de meteorologia antes de sair de casa. Foi tão difícil entrar no seu carro, foi tão difícil ficar ao seu lado em silencio nos 10 minutos seguintes enquanto pegávamos a Marginal Tietê. Mas não posso deixar de agradecer por sua educação. Você tentou puxar assunto comigo, mas acho que o clima estava tão tenso que não fez muita diferença. Bom, não fez até começar a cair aquele diluvio. Destino e sua ideia de fazer chover daquela forma enquanto estávamos no Tietê.

Eu xinguei tanto mentalmente. Parece que ainda era um castigo por ter transado com alguém por transar. Mas a pior parte foi você ter colocado aquele maldito cd dos Engenheiros para tocar. Eu tenho absoluta certeza que você se lembra do pulo que eu dei no carro ao escutar o Humberto cantar Infinita Highway, eu sei que você se lembra porque você deu um sorriso de surpresa. Foi tão espontâneo que eu me toquei na hora a cena que estava fazendo, tanto que senti a necessidade em explicar o porquê disso tudo. Nossa, era a música perfeito, na noite perfeita e com a pessoa perfeitamente errada. Pelo menos vejo assim hoje.

Sim, seus olhos estavam brilhando enquanto compartilhávamos da nossa conversa por ter a mesma banda favorita. A gente chegou a cantar juntos, e aquele trânsito que não andava, pareceu ir tão rápido depois do bendito cd. Pensando melhor, acho que se a gente tivesse só conversado sobre o cd, tudo isso poderia ter sido evitado, mas não fizemos isso. Você lembra? Quando se tem uma música boa e uma noite perfeita, nunca o assunto é só musical. Conversamos sobre nossos sentimentos quando escutávamos algumas canções, qual seria o momento ideal para ouvi-las, e em qual estrada estaríamos enquanto ouvíamos elas tocarem. Conversamos sobre o filme e de como o Thomas e a Daniele foram as pessoas mais vacilonas com que já fomos ao cinema. Foi a primeira vez que você soltou uma piada. A primeira piada que me fez gargalhar e, trazendo a memória hoje, foi uma piada tão estupida. Não poderia ser algo mais perfeita para caracterizar você. Uma grande e ambulante piada estupida. Não desista de mim depois de ter lido esse pequeno xingamento, ainda tenho muito a escrever.

Daniel, como eu queria voltar para aquela noite. Sim, aquela foi a noite que nós conhecemos. Eu teria pego um táxi, eu teria brigado com a Daniele para ela me deixar em casa, afinal, foi ela que me pegou. Eu teria ameaçado o Thomas com o fim da nossa amizade. Eu teria até explicado a situação para você. E, sabe, eu também teria entrado novamente no seu carro. Sim, Dan, eu teria entrado e repetido a mesma história e ouvido a mesma estupida piada. Eu teria, mesmo assim, passado meu número para você.

Nunca vou te perdoar por ser incrivelmente compatível comigo. Nunca vou te perdoar por aquela noite em que eu pensei que conheci um cara legal e que poderia vir a ser um grande amigo. Nunca vou te perdoar por ter estragado a minha banda favorita.

Tudo seria tão mais fácil se não tivéssemos feitos sonhos em cima de 3x4.

Atenciosamente,

Laura.


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Notas finais do capítulo

Quero falar que a Laura não conseguir mais ouvir Engenheiros foi baseado em fatos reais.

Maldito dia que dividi minha banda com outra pessoa.



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