Cartas para você escrita por Mika


Capítulo 1
Querido Daniel


Notas iniciais do capítulo

Essa ideia surgiu enquanto eu estava assistindo ao primeiro episódio da segunda temporada de Anne with an "E". Espero que gostem.



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São Paulo, 01 de dezembro de 2018

 Querido Daniel, sei que a chegada dessa carta lhe causará certo espanto e surpresa, afinal, quem, em pleno século XXI, era da tecnologia, escreveria uma carta para se comunicar? E quem imaginaria que você fosse receber essa carta de mim?

Sei que faz muito tempo, muitas coisas mudaram. Eliza me contou há uma semana sobre o seu noivado, confesso que me pegou desprevenida. Demorei um pouco para digerir esse acontecimento, um filme passou na minha cabeça enquanto ela citava como foi a cerimônia de anuncio e de como tudo estava tão agradável. Não queria escutar aquilo, mas não posso culpa-la, são poucas as pessoas que sabem o que aconteceu entre a gente. Acho que esse foi um dos motivos que fez ser algo tão especial.

Eu ainda tenho aquele livro que você me deu de presente no amigo secreto. Nossa, eu realmente amava o amigo secreto que nós realizávamos. Era uma das nossas festas favoritas. Sinto muito não poder ter tido a chance de participar do último, mas foi melhor assim, seria tão estranho te ver com outra pessoa.

Seu casamento está marcado para daqui a pouco tempo e, por coincidência, será na época em que vivemos nossas maiores aventuras juntos. Quem dera eu tivesse a oportunidade de repetir aquilo tudo mais uma vez, apenas mais uma vez. Não quero tomar muito do seu tempo nessa carta, mas não posso deixar essa oportunidade passar. Quero expressar alguns sentimentos que ficaram guardados comigo e, por favor, não pense que eu sou egoísta em resolver escrever isso tudo logo após o seu noivado. Não é isso. Apenas sinto que esse é o momento mais propício para falar tudo sobre o que aconteceu entre a gente. Parece que ficou algumas pontas soltas e eu quero arruma-las.

Você é a pessoa que eu mais odeio nesse mundo. Odeio muito a sua falta de educação em conseguir fazer com que todos te adorem, inclusive eu. Odeio o fato do seu sorriso ser o mais sincero entre tantos que eu já vi. Inclusive, o som da sua risada voltou para a minha cabeça nessa última semana de uma forma avassaladora! Nunca fui tão grata aos deuses por ter dado a capacidade de o homem fazer um bom vinho, ele foi meu companheiro nessas longas noites dos últimos 6 dias. Ponho também a culpa nele em estar escrevendo essa carta para você, a coragem adormecida dentro de mim ou aquela que você falava que eu não tinha, veio de uma forma fantástica. Talvez eu escreva uma carta para o dono da mercearia em frente a sua antiga casa por guardar a última garrafa desse horrível e barato vinho que você me apresentou. Voltando a falar das coisas que eu odeio em você, acho que nunca te falei isso, mas o seu gosto música me irritava de uma forma tão profunda! E eu sei que isso vai ser meio contraditório já que nós gostávamos da mesma banda, mas é aí que está o problema, desde as nossas últimas palavras, eu não consigo mais escutar a voz do Humberto Gessinger. Por qual motivo você foi ser tão compatível e tão diferente de mim?

Dan, nessa semana eu me peguei pensando nas múltiplas possibilidades que poderiam ter acontecido se eu tivesse feito algo diferente. Se eu não tivesse esbarrado no Thomas na cafeteria que os dois estavam, assim, quem sabe, eu nunca iria ter te conhecido. Se eu tivesse recusado aquela maldita carona ao cinema, quem sabe a gente não tivesse ficado presos no trânsito de São Paulo com aquela tempestade que caiu, assim não teríamos conversado e nos conhecido mais um pouco. Se eu tivesse sido mais liberal, como você mesmo dizia, se não tivesse ligado tanto para as opiniões dos outros, se eu tivesse sido mais forte. Como eu odeio o fato de você ter oferecido tantos meios para a gente dá certo. Como eu odeio mais ainda você ter oferecido esses meios só para mim e nunca ter pego nada para você. Daniel Albuquerque, você é tão inacreditável que eu me odeio por ter tido um pouco de fé em você.

Mas, Daniel, por favor, não me odeie por estar escrevendo isso tudo. Eu tinha que falar, você não sabe como isso me perseguiu durante todos esses dois anos. Eu tentei ignorar, sabe? Tentei mesmo. Eu saí com outros caras, eu conheci rapazes legais, cheguei a sair até com algumas mulheres, mas no fundo eu sabia que não estava fazendo o certo. Não é justo usar alguém para tampar o buraco em nossos corações. Você devia ter chegado a essa mesma conclusão antes de me conhecer.

Eu estou feliz por você, Daniel. Eu não sou a pessoa egoísta que não vai se alegrar por alguém que ela amou ter, finalmente, se encontrado, se decidido. Mas sou a pessoa egoísta que se pegou pensando que talvez poderia ter sido eu no lugar da sua atual noiva. Algumas coisas nunca mudam.

Tentarei ser o mais breve daqui em diante, depois de ter falado sobre o meu choque, sobre o que eu odeio em você, sobre algumas possibilidades que poderiam ter acontecido, pego o restante dessas linhas para fazer uma proposta. Proposta que você pode dar risada ou simplesmente ignorar, mas eu preciso fazer isso. Como eu citei acima, seu casamento cai em um mês especial, tivemos muitos acontecimentos em julho de 2016. Claro, os meses anteriores também foram importantes e eu não me esquecerei deles, mas foi em julho que tudo que poderia ocorrer veio sobre nós. Por esse motivo, Daniel, quero lhe fazer uma proposta, e você não precisa me responder, mas durante os meses de janeiro a julho de 2019 quero lhe mandar cartas comentando sobre algumas situações que vivemos juntos. Não se preocupe com sua noiva, eu não mandarei para o seu enderenço, apenas essa será enviada por motivos óbvios. As cartas serão deixadas atrás da grande pedra que fica no antigo casarão da sua família no interior. Sim, eu sei que é loucura, mas não irei até lá todos os dias para colocar uma carta, serão em datas que marcaram momentos especiais que passamos juntos.

 Por esse motivo eu estou escrevendo por carta, não por e-mail, mensagem ou pelo Instagram. Sinto que somente assim eu poderei ser mais sincera com você, mas principalmente comigo mesmo.

Como eu falei, você pode dar risadas ao ler isso tudo, eu não vou julga-lo, mas espero de coração que, ao deixar a segunda carta comentando sobre a segunda ocasião que nos marcou, eu não encontre a primeira lá.

Sei que você pode ser muito compreensível, e tenho fé de que você queira entender alguns acontecimentos assim como eu.

Com carinho,

Laura.


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Notas finais do capítulo

A gente se fala.



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