A Bela e o Morcego escrita por Valdir Júnior


Capítulo 5
Voando por Gotham City




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Jessica Jones não havia gostado nada de ter sido deixada pelo Batman falando sozinha naquele beco. E quando ouviu as sirenes da polícia se aproximando, possivelmente alertada por alguém na vizinhança, decidiu que era hora de também se colocar em ação.

O homem-morcego podia saber seu nome e até ter algumas informações sobre suas atividades como investigadora particular, mas estava longe de conhecer todas as suas capacidades.

Foi para o fundo do beco, junto à parede e olhou para cima, calculando a distância. O alto do prédio estava mais ou menos a 20 metros, seis andares acima. “Fácil” pensou Jessica. E, tomando impulso, saltou.

Mas um erro de cálculo a fez passar mais de três metros acima do seu alvo. Teve de corrigir a sua trajetória com um giro de corpo, e caiu rolando perto das saídas de ventilação, arranhando-se um pouco na queda. “Mas que p****”, pensou ela, irritada, limpando a sujeira das roupas.

Olhou em volta, tentando avistar algum sinal do homem-morcego. Não viu nada. Mas ela precisava seguir o sujeito. Não iria, de maneira nenhuma, ficar esperando tranquilamente que ele fizesse o trabalho pelo qual estava sendo paga. Ela tomaria parte ativa nesta investigação, o Batman gostando ou não.

Mas como ia conseguir achá-lo? Não conhecia a cidade, e o morcego já tinha uma boa dianteira à sua frente. Só havia uma maneira de conseguir e ela tinha que tentar. “Só espero não estar enferrujada. Há muito tempo que não faço isso”, pensou preocupada.

Caminhou alguns passos para trás e correu, dando um leve impulso para frente. Ela pareceu flutuar um pouco, mas desceu novamente. Ela suspirou frustrada, e tentou de novo. Desta vez ela conseguiu flutuar alguns metros, porém desceu de novo. “Vamos lá Jessica, você consegue. Concentre-se!”, disse para si mesma. E decidiu arriscar para valer, dando uma grande corrida e saltando para o alto, sobre o vão que separava os dois prédios vizinhos. O forte impulso a empurrou para frente e a fez ganhar altura sobre os prédios, mas depois de alguns metros começou novamente a cair.  Mas enquanto ainda estava no ar, olhou para frente, reforçando a sua concentração. E aconteceu o que ela estava esperando.

Ela estava voando novamente, passando a poucos metros acima dos prédios. Tinha se esquecido de como a sensação de se sentir livre da gravidade era maravilhosa. Tantas coisas haviam acontecido desde a última vez que voara sobre os prédios de Nova York, ainda com o nome de Safira, em companhia de heróis como o Demolidor e o Homem-Aranha. Mas isto foi antes do seu encontro com Killgrave, o criminoso conhecido como Homem-Púrpura.  Antes das coisas horríveis que ele a forçou a fazer, nos oito meses em que controlou sua mente.

Jessica procurou tirar estas lembranças dolorosas da cabeça. Tinha de se concentrar na sua tarefa de agora, que dependia de que ela localizasse o Batman. Mas como ela faria isso? Nunca havia conseguido voar tão alto nem tão rápido como o Thor ou o Superman. Seu vôo era mais como um flutuar rápido acima dos prédios. Ou entre eles, se fossem muito altos.

Então teve uma idéia. Começou a voar mais rápido, em uma espiral cada vez mais aberta, variando de vez em quando a altura do vôo, de modo a cobrir gradativamente áreas maiores, esperando que aparecesse em alguma parte algum sinal do homem-morcego.

Depois de estar voando há uma hora, viu uma movimentação estranha perto do que parecia ser um prédio baixo, com uma grande fachada luminosa, que ela deduziu ser uma boate ou casa noturna. Várias pessoas estavam saindo correndo de lá, como se estivessem fugindo de alguma coisa. Valia à pena averiguar. Quem sabe teria sorte?

  Pousou atrás do edifício, para não chamar atenção, e deu a volta para entrar pela frente. Ao se aproximar da porta de entrada, ainda esbarrou com duas garotas que estavam saindo, correndo. Pelas suas roupas, ou pela falta delas, entendeu qual era o tipo de “diversão” que podia ser encontrada ali. Quando chegou ao salão principal, parou e olhou em volta, entre surpresa e assustada.

O lugar parecia uma praça de guerra. Várias mesas e outros móveis estavam virados ou quebrados, jogados por todos os lugares. Atrás do balcão do bar era difícil ver alguma prateleira ou garrafa que ainda estivesse inteira. A mesa de bilhar estava fora do lugar, cercada por um bom número de tacos quebrados. E um sujeito grandalhão estava deitado de bruços em cima dela, meio desmaiado, gemendo. Havia um outro caído de costas no chão, com uma sub-metralhado ao seu lado, cercado de cartuchos vazios. Todas as paredes tinham pelo menos alguns buracos feitos pelos disparos. Um morcego feito de metal se destacava, fincado no seu ombro. E o seu nariz com certeza estava quebrado. Outro morcego de metal estava espetado no letreiro de neon, que soltava faíscas, acima do bar. “É, o cara sabe fazer uma visita se tornar marcante. Estou começando a gostar dele”, pensou Jessica.

Ouvindo um barulho num dos cantos do salão, atrás de um cortinado, ela se encaminhou para lá para ver se conseguia alguma informação útil. Ao afastar as cortinas, deparou-se com um homem bem vestido, que estava caído no chão, mas que tentava se levantar com dificuldade. O canto da sua boca estava sangrando. Ao vê-la, ele enfiou a mão dentro do paletó e começou a sacar uma mini-pistola automática. Mas Jessica foi mais rápida e ele mal pode perceber como ela já estava ao seu lado, torcendo o seu pulso e o obrigando a largar a arma. Foi empurrado para um canto, onde ficou, bufando de raiva, com Jessica Jones olhando-o divertida.

— Muito bem - disse ela depois de alguns instantes, apontando com o polegar para o salão destruído - eu sei que o Batman passou por aqui há pouco tempo, provavelmente procurando informações sobre onde encontrar “Big Lou” Maroni. E tenho a certeza de que você forneceu gentilmente esta informação, já que ele pediu de maneira tão educada.

O homem deu um resmungo raivoso e cuspiu um pouco de sangue no chão. Jessica Jones continuou.

— Então eu preciso que você me diga exatamente o que disse a ele, pois tenho um encontro marcado com os dois, mas perdi o endereço.

O marginal deu uma risada debochada.

— E porque acha que eu vou falar alguma coisa a você, sua vadia?

Jessica deu pequeno sorriso. Olhou em volta, viu uma das bolas de bilhar que havia rolado até ali e a apanhou. Caminhou para bem perto do cara, e colocou gentilmente a mão direita sobre seu ombro. E com a mão esquerda esmagou a bola de bilhar diante dos seus olhos, como se fosse um torrão de terra, transformando-a em cacos pequenos, que deixou cair por entre seus dedos. Ainda sorrindo, fez uma leve pressão na clavícula do homem, mas forte o suficiente para ele sentir uma dor aguda em todos os músculos e ossos do pescoço até a ponta dos dedos.

— Isso responde a sua pergunta?

Menos de cinco minutos depois, Jessica Jones estava voando em direção da Torre Gotham.

 


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