Guerreiras escrita por Valdir Júnior


Capítulo 6
Xeque à Rainha




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Michelle Obama (14) estava voltando para casa, após fazer seu último discurso enquanto primeira-dama dos Estados Unidos da América para os alunos da histórica faculdade City College, em Nova York. A escolha havia sido estratégica, pois tanto a cidade quanto a escola tinham um histórico de recepção a imigrantes, algo que ela fazia questão de celebrar, como forma de assinalar sua rejeição à posição anti-imigrantes do futuro presidente Donald Trump. Em sua fala aos estudantes, ela destacou a importância da diversidade cultural e de pensamento na criação de uma sociedade melhor e mais forte, e que ninguém deve ser impedido de perseguir seus sonhos.

Tinha a companhia da filha mais velha Malia (15), que fizera questão de acompanhar a mãe nesta viagem. Sua assessora também viajara com elas. Agora o carro oficial seguia em direção ao Aeroporto JFK, onde o Air Force One as levaria de volta a Washington. Enquanto a jovem ouvia música no Iphone e sua assessora falava ao celular com a equipe que as esperava no terminal, preparando os últimos detalhes para o embarque, Michelle aproveitou os poucos minutos que restavam  antes  de  chegarem para ler mais um capítulo do livro “Garota Exemplar”, da escritora Gillian Flynn. “É realmente bem melhor que o filme”, pensou ela.

O automóvel blindado em que elas estavam era seguido por um veículo de escolta, também blindado, onde viajavam os agentes do Serviço Secreto que faziam a segurança da família presidencial. Havia mais dois agentes no seu carro, um dirigindo e outro sentado ao lado do motorista.

Eles haviam acabado de entrar na Interstate 678, vindos da Grand Central Parkway. Quando estavam passando pelo Cemitério Marple Grove, a poucos minutos de chegarem ao JFK, Michelle viu o carro que estava à retaguarda explodir e ser envolvido por uma bola de fogo, ficando atravessado na via, completamente destruído. O seu motorista, respeitando os procedimentos de salvaguarda em caso de ataque, acelerou, tentando colocar distância do local, enquanto o outro agente que estava junto dele se comunicava com a equipe do aeroporto: “estamos sendo atacados. Dama 1 em perigo. Solicitamos ajuda imediata!”. A primeira-dama sabia que dentro de minutos equipes de resgate estariam a caminho, vindas do aeroporto ao encontro deles. Então ouviu outra explosão. E o mundo virou um caos.

*   *   *

A Viúva Negra estava dirigindo seu Corvette em alta velocidade pela Interstate 678, se desviando dos veículos que estavam a sua frente e a poucos segundos de alcançar a comitiva da primeira-dama, quando ouviu a primeira explosão. E ainda pode ver o rastro de fumaça que saía do cano de uma arma dupla, muito parecida com uma bazuca, que estava instalada no teto de um jipe militar Hummer, todo pintado de negro, que acabara de destruir o veículo de escolta do Serviço Secreto e continuava perseguindo o carro presidencial, depois de se desviar dos destroços do automóvel em chamas.

“Eles vão tentar fazer outro disparo no carro onde está a primeira-dama” pensou Natasha. “Tenho que fazer alguma coisa”.

Ela acelerou, conseguindo se emparelhar com o Hummer. Só havia uma coisa a se fazer. Apesar do Corvette ser menor e mais leve, ela o lançou com força contra a lateral do jipe, no momento em que ele estava disparando a arma novamente. Com o impacto, o tiro foi desviado, não conseguindo atingir seu alvo com precisão, mas acertando o pneu direito do veículo presidencial, perto do solo. Ainda assim, a explosão o jogou para cima por alguns momentos e depois ele bateu no chão com força, se arrastando alguns metros e parando, com a parte da frente parcialmente destruída. O motorista do jipe deu um “cavalo de pau” com o veículo, parando logo depois de onde estava o carro atingido e ficando de frente para ele. Natasha também fez uma manobra fechada com o Corvette, colocando-o de lado entre o carro da primeira-dama e o jipe, e já desceu com as duas pistolas nas mãos, atirando. As portas o Hummer se abriram e saltaram dele cinco homens, vestindo os mesmos uniformes cinza, com capacete e viseira escura que a Mulher-Maravilha havia visto no Aeroporto de Los Angeles, mas armados com rifles de precisão pesados. Eles imediatamente começaram a atirar de volta, forçando a Viúva Negra a se proteger atrás do seu carro. O Corvette possuía blindagem reforçada, mas mesmo assim os tiros deles estavam penetrando a lataria, o que a deixava numa situação bem delicada. “Onde você está Diana?” pensou. “As coisas estão ficando feias aqui!”

Como se houvesse escutado os pensamentos de Natasha, a Mulher-Maravilha desceu do céu, pousando logo a frente dos homens, já com a espada e o escudo nas mãos. Ao vê-la, os atacantes direcionaram todos os disparos na sua direção. A força dos impactos que estavam atingindo suas armas surpreendeu Diana. Ela teve a certeza de que aquelas não eram balas normais. Se o seu escudo e sua espada fossem feitos de aço comum e não forjados pelo próprio Hefesto (16), já teriam sido feitos em pedaços. E decidiu que era hora de se tornar mais ofensiva, correndo em direção aos homens. Eles pareceram assustados e confusos ao verem aquela mulher ser alvejada por todos aqueles disparos e ainda assim continuar avançando, determinada. E esta confusão lhes custou caro, pois assim que ela chegou perto o suficiente do primeiro deles, girou a sua espada, partindo a arma do sujeito em duas, como se fosse de brinquedo e, aproveitando o impulso, acertou-o no peito com o escudo, jogando-o com extrema força de encontro ao homem que estava logo atrás dele. Ambos foram atirados no ar como bonecos e se chocaram violentamente contra o capô e o pára-brisa do jipe, de onde rolaram para o chão, feridos e desacordados. Outro homem, vendo que ela estava perto demais dele para que pudesse atirar, resolveu atacá-la com a coronha do rifle, golpeando de cima para baixo. Diana aparou o golpe com o escudo e com a mão direita, ainda segurando o punho da espada, deu-lhe um potente soco rosto, destruindo a viseira do capacete e o derrubando de costas, inerte e com muitos dentes a menos na boca. Porém este último movimento a colocou em desvantagem frente aos dois últimos dois atacantes, que haviam se posicionado mais às suas costas e estavam levantando suas armas para atirar. Mas eles haviam se esquecido da Viúva Negra.

A Mulher-Maravilha estava se virando quando ouviu alguns gemidos abafados e viu um dos sujeitos passar quase voando por ela, batendo de cabeça na grade dianteira do Hummer e escorregando de bruços para o chão. E quando a Diana olhou na direção do outro homem, viu Natasha às costas dele, torcendo o braço com que ele segurava a arma e aplicando-lhe uma violenta cotovelada na nuca, jogando-o de rosto no chão, desacordado.  

Toda esta ação havia durado pouco mais de um minuto.

Elas correram imediatamente para o carro da primeira-dama. Assim que chegaram, verificaram que o agente no banco do carona, que havia recebido quase todo o impacto da explosão estava morto. Mas o motorista estava vivo, porém ferido e precisando de cuidados médicos imediatos. Enquanto Natasha cuidava dele, Diana colocou sua espada e seu escudo novamente presos às suas costas e foi até a parte traseira do veículo para ver como estavam as passageiras. Não pode ver muito bem o interior do carro, que tinha os vidros bastante escuros para evitar olhares indiscretos e manter a privacidade dos ocupantes. Ela tentou abrir a porta, mas ela estava travada. O agente do Serviço Secreto ferido, que vinha se aproximando lentamente, apoiado na Viúva Negra, disse para ela:

— O sistema de segurança bloqueia as portas em caso de ataque, para que só possa ser aberta usando um código especial.

Natasha o sentou com cuidado no chão, perto da porta e ele, sentindo muitas dores, tirou o celular do bolso e digitou alguns algarismos. Nada aconteceu. Ele tentou novamente. De novo, nada.

— A explosão deve ter danificado o sistema – disse ele – vamos precisar usar um macaco hidráulico para abrir.

A Mulher-Maravilha olhou para ele e depois para a porta, dizendo calmamente:

— Isso não será necessário.

Ela colocou-se em frente à porta e, enfiando as pontas dos dedos nas frestas e flexionando os músculos, puxou com força, arrancando-a inteira e deixando cair ao lado do carro.

Michelle Obama parecia assustada, encostada na outra porta, de olhos fechados e abraçada à sua filha. Sua assessora estava caída no banco em frente a elas, desacordada. Ao ouvir o barulho de metal sendo retorcido, ela abriu os olhos e encarou surpresa aquela mulher alta e bonita, de olhos azuis, que lhe sorria calmamente e lhe estendia a mão, dizendo:

— Pode sair agora, Senhora. Está tudo bem.   

Repentinamente um furgão negro Pit-Bull da SWAT (17) entrou na via pela contra-mão com as sirenes ligadas e cantando pneus, parando ao lado dos veículos. As portas se abriram e saltaram seis policiais da força de elite fortemente armados, posicionando-se estrategicamente e colocando-as sob mira. O comandante da operação ordenou:

— Soltem suas armas agora e não se mexam. Vocês estão presas!

Natasha soltou as pistolas e levantou as mãos, enquanto Diana ajudava delicadamente a primeira-dama e sua filha a saírem do carro

A Viúva Negra sorriu e disse calmamente ao comandante, apontando a Sra. Obama:

— Eu acho que você vai querer conversar com ela primeiro.

 

 
Referências do Capítulo:

(14) Michelle LaVaughn Robinson Obama (Chicago, 17 de janeiro de 1964) é uma advogada e escritora norte-americana. É a esposa daquele que foi o 44.º presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a 46.ª primeira-dama dos Estados Unidos, sendo a primeira afro-descendente a ocupar o posto.

(15) Malia Ann Obama (Chicago, 14 de junho de 1998) é a filha mais velha de Barack e Michelle  Obama. Após a graduação da Escola Sidwell Friends em 2015, Malia aproveitou um ano sabático antes de ingressar na Universidade de Harvard em 2017, como parte da classe de 2021. Ela passou o verão de 2016 trabalhando como estagiária na Embaixada dos EUA em Madri, Espanha.

(16) Hefesto ou Hefaísto (em grego: Ήφαιστος, transl.: Hēphaistos) é um deus da mitologia grega, cujo equivalente na mitologia romana era Vulcano. Filho de Zeus e Hera, era o deus da tecnologia, dos ferreiros, artesãos, escultores, metais, metalurgia, fogo e dos vulcões. Por ser manco, sua aparência era grotesca aos olhos dos antigos gregos. Seus símbolos são um martelo de ferreiro, uma bigorna e uma tenaz, embora por vezes tenha sido retratado empunhando um machado. Foi responsável, entre outras obras, pela égide, escudo usado por Zeus em sua batalha contra os titãs.

(17) SWAT é um acrônimo em inglês para Special Weapons And Tactics ("Armas e Táticas Especiais") e é o nome dada às unidades de polícia altamente especializada nos departamentos das grandes cidades americanas. Trata-se de um grupo seleto, altamente treinado e bem disciplinado, formado por policiais voluntários, especialmente equipados e treinados para poderem reduzir o risco associado a uma situação de emergência. Isto pode incluir ataques coordenados a alvos específicos, tais como: criminosos fortemente armados em locais abrigados, operações com reféns localizados e desativação de artefatos explosivos, além de atividades como escolta VIP e combate ao "inimigo interno" (terroristas infiltrados em solo americano). 

 

 


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