Guerreiras escrita por Valdir Júnior


Capítulo 5
Confronto




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771077/chapter/5

Mark Swanson parou seu sedan preto em frente ao prédio de escritórios na Potsdam Street, Distrito de Upper West Side, em Metrópolis. O edifício era baixo e discreto, com um pequeno depósito em anexo. Ele desceu do carro, olhou para os dois lados da rua para se certificar que  não  havia  mais  ninguém  por perto, tirou o celular do bolso e caminhou até a entrada principal, que estava fechada. Parando em frente à porta, ligou para um número de telefone previamente combinado e assim que a chamada foi atendida, disse laconicamente “estou aqui”. Passados alguns segundos, a porta se abriu e ele entrou rapidamente.

A sala, ampla e com o pé-direito alto, ocupava mais da metade do primeiro andar. O homem que abriu a porta para Swanson era muito forte e mal-encarado e com certeza carregava uma arma grande sob o blazer cinza que vestia. O ambiente estava mal iluminado, mas ele percebeu que havia mais três destes “seguranças” na sala, parados e atentos, em pontos estratégicos. O sujeito indicou silenciosamente umas das duas cadeiras que estavam em frente a uma grande e pesada mesa oval no centro do espaço. A outra cadeira estava ocupada por um agente da I.M.A., vestindo o seu uniforme amarelo característico, com alguns detalhes em vermelho na gola e nos punhos, indicando a sua posição de comando. Swanson ainda não entendia bem como eles conseguiam enxergar e respirar usando aquele capacete ridículo, que parecia mais indicado a um criador de abelhas do que a um agente de campo. Porém, sem nada dizer, sentou-se em frente a ele.

— Muito bem – disse o agente de amarelo, com uma voz meio metalizada, assim que Swanson se sentou – nós pedimos esta reunião porque o Conselho Central da I.M.A. está preocupado com alguns problemas que estamos enfrentando.

— Quais são preocupações deles? - perguntou Swansom.

— Você sabe que a I.M.A. é uma organização formada essencialmente por homens e mulheres dotados de inteligência acima da média, dedicados à conquista e o domínio de todos os governos através do uso da tecnologia e da ciência. Quando a LexCorp nos apresentou seu projeto e propôs esta aliança, concluímos que o benefício seria mútuo e assim mobilizamos dinheiro e recursos para criar armas e equipamentos para serem usados pelos "hate groups", visando implantar uma base de caos e medo que facilitará a tomada de poder nos E.U.A., criando uma plataforma para estendermos nossa influência ao mundo. Mas muitas coisas estão começando a dar errado.

— Nós também investimos muito neste projeto! – disse Swanson - O próprio Sr. “L” (1) criou e desenvolveu pessoalmente vários equipamentos que estão sendo usados para equipar os grupos radicais que escolhemos. Gastamos algumas centenas de milhares de dólares para comprar e reforçar apoio aos nossos planos junto às pessoas certas dentro do governo e  tudo está ocorrendo basicamente conforme o cronograma que traçamos.

Para confirmar o que dizia, Swanson retirou um pequeno tablet de um bolso e o deslizou pela mesa na direção do homem da I.M.A., que o recolheu, digitou uma senha, leu algumas páginas e o guardou em um estojo quadrado, preso à sua cintura.

— Como você pôde ler – continuou Swanson - estamos prontos para executar a operação “Xeque à Rainha”. E quando ela for bem sucedida como planejamos, nós estaremos definitivamente a caminho de alcançar os objetivos traçados por nossas organizações.

— Infelizmente parece que não será tão simples – disse o homem de amarelo – temos recebido relatórios mostrando que podemos ter atraído a atenção indesejada de alguém. Sabemos que muitos de nossos depósitos foram invadidos nos últimos meses e várias ações dos grupos que apoiamos foram mal sucedidas ou abortadas antes de acontecerem, porque a polícia ou a UCE pareciam saber de antemão onde iriam ocorrer, nos trazendo muitas perdas, tanto de material como de pessoal. Você mesmo teve problemas no Aeroporto de Los Angeles.

— Aquilo já foi resolvido. Como eu disse, não se preocupe – disse Swanson irritado – nós podemos cuidar de qualquer um...

Ele não pode continuar, pois foi interrompido por uma voz feminina, vinda do canto mais escuro da sala, que disse:

 - Pois eu acho que vocês têm de se preocupar. E muito!             

 *   *   *

A Viúva Negra saiu das sombras com os braços estendidos, apontando suas pistolas automáticas para os dois homens, que haviam se levantado das cadeiras. Caminhou até bem perto da mesa e olhou em volta, para os seguranças que se aproximaram, sacando as armas.

— Ora, eu devia ter adivinhado – disse o agente da I.M.A irônico - Natasha Romanoff, o refugo da SHIELD. Achei que nós já tivéssemos dado um fim em você.

— Não é fácil como você pensa, cabeça de tambor – disse Natasha sorrindo – e mande estes gorilas abaixarem as armas, porque eu tenho vocês dois na mira e não vou errar.

O homem de amarelo fez um sinal para os seguranças, que abaixaram as armas, mas continuaram de olhos fixos em Natasha.

— Quem é essa mulher? – perguntou Swanson, que também havia sacado a sua arma.

— Uma dor de cabeça crônica – respondeu o agente da I.M.A. E olhando novamente para Natasha, disse:

— Não sei se você notou, mas nós somos seis, estamos bem armados e você está sozinha. Mesmo que derrube alguns de nós, acabará morta. A vantagem é nossa.

A Viúva negra deu um leva sorriso e perguntou:

— Tem certeza?

Neste momento um barulho veio do depósito, como se alguém estivesse caminhando lá dentro. O homem da I.M.A. sinalizou para os seguranças, indicando a porta que dava acesso ao anexo, e os quatro se dirigiram para lá, com as armas em punho. Um deles acendeu as luzes do depósito, girou cautelosamente a maçaneta, enquanto os outros se encostavam agachados às laterais, para não serem vistos pelas janelas internas. Assim que a porta se abriu eles entraram rapidamente, um atrás do outro, pontos para atirar.

Natasha, ainda mantendo os dois homens sob mira das armas, puxou uma das cadeiras com o calcanhar, sentou-se calmamente, levantou as pernas e apoiou os pés sobre o tampo da mesa. Ela olhou como um ar divertido para o agente de amarelo.

— Vejamos por quanto tempo a vantagem numérica que você citou continua. Vamos contar juntos. Seis.

De repente se ouviu o som de alguma coisa se quebrando, gemidos abafados de alguém sendo golpeado e de um corpo grande desabando no chão.

— Cinco – disse Natasha.

Imediatamente os seguranças se espalharam pelo depósito, procurando seu alvo. Foi quando Swanson e o agente da I.M.A. viram, surpresos, uma mulher morena e alta, vestindo uma armadura vermelha, dourada e azul, se mover numa velocidade espantosa entre as prateleiras. Um dos seguranças também a viu e atirou em sua direção. Ela apenas levantou seu antebraço, desviando o tiro com seu bracelete metálico e continuou andando. Assim que chegou perto do sujeito, deu-lhe potente um soco no queixo, de baixo para cima, que o levantou do chão e o derrubou de costas sobre uma bancada. Ele não se mexeu mais. E ela sumiu de vista novamente entre as prateleiras.

— Quatro – contou a Viúva Negra.

Do anexo vieram mais alguns sons de passos, móveis deslocados e as vozes dos seguranças restantes, gritando entre eles. “Onde está ela?”, perguntou um deles. “Não sei! Ela é muito rápida.”, foi a resposta. Depois de alguns segundos, o primeiro falou novamente, já muito próximo à entrada do depósito: “Ela está aqui! Vou acabar com esta cadela...”. Não terminou a frase.  Em vez disso, ele atravessou a porta fechada, partindo-a ao meio com a cabeça e escorregando pelo chão do escritório, desacordado.

— Três – disse novamente Natasha.

Ouviram-se o som de vários tiros, que pareciam estar ricocheteando em metal e em seguida o som característico de estantes sendo quebradas e derrubadas. Pouco depois, a Mulher-Maravilha passou pelo que restou da porta, arrastando o último homem pela gola da roupa. Ela o atirou inerte aos pés da mesa onde estavam Swanson e o agente da I.M.A.

— Dois – falou a Viúva Negra, sorrindo e olhando para eles – Parece que agora a vantagem é nossa.

O homem da I.M.A., porém, não quis desistir tão fácil. Começou a levantar a mão direita em direção a Viúva Negra, onde trazia entre os dedos um mecanismo que parecia um soco-inglês, que estava começando a brilhar e zumbir. Mas não conseguiu terminar o movimento. Natasha moveu sua arma alguns centímetros e atirou, acertando o aparelho bem no centro. E ele explodiu, junto com os quatro dedos do sujeito, que caiu de joelhos, segurando a mão ferida.  Depois de instantes, surgiu um brilho dentro do seu capacete dele, como se fosse um curto-circuito e ele caiu de lado, completamente imóvel.

Natasha suspirou, resignada.

— Eles sempre fazem isso. É uma pena – E olhando diretamente para Swanson, contou - Um.

Vendo que ele ainda estava armado, a Viúva Negra fez sinal com uma de suas pistolas para ele.

— Cara, é melhor soltar essa arma agora. Você está me deixando nervosa e isso não será bom pra sua saúde.

Swanson deixou a arma cair no chão. E encarou as duas mulheres com raiva.

— Vocês não podem fazer nada comigo. Eu tenho direitos e nada pode ser provado contra mim.

A Mulher-Maravilha caminhou decidida até ele, segurou-o pelo pescoço, o levantou do chão mais de trinta centímetros e disse com raiva, quase entre os dentes:

— Você está confundindo as coisas, verme! Não somos agentes do governo ou policiais. Nós decidimos quais são os seus direitos, dependendo muito se gostarmos do que vai nos dizer!

Vendo que o sujeito já estava engasgando e começando a revirar os olhos, Natasha tocou suavemente o braço de Diana.

— Princesa, eu acho que ele não vai durar muito pendurado assim e nós precisamos de todas as informações que ele puder nos dar.

Parecendo contrariada, Diana soltou o homem, que desabou no chão, onde ficou longos segundos, tentando recuperar o fôlego.

Natasha chutou uma das cadeiras para perto de Swanson, dizendo:

— Senta aí.

Assim que ele se sentou, ainda meio cambaleante, Diana se colocou a sua frente, encostada na mesa, enquanto Natasha se sentava na outra cadeira.

— Eu estava aqui antes de você chegar e, portanto, ouvi toda a sua conversa com o amarelinho ali – disse a Viúva Negra, apontando o agente da I.M.A. caído no chão – E eu só quero saber uma coisa: o que é a operação “Xeque à Rainha”? Porque nós descobrimos que tudo o que vocês tem feito, fornecendo tecnologia e armando os "hate groups", é para preparar-se para ela.

O homem olhou para as duas, sorriu e sentou-se mais relaxado na cadeira, cruzando os braços sobre o peito.

— Eu não vou dizer nada a vocês. Estas informações vocês não terão de maneira nenhuma

Diana ficou em pé e tirou o laço dourado do seu cinto. Swanson, ao ver que ela pretendia usá-lo para obrigá-lo a dizer a verdade, suspirou e disse, parecendo triste.

— Infelizmente para todos nós, você não me deixa escolha. Esta coisa não vai ser usada em mim.

Natasha viu quando Swanson fez um movimento com o maxilar, parecendo que estava mordendo alguma coisa. Antes que ela se levantasse, ele caiu da cadeira convulsionando. Em seguida uma espuma esverdeada começou a sair da sua boca. Finalmente, se imobilizou por completo.

A viúva Negra, que já conhecia estes sinais, sabia que não havia mais nada a fazer.

— Cápsula de cianureto (2), escondida em um dente falso. Muitos agentes secretos e terroristas usam para não dar informações valiosas.

Diana olhou o corpo de Swanson e, depois de alguns segundos, soltou um grito irado e deu um soco no centro da mesa, que se partiu estrondosamente em duas.

— Não acredito que todos os nossos esforços vão dar em nada! – vociferou a Mulher-Maravilha.

Natasha olhou em torno, também bastante frustrada. De repente, porém, ela pareceu se lembrar de alguma coisa, se aproximando do corpo do agente da I.M.A.

— Talvez nem tudo esteja perdido princesa – disse.

Ela agachou-se perto dele e abriu o compartimento que o homem de amarelo tinha preso à cintura, tirando de lá um pequeno aparelho.

— Swanson lhe entregou este tablet pouco antes de eu entrar. Eu o ouvi dizer que eram planos e relatórios sobre esta tal operação “Xeque à Rainha”.

Porém, quando a Viúva Negra ligou o aparelho, surgiram na tela uma série de caracteres e números que não faziam o menor sentido, além de um espaço para se digitar uma senha de quinze dígitos. Ela sussurrou um palavrão.

— Está encriptado (3). Pelo que conheço de codificação de dados, é de nível militar. Existem muito poucos computadores que podem quebrar a senha e traduzir na velocidade que precisamos.

— Deixe-me ver – pediu Diana, estendendo a mão.

Assim que Natasha lhe entregou o aparelho, ela pegou o celular que levava preso no cinto, perto do seu laço e ligou, apertando apenas uma tecla. A chamada foi atendida quase imediatamente.

— Alfred, preciso de sua ajuda para acessar e decodificar alguns arquivos encriptados. Podemos estar próximas de resolver este caso.

— Será necessário que nós passemos os dados para o computador da Caverna – falou Alfred calmante ao telefone - Por favor Srta, coloque o telefone em contato com o aparelho onde estão armazenados os dados, para podermos fazer a conexão. Alguns segundos devem bastar para fazer a transferência.

Diana colocou o celular sobre o tablet, e depois de aguardar pouco mais de trinta segundos, voltou à ligação.

— Os dados foram recebidos e já estão sendo processados - disse Alfred – assim que forem decodificados, a tradução será transferida para a tela do seu celular.

— Obrigada Alfred – falou Diana, desligando.

Como não sabiam quanto tempo teriam que esperar, elas aproveitaram para prender os seguranças que estavam inconscientes e vasculhar melhor o depósito, para ver se achavam mais alguma pista. Não encontraram nada.

Estavam esperando há dez minutos, quando o celular de Diana emitiu um sinal sonoro. Assim que ela acionou o aplicativo de mensagens e começou a ler, ficou tensa e começou a andar rápido para a saída. Alarmada, a Viúva Negra foi atrás dela, perguntando:

— O que foi?

Sem dizer nada, a Mulher-Maravilha lhe passou o aparelho, e quando Natasha leu também, entendeu a gravidade da situação e as implicações que seriam desencadeadas se a operação “Xeque à Rainha” fosse bem sucedida.

— Por Deus, estes caras vão tentar matar a Primeira-Dama dos Estados Unidos hoje! – Disse Natasha, quase gritando.

E elas saíram correndo dali. Não havia um minuto a se perder.    

 

Referências do Capítulo:

(1) Sr. “L” é o modo velado como os funcionários da LexCorp se referem a Lex Luthor.

(2) O cianureto de potássio é um composto produzido ao combinar cianeto de hidrogênio com hidróxido de potássio (HCN + KOH → KCN + H2O) e existe na forma de gás ou de pó. Ele destrói as células do sangue, causa parada respiratória e debilita o sistema nervoso central, causando a morte em poucos segundos, se ingerido ou inalado.

(3) Encriptar é colocar uma informação em código secreto (cifra), que só pode ser lido por quem possui a chave para decodificar (ler) os dados.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Guerreiras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.