Guerreiras escrita por Valdir Júnior


Capítulo 1
A Teia da Viúva Negra




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Natasha Romanoff  observava agachada a rua através de seus binóculos de visão noturna, da janela do apartamento vazio. Ela já estava a quase oito horas naquele prédio escuro e abandonado, vigiando atentamente a entrada de uma garagem de caminhões desativada, na zona portuária de Nova York. “Tomara que desta vez a dica esteja certa e não seja outra perda de tempo”, resmungou a Viúva Negra já meio impaciente. Suas pernas estavam começando e ficar um pouco dormentes e a sujeira do lugar a incomodava. De repente,  uma van escura chamou sua atenção. Ela a pouco havia ficado parada na esquina durante cinco minutos e saído, mas estava de volta, entrando novamente na rua. O veículo veio rodando devagar, com as luzes apagadas, até parar silenciosamente em frente à garagem. Natasha se levantou, ajustou o binóculo para lhe dar uma visão mais aproximada e clara da van e da porta do galpão e ficou alerta, pronta para entrar em ação. A porta lateral do utilitário se abriu e desceram cinco homens, que olharam em volta como para se certificar que não havia ninguém por perto. Abrindo rapidamente a porta de serviço do galpão, eles começaram a retirar várias caixas pesadas de madeira de dentro do veículo e carregar para dentro. “É a minha deixa”, pensou Natasha.

*  *  *

Há dois meses Natasha recebera uma mensagem misteriosa de Tony Stark pedindo que fosse falar com ele nas Indústrias Stark com urgência. Ela sempre desconfiava das maneiras melodramáticas do bilionário que vestia a armadura do Homem de Ferro, mas resolveu atender o chamado, mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa.

Ao chegar, porém, viu que Tony não se encontrava sozinho em sua sala. Um homem estava sentado em frente à grande mesa do escritório. Sério, bem vestido e com um ar de “nervosismo impaciente”. “CIA ou Serviço Secreto” pensou a Viúva Negra, sorrindo.

Tony o apresentou:

— Natasha, quero que conheça o agente Saunders, do Serviço Secreto.

“Bingo”— pensou Natasha.

— O agente Saunders veio pedir minha ajuda para tentar resolver um problema. Mas depois que conversamos, cheguei à conclusão que você poderia ajudá-lo muito melhor que eu.

O agente encarou a mulher ruiva ainda com desconfiança, apesar de já ter entrado em contato com a Casa Branca e recebido totais garantias quanto à capacidade e lealdade da agente chamada Viúva Negra. Ainda assim, tinha dificuldade em confiar totalmente em uma ex-agente russa.

— Muito bem, - disse Saunders, entregando uma pasta a Natasha – Estes são alguns relatórios de nossos agentes infiltrados em grupos radicais de extrema direita, chamados "hate groups" (1), que começaram a ficar muito mais ativos a alguns meses.

Natasha se sentou imediatamente, e começou uma leitura preliminar dos relatórios.

— Nós as monitoramos com muito cuidado – continuou Saunders – mas constitucionalmente só podemos intervir se eles atacarem cidadãos americanos ou ameaçarem a segurança nacional.

Natasha olhou para ele com um sorriso irônico.

— Porém, nossos agentes informam que nos últimos dois meses vários destes grupos tem recebido equipamentos e armas de tecnologia cada vez mais avançada, que estão sendo distribuídos por todo o país. Temos urgência em descobrir quem está fornecendo esta tecnologia, para podermos agir antes que tenhamos que lidar com tragédias que vão custar muitas vidas. Precisamos de alguém que possa atuar com mais liberdade de ação.

A Viúva Negra olhou para ambos, perguntando:

— Vocês desconfiam de alguém?

Foi Tony Stark que respondeu.

— Estes métodos são muitos parecidos como os que a I.M.A. (2) usava para atingir seus objetivos e defender seus interesses, mas já não ouvimos falar dela há anos.

Natasha Romanoff fechou a pasta com os relatórios e olhou com firmeza para o agente Saunders.

— Vou investigar – disse – mantenho contato informando meu progresso.

E saiu da sala, antes que qualquer um dos dois pudesse dizer mais alguma coisa.

*  *  *

Assim que os homens começaram a descarregar as caixas, a Viúva Negra abriu silenciosamente a janela e apontou o seu bracelete para o alto da garagem, apertando um mecanismo de disparo e lançando um fino cabo de aço com um arpéu de titânio na ponta, que penetrou na borda de concreto do prédio e se fixou. Segurando o cabo com firmeza, ela saltou para fora, balançando em direção a van. E antes que os homens se dessem conta,  já estava caindo sobre eles, não lhes dando tempo para qualquer reação.

Um deles já ficou imediatamente fora de combate, pois recebeu de Natasha um chute no rosto antes mesmo dela tocar o chão. Depois de bater violentamente de costas na parede, ele escorregou para a calçada, desacordado. Outro tentou acertá-la com um soco, mas ela aparou o golpe, torceu seu braço para suas costas e acertou-lhe uma cabeçada entre os olhos. Ele também caiu e não se levantou.  Outros dois, largando a caixa que carregavam, a atacaram ao mesmo tempo. Foi o erro deles. Apoiando-se com firmeza na perna esquerda, a Viúva Negra levantou a perna direita e girou, acertando-os no queixo e lançando-os como se fossem bonecos através da porta aberta da van, onde caíram dolorosamente sobre as caixas que ainda estavam lá dentro. Ela fechou a porta do veículo com um chute. Seu quinto oponente surgiu a sua frente carregando um taco de basebol e tentou acertá-la na cabeça, de cima para baixo. Ela simplesmente deu um passou para a direita e quando o taco passou a seu lado no vazio, ela aproveitou o movimento de impulso do sujeito e o derrubou com um golpe seco na nuca.  Então caminhou em direção a caixa caída na calçada, para examinar seu conteúdo.

Foi quando a dor apareceu, violenta e sem aviso, fazendo Natasha cair de joelhos. Ela sentiu  como  se  todos  os  seus músculos estivessem sendo torcidos e seus ossos triturados. Respirar se tornou impossível e ondas de calor e frio se alternavam intensas. Seu nariz começou a sangrar.  Inerte no chão, viu entre lágrimas um homem, vestindo o conhecido uniforme amarelo da I.M.A. Ele estava apontando um aparelho para ela, que parecia ser uma pistola, mas tinha uma espécie de parabólica onde deveria ser o cano da arma. Provavelmente estava escondido dentro da van, fora de suas vistas. Vendo seu sofrimento, o sujeito comentou com sarcasmo:

— Bem desagradável, não é ruiva? Eu sabia que estávamos correndo o risco de chamar a atenção sobre as nossas atividades e de termos que lidar com agentes do governo ou com algum dos justiceiros meta-humanos. Sorte minha que eu sou prevenido e preparei esta belezinha para o caso de topar com um de vocês.  Não se preocupe, daqui a trinta segundos você não vai estar sentido mais nada.

Mas a Viúva Negra viu também outra coisa. Sem que o sujeito percebesse, um vulto desceu suavemente do céu, pousando atrás dele. E antes que ele se notasse alguma coisa, uma mão se estendeu, esmagando a arma junto com os dedos que a seguravam.  A dor cessou imediatamente. Natasha tentou se levantar, mas suas pernas não obedeceram. As últimas coisas que viu antes de desmaiar foi o sujeito caído, gritando e segurando o que restava da sua mão, além de dois olhos azuis que a encaravam preocupados.

 

 

Referências do Capítulo:

(1) Hate Groups, segundo o FBI (Federal Bureau of Investigation), são agremiações de extrema-direita com ideologias que defendem e promovem a pratica da malícia, do ódio, hostilidade ou violência contra membros de uma raça, etnia, nação, religião, gênero, identidade de gênero ou orientação sexual ou qualquer outro setor designado da sociedade. Muitas delas tem formação paramilitar.

 (2) I.M.A. significa Idéias Mecânicas Avançadas (em inglês A. I. M., que é a sigla para Advanced Idea Mechanics), e é uma super-organização criminosa fictícia, presente nas histórias em quadrinhos do Universo Marvel. Composta por brilhantes cientistas dedicados à conquista de poder e à derrubada de todos os governos através de recursos tecnológicos, sua primeira aparição (nos EUA) foi em Strange Tales #146 (Julho de 1966), numa história produzida por Stan Lee e Jack Kirby.


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