A Agenda escrita por Daniela Lopes


Capítulo 4
Capítulo 4- O Dia do Jungkook e Dia do Jimin


Notas iniciais do capítulo

O rapper Suga e Lee-na continuam se encontrando acidentalmente dentro da empresa. O dia de Jungkook chega, mas acaba sendo diferente dos demais e o próximo da lista é Jimin, porém nem tudo acontece como o previsto.



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Quarta-feira-10/08- Dia do Jungkook

         Lee-na deu sinal ao ônibus e sorriu para a mãe ao seu lado no ponto. Ela levava sua mochila e a bolsa da mãe, enquanto esta segurava a filha caçula nos braços, profundamente adormecida. A bebê tinha três anos de idade e era adorada pela irmã mais velha. Durante a noite, Chaerin teve febre e chorou muito, enquanto a mãe e irmã se revezavam para acalentá-la.

         Eram seis horas da manhã e estavam num ônibus para o centro da cidade, onde a menina teria consulta médica. Desceram no quarteirão perto da clínica médica e Lee-na entrou com a mãe, ajudando-a com o registro e documentos no guichê de atendimento. A mãe da estagiária recebeu a bolsa e falou:

—Pode ir agora. Não se atrase para o trabalho por nossa causa.

—Está cedo, Ma! Posso ficar com vocês duas um pouco mais e...

—Vá, querida! Chegue cedo e tome café com calma. Você parece tão magrinha!

         Lee-na ri e beija o rosto da mãe e a testa da irmãzinha. O calor da pele da menina em contato com seus lábios indicava que a febre ainda acometia o bebê. Saiu dali para a rua pouco movimentada àquela hora e viu uma padaria aberta. Comprou uma porção generosa de mini pães de sabores e texturas variadas, biscoitos integrais, baguetes, geleia de gengibre, manteiga e leite. Ao entrar no prédio da BigHit, cumprimentou o vigilante, a recepcionista e perguntou se mais alguém havia chegado. Foi informada que somente dois funcionários da manutenção elétrica estavam no subsolo do edifício.                                                                                                                      A estagiária entrou no elevador com suas sacolas e saiu no andar onde trabalhava, indo direto para a copa. Colocou as sacolas na bancada e foi à sala do manager guardar sua mochila, voltando para a copa para preparar o café. Tinha guloseimas o suficiente para quem quisesse comer e Lee-na sentiu-se contente por proporcionar um café da manhã aos colegas de trabalho.     Examinou os armários, encontrou o que precisava e colocou a cafeteira elétrica para funcionar, minutos depois o cheiro de café fresco encheu o ar.

         Suga dormia num colchonete em seu estúdio da BigHit. Ele despertou com o som distante de alguém cantarolando, ergueu-se a meio corpo e bocejou. Estava vestido apenas com a calça de moletom e descalço, abriu a porta e saiu para o corredor. Alguns pontos estavam escuros, pois naquele horário, não havia gente circulando pela empresa.

         O som vinha da copa e ele sentiu o cheiro de café. Aproximou-se devagar e viu Lee-na ajeitando as guloseimas em travessas na bancada de granito. Ela parecia tranquila, com um ar jovial e descontraído, diferente de sua postura séria quando estava no trabalho. Ela cantarolava uma música em inglês que ele não reconhecia e a voz dela não era de todo ruim. O BTS estava oculto pelas sombras do corredor, ainda olhando para a estagiária, quando, de repente, ela ergueu o rosto, sentindo uma presença, e virou-se.

         Na escuridão do corredor, Suga era um vulto e Lee-na recuou com um grito de susto, fazendo o rapaz se aproximar rápido, braços à frente do corpo, tentando acalmá-la:

—Wow! Oh! Sou eu! Yoongi! O Suga!

         Ela estacou, olhos muito abertos e o rosto corado. Virou-se, de costas para o rapaz, cobrindo o rosto. Ele parou, franzindo o cenho e percebeu que estava nu da cintura para cima, expondo sua pele branca como neve.      

         Suga exclamou, surpreso por ter esquecido esse detalhe e recuou para as sombras do corredor. Lee-na ouviu-o dizer:

—Pode se virar agora...

         Ela atendeu-o e viu que ele estava oculto novamente. Ela permaneceu com os olhos voltados para o chão, corada e trêmula. O incômodo silêncio foi quebrado por ela:

—Eu... Não sabia que tinha alguém aqui em cima a essa hora e...

—Trabalhei a noite toda. Não pensei que alguém chegaria tão cedo na empresa...

         Ela apontou para a bancada:

—Tem... Café fresco e coisas para comer... Ah... Pode se servir à vontade.

         Ele olhou para as guloseimas na bancada e o cheiro era convidativo. Saiu dali para vestir um casaco e chinelos, voltando em seguida. Apanhou uma caneca, colocou café e tomou um gole, fechou os olhos e desfrutou o sabor. Lee-na terminava de organizar o local e saiu dali para a sala do manager, enquanto Suga se servia da geleia num pedaço de pão de especiarias.  Tudo estava fresco e saboroso e ele comeu, satisfeito. Lavou a caneca e foi até sala do manager para agradecer o café, quando encontrou a estagiária adormecida e debruçada sobre a mesa.

         Ergueu uma sobrancelha, deu de ombros e voltou para o estúdio, ligou o computador e sorriu ao lembrar o rosto corado dela. Teria algo para contar aos amigos.

         Às 07h e 30, funcionários da BigHit e os outros estagiários começaram a chegar. Passando pela copa, viram a bancada cheia de coisas apetitosas e café pronto. Entraram, se serviram e começaram a conversar. O manager Sejin chegou acompanhado do PD Nin e foram saudados pelos estagiários, no que um deles se inclinou e falou:

—Obrigada pelo café delicioso, senhor!

         Os demais se inclinam e Sejin encarou o chefe, interrogativo:

—Café da manhã?

Ambos entraram na copa e encontram a bancada arrumada, café e sorriram, servindo-se de tudo ali. Os BTS chegaram pouco depois com sacolas e caixas e se depararam com a reunião na copa. Jin sentiu um cheiro familiar e foi até as travessas, abrindo a boca numa exclamação muda.

         Jimin riu:

—Hyung? Tudo bem?

         Jin pegou dois mini pães e falou, emocionado:

—Pãezinhos de queijo... Tem um século que não encontrava isso para comprar!

         Colocou um inteiro na boca, fechando os olhos enquanto mastigava, enquanto Jungkook imitou-o. V, JHope e Namjoon também se serviram e no fim de tudo, estavam todos sorrindo, conversando e comentando sobre o café surpresa.

         Suga ouviu o barulho do pessoal e riu. Já vestido e penteado, foi à copa ver a bagunça matinal dos amigos e foi saudado por eles. Jin riu com a boca cheia e Suga suspirou:

—Todos foram fisgados!

         Namjoon engoliu um biscoito com geleia e perguntou:

—Ideia sua?

—Minha? Oh, não! Sou notívago, não madrugador!

         Naquele momento, PD Nin chama os outros estagiários para conversar com os BTS, que são simpáticos, receptivos e por uns minutos a interação segue animada. As duas estagiárias, Minh So e Eun-Ja estão em êxtase e mal conseguem abrir a boca para responder aos BTS.

         Suga chama Rap Monster e fala:

—Vem comigo.

         Namjoon o segue e ele aponta para a sala do manager Sejin:

—Ela chegou aqui antes das sete horas... Acho melhor você acordá-la antes que o manager venha.

         Surpreso, Namjoon entra na sala e se depara com Lee-na cochilando na mesa. Ele se volta para Suga:

—Que faço?

—Acorda ela.

         Rap Monster toca o ombro da estagiária gentilmente:

—Lee-na...

         Ela se move e ergue a cabeça:

—Hum? O que...

—O pessoal chegou...

         Ela esfrega o rosto:

—Oh, céus! Acho que caí no sono! O Manager...

—Vai chegar daqui a pouco. Você tem tempo de se recompor.

         Ela sorri, grata e sonolenta, saindo dali para o banheiro. Lavou o rosto, penteou os cabelos, aplicou um pouco de corretivo nas olheiras e retocou o batom. Quando voltou à sala, Jungkook falava com o manager. Lee-na inclinou-se e o BTS repetiu o cumprimento.

         Sejin percebeu o rosto cansado da garota e falou:

—Noite difícil?

—Um pouco. Estou pronta para a agenda de hoje.

         Ela recebe os cartões do cronograma e sai dali com o rapaz para a primeira atividade do dia. O motorista da empresa os cumprimenta e Lee-na entrega o cartão com o endereço a ele. Nisso o telefone dela toca:

—Mamãe?

         Jungkook mexia em seu celular, mas prestou atenção na conversa da garota. Esta parecia preocupada:

—E Chaerin? Oh! Já vão sair da clínica? Por favor, tome um táxi pra casa, Ma! Não se esforce tanto!

         Jungkook sorri para Lee-na quando ela finalizou a ligação:

— Sua mãe?

         A estagiária acena com a cabeça e ele fala:

—Onde ela está agora?

—Levou minha irmãzinha ao médico.

—Oh! Ela está bem?

—Acho que sim. Vão para casa agora.

         Jungkook reflete por um momento  e diz:

—Vamos buscá-la!

         Lee-na é tomada de surpresa:

—O quê?

—Estamos de carro e temos tempo! Vamos levar as duas pra sua casa e depois seguimos com a agenda!

—Oh, Jungkook... Isso não está correto e...

—É meu dia, não? Eu decido onde quero ir e o que quero fazer! Qual é o endereço?

         Lee-na suspira e diz ao motorista onde ficava a clínica. Alguns minutos depois, O BTS colocou máscara e boné e desceram frente ao local. Ao entrarem, Lee-na vê sua mãe se preparando para ir embora, tendo um médico ao lado dela.

         A bebezinha estava no colo da senhora e ao ver a irmã, ergueu os bracinhos suaves e gordinhos. Jungkook viu o sorriso iluminado no rosto de Lee-na e sorriu para si. O amor da irmã pela caçula era algo bonito de se ver.

         A mãe de Lee-na ficou surpresa ao ver a filha ali:

—Filha? O que faz aqui?

—Mudança de planos, Ma! Vou levá-las pra casa.

—Oh! Certo. Quer levar a Chaerin?

         A estagiária pegou a menina no colo e beijou-lhe a bochecha fofa:

—Oi, meu amor! Passeou com a mamãe?

         Chaerin faz que sim com a cabeça e sorri, mexendo nos cabelos da irmã mais velha. O médico ainda conversava com a mãe das garotas e o BTS ouve sobre uma bateria de exames a serem feitos na garota para excluir alguma suspeita. O semblante da mulher era de preocupação e Jungkook olhou na direção de Lee-na, distraída, conversando com a caçula. Ela não havia escutado nada daquela conversa entre sua mãe e o médico.

         O BTS se aproximou e sorriu para Lee-na:

—Sua irmã é muito fofa! Qual o nome dela?

—Chaerin!

         Ele segurou a mãozinha da bebê:

—Oi, Chaerin! Sou o Jungkook! Você é linda! Quantos anos você tem?

Chaerin sorri e ergue três dedinhos da mão sem muita coordenação, fazendo Jungkook rir:

—OH, três anos! Parabéns! É muito esperta!

         A menina sorri e estica os bracinhos na direção dele. Ele bate palmas e a puxa para seu colo, deixando Lee-na surpresa com a atitude da garotinha. A mãe das garotas se aproxima e vê sua filha nos braços do BTS. Lee-na faz as devidas apresentações:

—Ma? Esse é Jeon Jungkook. Ele trabalha na empresa onde faço estágio.

         A mulher se inclina e ele repete o movimento. Lee-na fala:

—Jungkook! Pode me dar a Chaerin agora e...

—Não, mesmo! Eu e Chaerin temos muita coisa pra conversar, não é?

         A menina sorri e balança a cabeça, fazendo o BTS rir, enquanto seguem para o carro. No caminho, Jungkook segura a bebê em seu colo e canta para ela canções de sua infância. Ela bate palminhas no ritmo das músicas e examina a máscara de tecido pendurada no pescoço dele:

—É uma máscara de super herói! Pra esconder minha identidade secreta!

         Lee-na ri, enquanto sua mãe parece distraída com algum pensamento, olhando pela janela do carro. Quando chegam ao endereço da estagiária, Jungkook vê um conjunto de prédios depois de atravessarem a ponte sobre o rio Ksu-Dong.

         A estagiária informa o porteiro que iriam estacionar o carro na garagem comum aos moradores e descem do veículo para, em seguida, tomarem o elevador social até o 4°andar onde elas moravam. Alguns moradores olhavam curiosas para o rapaz bonito que acompanhava as duas mulheres, mas ninguém teve coragem de perguntar à Lee-na quem era ele.

         A mãe de Lee-na sorriu e comentou:

—Você é um rapaz muito bonito, Jungkook! Parece artista daquelas novelas da tv!

         O BTS fica corado de vergonha e Lee-na exclama:

—Mamãe!

—Ora, filha! Falei alguma mentira? Não ia estranhar se o visse em algum programa de televisão uma hora qualquer!

         Nesse instante Jungkook e Lee-na começam a rir e a mulher balança a cabeça, sem entender. Eles entram no apartamento, que não era muito grande, mas era limpo, bem mobiliado e aconchegante. Jungkook pediu licença para entrar e a senhora da casa sorriu:

— Bem-vindo à nossa casa, Jungkook!

         Retiraram os sapatos e trocaram por pantufas. Na sala, ele se sentou no sofá e continuou com Chaerin nos braços, quando Lee-na se aproximou com uma caneca infantil com água para a irmã:

—Chaechae! Beba um pouquinho! Não está cansada?

         A menina recebeu o copo e tomou alguns goles, depois ofereceu para Jungkook. Ele sorriu, pegou a caneca e fingiu beber dela também, estalando a língua depois:

— Ahhh! Delícia!

         A menina riu e tomou outro gole de água, devolvendo a caneca para a irmã e tentando estalar a língua como Jungkook. A mãe das garotas trouxe chá e serviu ao BTS e Lee-na:

—Vou fazer almoço... Vão ficar?

         Lee-na consultou o relógio do celular e falou:

—Oh! Talvez não dê tempo e...

Jungkook sorri:

—Ficaremos para o almoço!

         A estagiária o encara, surpresa, e ele sorri pra ela:

—Não podemos desfazer de um convite desses!

         Ela suspira, derrotada:

—Certo! Vamos fazer do seu jeito!

         Ele olha ao redor:

—Sua casa é muito aconchegante!

         Ela diz:

—Morávamos longe da cidade. Numa casa com quintal e perto de um bosque muito bonito. Então o trabalho de meu pai exigiu que nos mudássemos. Assim viemos pra cá.

—E sua casa?

—Ele vendeu e comprou esse apartamento. Sinto falta de lá... Era uma...

—Casa com quintal!

         Lee-na sorri:

—Eh... É isso.

         Jungkook abaixa o olhar:

—Ah... Onde... Você dorme?

         A estagiária se volta para o rapaz, surpresa com a pergunta:

—Oh! Meu quarto? O que tem ele?

—Pode me mostrar?

         Ela sente o rosto aquecer. Era um pedido inusitado para alguém que acabara de conhecer. Ele sorri:

—Um quarto diz muito sobre seu habitante.

         Lee-na se levanta, pega Chaerin no colo e segue por um corredor onde três portas ocupavam a parede. Quando ela parou frente à última e abriu, Jungkook exclamou:

—Oh! Cool!

         Não era um quarto muito grande, mas cada canto era bem aproveitado. Pintado de violeta claro e branco, possuía uma cama de solteiro, um minissofá, um armário de escritório, um pequeno guarda-roupas. Aproveitando um nicho das prateleiras, havia uma mesa de computador, um baú aos pés da cama, muitos pôsteres de filmes e animações cobriam a parede. As prateleiras de trilho nas paredes estavam repletas de garage kits, livros, revistas, CDs e DVDs.    

         Jungkook entrou e falou:

—Uau! Você coleciona tudo isso! E esses filmes...

—Só coleciono os que assisti e gostei.

         O BTS passa os próximos minutos olhando cada pôster, revista, livro, CD e DVD e comentando com Lee-na. Havia cantores locais que ele reconheceu na coleção dela e muitos artistas estrangeiros de quem ele nunca tinha ouvido falar antes. O gosto musical dela era bastante variado e tinha uma boa quantidade de compositores de música clássica. Ele apontou:

—Você gosta de clássicos?

—São bons para estudar e escrever. Ajudam na concentração e imaginação.

—Entendo. O Namjoon e o Suga gostam de clássicos também. Sabia que Suga toca piano desde criança?

         Ela balança a cabeça e o maknae percebeu que mencionar o gênio do grupo não foi muito legal. Ele se desculpa:

—O Suga é uma pessoa única... Ele tem personalidade forte, é genial e criativo. Às vezes ele é assustador, como se fosse outra pessoa, entende?

         Ela comenta:

—Como Dr. Jekyll e Mr. Hyde...

—Isso! O médico e o monstro, não é? Eu vi esse filme! Assustador!

         Lee-na coloca Chaerin em sua cama e vai até o armário de canto. Apanha um livro e entrega ao BTS. Ele olha a capa e sorri:

—Você tem o livro!

—Tenho quase todos os clássicos que deram origem aos filmes! Muitos eu leio no computador ou no Kindle.

—Gosta de ler também?

—Sempre que posso.

         Nisso, a mãe de Lee-na os chama para almoçar e eles vão lavar as mãos. À pedido da senhora, Jungkook chama o motorista e este sobe par almoçar com eles.

         Havia uma variedade de legumes cozidos, kimchi tradicional, massa, bife de porco grelhado e arroz condimentado. Comeram e conversaram trivialidades, então o motorista terminou seu prato, agradeceu e voltou para o carro. A mãe da estagiária foi arrumar a louça na cozinha e Lee-na foi colocar a irmãzinha pra dormir. A bebê apoiou a cabecinha no ombro da irmã que começou a niná-la, cantando baixinho uma cantiga de ninar. Jungkook conhecia e cantarolou junto.

         Chaerin bocejou e fechou os olhos, adormeceu e foi colocada na cama, coberta com um lençol leve. Lee-na fechou as cortinas do quarto e saiu para o corredor, onde Jungkook esperava por ela. Ele recordou-se da conversa da mãe da menina com o médico e olhou para a estagiária:

—Ela é um doce de menina, não?

—Chaerin é o anjo da família. Quando mamãe ficou grávida dela, foi um período difícil, mas ela nasceu e é o nosso coração!

—Eu tenho um irmão mais velho... Sinto falta dele, às vezes.

—Entendo. Tem sorte de ter os outros BTS como amigos.

—Eh... Eles também são minha família. Sorrimos, choramos juntos e brigamos muito também! Mas no fim o que prevalece é nossa amizade!

         Lee-na consulta o celular:

—São Quinze horas... O que quer fazer?

—Quero escutar que você tem... Não conheço boa parte daqueles cantores! Vai ser interessante...

—Certo.

         Voltaram ao quarto e Lee-na Ligou o notebook, apanhou alguns CDs e Jungkook seleciona um, colocando os fones de ouvido e fechando os olhos. A playlist que seguiu incluía John Meyer, BoA, Shinhwa, Park Hyo Shin, Epik High, G-Dragon, Adele, Daft Punk, David Bowie, Tove Lo, Charlie Puth e o BTS sorriu:

—Tem de tudo aqui!

—Um pouco de tudo, eu acho.

         Passaram algum tempo trocando de CDs e discutindo sobre estilos musicais. O último CD que Jungkook escolheu era a coletânea de uma cantora de quem ele nunca ouvira falar. Ele apertou o play e a voz poderosa e sensual de Sade Adu tocou dentro dele. Ouviu uma faixa após a outra e ao fim das canções, ele retirou o fone de ouvido e falou:

—Acho que me apaixonei por ela!

         Lee-na sorriu, concordando:

—Eu já sou há algum tempo!

         Ambos riem e ela fala:

— Se tiver interesse em alguma dessas músicas, faço uma compilação pra você...

         Ele ergue o polegar e ela suspira:

—Hora de voltar à BigHit.

         Eles saem dali para a sala e a mãe da garota entrega à filha e ao BTS um pote com biscoitos sortidos e garrafinhas de suco de frutas:

—Levem isso. Caso sintam fome na volta. Foi muito bom ter a companhia de vocês para o almoço!

         Jungkook se inclina:

—Estou grato e honrado por tê-la conhecido, senhora!

—O prazer foi meu, querido! Tem certeza que não é um ator de novela ou de cinema?

         Ele ri e Lee-na o segura pelo braço, puxando para fora do apartamento:

—Vamos logo!

          No elevador, Jungkook arruma o boné e a máscara, enquanto Lee-na digitava em seu tablet. Saíram para o estacionamento e o motorista liga o carro, ganhando a rua de volta ao centro. Nisso, Lee-na recebe uma ligação do manager Sejin e fala para o motorista seguir para um endereço determinado. Ela mostra a mensagem ao homem e ele segue para lá. Jungkook olhou pela janela:

—Aconteceu algo?

—Uma gravação num programa de variedades. Seus amigos estão indo pra lá.

—Ah... Eu não estou preparado para isso!

—O manager disse pra não se preocupar. Tudo será acertado quando chegarmos.

         Pouco depois, eles entram numa emissora de rádio e são apresentados ao responsável pelo programa. Ainda faltavam alguns minutos para entrarem ao vivo, então os BTS tiveram uma pequena reunião com o apresentador sobre o script. Jungkook passou por uma pequena produção para as fotos que seriam feitas depois do programa e juntou-se aos amigos para a entrevista.

         Lee-na permaneceu ao lado do manager e ouvia atentamente tudo que era exposto sobre os sete cantores. Ao fim de uma hora e meia de conversa, música e participação de fãs, os BTS foram levados a um pequeno estúdio para fotos promocionais da rádio, individuais e em grupo. A estagiária ficou surpresa com o carinho sincero com que os artistas se referiam às suas fãs e o curioso título que elas tinham como seguidoras do BTS. A armada do Bangtan Boys, as ARMY.

         Após agradecimentos e despedidas, o grupo deixou o estúdio e o manager os levou a um restaurante previamente reservado, onde o cardápio incluía Korean barbecue, Galbi e Chimaek. Tiveram um momento de descontração antes de voltarem à empresa, cantando, dançando, roubando a comida um do outro ou rindo das piadas de tio de Jin.     

         Lee-na assistia a tudo em silêncio, mas percebeu que Jimin não comeu nada, limitando-se a um suco de frutas e água. Jungkook olhou a estagiária, calada, e cochichou algo para Rap Monster. Esse ergueu o olhar para a estagiária:

—Kyun Lee-na?

         Ela olhou de volta e Namjoon falou:

—JK me contou que você sabe cantar em inglês!

         Ela encara Jungkook, furiosa, e ele sorri de modo encantador:

—Eu ouvi!

—Ah, não! Minha voz é...

         Suga já ouvira a jovem cantarolar na copa da empresa e a voz dela não era tão terrível como ela queria que acreditassem. Ele toma um gole de refrigerante, pigarreia e diz:

—Ela está certa... É melhor não misturar as coisas.

         Todos se voltam para o BTS, surpresos e Lee-na o encara por um breve momento, misto de desapontamento e surpresa. O manager percebeu o clima ficar tenso e falou:

—Bem, turma! Acabou a hora do recreio! Temos de voltar!

         Todos concordam e se levantam da mesa, pegando seus celulares, conversando trivialidades, enquanto Lee-na permaneceu sentada, fingindo digitar alguma coisa no celular. Nesse momento, Jungkook tocou o ombro dela:

—Vamos?

         Ela sorriu, sem graça e seguiu com ele, mas o clima já não estava tão leve depois do que Suga falou aquilo. No carro, ela permaneceu silenciosa, olhando a rua, a tarde que chegava. Jungkook percebeu que Lee-na era uma pessoa reservada e ainda não estava à vontade com seu trabalho junto ao BTS. O contato era muito recente e ela receava que isso interferisse no estágio.

         Na garagem do prédio da empresa, todos desceram e seguiram para o elevador. O manager Sejin andou ao lado dela, avaliando seu silêncio e falou:

—Algo está te aborrecendo?

—Hum? Oh, não! Não... Estou pensando na minha irmãzinha... Ela foi ao médico hoje.

—Tudo bem com ela?

—Sim! Obrigada.

         Eles entram no elevador com os BTS e JHope começa a cutucar Jimin, que devolve o gesto e por fim estão todos se empurrando e beliscando, rindo sem parar. O manager ergue os olhos e suspira, derrotado:

—Esse elevador ainda vai cair conosco!

         Então todos param de se mexer, como estátuas, por uns dois minutos, para em seguida começarem a rir. Nesse momento, Lee-na e o manager começam a rir muito, até descerem do elevador e seguirem para seus postos de trabalho.

         Pouco depois, Jimin apareceu na porta da sala do manager:

—Lee-na?

         Ela voltou o olhar para o rapaz:

—Oh! Oi, Jimin!

—Amanhã é o meu dia, não?

—Sim.

—Alguma... Recomendação?

—Ah... Acho que não. Vamos seguir o cronograma ou tentar seguir. Caso queira mudar alguma coisa, é só me dizer.

—Hum... Certo. Até amanhã, então!

         Ela acena e ele sai dali rapidamente. A estagiária percebe que ele estava um pouco abatido, mas não pensou muito a respeito. Sabia que treinavam duro todos os dias e “estar cansado” era algo comum no grupo.        

         Jungkook estava sentado no chão, mostrando aos amigos as fotos que fez na casa de Lee-na. Os BTS riram do garoto quando disse que pediu pra conhecer o quarto dela:

—Isso não se pede a uma garota! Que ousadia, maknae!

         Jin apontou:

—Como conseguiu tirar essas fotos?

—Escondido! Eu queria que vissem os pôsteres do quarto dela!

         Eles olham cada foto e comentam. Rap Monster exclama:

—Uau! Ela tem uns muito raros! Não acho pra comprar tão fácil!

—Precisam ouvir a coleção de CDs que ela fez. Tem cantores que eu não conhecia, mas são muito bons!

         Nisso, uma das fotos aparece Lee-na carregando a irmã caçula e o grupo se cala. V sorri, entusiasmado:

—Oh! Quem é a bebezinha?

—A irmã dela, Chaerin. É uma princesinha!

         JHope sorri:

—Ela parece gostar muito dela...

—É o coração da família toda.

         V suspira:

—Queria conhece-la também!

         Jimin ri:

—Pronto! O lado paterno do Taehyung aflorou de novo!

         Suga viu as fotos em silêncio e Namjoon fala:

—Sabe que seu dia vai chegar também...

—É o que vamos ver. Ah! Esqueci de mencionar que a Suran-noona virá à BigHit. Vou gravar com ela alguns detalhes da Mixtape!

         Os amigos aplaudem e Jimin fala:

—Ela é uma grande cantora! Não vejo a hora de ouvir sua mixtape!

         Na sala do manager, Kim Dan aparece na porta e cumprimenta Lee-na. Ela estava sozinha e sorriu para o colega:

—Oi! Posso te ajudar?

—Eu... Queria te perguntar uma coisa... Vai mesmo ajudar as garotas a conseguirem os tais autógrafos? Elas só falam nisso! Eu sei que é uma coisa chata, mas...

       Ela balança a cabeça:

—Não se incomode! Eu só peço que tenham cuidado. Sei que as meninas estão empolgadas em trabalhar perto do grupo preferido, mas é bom não abusarem, né? Deixe as coisas se ajeitarem e logo eu consigo o que elas querem. Dou minha palavra!                                                                          

         Ele acena e sai dali, enquanto Lee-na esfrega o rosto com as mãos, visivelmente cansada de tudo aquilo. Se pudesse, jogava aquele estágio pelos ares e voltaria para casa, para junto de sua família. Guardou o material de trabalho, desligou o computador e saiu da sala, caminhando até o elevador. Ela recostou a cabeça na parede e fechou os olhos. Naquele segundo, antes da porta do elevador se fechar, Suga seguia pelo corredor e viu a garota, mas ela não o notou. Ela esfregou as têmporas e franziu o cenho e sumiu do campo de visão dele.

         Suga entrou na copa, apanhou uma garrafa de água e tomou a metade dela. Balançou a cabeça e fechou os olhos. Aquilo estava se tornando algo repetitivo e não entendeu o porquê de estar ali sempre que ela deixava a empresa.

Voltou ao salão de prática e juntou-se aos amigos. Treinaram a coreografia de uma música que precisava de correção e acertaram alguns pontos divergentes nas posições de palco. Ao fim do treino, pegaram seus pertences e saíram para casa.

         Jin preparou lamen com carne para todos, mas Jimin se recusou dizendo estar sem apetite. Pouco conversaram após o jantar e foram dormir mais cedo nessa noite.

Quinta-feira 11/08-Dia do Jimin:

         O dia amanheceu frio e nublado. Lee-na colocou um casaco mais encorpado e despediu-se da mãe e da irmã com um beijo em cada uma. Ela sentiu que a pele da bochecha de Chaerin ainda estava mais quente que o normal, mas não pensou muito sobre isso. Bebês eram uma caixinha de surpresa e sua irmã já estava sob cuidados médicos.

         No ônibus, colocou os fones de ouvido e entrou na playlist do BTS, escutando algumas músicas que não conhecia, antigas e atuais. Ficou impressionada com as vozes do grupo e uma das músicas que mais gostou foi “SEA”. Parecia adequada para uma longa viagem, onde o ouvinte apreciaria a paisagem sem pressa, enquanto meditava sobre a vida.

         Desceu no quarteirão da empresa BigHit e foi até o saguão de entrada. Cumprimentou as recepcionistas e foi ao elevador. Eram 07h e 40 e ela chegou ao corredor, quando ouviu conversa na copa. Passou por lá e deu uma olhada de relance, quando Jin sorriu-lhe:

—Bom dia!

         Ela sorriu, espontaneamente:

—Oh! Caíram da cama?

Jungkook mastigava um Donuts com olhos felizes, enquanto V tomava leite de caixinha. Namjoon e Suga tomavam café puro, JHope comia uma torta de frutas com chantili e Jimin estava sentado, mexendo no celular e escutando música. Jin ofereceu uma guloseima para a garota, mas ela ergueu as mãos:

—Oh, não! Obrigada! Donuts são uma delícia, mas pela manhã é demais pra mim!

         Ela cumprimentou os outros BTS com uma leve inclinação de corpo e um sorriso tímido. Seguiu para a sala do manager e guardou seus pertences. Ouviu o burburinho dos outros estagiários que chegavam e esperou um pouco. Saiu da sala e voltou à copa para saudar os colegas. Chamou Eun-Ja, Minh So e Myung Seo e foram para o corredor conversar.

         Ela falou com tom de voz baixo:

—Vai acontecer uma sessão de fotos para uma revista conceituada e acredito que vocês estarão na equipe que acompanhará o grupo. Por favor, estejam preparados e focados no trabalho. É uma chance de participarem mais de outros eventos que vão acontecer até o fim do ano e uma nota positiva na avaliação do estágio.

         Eun-Ja cobre a boca com as mãos e saltita, excitada:

—Sério? Acha mesmo que vão nos levar?

—Depende de como vão se comportar e do desempenho de cada um de vocês.

         Minh So dá um gritinho abafado e Myung Seo começa a rir:

—Aqui somos profissionais e não fãs, suas tontas!

         Lee-na se volta para o rapaz:

—Está na área de publicidade também, não é?

—Sim. Estou com a equipe gráfica e artística. O pessoal que trabalha as imagens e vídeos feitos pelo grupo.

—Certo. Já soube do trabalho paralelo do BTS Suga?

—A mixtape? Não se fala em outra coisa! Parece estar previsto o lançamento para agosto ou algo assim.

—Sabe se tem algum projeto artístico para ela?

—Arte e texto. Uma pré-produção audiovisual está sendo discutida, mas não estou por dentro do assunto. Tem o lançamento virtual também!

         Lee-na passa a mão nos cabelos e pensa um pouco. Ela ergue o olhar para o rapaz e fala:

—Dê uma sugestão de algo voltado para a BigHit. Uma apresentação interna apenas para a equipe, diretoria e os amigos dele. Sei que estão ansiosos para ver o que ele está fazendo!

         O rosto de Myung Seo se ilumina:

—O auditório! Pode ser um show com vídeo!

         Lee-na sorri. Queria ver seus colegas se destacando em suas áreas de atuação. O trio sai dali conversando animadamente sobre como teriam maior participação nos eventos da empresa. A estagiária sabia que muito do trabalho era maçante, mas podia melhorar com algumas ideias. Nesse momento, Sejin entrou na sala:

—Bom dia, Kyun Lee-na!

—Bom dia, senhor! Estou pronta para iniciar o cronograma do Jimin.

—Certo. O Jungkook alterou a agenda dele, não é?

—Sim. Eu insisti para que seguíssemos os cartões, mas ele decidiu por outras atividades...

—Ele foi à sua casa?

—Sim. Apesar de minha recusa.

         Sejin se apoiou na mesa da garota:

—Esses cronogramas não são uma regra rígida. É um exercício de interação entre os meninos e você, que me representa em alguns momentos. Quero que tenha em mente que, quando for uma regra, não poderá ser alterada ou ignorada. Não será um elogio ou um rostinho bonito que vai te demover de suas obrigações.

         Ela se inclina:

—Sim, senhor. Eu compreendi.

—Muito bem. Mais tarde vamos rever a agenda da semana que vem, ok?

—Ok.

         Ela sai dali e segue ao salão de prática, onde os BTS se reuniam a maior parte do tempo. Jimin estava sozinho, se olhando na parede de espelho e virou-se quando ela entrou:

—Olá! Onde estão os outros?

—Foram para o estúdio de figurino...

—Bem, estou pronta pra irmos!

         Jimin ajeita os cabelos e fala:

—Está gostando daqui?

—Sim! É diferente... Não imaginei como era trabalhar numa empresa de música e entretenimento.

         O rapaz apanha sua bolsa e Lee-na percebe que ele vacilou um pouco em seus passos, mas depois firmou o corpo e seguiu para o corredor. Desceram de elevador até o estacionamento e foram para o carro. O BTS estava calado e a estagiária sentiu algo mais naquele comportamento. Um leve tremor podia indicar nervosismo, mas os movimentos dele estavam mais lentos e ele fechava os olhos por um longo tempo, dando longos suspiros e tentando disfarçar.                 

         Quando chegam ao primeiro endereço do cronograma, ele sai do carro e olha para cima, para a fachada do prédio à frente. Estava agendado um tratamento de pele e cabelo para o BTS e eles estavam em cima da hora. Lee-na se adiantou um pouco para conversar com a recepcionista. Jimin deu dois passos e parou, deixando a bolsa cair no chão. Ele colocou a mão na testa e outra no peito. Sua voz soou distante, quase um sussurro:

—Lee-na...

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo!
Muitos leitores já estão familiarizados com a pronúncia de nomes coreanos e como se comportam as vogais e consoantes nesse idioma. Os nomes das irmãs Lee-na e Chaerin são lidos Li-ná e Cherin (o apelido da bebê é Cheche). Este texto não é uma song fic, mas enquanto escrevia, escutei canções que caíram bem durante a leitura e prometo citá-las em breve.
Boa leitura!