A Agenda escrita por Daniela Lopes


Capítulo 27
Capítulo 27- Se o tempo parasse por nós


Notas iniciais do capítulo

Está próximo o dia da partida. Suga e Lee-na tentam aproveitar cada segundo juntos.



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O dia seguinte foi de treinamento intenso para os BTS, incluindo exercícios físicos e treino vocal. Suga faz tudo em silêncio, concentrado, quase alheio aos amigos. Quando deram quatro horas da tarde, Lee-na apareceu na BigHit trazendo uma cesta com guloseimas para os amigos. O manager Sejin recebeu a jovem e convidou-a para sua sala. Ela sentou-se e ele falou:

—Como estão os preparativos para a viagem?

—Os passaportes estão prontos. Se dependesse de meu pai, hoje mesmo estaríamos embarcando, mas mamãe quer acertar as coisas por aqui antes de irmos embora. Ela quer se despedir de amigas, doar algumas coisas...

—Uma mudança e tanto, não? Você está... Com medo?

—Um pouco apreensiva, eu acho. Sempre me senti fora do eixo, então não será diferente em solo estrangeiro. Enquanto minha família estiver unida, ficaremos bem. Os americanos tem um ditado apropriado:_ “O lar está onde está seu coração” _ E assim será.

            Sejin sorri:

—Acho que esse pessoal não está preparado para receber Kyun Lee-na! Veio ver os meninos?

            Ela sorri:

—Trouxe um mimo para todos! Deixei na copa. Gostaria de experimentar?

            Animado, Sejin acompanha a garota. O perfume da comida já chegava até ele e o manager abriu a cesta:

—Oh! Isso é... Hoddeok! Tem um século que não como essa panqueca!

—É a minha versão. Prove com isso.

            Ela abre um pote de vidro e Sejin vê a geleia de morango caseira. Mergulha a colher e tira um bocado generoso. Ao dar uma mordida na guloseima, ele fecha os olhos e se curva para trás:

—Oh, céus! É dessa panqueca que o Jin tanto fala?

            Ela ri:

—Acho que sim!

            Sejin pousa a mão no alto da cabeça de Lee-na e ela cora:

—Estagiária Kyun Lee-na! A BigHit lamenta ter que abrir mão de você para os americanos! Que tal abrir uma empresa de panquecas?

            Nisso, PD nin passa pelo corredor e vê os dois:

—Ei! Kyun Lee-na! Veio nos fazer uma visita!

            Sejin prepara uma panqueca para o chefe:

—Prove isto!

            O CEO da empresa ri e morde a panqueca. Ele se vira para a moça:

—Só viemos a conhecer sua famosa panqueca agora que está de partida? Isso não é justo!

            Ela se defende:

—Mas deixei a receita e o modo de fazer com o Jin! Ele pode fazer igual.

            Sejin ri:

—Que igual que nada!

            PD nin sorri para a jovem:

—Falta pouco, não é?

—Sim. Nesse domingo.

—Sua mãe está apreensiva? É outra cultura...

—Um pouco, senhor. Mas já nos inteiramos de muita coisa da cidade onde vamos morar. Inclusive descobrimos que há coreanos morando lá e comércio com produtos que encontramos aqui.

—Precavida, hein?

—Vamos tentar o melhor dos dois mundos, principalmente por causa da Chaerin.

            Eles concordam com um aceno de cabeça. Nisso JHope aparece na porta da copa e vê Lee-na:

—Oh!

            Ela se aproxima para abraça-lo e ele sorri:

—Estou derretendo de tão suado! Veio nos ver?

            Ela aponta a cesta:

—Trouxe guloseimas! Eles já provaram!

            Sejin e PD nin erguem os polegares com cara de culpados e JHope ri:

—Oh! Jin vai cair duro! Volto já!

            Ela se senta num banco e o manager percebe a ansiedade tomar conta da jovem. Sabia que ela e Suga tentavam não transparecer que estavam mais magoados do que gostariam de admitir.

            Pouco depois, os sete cantores invadiram a copa com risos, aplausos e devoraram as panquecas em minutos. Suga evitava ficar muito perto de Lee-na, limitando-se a olhares prolongados e sorrisos discretos. Jin abraçou o amigo pelo ombro e Yoongi reclamou:

—Ah! Hyung! Você tá pegajoso e fedido!

—Não seja malcriado, Min Yoongi! Vai sair com ela hoje?

—Eu... Convidei-a para o cinema.

—Muito bem! E amanhã?

—Não pensei em nada, por quê?

—Vamos marcar o almoço lá em casa? Se lembra do combinado?

            Suga olha Lee-na, distraída, conversando com Namjoon, V e Jimin. Ele se volta para o amigo:

—Será que ela vai aceitar?

—Claro que vai! Deixa comigo!

            PD nin ouviu os dois conversando e falou:

—Posso dispensar vocês amanhã por volta das 14 horas, mas quero que cheguem bem cedo pra compensar!

            Jin ergue o polegar:

—Falou, chefe!

            Jin se aproxima de Lee-na e apoia as mãos nos ombros da jovem:

—Amanhã você tem um compromisso conosco!

—Tenho?

—O almoço na casa do BTS!

            Todos começam a rir e ele termina:

—Esteja aqui às 13 horas. Está tudo arranjado!

            Ela volta seu olhar para Suga e ele dá uma piscadela, fazendo a jovem sorrir. Os cantores voltaram para o salão de treino e ela decidiu visitar os outros estagiários. Eun Ja e Minh So estavam alvoroçadas com a pré-venda de ingressos para o primeiro show do grupo da turnê Wings. A estagiária tocou o ombro de Lee-na:

—Pena que não poderemos ir juntas, Lee-na! Eu queria... Que todas nós saíssemos mais vezes pra compensar o tempo que a gente pegava no seu pé!

—Esqueçam isso, ok? Como estão indo?

            Minh So agita as mãos:

—Muito trabalho! Com a turnê em vista, nós temos que conferir o vestuário e os acessórios que vão ser usados! Reparos nas roupas e sapatos é a parte mais complicada. Temos que ter muita atenção!

—Oh! Deve ser bem trabalhoso! Mas tenho certeza que vão dar conta!

            Elas sorriem e abraçam Lee-na. Nisso Kim Dan aparece na porta e acena para as moças:

—Olá, meninas!

            Lee-na acena para o estagiário:

—Como vai, Kim Dan?

—Despedida oficial, Lee-na?

—Quase! Eu gostaria de ver todos vocês no aeroporto, domingo. Quero me despedir do jeito certo!

            Dan sorri:

—Soube que os BTS vão estar lá!

            Eun Ja sorri:

—Eu soube que Lee-na tornou-se amiga deles. Um feito e tanto para um tempo tão curto aqui!

            Kim Dan fala:

—Que maldosa, Eun Ja! Talvez porque ela não ficava babando e gritando atrás deles!

            A estagiária faz uma careta, furiosa e Minh So começa a rir. Lee-na intervém:

—Oh, pessoal! Parem com isso! Os meninos do BTS são pessoas como nós, cheios de qualidades, talentos e defeitos também! Não é tão difícil se aproximar deles...

            Kim Dan ri e aponta para as duas estagiárias:

—Ouviram isso? Basta chegar perto deles como pessoas normais e não um bando de malucas escandalosas querendo arrancar as roupas e mechas de cabelos deles!

            Lee-na começa a rir, quando Suga aparece na porta da sala delas e cumprimenta a todos. Ele acena para Lee-na e Kim Dan ergue uma sobrancelha, enquanto as garotas se entreolham. A jovem se ergue da cadeira e se despede do trio, saindo dali na companhia de Suga.

            Eun Ja gaguejou:

—O-o q-que foi isso?

            O estagiário começa a rir:

—Wow! Viram a cara da Lee-na? Caramba! Ela... Tá saindo com o Suga! Debaixo no nosso nariz e ninguém percebeu nada!

            Minh So suspira:

—Como pode isso? Ela tá indo embora do país!

            Kim Dan pisca para as duas:

—Então é uma despedida...

            Eun Ja coloca as mãos no rosto:

—Ai! Que romântico!  Um encontro pra dizer adeus!

            Kim Dan suspira, impaciente:

—Argh! Que bando de melosas!

            Suga chamou um taxi e colocou boné e óculos escuros. Ao lado dele, Lee-na estava em silêncio. Ele virou-se e buscou a mão dela, entrelaçando os dedos. Ela baixou o olhar:

—Acho que os outros estagiários perceberam algo da gente.

—Não faz mal...

            Ela afagou a mão dele:

—Yoongi... Obrigada por insistir comigo.

            Ele fechou os olhos e balançou a cabeça:

—Não se engane comigo... Sou tão cabeça dura quanto você. Devemos agradecer aos meninos... Principalmente o Jin!

            Ela sorri e apoia a cabeça no ombro do namorado. Minutos depois eles descem do taxi frente ao Seul Cinema, localizado no distrito Jongno-Gu, um dos mais antigos de Seul e mais famoso. Compraram ingressos, passaram num Starbuck e pediram café. Depois seguiram para a sala de exibição levando refrigerante e pipoca.

            Lee-na achou curiosa a escolha de Suga. Era um filme de romance dramático e ela não comentou no momento. Havia outros casais na sala e, vez ou outra, ouvia-se uma risadinha nervosa, um fungar discreto e suspiros apaixonados.

O filme seguia com momentos mais ou menos dramáticos, mas sempre carregado de romantismo. Durante uma cena de beijo entre os protagonistas, Lee-na quis rir, mas cobriu a boca com força. Suga percebeu e olhou para ela e tentou segurar o riso também, mas não conseguiu e ambos riram juntos. Ao fundo alguém reclamou e o casal silenciou, para em seguida explodir em nova onda de risadas abafadas.

            Decidiram sair da sala e no corredor, ele encarou-a:

—Que aconteceu lá dentro?

—Eu não sei! De repente achei aquelas cenas todas tão...

—Chatinhas? Concordo com você... Péssima escolha, não?

            Ela sorri, segura a mão dele e se vira para o lado. Havia outra sala exibindo um filme de ação e ela toma uma decisão. Olha de um lado a outro e puxa o namorado, seguindo sorrateiramente para dentro da sala de exibição. Acharam duas cadeiras vagas e se sentaram, aliviados por não serem pegos em flagrante.

Suga aproximou-se da orelha dela:

—Isso foi uma loucura! Me surpreendeu...

            Ela ri:

—Shhhh! Vamos ver o filme!

            As cenas de ação, tiros e perseguições arrancavam risos e exclamação dos espectadores. Era uma interação bem mais divertida e o casal entrou no espírito do roteiro. Quando as luzes se acenderam, todos começaram a ovacionar e aplaudir, enquanto Suga e Lee-na escapuliam dali rapidamente.

            Na rua, Suga acenou para um táxi e seguiram para Seoul. Dentro do veículo, ele fala:

—Devia ter deixado você escolher o filme! Gostei do que fez lá... Foi ousado e divertido.

—Nunca fiz nada parecido! Suga-Oppa é uma má influência...

            Yoongi exclama, surpreso ao ouvi-la usar aquele termo pela primeira vez:

—Oh... Nunca me chamou assim!

            Ela sorri e fica corada, o que faz Suga abraçá-la apertado:

—Certo... Aonde quer ir agora?

—Eu não sei...

—Está com fome? Sede?

—Não. Só queria ficar assim... Junto de você.

            Suga reflete um pouco aquelas palavras e então pede ao motorista para seguirem a um endereço específico. Era uma rua que Lee-na não conhecia e quando desceram do táxi, o rapper segurou sua mão e puxou-a para um beco mal iluminado.

            Ela olhou ao redor. Havia uma sequência de prédios de todos os tamanhos que formavam um corredor e quase no fim dele, uma escada de incêndio velha, descia pela parede de um dos imóveis até o asfalto. Suga olhou para cima e falou:

—Chegamos.

            Lee-na temia que fosse aparecer alguém perigoso, mas Yoongi subia os degraus com confiança. Ela seguiu o namorado e via, a cada lance de escada, as janelas dos andares às escuras. Ela estremeceu e continuou subindo até ver Suga parar frente a uma das janelas.

O BTS forçou o trinco e a janela cedeu, abrindo-se num movimento para cima. Ele esgueirou-se para dentro do prédio e chamou Lee-na:

—Vem.

            Ela passou pela janela e sussurrou:

—Isso é invasão! Podemos ser presos!

            Ele riu:

—Nada disso. Vamos continuar.

            A janela dava acesso a um imenso hall, cheio de plástico rasgado pelo chão, sacos de argamassa secos pelo tempo, baldes de tinta vazios ou derramados e muito papel espalhado. Suga parecia não estar preocupado com nada e continuou andando pelo andar, tendo Lee-na atrás dele. De repente, ela vê à frente deles, uma parede inteira somente de janelas de vidro, de uma ponta à outra da grande sala, abrindo-se para o Córrego de Cheonggyecheon, muitos metros à frente e abaixo, belamente iluminado.

            Lee-na aproximou-se do vidro e sorriu:

—Oh! Esse lugar é...

            Suga está parado perto dela, olhando o horizonte coalhado de luzes, como um mar de estrelas:

—Faz um bom tempo desde que vim aqui com um grupo de amigos que faziam rap e hip-hop comigo. Esse lugar estava em construção. Só no esqueleto e a vista era tão fantástica quanto é agora. A obra ainda tá parada, então o lugar está meio abandonado.

—É fabuloso!

—A gente subia aqui pra jogar cartas, beber e relaxar a cabeça. Um dos meus amigos disse que essa vista ajudava a inspirar as letras. Estamos acima da loucura das pessoas.

            Lee-na apoia a testa na janela e sopra, formando uma mancha esbranquiçada no vidro sujo:

—Como acha que estaremos daqui a cinco... Ou dez anos?

            Ele sorri:

—Espero que ainda vivos!

            Ela fecha os olhos, franzindo as sobrancelhas:

—Não brinque! Eu... Falo sério!

            Ele se aproxima, cercando-a e segurando a cintura da jovem com cuidado:

—Daqui a dez anos? Hum... Talvez tenhamos dominado o mundo! Eu com minha música e você com sua mente aguçada... Eu vejo Kyun Lee-na lidando com pessoas de todo tipo, enfrentando-as, ensinando a enfrentarem o mundo. Definitivamente comunicação será uma área pouco satisfatória pra você...

            Ela sorri. As palavras do namorado eram inspiradoras:

—Min Yoongi é um homem de poucas palavras, mas quando decide usá-las, é admirável.

            Ele faz a garota se virar e a mira com carinho:

—Daqui a dez anos... Espero que esteja solteira...

            Lee-na recebe o beijo dele e o envolve nos braços. Ele a pressiona contra o vidro da janela e suas mãos estão cada vez mais ansiosas para tocá-la. Lee-na sente a urgência no beijo dele, ofegante em sua boca. Ela afastou-se um segundo:

—Suga...

            Ele avança contra o pescoço dela:

—Lee-na... Se... Você quiser, a gente vai pra outro lugar...

            Ela fala baixo, quase murmurando:

—Eu quero...

            Outro taxi levou-os a um endereço em Dongdaemun. O quarto era pequeno, mas aconchegante e o preço convidativo. Suga trancou a porta e avançou para Lee-na, beijando-a no rosto, lábios e pescoço. Ele não queria perder tempo com palavras e pelo que via, ela também não.

Sentou-se na cama macia e puxou-a para cima dele. A jovem sentou-se em seu colo e segurou seu rosto para que continuassem o beijo. Ele despiu-a de sua jaqueta, sua blusa e por fim o top que ela usava. Seus lábios alcançaram a pele suave dos seios e ela inclinou-se para ele. Era a segunda vez que se encontravam daquela forma e desde Daegu, o desejo não havia esmorecido nem um segundo sequer.

Como amantes, deixaram livres seus sentimentos e se esqueceram por hora que seu romance teria fim no domingo próximo. Abraçados na cama perfumada, ambos permanecem em silêncio. Lee-na está de costas para o rapper, sendo abraçada por ele. Ela segurava sua mão, brincando com seus dedos entrelaçados.

            Ela sente os lábios dele sobre a pele do ombro e da nuca e sorri. Não precisava olhar para o namorado para saber que ele também sorria:

—Lee-na?

—Hum?

—Queria gravar as batidas do seu coração... E fazer música com elas.

            Ela virou-se:

—Oh! Isso foi romântico!

            Ele sorri, orgulhoso:

—Sou um cara romântico, quando tenho o incentivo certo...

            Ela afaga seu rosto:

—Sou um incentivo pra você?

            Ele ri e se arrasta sobre ela, abraçando-a:

—É mais do que isso...

            Ela encarou-o por um longo tempo, memorizando os traços daquele rosto querido e falou:

—Eu amo você, Min Yoongi... Droga! Eu amo você!

            Suga começa a rir. Ela imitava-o e aquilo foi aegyo o bastante pra ele:

—E isso foi muito fofo, Kyun Lee-na!

            Ela sorriu e fechou os olhos, beijando o BTS. As mãos dele voltaram a tocá-la com desejo, trazendo a jovem para si novamente.

            O táxi parou no conjunto habitacional por volta das 1h e 40 da madrugada. Suga deixou Lee-na na portaria:

—13 horas na BigHit, ok?

—Ok... Yoongi-oppa.

            Ele ri e beija a testa dela. Volta para o veículo e segue para o centro. Lee-na entrou em seu apartamento, trocou de roupa e foi para o quarto da mãe. A senhora dormia, quando sentiu o movimento da cama. Virou-se e olhou o rosto da filha. Esta sorriu para a mãe e falou:

—Obrigada, ma...

—Pelo quê, minha querida?

—Por me entender e me deixar viver isso...

            A mulher sorri e abraça a jovem. Numa sociedade cheia de valores patriarcais, as ações de Lee-na seria fortemente criticadas, mas Nari Kyun sabia o valor dos sentimentos verdadeiros e não impediria nenhuma das filhas de experimentar algo tão especial. Mesmo ela, vivera sozinha quase toda a vida. Sem parentes vivos, cresceu e amadureceu por conta própria, tendo apenas uma madrinha como pessoa próxima. Suas escolhas particulares não eram da conta de ninguém e quando conheceu seu futuro esposo, agradeceu aos céus por ele ser um homem afável, honesto e cavalheiro.

            O sonho dela era ver a filha realizada e feliz, independente da escolha que fizesse.

            Os BTS acordaram bem cedo e chegaram à empresa por volta das 7 horas e 10 da manhã. Namjoon aproximou-se de JHope e Jin:

—Alguém viu que horas o Yoongi chegou?

—Umas duas horas da madrugada?

—Ele parece bem.

            Jin sorri:

—Ah! O amor!

            JHope ri:

—Besta! Deixa ele ouvir você...

            Suga amarrava o cadarço do tênis de treino e ergueu o rosto para os três amigos:

—Ouvir o quê?

            Em pânico, os cantores se entreolham e JHope responde:

—Uma batida nova que estou fazendo com o Rap Monster!

—Ok! A gente ouve depois! Vamos começar esse ensaio!

            Às 13 horas, Lee-na entrou na BigHit e aguardou na recepção. Trazia uma sacola com produtos que usaria para o almoço no apartamento dos amigos. Eles desceram no horário marcado e com a jovem, seguiram de carro para casa. Enquanto jogavam dominó na pequena sala, valendo guloseimas, conversavam animados. Suga ficou com Lee-na, ajudando com o almoço e vez ou outra apareciam à porta da cozinha para participar da conversa.

            O cheiro dos temperos já chegava até o grupo e Jin exclamou:

—Argh! Que fome!

            Suga aponta para o mais velho:

—Hyung “sem fundo”! Tem que esperar uns dez minutos! Já se empanturrou de porcaria e ainda tem fome?

            Os demais começam a rir e Namjoon diz:

—Jin hyung tem um alien no estômago!

            Jin se defende:

—Estão tentando desviar a atenção só porque estou ganhando essa jogada!

            V exclamou:

—Nada disso! Sua vez já passou! É o JHope agora!

            Lee-na volta para a cozinha e Suga vai com ela. Os BTS se entreolham e fazem coraçõezinhos com os dedos e tentam rir baixo. A jovem apanhou uma colher e mergulhou no molho que fervia:

—Yoongi? Pode provar o sal disso?

            Ele se aproxima e recebe a colher na boca:

—Está bom pra mim... Mais um pouco de pimenta?

—Acho que sim.

            O rapper olha para a porta e se volta para Lee-na, beijando-a rapidamente. Ela sussurra:

—Suga!

—Não resisti!

—Sei. Peça aos meninos pra arrumarem a mesa. Já podemos servir!

            A reunião para o almoço é animada e barulhenta. Jin sorria diante do prato:

—Esse é um momento solene! Não me perturbem!

            A risada toma conta do grupo e quando terminam, Suga volta à cozinha e retorna com dois potes. Lee-na trouxe colheres, taças e um pote de vidro:

—Sorvete!

            Todos aplaudem e Lee-na abre o frasco:

— O sorvete é de queijo e essa calda é de frutas vermelhas. Mamãe quem preparou tudo!

            Jungkook mira sua sobremesa com rosto sério e olhar baixo. Lee-na percebe e se aproxima:

—JK?

            Ele ergue o olhar:

—Tudo isso pra...

            Ela entendeu e afagou as costas dele:

—Obrigada por se importar, querido Jungkook. Não quero que fique triste... Sou uma pessoa afortunada por tê-los conhecido, como são de verdade!

            O grupo fica em silêncio e Suga funga discretamente:

—O sorvete está derretendo...

            Eles riem para descontrair e comem a sobremesa, para em seguida caírem satisfeitos no tapete. Taehyung abre os braços, deitado:

—Vou hibernar...

            Namjoon recosta na parede e fecha os olhos:

—Ahh! Vamos ter que maneirar na comida amanhã!

            Lee-na apanha o celular e coloca uma canção de sua playlist, “Free fallin”, do cantor John Mayer. Jimin se vira:

—Ohh! Essa é boa!

            Embalados pela canção, um a um dos cantores cai num sono pesado e reconfortante após a farta refeição. Suga e Lee-na estavam no sofá, aninhados nos braços um do outro, observando os amigos dormindo. Ele aproximou-se da orelha dela e murmurou baixinho:

—Obrigado por isso...

            Ela sorri, sonolenta:

—Estou feliz de estar aqui.

—A gente ainda vai se ver antes de sua viagem?

—Eu não sei... PD nin e manager Sejin foram extremamente generosos em permitir que saísse tantas vezes para se encontrar comigo... Não podemos abusar e não quero que fique encrencado.

            Ele baixa o olhar:

—Entendo...

            Ela se aconchega ao namorado:

—Yoongi... Vamos ficar assim, juntos e quietinhos, sem pensar em nada!

—Ok...

            Lee-na adormece nos braços dele e Suga em seguida a ela. Umas duas horas depois, Namjoon acorda e observa o grupo adormecido na pequena sala. Olha Suga e Lee-na adormecidos no sofá, abraçados e encolhidos. O líder BTS sente os olhos se encherem de lágrimas e sai dali para o banheiro, lavando o rosto.

            Aos poucos, cada BTS desperta e vê o casal no sofá. V fica corado:

—Quem diria... Suga hyung está apaixonado de verdade...

            Jin balança a cabeça:

—Não se enganem. Posso ser o mais velho em idade, mas a maturidade está com Min Yoongi...

            Nisso, Suga acorda e vê os amigos na sala, conversando baixo. Ele fala:

—Oh! Dormimos muito?

—Duas horas ou mais...

            Suga liberta-se do abraço de Lee-na e, com cuidado, a acomoda no sofá, saindo devagar para o tapete:

—Ela parece cansada. Vou deixá-la quietinha aqui...

            V olha a mochila da jovem num canto da sala e uma sacola grande. Era possível ver a caixa das army bombs e ele sorri:

—Pessoal! Olhem isso!

            Curiosos, veem Taehyung retirar o material de fãs da sacola e Suga ri:

—Cara! Ela falou que comprou um bocado de coisas do BTS pra ela e Chaerin!

            V bate palmas:

—Vou autografar tudo da Chaechae!

            JHope comenta:

—A impressão que tenho é que o V é o fã da bebezinha!

            Todos riem e se sentam no sofá, abrindo os cards, livros de fotos, CDs e autografando tudo para as irmãs Kyun. Quando Lee-na acordou pouco depois, foi ao banheiro, lavou o rosto e arrumou os cabelos. Voltou à sala e Suga riu:

—Sua dorminhoca!

            Ela cobriu o rosto, envergonhada:

—Não caçoe! Acho que comi demais!

—Todos nós! Estava perfeito!

            Jin abre os braços:

—Se não fosse crime nesse país, você nunca mais ia sair dessa casa!

           Suga encarou o amigo e fez uma careta. Jin exclamou:

—Qual é! Aposto que pensou do mesmo jeito, Yoongi!

            Lee-na entregou:

—Jin hyung! Ele disse que queria me sequestrar e fugir para Fiji!

            Jin olha pra Suga, acusador:

—Eu sabia!

            Ela viu que mexiam no material que havia trazido e sorriu, sem jeito:

— Oh! Vocês encontraram! Fiquei sem saber como pedir o autógrafo de todos!

            O líder Namjoon sorri:

—Nossa amiga agora é uma Army oficial!

            Ela se inclina e depois olha pela janela:

—Hum... Acho que é hora de ir. Vocês terão um dia puxado amanhã, então vão descansar bem. Por favor, durmam cedo hoje!

            Ela guarda o material na sacola, ajeita a mochila e preparou-se para sair. Suga se adiantou:

—Te levo em casa e...

            Ela recusou:

—Vai ficar em casa e vai descansar como seus amigos. Vou tomar um táxi e quando chegar em casa, ligo pra você!

—Posso te levar até o táxi, então?

—Ok!

      Eles riem e se despedem, enquanto o casal entra no elevador. Suga se aproxima de Lee-na e se inclina para ela:

—Aqui não tem câmeras bisbilhotando a gente...

            Ela fecha os olhos e ele a beija até chegarem ao andar térreo. Na rua, esperam o táxi chegar e Lee-na está pensativa. Então ela retira um saquinho de veludo preto do bolso da mochila e estende para o rapper. Suga sorri:

—Hum! Presente ou...

            Mas ele percebe o rosto dela muito sério. Abre e em sua mão, uma corrente e um pingente semelhante a uma cápsula, ambos de prata de lei. Suga olha Lee-na e ela explica:

—Há uma mensagem minha dentro dessa cápsula. Quero que se lembre de abri-la daqui a quinze anos, a partir de hoje...

—O quê?

            Ela tem lágrimas nos olhos:

—Quando eu for embora, teremos as lembranças que vivemos aqui.

            Ele balança a cabeça:

—Que conversa é essa? A gente vai se falar mesmo à distância! Eu não vou...

            Ela suspira e enxuga o rosto:

—Você e os meninos vão estar imersos em seus projetos e eu vou buscar meu lugar no mundo. Nosso tempo será cada vez mais curto e espaçado. Não... Quero estragar tudo que é especial entre nós.

            Ele olha o pingente na mão, sem reação diante das palavras dela. O táxi estaciona perto do passeio e Lee-na vai até Suga:

—O sucesso de vocês será grande!

            Ela o beija rapidamente nos lábios e entra no táxi, deixando o BTS parado, com a joia na mão, vendo o veículo se afastar. Suga entrou no apartamento com a corrente no pescoço e o semblante carregado.

Seus amigos ficaram em silêncio. Aquele era o momento real entre Suga e Lee-na. Aquele almoço entre amigos foi a despedida oficial da ex-estagiária.

O silêncio do restante daquela semana serviu para os BTS se acostumarem com a falta da amiga. Suga não deixava transparecer, mas sofria e tentava transformar a dor em energia criativa, trabalhando pesado em letras e arranjos musicais. A joia presenteada por Lee-na não saiu de seu pescoço um momento sequer.

O domingo da viagem estava quente e ensolarado. Lee-na está parada frente a um grupo animado de jovens que ria e conversava com ela. Deseja m boa sorte na nova vida. Chaerin estava no colo de V e mexia no boné dele, que sorria:

—Vai sentir falta do V?

            A menina balança a cabeça e segura o rosto do cantor com as mãozinhas pequenas:

—Vbonito!

         Taehuyng fica corado e todos riem. A senhora Kyun pega a filha do colo de V e fala:

—Vou me sentar com Chaerin próximo ao portão de embarque. Adeus a todos!

        O grupo se inclina e a Senhora Kyun olha Suga nos olhos:

—Adeus, querido Yoongi! Vou rezar sempre por você e seus amigos!

         Ele se inclina em silêncio e vê a mulher se afastar. Os estagiários usavam bonés, óculos escuros e mascara facial, imitando os BTS, camuflando a presença deles ali no aeroporto. Minh So e Eun Ja se aproximam de Lee-na e entregam presentes:

—Nossos presentes de boa sorte!

—Obrigada!

            Os outros estagiários seguram a mão de Lee-na, em despedida, e Kim Dan é o último deles:

—Você é uma pessoa impressionante, Kyun Lee-na... Sempre admirei você.

            Suga ouve aquilo com a cabeça baixa e o corpo tenso. Não era hora para sentir ciúmes da namorada. A jovem aperta a mão do colega de estágio:

—Obrigada, Dan. Não perca a oportunidade de crescer na BigHit! Você tem muito potencial a oferecer.

            Ele sorri e se inclina, abrindo espaço para que os BTS se despedissem da amiga. Um de cada vez recebe o abraço de Lee-na, desejando sorte e prosperidade à família dela. Todos têm lágrimas nos olhos e os mais jovens choram em silêncio.

            Suga é o último a se aproximar:

—Fiquei tentado a abrir a cápsula que me deu... Por que quinze anos? Por que tanto tempo?

— Sinto que será o tempo necessário... Você vai entender. Promete não abri-la antes?

—Farei o meu melhor...

           Ela sorri:

—Não vai me abraçar?

—Para quê? Depois vou ter de soltar você...

—Está perdendo tempo...

         Ele sorri e a puxa para si, apertando o corpo dela contra o seu, aspirando o cheiro dela, a face quente e os olhos bem apertados:

—Boa viagem, Kyun Lee-na...

            Ela o envolve, apertando a cintura dele naquele abraço:

—Fique bem, Min Yoongi...

            O grupo de amigos espera e as estagiárias suspiram, arrancando risos dos rapazes. Suga se afasta e Lee-na apanha a mala:

—Adeus!

            Eles acenam e ela segue rapidamente para onde a mãe tinha ido antes. Seu rosto está quente e as lágrimas correm pela face ruborizada. Algum tempo depois, na rodovia de acesso ao aeroporto de Seul, o carro dos cantores está parado no acostamento e Suga apoiado na traseira do veículo, os olhos no avião que acabara de decolar.

            Jimin olhou Namjoon:

—Hyung! Acha que devemos...

—Deixe, Jimin. Ele precisa desse tempo agora.

            Algumas horas depois, estão de volta ao apartamento e o resto do domingo foi sossegado e silencioso para os BTS. Há uma sensação de desalento entre eles e Namjoon conclui que era saudade o que seus amigos sentiam.

            Naquela semana, a BigHit teve uma agenda cheia de atividades, com poucas pausas para descanso. Nesses intervalos, Suga monitorava as redes sociais e sites oficiais em busca de alguma presença de Lee-na. Quando pensou em desistir, encontrou um perfil que chamou sua atenção. Tinha o logotipo do BTS estilizado e o nome “Army-Friend”. Não havia texto, apenas o emoji de um coração pulsando.

            Nas semanas que se seguiram, as atualizações permaneceram como na primeira. Era possível ver as datas das visualizações, mas nenhum comentário. Isso se tornou uma rotina para Suga. Era Lee-na, ele sabia, e esse seria o único contato que os BTS teriam com a amiga dali em diante.

            O rapper entendeu que ela não alimentaria a dor da separação e ficou grato por ela ser mais sensível do que ele naquela instância. Seguiria seu exemplo, focando no trabalho e em seus projetos de vida.

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

E veio a partida. A ultima semana em que Suga e Lee-na viveram seu amor.
Os capítulos finais vão ser um pouco diferentes, sendo um deles um cronograma de tudo o que aconteceu aos BTS após a Wing Tour 2017. Fiz o máximo de pesquisa para criar o enredo e o restante será pura imaginação. Ele vai ser menos história e mais referências, então peço que sejam pacientes, porque depois do cap. 28, a trama retorna para fechar a fic.

Abraços!



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