A Agenda escrita por Daniela Lopes


Capítulo 11
Capítulo 11- O Dia do Suga


Notas iniciais do capítulo

O Dia do Suga acontece na mesma data da apresentação no auditório da BigHit. Lee-na está determinada a finalizar o cronograma, fechar a agenda, mas o rapper Suga não tem intenção de facilitar as coisas. Um detalhe pode mudar o rumo daquela história.

OBS* Sade Adu é o nome de uma cantora de origem nigeriana, famosa nas décadas de 80 e 90, cuja voz só posso elogiar como divina. Os nomes de cantores e bandas que aparecem no texto existem ou existiram. Como disse antes, essa não é uma songfic, mas como não se vive sem música, eu escutava o Soundcloud e curiosamente uma canção se encaixou perfeitamente num momento x desse capítulo. Gostaria que ouvissem e contassem o que acham. Segue o link:

https://soundcloud.com/saad-alghannam/its-you-henry-ost
É a música de um dorama, cantada por Henry Lau- It's You.



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Terça-feira- O dia do Suga

         O dia amanheceu muito frio e a meteorologia previu chuva em alguns pontos da cidade. Lee-na usava botas, jeans, blusa de gola alta e um casaco com capuz bem forrado. Ela entrou na BigHit e encontrou os estagiários reunidos no hall de entrada. Os managers também estavam ali e PD nin veio falar com todos sobre a apresentação especial de Suga. O convite se estendia a todos que prestavam algum serviço à empresa e estavam liberados às 16 horas para irem ao auditório.

         Entusiasmados, eles aplaudiram e agradeceram e o manager de Myung Seo falou:

—Nosso estagiário da sessão de mídia e publicidade contribuiu com uma das apresentações e o próprio Suga aprovou o projeto!

         Todos aplaudem e Lee-na sorri, indo para sua sala. No trajeto, ela encontra os BTS saindo do elevador, sonolentos e muito agasalhados. De repente, ela olha Suga, todo de preto, com um longo casaco, botas e blusa com decote em v, além de um cachecol de lã. De touca, máscara e óculos escuros, parecia um gângster e quando passou por ela, ignorou-a.

         Lee-na acenou para os outros cantores, que sorriram e seguiram para a sala do PD nin. Ela voltou para a sala do manager, que olhou para a moça:

—São 08h e 30... Não iam sair agora?

—Eles foram para a sala do Bang PD...

—Oh, certo. Bem, vou cuidar de alguns assuntos. Até mais tarde!

         Ela acena e fica sozinha de novo. Mexe no celular e depois decide andar um pouco pela empresa. Os BTS saíram da sala do CEO da BigHit e ela se aproxima deles:

—Olá.

         Suga se aproxima:

—Estamos atrasados?

—Quinze minutos. Podemos sair agora.

         Ele gesticula para que ela fosse à frente e Namjoon cochicha:

—Yoongi! Comporte-se!

Suga sorri e segue logo atrás da estagiária. No elevador, ficam lado a lado, em silêncio e ao saírem, ele se adianta até o carro. O motorista abre as portas, mas Suga fala:

—Deixe. Eu dirijo hoje! Avise ao manager que eu dispensei você do cronograma.

Lee-na franze o cenho e o motorista se inclina, indo para o elevador. Suga entra no carro e olha para ela:

—Não vai entrar?

         Desconfiada, ela decide seguir com a agenda. Suga arranca e seguem para o centro, enquanto ela consulta o tablet:

—Primeiro vamos ao SPA e...

         Ele sorri no canto da boca e diz:

—Mudança de planos!

—O quê? Você não...

—Eu te disse que era minha escolha fazer ou não o que estava escrito nas fichas, certo? Os rapazes mudaram parte da agenda, então decidi mudar tudo! Se é meu dia, faço dele o que eu quiser! Você pode escolher descer desse carro e enrolar até a hora de voltarmos ou vir comigo e descobrir o que vou fazer!

         Ela suspira e encosta a cabeça no banco do automóvel:

—Ok. Faça como achar melhor.

         Seguem até uma loja de CDs e equipamentos musicais. Suga era amigo do dono e é recebido com um caloroso abraço. O homem devia ter uns 33 anos e se vestia como um rapper. Ele olhou para Lee-na e acenou com a cabeça:

—Oh, Suga? Quem é a sua...

         Suga fala sem olhar:

—Estagiária da empresa.

—Oh, certo! Bem-vinda!

         Lee-na olha ao redor, enquanto Suga e o homem discutem alguns assuntos relacionados à pré-produção musical, novas tecnologias e artistas que se destacavam naquele estilo. O Homem piscou para Suga e voltou sua atenção para a jovem:

—E você, princesa?

         Ela fez uma cara neutra:

—O nome é Kyun Lee-na...

         Ele sorri e olha para Suga, que ergue os ombros e continua a olhar vinis e CDs. O Homem sorri para Lee-na:

—Senhorita Kyun... Que estilo de música você curte? K-pop? Músicas românticas?

         Ela desliza os dedos por uma fila de CDs e fala, sem olhar para ele:

—Um pouco de tudo, eu acho... Meus pais gostavam de música clássica, então ouço Bach, Bethoven, Stravinsky, Verdi... Gosto de Rhytm’n in blues americano, pop inglês, indie, grunge, K-pop...

         O homem cobre a boca com a mão e exclama:

—Ooh! Fale mais! De repente, conheço uma expert em música escondida dentro de uma princesinha!

         Suga provoca:

—Ela não é fã do BTS!

         O homem se volta para Suga:

—Como é?

         Ela suspira:

—Fala sério! Vamos começar com aquilo de novo?

         Ela apanha o celular e entra na playlist, estendendo o aparelho para o amigo do BTS:

—Talvez conheça alguns...

         Ele apanha o aparelho e começa a rir:

—Wow! C+C music Factory, Cypress Hill, Salt’n Pepa… Adamski, Franz Ferdinand, White Stripes, Depeche Mode, Blur, Gorillaz, David Bowie, Oletha Adams?

         Lee-na ergue os olhos para o rapper e ele continua lendo:

—Oh, cara! Escuta isso! Epik High, Exo, Winner, Shinhwa, Black Pink, Kim Yuna, IU, BTS… A Deusa!

         Ele encara a estagiária:

—Sade?

         Ela balança a cabeça:

—Sade.

         Ele ergue a mão e Lee-na dá um tapa com a dela espalmada. O homem fala:

—Mordo minha língua, garota! Você sabe das coisas!

         Suga se volta para os dois, aborrecido com o ritmo da conversa. Ele não esperava que o amigo ficasse cativado por Lee-na:

—Ok! Acabou o recreio! Temos que continuar com a agenda, não?

         Lee-na sorri:

—Não foi você quem mudou tudo? Estou pronta pra ir!

         O rapper sorri e entrega um cartão para Lee-na:

—Aqui, princesa... Se quiser me ligar, passar um e-mail... Podemos falar sobre música! Sade?

         Ela ri:

—A Deusa!

—É isso!

         Eles saem da loja para o estacionamento e Suga observa a moça andar tranquila. Ele comenta:

—O que foi aquilo lá dentro?

—Aquilo o quê?

—O que conversavam... Estava... Se exibindo?

—Sim! Ele me esnobou... Só porque sou uma garota, tenho que ser taxada de tontinha?  A sociedade brinca demais com a inteligência das mulheres...

—É uma ativista?

—Não. Isso não funciona tão bem como deveria, mas tenho argumentos e sei quando devo usá-los.

         Suga exclama:

—Oh!

         Ela balança a cabeça:

—Quer desistir do cronograma? Acho que podemos parar com...

         Ele sorri:

—Não! Vou até o fim disso.

—Como quiser.

         Eles entram no carro e Suga dirige. No fundo estava impressionado com a bagagem musical da garota e ficou curioso, mas isso era algo que ele não iria admitir. Às 11h e 30 chegaram ao centro de Seul e pararam próximos a um foodtruck. Suga desceu e a estagiária esperou no carro, enquanto ele comprava o almoço. Recebeu as caixinhas numa sacola e retornou ao veículo, entregando o volume a ela. A comida tinha cheiro bom, mas a jovem não disse nada a respeito.

         Suga entrou na rodovia e saiu do centro. Lee-na reconheceu o trajeto e olhou para o BTS, mas ele parecia concentrado em dirigir. Ele parou no acostamento e Lee-na viu o mirante onde havia estado com Namjoon. Suga desceu do carro e ela seguiu-o levando o almoço. O vento estava muito frio e o BTS tirou os óculos, olhou ao redor e apontou:

—Vamos sentar ali.

         Num amontoado de pedras, eles se acomodaram e comeram em silêncio. Suga olhava a paisagem ao longe, enquanto comia devagar. Ela olhou-o:

—Porque viemos aqui?

—Rap Monster mencionou esse lugar..._ “O Abismo” _ ele disse. Vim olhar para ele também.

         Ela baixou o olhar e continuou comendo. Ao terminar, colocou os hashis na caixinha e guardou de volta na sacola. Levantou-se e seguiu até a mureta do mirante. Suga abandonou sua comida e se aproximou dela, olhando o precipício à frente. Ele observou o local por um segundo:

—Já pensou em pular daqui?

         Ela voltou-se para ele:

—Quê? Que conversa é essa?

—Nunca passou por sua cabeça se atirar daqui quando tudo parecia não dar certo?

         Ela exclamou e olhou para frente. Então respirou fundo e se acalmou. Entendeu que Suga falava de si mesmo, de suas experiências antes do BTS. Depois de ouvir a Mixtape de Agust D, Lee-na entendeu um pouco a natureza daquele jovem rapper. Por trás da genialidade havia uma alma torturada, que lutava para alcançar seus sonhos, seu ponto de equilíbrio.

         O BTS se inclinou para frente e fechou os olhos. O vento que soprava do precipício, furioso, vinha na direção deles e Suga respirou profundamente:

—Você... Pode ouvir...

         Ela fechou os olhos:

—Sim...

         Surpreso, Suga voltou-se para a garota e saiu dali, de volta à caixinha de comida, que descartou na sacola e levou para o carro, batendo a porta bruscamente. A estagiária olhou para o horizonte e balançou a cabeça. Desceu a encosta e seguiu para o carro que já estava com o motor ligado.

         O BTS arrancou o carro e voltou à rodovia. Seu semblante não era amistoso, mas Lee-na não se incomodou. Eram 14h e 30 e eles rumaram para um bairro que ela reconheceu. Avistou a rua e lembrou-se da noite em que foi atacada pelos clientes bêbados do restaurante. Dali seguiram para a esquina da mesma rua e entraram no estacionamento da Sauna masculina onde ela se limpou do cheiro de lixo:

—O que... Estamos fazendo aqui?

—Vim relaxar um pouco...

         Ela o encara:

—Você está... Falando sério?

         Ele se volta:

—Pareço brincar?

         Ele desce do carro e fala:

—Pode me esperar aqui ou tomar um taxi de volta para a BigHit... Ou pode entrar e dar um olá para a moça que te ajudou naquela noite.

         Lee-na sai atrás dele e quando chegam à recepção, a atendente os olha:

—Oh... Eu... Me lembro de vocês!

         Suga estende uma sacolinha de presente para a mulher e ela sorri:

—Oh, querido! É pra mim? Que gentileza!

         Ele sorri:

—Pela outra noite! Não nos esquecemos da ajuda que nos prestou.

         Ela se vira para Lee-na:

—E você, querida? Parece muito bem hoje!

—Sim, obrigada.

         A atendente guarda o presente e pergunta:

—Em que posso ajudar o adorável casal?

         Suga balança a cabeça:

—Oh, não! Não! Não estamos... Juntos! Ela é... Estagiária na minha empresa.

—Hum! Certo! Então?

—Eu quero uma massagem e sauna. Vai querer algo, Kyun Lee-na?

         A estagiária o encara, furiosa, e a atendente sorri:

—Vou pensar em algo para ela. Não recebemos moças aqui, mas pra você, querida, abro uma nova exceção!

         A mulher conduz Suga para o interior do estabelecimento:

—Cavalheiro, me acompanhe.

         Ele sorri e segue com ela, deixando Lee-na sentada na recepção. Nisso, outro cliente entra, vê Lee-na e sorri:

—Olá! Gostaria de duas horas! Quero sauna, banho e uma massagem! Depois nós podemos...

         Lee-na fica atônita:

—Oh, senhor! Não! Eu não trabalho aqui! Eu...

—Não trabalha? Ah, que pena! Você parece... Deliciosa!

         A atendente chegou naquele momento e sorriu para o homem:

—Concordo com você, meu querido, mas ela não faz parte do cardápio, está bem? Venha comigo! Tenho uma funcionária que irá atendê-lo maravilhosamente!

         O homem segue com a atendente, mas lança um olhar e um sorriso para a Lee-na que faz o estômago dela revirar. Quando já estavam fora de vista, ela murmurou para si:

—Onde estou com a cabeça? Que é que estou fazendo aqui? Ah, Suga, seu...

         Então ela lembrou-se que ele alertou-a para o “Dia do Suga” e que ela o havia acompanhado por vontade própria. Aquela situação já era prevista e Lee-na ficou com raiva de si mesma por ter caído tão fácil na armadilha do BTS.

         Quando a atendente da sauna retornou e aproximou-se:

—Bem! Agora temos você!

         Lee-na sorri:

—Não vou querer nada, obrigada. Você pode dar um recado para o rapaz que veio comigo?

—Sim! O quer que eu diga?

—Que ele tinha razão sobre não ser obrigado a nada... Ele vai entender.

         A mulher sente certa tristeza na voz da jovem e comenta:

—O dia está sendo difícil?

         A garota balança a cabeça:

—Nada de novo no mundo dos mortais!

         Ambas riem e Lee-na fala:

—Eu... Posso saber seu nome? Que grosseria a minha não perguntar.

         A mulher fica surpresa. Poucas pessoas tinham interesse em saber quem era ela fora daquele ambiente, então sorri e se inclina:

—Choi Haenin! Às suas ordens!

—Kyun Lee-na. É um prazer conhecê-la. Mais uma vez obrigada por tudo e adeus.

         Haenin acena enquanto vê a garota sair do estabelecimento, seguir para a rua e tomar um taxi de volta à BigHit. Por volta das 15h e 40 da tarde, Suga saiu da sauna e foi procurar Lee-na na recepção. Haenin aproximou-se:

—Senhor? Sua companhia pediu que eu lhe desse um recado.

         Suga recebe um bilhete escrito pela mulher com os dizeres da estagiária. Ele pagou pelos serviços e seguiu para o estacionamento. Entrou no carro e socou o volante. Arrancou o carro e voltou à empresa, onde uma equipe de roupa, cabelo e maquiagem esperava por ele.

Jimin estava quase pronto para a apresentação e Suga trocou-se rapidamente, recebeu base e pó no rosto e falou:

—Só isso está bom.

         Colocou os acessórios e Jimin acenou para ele:

—Tudo pronto, Yoongi!

         O rapper ergue o polegar e saem dali para o auditório, onde todo o pessoal aguardava o início da apresentação. Eles sobem ao palco e Suga fala ao microfone do primeiro vídeo. “Agust D” e todos ovacionam e aplaudem, enquanto assistem ao MV com um rap agressivo e sem rodeios do gênio BTS. A plateia exclamava a cada refrão e as estagiárias Eun Ja e Minh So dançavam animadas, absorvidas pela batida forte e ritmada.

         Lee-na estava na última fileira de cadeiras do auditório, oculta nas sombras, olhando para as mãos cruzadas no colo. Sentia-se aborrecida e isso a incomodava, pois dificilmente deixava algo afetar sua rotina. Olhou Suga à distância e ele conversava, animado e sorridente, com Rap Monster e JHope. Ela virou o rosto e lembrou-se da sauna, do cliente abusado e de todo o resto. Não tinha ânimo para estar ali e menos ainda para assistir à apresentação do rapper BTS.    

         Esgueirou-se entre as cadeiras e esperou o momento em que todos se ergueram para receber o segundo MV, “Give to me”, para alcançar a porta. Quando viu a chance, abriu uma pequena fresta e ganhou o corredor, grata por ele estar às escuras, o que impediu que fosse vista saindo do auditório.

         V e Jungkook se movimentavam ao som da música e viram as duas estagiárias dançando, mas não viram Lee-na com elas. Eles se voltaram pra Jin:

—Viu a Lee-na?

—Não. Acho que estava aqui atrás agora a pouco!

         Olharam ao redor e Namjoon percebeu o movimento dos amigos e acenou com a cabeça. Nisso a Intro de “Tony Montana” tocou poderosa e Suga, seguido de Jimin, assumiu o palco. O auditório veio abaixo, com gritos e aplausos, enquanto a música encheu o ar, fazendo todo mundo se agitar no ritmo. Jimin não fez feio com seu vocal line acompanhando o rap de Suga, enquanto, no telão ao fundo, o filme “Scarface” seguia com cenas editadas e impactantes, que casavam perfeitamente com a canção.

         Ao fim da apresentação, Jimin foi abraçado pelo amigo Suga e chorou emocionado pela confiança depositada nele para cantar em sua Mixtape. Suga falou ao microfone:

—No próximo show, quero o amigo aqui para cantar comigo de novo! Nossas fãs com certeza vão aprovar como eu!

         Todos aplaudem, assoviam e PD nin vai ao palco parabenizar o BTS e os outros membros correm para abraçar os dois cantores e amigos. Eles descem as escadas, ainda sob aplausos e gritos de apoio. Kim Dan se aproxima de Myung Seo e o abraça pelo ombro:

—Da hora, cara! A edição casou perfeita com a música! De onde tirou aquelas imagens tão legais?

         Myung Seo sorri, envaidecido:

—Confesso que a edição foi obra minha, mas a Kyun Lee-na me deu material do filme e discutimos como poderia funcionar. Ela tem tino pra coisa!

         Enquanto conversavam, não perceberam que Suga prestava atenção neles, no que falavam. O BTS coloca a mão na nuca, franze o cenho como costumava fazer e olhou ao redor. No meio de toda aquela gente ali reunida, não viu a estagiária Lee-na. Fechou os olhos e sentiu a garganta arder, murmurando para si:

—De novo...       

         Namjoon e Jimin, que estavam perto dele, se voltaram para o rapper:

—Hein?

—Suga? Tudo bem?

         Mas o BTS não parece ter ouvido, seguindo dali rumo à saída do auditório, pisando duro, os lábios comprimidos e olhos semicerrados. Ele respirava forte e empurrou a porta da saída com força. Seus amigos não entenderam nada e olharam ao redor. JHope falou:

—Cadê a Lee-na?

         Jin olhou para a porta e teve um estranho pressentimento. Olhou para os demais:

—Rolou alguma coisa ruim...

         Seguiram para fora do auditório, indo pelo corredor a tempo de ver o rapper sumir no elevador. Foram para a sala do manager, mas Lee-na já havia encerrado suas funções e ido embora. Namjoon correu para a porta da escada, mas Jin segurou-o pelo ombro:

—Rap Mon...

         O líder BTS encara o colega e esse acena que não com a cabeça, em silêncio. Os outros amigos não entendem a cena, mas Namjoon concorda, também em silêncio e decidem voltar para o auditório.

         Lee-na seguiu para o ponto de ônibus após deixar a BigHit. Estava cansada e aborrecida, louca por um banho quente e sua cama. Então ela ouve:

—Você!

Ela se volta na direção da voz e vê Suga, arfando, a testa molhada de suor devido à corrida. A estagiária se levanta do banco e recua enquanto ele se aproxima, o rosto transtornado:

—De novo e de novo! Porque se intromete? Por que... Faz coisas sem que... Que merda, garota! O que você pretende com isso?

         Ela balança a cabeça:

—Fica longe de mim! O que foi que eu fiz dessa vez?

         Ele caminha na direção dela, carrancudo, punhos fechados:

—Você bagunçou tudo! Antes de você, não era...

         Ela coloca a mão no peito. O rumo da conversa a assustava, fazendo com que recuasse para a rua, e ele diz:

—O vídeo... Foi você quem idealizou tudo? Quem te pediu por isso? Quem você pensa que...

Nisso, a luz de um farol incide sobre Lee-na, que percebeu estar no asfalto, a centímetros do passeio seguro. Esperando o impacto inevitável, ela fecha os olhos, mas sente um forte puxão e é envolvida por braços que a seguram firme.

         Ela permanece de olhos fechados, imóvel e encolhida, o coração a galope e a respiração acelerada, quando uma voz rouca a chama de volta à realidade:

—Lee-na...

         Ela abre os olhos e se percebe abraçada por Suga. Ele estava encostado na parede da cabine do ponto de ônibus e olhava fixo para ela, que tentou se soltar, mas ele não cedeu:

—Por pouco seria esmagada...

         Ela fechou os olhos de novo:

—Você me assustou...

—É uma das minhas muitas qualidades...

         Ela balança a cabeça:

—Não tem graça...

—Eu sei.

         Ambos se calam e Lee-na sente o rosto aquecer. Suga se inclina para ela:

—Porque saiu de lá?

         Ela não responde. Lágrimas se formam nos olhos dela e Suga passa um dedo na face quente da estagiária, que fala:

—Me solte...

         Ele murmura:

—Não posso...

         Ela ergue o olhar para o BTS e encontra o rosto dele corado, a respiração descompassada e um estranho olhar, misto de dor, medo e carinho. O corpo de Lee-na parece esmorecer quando Suga se inclina sobre ela, fecha os olhos e une seus lábios aos da jovem. Os braços dele se estreitam ainda mais ao redor dela, que não reage, fechando os olhos e cedendo ao beijo do cantor.

         Devagar, ela segura o seu rosto com as mãos suaves e pressiona o corpo contra o dele. Quando se afastaram, um ônibus parou no ponto e Lee-na soltou-se do rapper rapidamente, entrando no veículo e deixando Suga ali parado, a olhar o nada. Dentro do ônibus, ela cobriu o rosto com as mãos e chorou, enquanto o BTS voltou para a empresa e foi para o terraço do prédio, sentando-se no chão, encostado ao parapeito, o rosto em brasa.   

         Os BTS não foram atrás do amigo, deixando-o a sós com seus pensamentos. Quando se sentiu pronto, desceu até o salão de prática e com o grupo, se retirou para casa, em silêncio e nenhum deles perguntou nada.

Em casa, Lee-na foi para o quarto e a mãe se aproximou dela com cuidado:

—Querida... Quer me dizer alguma coisa?

         Lee-na abraçou a mãe, mas ficou calada. A mulher afagou suas costas e acariciou sua cabeça até que a jovem dormisse. Quando chegasse o momento, saberia o que aborreceu a filha.

         Longe dali, Suga estava sentado no tapete da sala, mexendo com um cubo mágico, mas sem prestar atenção no que fazia. Jin surgiu da cozinha com dois copos de refrigerante, mas Suga recusou. O hyung sorriu:

—Demorou um bocado, hein?

         Suga ergue os olhos para o amigo mais velho:

—O quê?

—Para aceitar que gostou da garota desde o começo.

—Eu não...

         Suga se cala e vira o rosto:

—Ficou tão... Evidente assim?

—Não para todos, mas para mim e Namjoon um pouco...

         Yoongi sorri no canto da boca, mas não de contentamento:

—Eu... Não fui um cara legal com ela...

—Mas remediou depois! Lembra que foi você quem a salvou de perder o estágio?

         O rapaz balança a cabeça e respira fundo:

—E o que faço agora?

—Depende... O que aconteceu depois que saiu da BigHit?

         O rosto de Suga ficou corado e Jin ri:

—AAAAH! Fala sério!

—Ei! Não foi uma coisa planejada! Eu... A salvei de ser atropelada por um carro no ponto de ônibus e...   

         Jin dá um safanão no amigo:

—Esse é o meu garoto! O momento certo para agir e ele não me decepciona!

         Suga cobre o rosto:

—Ah, droga!

Jin fica sério e toca o alto da cabeça de Yoongi, como um pai faria com seu filho:

—Yoongi...

         Suga ergue o olhar para o hyung e esse sorri:

—Seja cuidadoso e cavalheiro... Deixe Agust D para os palcos.

         Jin sai dali e segue para seu quarto, deixando Suga pensativo. Ele deitou-se no chão da sala e, de repente, se recorda que Jin tinha o celular da estagiária gravado na agenda. Ergue-se de uma vez e foi até lá:

—Hyung? Posso usar seu celular?

         Jin apanha o aparelho, desbloqueia e entrega ao BTS, voltando a dormir. Suga retorna à sala, enquanto vasculha a agenda do aparelho e encontra o número da jovem, disca e espera por algum tempo. Era tarde, mas ele precisava fazer aquilo ou não poderia dormir.

Lee-na estava encolhida na cama, de olhos fechados. O celular ao seu lado toca e ela desperta. O nome de Jin aparece na tela e ela decide atender. Nisso, a voz de Suga a faz se sentar imediatamente e ele ouve a respiração dela, suspira e fala, gentil:

—Lee-na... Eu sinto muito. Não... Planejei nada e...

         Ele se cala, ficando ambos em silêncio por algum tempo, ouvindo o respirar um do outro. Suga toca o peito e fecha os olhos, enquanto Lee-na está sentada na cama, olhos fechados e o celular colado no rosto enrubescido.

         Suga abre os olhos:

—Não... Me odeie pelo que vou dizer, mas... Foi muito bom abraçar e beijar você! E acho que é a garota mais inteligente, descolada e corajosa que já conheci. Sei que não tenho o direito de pedir, mas podíamos sair amanhã, depois do seu estágio! Acho que temos muito que conversar e...

         Então o telefone de Lee-na é desligado e Suga fecha os olhos e se deita no tapete, murmurando para si:

—Vá com calma, Min Yoongi... Muita calma.

         Pouco depois adormeceu ali mesmo, enquanto Lee-na estava deitada em seu quarto, o celular seguro perto do peito e a respiração profunda e lenta, na tentativa de acalmar o que sentia. Não queria admitir, mas estava com medo de ir trabalhar e encontrar Suga na BigHit.

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi muito interessante de desenvolver. Queria dar o tom certo da aproximação sem parecer forçado ou gratuito.
Comentem o que sentiram.

Até mais!



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