Can't Pretend escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
I loved and I loved and I lost you


Notas iniciais do capítulo

A culpa é sempre dela, né dona Lara?



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“I have wounds

Only you can mend

You can mend

I guess that's love

I can't pretend”

 

A imensidão do oceano, os inacreditáveis segredos e belezas do mar. Era o paraíso, onde o habitat era intocável pelos homens… ah, os homens. Esses que exploravam suas terras, para então romperem por mar, para explorar outro canto. Tóxicos, corrosivos à terra, ao espírito.

Era solitário ali, não no mar, onde criaturas nadavam felizes em seu habitat. Mas ali, em seu canto, recluso e escondido dos demais. Sabendo que muitos achariam sua aparência um mix de beleza e… bem, muitos teriam pavor.

Estava escondido, notando como aquele se destacava de qualquer outro. Fosse pela algazarra que fazia com os que o cercavam, fosse ao sorrir como se do meio do mar, nascesse a mais pura luz.

Talvez devesse se aproximar… talvez assustasse o jovem tritão se assim o fizesse. E se o assustasse, jamais tornaria a vê-lo nadar por ali, tão longe de seu lar, e tão perto do canto recluso no qual o outro havia há muito se escondido.

—  Ariel! —  a voz que à seus ouvidos era estridente, chamou o jovem tritão, fazendo-o virar com tamanha graça e suavidade, fazendo as madeixas rubras como sangue nas águas, bailarem, logo indo de encontro à face.

—  Linguado, não deveria berrar assim.

Olhava-o com tamanho interesse, desde os fios vermelhos, até os olhos azuis, o rosto quase esculpido e as barbatanas. A beleza dele era incomensurável. Poderia olhá-lo pelo resto do dia… se ele não tivesse sumido enquanto piscava tão demoradamente que mais parecia um tolo apaixonado pela primeira vez.

—  Oi. —  A simplória palavra o fez gelar, estático ali, sabendo que ao olhar para trás encontraria o tritão jovem que estava apreciando até então.

Não virou, mas a inquietude o tomou como a quem castiga açoitando a pele. Apertou os dedos uns aos outros, ponderando virar e expor sua face, assim como seu corpo, ou permanecer de costas. Talvez fosse a melhor opção.

—  Eu não mordo. Me chamo Ariel.

O toque tão suave em seu ombro, fora tão inesperado que o fizera virar, dando de cara com os orbes azuis, os mais belos que já havia visto em toda a vida.

Fora ali que ele notou que estava encantado pelo tritão, o filho do rei do mar. Nada em sua vida era fácil, mas isso? Isso chegava a ser uma piada de terrível mau gosto.

—  Ursulo. —  Monossilábico, buscava talvez uma forma de manter-se indiferente ante à beleza e calor que parecia emanar daquele a sua frente.

—  Vem sempre aqui? —  Aquele sorriso tão escrachado, os olhos curiosos e brilhantes enquanto inclinava-se a frente, quase pondo fim à distância entre eles. Descendo a mão até um dos tentáculos que formavam o corpo belo e diferente de Ursulo. —  Magnífico. Como alguém tão belo consegue se esconder nesse oceano?

Movia-se fazendo a água ondular, embalando-o também naquele ritmo, notando como de fato havia interesse em suas perguntas, enquanto apoiava o queixo às mãos, tendo os braços boiando nas águas, devido ao movimentar incessante de seu corpo.

—  Eu… moro aqui —  apontou para a direção às costas de Ariel, vendo-o virar o rosto para conferir, logo tornando a olhá-lo como quem grava algo.

 

Fora assim o início de seu fim.

 

Ariel fez daquele seu caminho, deixando de idas esporádicas à idas muito mais frequentes. Sempre levando para Ursulo alguma peça dos ‘homens’ que ele achava pelo mar. Havia levado algo com quatro pontas, havia comentado que se fossem três, seriam uma réplica bem interessante do tridente de seu pai. Riam, Ariel era a vida nova dele. O vermelho de seus cabelos era sua cor favorita, tal como o azul de seus olhos ou o esverdeado de suas barbatanas.

Estava perdidamente apaixonado, as feridas do passado sombrio e solitário eram dia após dia preenchidos de luz e calor com a presença do jovem tritão. Vê-lo tão feliz levando bugigangas dos homens, fazia-o feliz também. Vê-lo usar a peça de metal de quatro pontas para pentear os fios, cada um de seus gestos eram adoráveis.

Ariel era o primeiro a aceitá-lo e não temê-lo. Era o primeiro a olhá-lo como a quem olha um igual, e não à uma praga. Não temia seus tentáculos.

Fora aos poucos que ele notou que Ariel se aproximava mais a cada vez, e era sempre repelido como se fosse proibido. Por vezes, Ursulo desafiava-o a ir buscar outras peças que os humanos deixavam cair nas límpidas águas do oceano.

Se ele soubesse que ao fazer isso, jogava Ariel à braços alheios, ele jamais o teria feito. Pois fora numa daquelas que o jovem tritão encontrou o humano, aquele por quem se encantaria, e faria encantar.

De pensar que Ursulo jamais se permitiu, por se achar diferente demais para o jovem tritão. De pensar que havia perdido o mais belo ser que já havia visto e o único que havia amado.  Ah, se ao menos ainda tivesse a chance de ter ao menos um beijo para recordar, não o que tinha, um mais íntimo. Claro, ficaria com aquele para sempre na lembrança para fazer doer.

O dia no qual Ariel havia nadado rápido demais, feliz demais. Não parando até que os corpos se misturassem boiando na água salgada do mar, fazendo-os resvalar os lábios e arrancando de Ariel uma risada tão perfeita como o próprio oceano. Aquilo era tudo o que Ursulo tinha. Um sabor doce, que feria como veneno.

Ele gabou-se por humanos não explorarem o reino dos mares, mas lá estava um da espécie levando o bem mais precioso que ele jamais teria.

 

Restava apenas assistir, vê-lo como fazia antes, escondido apreciando a beleza descomunal daquele que queria para si. Ele o amava, não tinha como esconder, e tinha feridas que apenas ele poderia curar. Feridas que ele sabia, carregaria para sempre pelo simples fato de perdê-lo.


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