O relógio bate as 00hrs e eu tenho medo de que esse seja seu último natal. Eu não quero te falar o quanto você parece caído e abatido, e que você não se parece nada com o garoto que eu conheci, com cabelos vermelhos vivos e bochechas rosadas. Eu sei que você sabe. Eu sei que você sabe que talvez essa seja a última vez que trocamos presentes e contamos histórias de clichês de natal. Desde o diagnóstico, nenhum de nós dois pôde esquecer esse fato. Mas, por um breve momento, fingimos. Fingimos que está tudo bem. Eu pego sua mão, beijo sua testa.
"Eu vou te amar pra sempre, feliz natal."
E você sorri, seus olhos ainda inchados do choro da última noite e suas mãos marcadas pelos furos da agulha da última vez que esteve no hospital. Reparo um ar de tristeza em seu sorriso, mas está tudo bem agora, meu amor.
Você está em casa.
É natal, vamos nos permitir ser felizes como se fosse o último, porque talvez seja mesmo. Quando você se for, eu prometo te deixar flores -margaridas, suas preferidas- e contar sobre você pra todos que perguntarem. Vou contar nossas histórias e te eternizar em minha arte, vou te fazer presente sempre que puder. Vou estar aqui quando o momento de ir embora chegar, então não tenha medo do que vem depois da morte, porque eu não tenho. Eu só tenho medo de como vai ser sem você.
Sem seu calor, seu abraço, sem suas músicas e seu biquinho quando está com raiva.
Algum dia, algum dia próximo, você vai ir embora. Mas está aqui agora e, nesse momento, árvore de natal acessa e luzes brilhando, somos eternos. Não tem nada pra se preocupar.
Eu vou te amar pra sempre, feliz natal.