Sob Um Novo Olhar escrita por LilyMPHyuuga


Capítulo 2
Confiança


Notas iniciais do capítulo

Olá! xD
Nem demorei, não é? Vantagens de ter a fic pronta... (ignorem os meses de atraso, rs) xD
Leitores lindos, muito obrigada pelos cinco acompanhamentos e dois favoritos! ♥ E muito obrigada também à SBFernanda e Aly por terem comentado! ♥
Espero que gostem do segundo capítulo também. ♥

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/770907/chapter/2

Pouco mais de oito da manhã e Lílian tentava não rir de sua amiga ficando vermelha de frustração. Olivia era muito boa em feitiços e encantamentos, então, ao não conseguir conjurar um Patrono depois da décima tentativa, a paciência da morena estava por um fio.

Apesar de achar sua baixinha irritada a coisa mais fofa, a ruiva segurava o riso para não piorar o mau-humor da amiga.

E também porque não conseguia projetar nem um simples escudo.

— Expecto Patronum — as duas repetiram, novamente sem sucesso.

Olivia bufou ao seu lado.

— Desisto. É impossível!

— Vocês não estão pensando em uma lembrança forte o suficiente — o professor falou ao se aproximar delas. — Não tem que ser uma lembrança simples e feliz. Não conta a surpresa de ter bolo de chocolate no café-da-manhã. Precisa ser algo que faça o coração acelerar.³

O professor piscou um olho antes de se afastar e falar com outros alunos. Olivia bufou de novo.

— Estou pensando em quando recebi a carta. Não deveria ser uma lembrança forte e feliz?

— Não sei — Lílian respondeu, levemente chateada. Ela pensava em algo parecido, em quando viu o castelo pela primeira vez. Foi uma experiência tão incrível que ela não imaginava que não poderia ser o suficiente.

Seu olhar perdido parou em James, que também parecia chateado em não conseguir produzir nada além de faíscas. Ao seu lado, Remo Lupin parecia aconselhá-lo, pois foi o primeiro da turma a conjurar um escudo.

Uma ideia louca cruzou a mente de Lílian. Seu lado sensato pedia para que ela ficasse quieta no lugar e continuasse com o exercício, mas seu coração até bateu mais forte com a ideia.

Não foi o professor quem disse que precisavam de uma lembrança que fizesse o coração acelerar?

Aproximou-se de James, que abriu um sorriso ao vê-la.

— Bom dia... Lílian.

Ele ainda estava hesitante em dizer o seu nome, porém a alegria ao fazê-lo chegou facilmente em seus olhos castanhos.

— Bom dia, James. Bom dia, Remo — ela cumprimentou o outro também, mas logo voltou-se para o Potter. — Estou vendo que está com dificuldades.

— Quem não está? Até Olivia está começando a duvidar de sua varinha!

Lílian olhou para trás por um momento, rindo ao ver a amiga novamente vermelha.

— Eu tenho uma ideia. — Ela chamou a atenção do moreno para si. — Pense nele.

— Em quem? — Ele ainda sorria, mas ao perceber que ela não responderia, olhou para Remo. O rapaz tinha os olhos arregalados para a ruiva. — Em quem vocês...?

E então a ficha caiu. O sorriso sumiu no instante depois, dando lugar à raiva.

— Você está brincando comigo?

— Me escute — disse rapidamente, antes de uma possível explosão. — Eu entendo que ainda esteja de luto, mas Sirius me contou que ele era seu herói. Que você o amava. E o professor Morgan falou que não basta uma simples lembrança feliz. Precisa ser algo que acelere seu coração! Que outra lembrança seria melhor do que as que compartilhou com seu pai?

Um lampejo de compreensão mostrou-se nos olhos castanhos, que foi rapidamente descartado e retomado à raiva.

— Você não sabe o que diz, Evans. — O tom frio e o sobrenome a deixaram surpresa. Lílian deu um passo para trás, nervosa. — Como ousa reduzir a memória de meu pai a uma “lembrança feliz”?

— A sua lembrança mais feliz — ela o corrigiu, ainda receosa.

— Não se intrometa na minha vida, Evans.

James lhe deu as costas, guardando a varinha em um bolso e pegando sua mochila antes de sair, sem sequer pedir permissão ao professor. Remo soltou um sorrisinho antes de soltar:

— Obrigado.

Ela o olhou chocada.

— Pelo quê?

— Por fazê-lo pensar que não precisa ficar triste ao lembrar no pai. — Ele deu de ombros, com um sorriso tranquilo. — Que ele precisa ficar com as lembranças boas, em vez de focar apenas na ausência.

Remo colocou a mão sobre um ombro da moça, consolador. E então foi até o professor, provavelmente para dar uma desculpa para a saída repentina do amigo.

Lílian voltou para o lado de Olivia, cabisbaixa. A amiga fez o mesmo gesto do Lupin, abrindo um pequeno sorriso, tentando confortá-la.

— Eu vi tudo. Foi uma boa ação, Lil. Potter vai perceber isso em algum momento.

— Você acha? — Não conseguiu esconder a tristeza. — Acho que eu só piorei tudo.

 


A moça ficou com o mesmo pensamento pelos três dias seguintes, principalmente ao notar que James desviava o rosto sempre que a encontrava. A ruiva quase desejou que ele ao menos a olhasse irritado... seria melhor do que fingindo que ela não existia.

Depois do almoço de domingo, Olivia a convidou para se distrair na biblioteca. Lílian sorriu com a tentativa da amiga de ajudá-la, mas confessou que mergulhar em livros só a fariam lembrar de quando visitara o espaço de Madame Pince ao lado de James, e do quanto ele parecia bem e feliz ao seu lado.

Bem diferente da situação atual.

— E você ainda me diz que não está apaixonada — provocou Olivia.

— E não estou — rebateu, emburrada. — Ele é só... um colega. E eu estraguei a chance de sermos amigos. — Suspirou. — Me dê mais alguns dias para esquecer da minha estupidez e voltar a odiá-lo.

— Você sabe que isso nunca voltará a acontecer, não é?

Lílian estreitou os olhos para a amiga.

— A biblioteca é para lá. — Apontou, irritada, para o outro lado do corredor.

Olivia levantou as mãos, em rendição. Abraçou-a fortemente quando ela permitiu e deu um beijo estalado em sua bochecha.

— Dê mais alguns dias para ele também, Lily. Todo mundo lida com o luto de forma diferente. Ele verá que você só quis ajudá-lo.

Deu de ombros e seguiu seu caminho, oposto ao de Olivia. Subiu as escadas e deixou seus pés a guiarem para a parede em frente à Tapeçaria de Barnabás.

“É uma sala especial. Ela se transforma em tudo que você precisar”.

A voz de James soou como se ele estivesse ao seu lado. Lílian ainda olhou ao redor para confirmar que estava sozinha.

— Mas o que eu preciso? — falou baixo, sozinha, olhando fixo para a parede.

Encarou as pedras pelo que pareceram horas, incapaz de compreender os próprios sentimentos. A culpa estava lá, ela sabia, mas não entendia bem o porquê. Remo e Olivia garantiram que falar sobre o pai de James não foi uma ideia ruim...

Então por que se sentia tão mal? Por que sentia a ausência de James como uma dor física sob o peito?

Como alguém que não fazia parte da sua vida podia deixá-la tão aflita?

Colocou uma mão sobre a parede, sem notar a única lágrima que caía em seu rosto.

Uma porta apareceu devagar ali, assustando-a e fazendo-a pular para trás.

— M-Mas... como?

James lhe dissera que precisava pensar em algo para a porta se revelar, mas ela não tinha desejado nada. Seria possível que a sala soubesse do que ela precisava mais do que ela mesma?

Adentrou o cômodo, estranhando brevemente o novo lugar. Não eram mais os jardins da escola que James lhe mostrara da última vez.

Mas definitivamente estava em um jardim.

Estava parada em frente à entrada de uma propriedade, sobre um caminho de cascalho destacado na grama aparada. Ela podia ver árvores altíssimas quase escondendo o que parecia ser uma mansão. Abaixo delas havia um labirinto de plantas.

Lílian engoliu em seco, mas decidiu entrar no terreno de vez. Contornou o labirinto e hesitou ao parar em frente à mansão que parecia ser muito antiga, mas bem cuidada. Decidiu continuar o caminho pelos jardins, descendo uma escada de pedra à sua direita. O caminho marcado no chão era de pedra, delineado por buxinhos que serviam de cerca para as mais diversas flores. Mais à frente havia uma fonte, com uma estátua em seu meio. O jardim continuava até chegar aos fundos da construção.

E então encontrou uma piscina, contrastando com o estilo clássico do jardim.

Sorriu ao ver um menino brincando ali, com boias nos braços, fazendo um homem mais velho soltar gargalhadas.

— Com licença — ela falou, tentando chamar a atenção do homem. — Desculpe entrar assim, mas...

Eles nem a ouviram. Não era real, ela deduziu, soltando um suspiro.

Arregalou os olhos quando o homem olhou para os lados e, confirmando que não havia ninguém, pulou na piscina ainda de terno, espalhando água para todos os lados e causando mais agitação no garotinho.

Ver os dois brincando ali a fez entender onde estava. E com quem estava.

Seus lábios tremeram.

— Me perdoe...

Sua visão periférica detectou um movimento à sua esquerda. Ela se virou a tempo de ver James Potter sair de baixo de uma capa de invisibilidade. Ele tinha o rosto sério e parecia evitar a visão do homem a qualquer custo, preferindo mirar a ruiva com os olhos castanhos marejados.

— É o meu pai. — A voz estava embargada. Ele pigarreou antes de continuar. — É a nossa casa. É uma das lembranças mais felizes que tenho com ele... nós dois passamos o dia inteiro na piscina. Mamãe nos encontrou somente à noite e brigou conosco quando pegamos um resfriado. E mesmo doente, ele ficou no quarto comigo, cuidando de mim mesmo quando estava com febre. — James fungou. — Ele era meu melhor amigo. Você já perdeu alguém tão importante assim?

Ela negou com a cabeça, se esforçando tanto quanto ele para segurar as lágrimas.

— Imaginei que não.

— James, me desculpe...

O rapaz pareceu engolir em seco com seu pedido sincero. Ele desviou o olhar, envergonhado e confuso. Lílian aproveitou e se aproximou dele a passos apressados.

— Mas ele era seu pai... e merece ser lembrado com amor, James. Merece ser lembrado como o homem bom que era, e não como uma dor incurável.

— Mas... — Ele hesitou, agora incapaz de desviar o olhar do homem que brincava com o garotinho. — Mas eu sinto falta dele! Ainda dói!

— Eu acredito em você. Não é uma dor que vai passar logo, mas você precisa aprender a conviver com ela. A continuar a sua vida lembrando de momentos felizes assim... lembrando o quanto ele o amava e o quanto gostaria de vê-lo feliz, e não sofrendo por ele. — Ela pôs uma mão sobre o peito dele, em cima do coração. James a olhou, entristecido. — Demora, mas a dor vai passar. Eu prometo a você.

O moreno confirmou com a cabeça, deixando uma pequena lágrima cair. Lílian não se segurou dessa vez, limpando o rosto dele com cuidado. Respirou fundo e o abraçou em seguida. Forte, apertado, tentando mostrar o quanto se importava e o quanto queria vê-lo bem. James retribuiu o carinho, escondendo o rosto no pescoço e se permitindo chorar com ela.

Não soube quanto tempo ficaram unidos ali, enquanto ouviam os gritos e risadas dos Potter, mas em algum momento a moça se afastou devagar, abrindo um pequeno sorriso para o moreno. Segurou a mão dele e o puxou para mais próximo da piscina, ansiosa e esperançosa demais para controlar a língua:

— Fale-me sobre ele — pediu, carinhosa. — Qual era seu nome?

James riu.

— Fleamont.4

— Flea...? — Ela riu antes de conseguir terminar.

— É, eu sei. Foi ideia da minha avó. Nunca consegui entender direito essa história.

Lílian o puxou para sentar em uma das espreguiçadeiras ao lado da piscina, após confirmar que não iriam se molhar com a brincadeira dos outros dois. James não soltou sua mão durante todo o tempo que falou de seu pai, de sua coragem, de como ele o inspirou a ser auror também, do quanto admirava o relacionamento dos pais...

— Filho único?

— Sim. — Ele deu um sorriso envergonhado. — E você?

— Tenho uma irmã mais velha.

— Sério? — A ruiva confirmou com a cabeça. — Acho que eu nunca a vi por aqui.

— Porque ela é trouxa. — Lílian forçou para manter o sorriso e esconder o desconforto. — Eu sou nascida trouxa, você sabe. A primeira bruxa da família.

— Mas também não me lembro dela na estação. Ela é parecida com você?

Não conseguiu disfarçar o nervosismo, principalmente ao enfim soltar a mão dele. James franziu o cenho, confuso.

— Não — respondeu, inquieta. — Ela não é nada parecida comigo.

Uniu as mãos e as apertou com força, como sempre fazia quando ficava nervosa. Desviou o olhar do rapaz, mirando novamente sua versão mais jovem.

— Ei... — Ele tomou suas mãos novamente, obrigando-a a olhá-lo. — Não é justo, eu falei sobre meu pai. Você pode se abrir comigo também.

Lílian hesitou, engolindo em seco. Poucos conheciam sua história. E a grande maioria achava que ela era filha única de um casal de trouxas – algo que ela nunca fez questão de contestar.

— O nome dela é Petúnia — falou devagar, sem olhar para o garoto a sua frente. — Ela é um ano mais velha... e me odeia por ser uma bruxa.

— O quê?!

A exclamação surpresa e revoltada a fez querer soltar suas mãos, mas ele não permitiu.

— Como assim, Lílian? Por que ela odiaria você?

— Ela... ela acha... — gaguejou. — Ela acha que sou uma aberração da natureza. Que o mundo ficaria muito melhor sem mim e meu mundo.

— Lílian! Como ela pode pensar algo assim? Não é inveja por você ter vindo para cá e ela não?

Uma vaga lembrança surgiu em sua mente. “Severo dizia a mesma coisa...”.

— No começo, talvez — confessou, timidamente. — Mas não é mais assim. Nós crescemos. E ela continua pensando o mesmo. — Hesitou. — Quando você me encontrou naquele dia, eu tinha recebido uma carta de casa. Mamãe estava pedindo desculpas por mandar de volta um presente que comprei para Petúnia.

— Mas que... — James engoliu o que pareciam ser vários palavrões, arrancando sem querer um sorriso dela.

— Tudo bem, eu entendo a revolta. Olivia ficou assim mesmo quando contei. Ela tomou a pulseirinha de mim e ficou, simples assim. Disse que o anjinho de pingente combinava mais com ela do que com minha irmã.

— Pois ela está certíssima! — ele enfatizou. — Uma garota que a faz chorar não merece sua atenção, Lílian Evans. Lágrimas não combinam com você, eu já disse.

Ela olhou para as mãos unidas, o coração calmo como uma pena. Mirou os olhos castanhos por um instante, apenas para confirmar mais uma vez que James Potter ficava extremamente bonito sorrindo.

Defendendo-a com um brilho no olhar também.

E então, seu coração passou a bater mais forte.

 


— Você não me engana, Lílian Evans! — Olivia ergueu o indicador em clara ameaça. A ruiva sorriu mais ainda. — Você está muito diferente de quando a deixei ontem! E você sumiu a noite toda! Diga-me onde estava ou eu não respondo por mim.

— Eu já lhe disse, você não conhece o lugar. Vou levá-la ainda essa semana lá.

— Lá onde?

— Na Sala Precisa — segredou para a amiga, para que mais ninguém no Salão Principal as ouvisse. — A sala secreta que James me mostrou na semana passada.

— E o que estava fazendo lá?

— Eu... — Hesitou, sem perceber que abria um sorriso bobo. — Eu precisava de algo... só não sabia bem o quê.

— E...?

— E James apareceu. Acho... acho que ele me perdoou.

Olivia estreitou os olhos novamente, fazendo a amiga rir outra vez.

— Por que está me enrolando? Diga tudo de uma vez!

— Porque está na hora da aula — falou se levantando e puxando a morena consigo. — E ainda não conseguimos fazer o Patrono.

A outra bufou com a lembrança.

— Será que raiva funciona para o feitiço? — comentou Olivia, emburrada. — É bastante forte o sentimento que sinto por esse encantamento idiota.

— Não é idiota. — Ela riu. — Servirá para nos proteger.

— Eu sei. Só... só estou chateada por não ter algo que faça o coração acelerar.

— Sei como se sente.

— Sabe? — Olivia parou no meio do corredor, confusa. — E James? E o tempo que passaram juntos ontem? — Lílian a olhou, assimilando a ideia. — Não acha que foi forte o suficiente? Você fica boba só de lembrar!

A ruiva notou que estava sorrindo novamente. Confirmou com a cabeça, decidindo seguir o conselho da melhor amiga.

Não funcionou, no entanto. Minutos mais tarde, quando o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas liberou a sala para que os alunos continuassem treinando o feitiço do Patrono, Lílian e Olivia já mostravam o mesmo semblante de frustração.

Lílian sabia que o dia anterior tinha sido especial... sentiu o coração bater mais forte quando James lhe sorria ou a olhava profundamente... e ainda assim ela esperava que não fosse uma lembrança forte o suficiente.

Olhou para o lado, onde Remo, acompanhado por um lobo prateado, sorria para o escudo completo e firme de James. Atrás deles, Sirius também comemorava com seu cachorro prateado, incentivando Pedro Pettigrew a continuar tentando. Parecia ser um bom dia para os Marotos.

Lílian olhou para a própria varinha, cabisbaixa.

Nenhuma lembrança era marcante o suficiente para produzir sequer um escudo?

 


“Mesmo lugar de sempre, depois do jantar. 
J.P.”

A porta da Sala Precisa já estava aberta quando chegou, como se esperasse por ela. Por um momento, Lílian se questionou se James estava sendo descuidado com o segredo da sala ou se a porta aparecia apenas para ela. Como não tinha como confirmar, tratou de entrar logo e garantir que a porta sumisse.

Desta vez estava na sala de aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, porém três vezes maior.

— Se você quiser rever as aulas do dia, eu estou indo embora — ela falou alto, brincando, ainda sem vê-lo. Ouviu a risada alta do rapaz vindo da sala do professor, no alto da escada.

— Nada de fugir, senhorita Evans. — James apareceu no alto da escada, usando as mesmas vestes do professor. Ele fingia seriedade enquanto descia, olhando-a fixamente. — Ou eu tirarei dez pontos da Grifinória.

— Não seja cruel, professor Potter. Eu já tive aulas o dia inteiro.

James se aproximou, batendo a própria varinha de leve no nariz dela.

— Saiba que eu sou um ótimo professor.

Ele lhe deu as costas, caminhando até um baú e pedindo para que ela o acompanhasse. Lílian deu um pulo quando o objeto chacoalhou com força.

— J-James? — falou receosa.

— É um bicho-papão. Foi ideia de Remo, na verdade, e eu achei que pudesse funcionar.

— Por que me chamou para ver um bicho-papão?

— Para treinar o Patrono. — Lílian o olhou surpresa. — Você precisa pensar em dementadores. Talvez funcione se você tiver um alvo... assim você pensará em algo feliz mais rapidamente para escapar do bicho-papão.

— Mas eu tento pensar em algo feliz!

— Eu a vi desestimulada hoje, Lílian. Tive a impressão de que pensava que não ia conseguir antes de sequer pensar em algo.

— Pois está errado — rebateu, indignada. — Eu não penso que não vou conseguir. Apenas sei que não tenho uma lembrança forte o suficiente!

Virou-se, disposta a ir embora. Como se não bastasse ser improdutiva em sala de aula, James agora a queira ver fracassar nas horas vagas também?!

Ele, no entanto, segurou seu braço antes que conseguisse pedir para a porta reaparecer.

— Por favor, não vá embora. — O rapaz segurou seus braços, implorando para que o olhasse. — Eu quero ajudá-la.

— Como pode me ajudar? — falou irritada. — Você só conseguiu fazer o feitiço hoje!

— Sim, porque você me ajudou! — Os olhos verdes se arregalaram. — Porque você me fez lembrar dos melhores momentos com meu pai! Porque você me fez perceber que aquele escudo poderia ser ele me protegendo! — James a puxou para um abraço. — Por favor... me deixe ajudá-la. Deixe-me retribuir o favor.

Trêmula, Lílian segurou a parte de trás das vestes do “professor”, abraçando-o também.

Perdida no perfume amadeirado do rapaz e com coração acelerado como no dia anterior, ela apenas confirmou com a cabeça.

 


Haviam combinado de se encontrar na Sala Precisa duas ou três vezes na semana, dependendo do tempo livre que sobrasse depois dos trabalhos e exercícios pós-classe. E em pelo menos um dos encontros da semana, por cerca de um mês, Olivia acompanhou a amiga nas “aulas de reforço”. Lílian sabia que a morena não confiava em James – e não a culpava, pois pensava o mesmo até poucas semanas atrás –, mas também desconfiava que a moça estava mais enciumada com sua nova amizade do que propriamente desconfiada.

O início de novembro mostrou que estava parcialmente certa.

Era noite de sexta-feira quando a ruiva chamou pela terceira vez uma Olivia distraída com um livro de História da Magia, ambas sentadas em frente à lareira do Salão Comunal. James já as esperava na Sala Precisa há pelo menos quinze minutos.

— Vai fingir que não está me ouvindo? — falou indignada.

— Eu estou ouvindo. Só estou pensando em uma coisa...

— Que seria...?

— Conte-me novamente sobre o dia que James mostrou o pai dele para você.

— Por quê? — perguntou confusa. — Já te disse isso umas duas vezes.

— E vou perguntar até você entender meu ponto.

Lílian franziu o cenho, confusa, mas respondeu mesmo assim:

— A Sala Precisa exige que você pense em algo que necessita dando três voltas em frente à sua porta invisível. — Respirou fundo, buscando paciência para entender os mistérios de Olivia. — Naquele dia eu fui até a sala e não sabia o que precisava. Só conseguia pensar em James e no quanto fui idiota por ter mencionado o pai dele sem nem ao menos conhecê-lo direito. James estava embaixo da Capa de Invisibilidade que herdou do pai, e fez o pedido para a sala sem que eu o visse. Entramos e eu vi a casa dos Potter. Andei pelos jardins até que os encontrei... pai e filho brincando na piscina. Então percebi que estava dentro de uma lembrança e pedi desculpas. Nós conversamos por um bom tempo... ele me contou sobre o pai dele e ainda ouviu minhas lamentações sobre Petúnia.

— Aquela vaca.

— Olive!

Olivia fechou o livro e cruzou os braços, olhando-a seriamente, em desafio. Lílian sabia que a amiga não gostava de sua irmã e que não iria pedir desculpas. A morena ainda fez questão de destacar a pulseirinha prateada em seu braço.

— Como eu estava dizendo... — continuou, arrancando um sorriso vitorioso da outra. — Foi uma noite agradável. Nós conversamos, rimos de coisas bobas, tomamos sorvete... e agora ele está me incentivando a pensar em coisas boas para tentar produzir um Patrono. É claro que de vez em quando treinamos outros feitiços, como você viu, mas o foco é produzir um Patrono corpóreo até os N.I.E.M.’s. Ele me deixa confortável para pensar... e consegui umas faíscas uma vez! Eu lhe contei?

— Sim. Mas não me contou no que estava pensando para produzir as faíscas.

Lílian engoliu em seco. Sentiu as bochechas queimarem antes de desviar o olhar e falar baixinho:

— Nele...

Olivia sorriu, reabrindo o livro.

— Foi o que pensei. — A ruiva a olhou, curiosa. — Não vou mais acompanhá-los, Lil. Já comprovei o que queria. — Lílian levantou uma sobrancelha, em uma pergunta silenciosa. — Que o Potter pode ser um cara legal para você.

Ela soltou um suspiro.

— Olive, eu já disse que não estou apaixonada por James.

— E eu já disse que está se enganando à toa — rebateu tranquila, virando uma página. — Não há com o que se preocupar, Lil. Ele gosta de você também.

— O quê?! — O tom chocado chamou a atenção de alguns alunos no salão. Ela ficou envergonhada, se aproximando mais da amiga e repetindo: — O quê?

— Potter sempre gostou de você, Lílian Evans. — Olivia estreitou os olhos em sua direção. — Não se faça de boba agora.

— Mas é claro que ele não gosta! Ele só se sentia bem em me provocar, é diferente!

— Porque ele era uma criança que não sabia como chamar a atenção da garota que gosta! Agora já somos oficialmente adultos. E você notou a mudança nele primeiro do que eu.

— James estava em luto, Olive.

— E agora não está mais. — Olivia largou o livro mais uma vez, segurando as mãos da melhor amiga e a olhando profundamente. — Você sabia que James e Sirius brigaram porque o Black não conseguia fazer o amigo melhorar? — Lílian negou, surpresa, mas se dando conta de que realmente não vira Sirius perto do Potter enquanto a tristeza era visível em James. — Remo me contou que eles conversaram depois que você conversou com James. Você trouxe alegria de volta para aqueles olhos, Lil! James parece que vai explodir de alegria quando está perto de ti! E faz de tudo para ajudá-la e agradá-la agora... como um bom garoto crescido e apaixonado.

— O-Olive...

Olivia apertou mais as mãos, sorrindo carinhosamente.

— James nunca conseguiu esconder o quanto gosta de você, Lil. Eu confesso que tinha medo de que ele a magoasse, mas não mais... agora eu vejo o homem bom que você viu por baixo do luto. E me sinto bem mais tranquila de te fazer enxergar isso. — A morena deu um beijo estalado na bochecha dela antes de se levantar. — E de te fazer enxergar que você também brilha quando fala ou pensa nele! Não duvido nada que seu primeiro Patrono será por conta de algum momento entre vocês dois.

Ela piscou um olho antes de pegar seu livro de volta e caminhar até as escadas do dormitório feminino. Porém, voltou rapidamente para dizer algo que fez Lílian tremer:

— Você está atrasada.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

3 - Vimos o Harry conjurar um Patrono com lembranças simples nos livros, mas aqui eu tomei a liberdade de fazê-los conjurar um Patrono corpóreo somente com uma lembrança realmente forte (como quando o Harry pensou nos pais ao fazer o escudo pela primeira vez, e depois fez um Patrono corpóreo para proteger Sirius dos dementadores, em O Prisioneiro de Azkaban).
4 - Não inventei o nome. Por mais que apareça um Charlus Potter na árvore genealógica dos Black, a própria JK confirmou no Pottermore que ele não é o avô de Harry. Os links que pesquisei: http://harrypotter.wikia.com/wiki/Fleamont_Potter; https://www.pottermore.com/writing-by-jk-rowling/the-potter-family.

Para quem não tiver entendido minha (pobre) descrição sobre a "humilde" propriedade dos Potter, eu tentei descrever essa mansão em San Casciano in Val di Pesa, Toscana, Itália (é a primeira que aparece no site): http://somosverdes.com.br/05-mega-jardins-em-propriedades-privadas-no-minimo-memoraveis/ xD

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Por enquanto é só. Qualquer dúvida ou erro, podem me chamar, por favor! ^^"
Muito obrigada novamente a quem leu até aqui! ♥
Até o próximo! =* ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sob Um Novo Olhar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.