Meu querido sonâmbulo escrita por Cellis


Capítulo 2
Meu querido emprego


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos! Obrigada a todos que resolveram acompanhar a história ♥

Boa leitura.



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— Então, o que a senhorita está dizendo é que um estranho invadiu a sua casa para... — o oficial pausou, assumindo um tom de voz um tanto irônico. — dormir ao seu lado? 

Em resposta, eu encarei o homem firme sobre os meus pés (mesmo que eu estivesse sentada) e no meu discurso. Eu devo admitir que não sou uma pessoa muito alta, mas, quando estou calçando meus saltos finos e pretos e vestindo um blazer, me sinto a pessoa mais imponente no recinto. 

E, de fato, eu realmente sou na grande maioria das vezes. Ou, pelo menos, pensar assim me ajuda a ser. 

— Eu não faço a menor ideia se a intenção dele era  dormir. — argumentei. — O que eu sei é que havia um estranho na minha casa essa manhã, no meu quarto, e que ele fugiu assim que eu ameacei chamar a polícia.  

O oficial da polícia — Inspetor Kong era o que dizia seu crachá — voltou a me fitar como se ele quisesse estar em todos os lugares possíveis no mundo, menos ali. Ele tinha por volta de cinquenta anos e provavelmente mais da metade deles havia sido gasta na polícia, então ele parecia ter certeza de já ter visto casos como o meu algumas vezes. 

Ou seja, ele era um baita de um convencido.  

— A senhorita fez uso de alguma substância química ontem? — ele indagou por trás da tela do computador, preenchendo uma espécie de formulário digital. — Bebida alcoólica, talvez? 

Naquela eu realmente não pude acreditar. Ele estava me chamando de louca, ou simplesmente dizendo que esse era o meu estado na noite anterior. Sentada do outro lado da mesa do inspetor, não consegui impedir minha mão de dar um sonoro tapa sobre o móvel. No segundo seguinte, quando a palma da mesma ardeu e eu notei todos os olhares da delegacia sobre mim, me arrependi no mesmo instante. Na verdade, eu estava começando a me irritar com a descrença e o pouco caso do homem e a me sentir um tanto injustiçada.  

Se alguém naquela história era louco, esse alguém com certeza era o tal invasor de casas alheias.  

— Ahjussio senhor não está entendendo a minha situação aqui. — eu comecei a apelar, ainda que, talvez, ferisse o orgulho do homem por tê-lo chamado assim. — Eu não estava louca ontem à noite, em nenhum sentido da palavra. O fato é que eu acabei de me mudar e, logo na primeira manhã na minha nova casa, eu encontrei um pervertido dormindo do meu lado. A primeira coisa que fiz ontem foi mudar o código de segurança das portas, então eu não sei como... 

— Espera um pouco. — o inspetor interrompeu minha fala desolada, parecendo ter percebido algo essencial. — Você disse que acabou de se mudar? Para onde?  

Bem, mesmo que eu não tivesse entendido o porquê daquela pergunta tão repentina, me senti um pouco mais aliviada pelo homem estar prestando alguma atenção no meu caso. Dei-lhe logo o meu endereço completo e, assim que fechei minha boca, ele bufou e começou a falar sozinho. 

— Aquele moleque... Eu não acredito nisso. — sussurrou, irritado. Ele não parecia irritado comigo especificamente, mas isso não fazia dele menos assustador naquele momento. De repente, ele girou sua cadeira para algum ponto no interior da delegacia. — Kim Namjoon!  

Céus, ainda eram o que, oito da manhã? Eu realmente espero que o inspetor tenha descoberto algo incrivelmente incrível, pelo menos para fazer valer a pena o susto que mais da metade da delegacia levara com os seus berros. 

Por falar nisso, será que ele sabe quem é o homem que invadiu minha casa? 

De um cubículo no fundo da delegacia surgiu um homem alto e aparentemente assustado. Julgando pelo olhar de quem tinha culpa no cartório, ele deveria ser o tal Kim Namjoon que o Inspetor Kong chamara algumas (vulgo várias) vezes aos gritos. Ele usava um colete amarelo fluorescente, uniforme geralmente de patrulheiros, e se aproximou um tanto retraído. 

— Sim, Inspetor Kong. — ele se pronunciou, mais firmemente do que eu esperava.  

Nesse momento, eu sinto que devo fazer uma pequena pausa para compartilhar uma observação: talvez fosse pelo uniforme de policial, ou ainda pelos cabelos castanhos perfeitamente penteados e o porte atlético, mas o tal Kim Namjoon era bem bonito. 

Não que eu estivesse reparando nisso ao invés de tentar resolver o problema da invasão da minha casa, claro. 

— Eu não disse para você o que eu faria com aquele seu amigo se ele voltasse a causar problemas? — o inspetor indagou, frustrado. Quando percebeu que Namjoon não havia entendido a situação, ele se levantou e, mesmo sendo menor do que o policial, fez-se parecer mais imponente. — Aquele maluco que vive invadindo a casa da rua de cima!  

De repente, o Kim arregalou os olhos.  

— Park Jimin?! — ele indagou, surpreso. — Ele voltou?  

Park Jimin.  

Exceto pelo fato de que eu agora aparentemente sabia o nome do louco que dormia ao meu lado naquela manhã como se me conhecesse há décadas, eu não estava entendendo muita coisa daquela conversa. A polícia já conhecia ele? Ele já estivera preso antes? 

Pelos céus, seria ele um bandido conhecido e perverso?  

— É claro que ele voltou! Quem mais invadiria aquela casa? — o inspetor seguiu com seu tom de voz nada amigável. — Já chega, eu vou prendê-lo. Já passou da hora de... 

— Não, inspetor! — Namjoon o interrompeu, uma atitude um tanto atrevida, diria a eu que está apenas observando essa conversa sem entender nada dela. — Deixe-me cuidar disso, por favor.  

O inspetor bufou, observando o subordinado curvado e implorando. Fitou-me e, para quem já não estava muito a fim de ouvir o que eu tinha a dizer antes, ele chegou a demorar para tomar uma decisão. 

— Essa senhorita é a nova dona da casa. — ele iniciou. — Se ela ou qualquer outra pessoa voltar a queixar-se daquele garoto, eu colocarei não só ele, mas você também, atrás das grades. Entendeu? 

Namjoon engoliu sua saliva com uma certa dificuldade, fazendo pular de apreensão o seu pomo-de-adão. 

— Sim, senhor. — ele concordou e, num piscar de olhos, o Inspetor Kong saiu bufando delegacia a dentro. Tão hospitaleiro quanto antes, pensei sozinha.  

De repente, eu o tal Namjoon nos encontramos encarando um ao outro, eu seguindo sem entender uma vírgula daquela situação e ele, pelo o que aparentava, tentando encontrar o melhor jeito de me explicá-la.  De repente, resolveu se sentar na cadeira na qual antes estava o Inspetor Kong. Pigarreou, apresentou-se (não que eu já não soubesse o seu nome, depois de tê-lo escutado e um muito alto e bom som) e pediu para que eu lhe explicasse a situação. 

Assim, novamente, eu expliquei o que havia acontecido naquela manhã e também nas horas anteriores. Tentei resumir aquela história bizarra, pois já não me restava muito tempo até o meu horário de trabalho, porém tentando também não deixar nenhum detalhe importante de fora. Por fim, descrevi o meliante e, em seguida, estampou-se um “Droga, é ele mesmo” na testa do Kim.  

— Senhorita Jeon, o homem que estava em sua casa essa manhã se chama Park Jimin. — ele começou a explicar. — Eu o conheço desde antes de virar policial e posso afirmar que ele não é uma pessoa má. Na verdade, ele sofre de um caso um tanto peculiar de... 

De repente, o policial Kim foi interrompido pelo o meu celular nada educado. O toque alto suspendeu as palavras dele e eu tive que me desculpar pelo incômodo. Eu não pretendia atendê-lo pois, se aquilo fosse um filme, aquele com certeza seria o momento no qual eu descobriria alguma informação muito importante sobre o tal Jimin — o que era o suficiente para me manter presa àquela conversa — mas o fato era que do outro lado da linha não estava qualquer um

O nome de Yoongi piscava na tela, o que só podia significar uma coisa: algo havia dado errado ou estava bem prestes a dar. Afinal, a grande maioria das ligações de Min Yoongi para o meu celular consistiam em favores de trabalho ou puxões de orelha.  

E, sinceramente, nenhum deles era divertido. 

— Alô. — eu atendi, afastando-me um pouco de Namjoon.  

— Onde diabos você está? — foi a primeira coisa que ele disse, apenas para reafirmar o que eu já esperava. — O seu expediente começa daqui a cinco minutos e nada de você aparecer. Eu não lhe disse para chegar mais cedo para pegar o seu novo crachá? 

— Cinco minutos? Yah, Min, você não está...  

Enquanto falava, resolvi fitar meu pequeno relógio de pulso; acabando por interromper minha própria fala. Pela primeira vez em todos os meus anos de trabalho, eu estava prestes a me atrasar e muito — ainda, de bônus, no meu primeiro dia no novo cargo.  

Se antes eu gostaria de ver Park Jimin preso, agora eu queria matá-lo. 

Se eu perder o meu emprego por conta desse maldito, eu com certeza irei matá-lo. 

— Nem num passe de mágica eu consigo ir da delegacia para a empresa em cinco minutos. — eu constatei, desesperada. — Yoongi-ah, o que eu faço?  

Está bem, Yoongi era um par de anos mais velho do que eu, mas eu costumava insistir tanto em tratá-lo informalmente fora do trabalho (com o único objetivo de irritá-lo, claro), que aquilo tornou-se um hábito. Nós tínhamos uma relação meio de gato e rato, mas, por mais incrível que isso possa parecer, ele sabia que a coisa era séria quando eu me dirigia a ele sem os honoríficos.  

Em tempos de desespero, eu costumava ignorar qualquer formalidade. 

— Delegacia?! — Yoongi exclamou no meu ouvido, literalmente. Por que diabos hoje as pessoas estavam tão empenhadas em gritar logo de manhã? — Jeon Soojin, o que foi que você fez?!  

— Não é nada disso, está bem? — eu me defendi. Cogitei explicar a situação, mas eu realmente não tinha tempo para isso. Respirei fundo e tentei encontrar uma solução, mas apenas uma coisa continuava vindo à minha mente. — Eu vou ser demitida!  

Perder meu emprego naquele momento significava não só perder meu confortável salário, mas junto disso a minha casa. A casa a qual eu havia esperado por tantos anos para comprar só não para mim, mas também para o meu irmão. 

Não, aquilo não podia acontecer. Nem que eu tivesse que tirar todos os carros de Seul das ruas, eu daria um jeito.  

— É isso! — exclamei sozinha quando a salvação do meu emprego simplesmente surgiu em minha mente. Encarei o policial à minha frente, que agora era quem não estava entendo nada. — Você disse que conhece esse Park Jimin há muito tempo, não é? Vocês são amigos?  

— Bem, nós somos próximos. — ele respondeu, desconfiado.  

— Então, isso significa que você deve ajudar seu amigo a reparar os erros dele. — eu falava como se estivesse acusando o pobre coitado do policial. Mas aquele realmente era um caso de necessidade. — Por causa dele, eu tive que vir à delegacia e agora estou prestes a perder o meu emprego. Se você me ajudar, eu prometo que não prestarei queixa contra o seu amigo.  

Pelo menos não agora, continuei mentalmente. O oficial Kim me encarou ainda mais desconfiado, porém, em seu rosto havia um pequeno sinal de que ele estava disposto a fazer aquilo. 

— De que tipo de ajuda você precisa? — indagou.  

Respirei fundo.  

Pelos céus, que eu não termine presa nem nada do tipo por isso.  

— Eu preciso de uma carona. 

 

*** 

 

Veja bem, eu sou uma mulher relativamente normal. Não tenho um emprego extraordinário, não sou neta de uma família riquíssima ou noiva de um homem maravilhosamente perfeito, muito menos tenho ambições peculiares nessa vida. No máximo me destaco por perseguir com determinação o mesmo sonho há muitos anos, mas isso também é característico de mais da metade da população mundial.  

E, como qualquer outra mulher normal, eu jamais imaginaria que acabaria dentro de uma viatura policial algum dia — especialmente sem ter feito nada fora da lei — apenas para não perder o meu emprego. Como a mulher usual que sou, não estava dentro dos meus planos encontrar um maluco dentro da minha casa e, algumas horas depois, convencer o seu amigo a se redimir por ele enquanto o mesmo me dá uma carona pelas caóticas ruas de Seul como se tivesse perseguindo bandidos.  

E essa, caro leitor, é a situação na qual me encontro.  

Normal uma ova.  

— É aquele prédio ali. — apontei fervorosamente para o imponente prédio de vidro, vendo uma luz no fim do túnel do desemprego.  

— O prédio da Maximum Group? — Kim Namjoon indagou em meio ao barulho estridente da sirene da viatura. Eu não sabia se era porque ele estava fazendo um favor tecnicamente ilegal para uma desconhecida, mas ele parecia ainda mais surpreso agora. — Você trabalha lá?  

— Se eu conseguir chegar a tempo, sim.  

— Que coincidência! — ele constatou um tanto apreensivo, ignorando um sinal vermelho.  

Eu estava prestes a lhe perguntar o porquê, mas meu cérebro apenas focou-se no fato de que eu havia conseguido chegar no meu trabalho em menos de cinco minutos. Ainda me restava um minuto e alguns segundos, pelo menos de acordo com o cronômetro do meu celular, quando a viatura freou bruscamente diante da fachada da Maximum e Namjoon desligou a sirene. 

Bem, a situação era um pouco menos constrangedora com aquele berrante vermelho desligado. 

— Kim Namjoon-ssi, você vai para o céu. — eu disse, já saltando do veículo.  

— Senhorita Jeon! — ele me chamou. Eu já estava de pé na calçada e, por isso, tive que me inclinar na direção do interior do carro para conseguir fitá-lo. — É provável que o Jimin apareça essa noite de volto. Se isso acontecer, por favor...  

— Eu prometo que tentarei não matá-lo. — eu o interrompi, ainda que não fosse adequado dizer aquilo para um policial. — Obrigada pela carona.  

Eu não tinha tempo para pensar no que faria caso aquele doido aparecesse na minha casa novamente, então teria que fazê-lo mais tarde. Naquele momento, meu foco estava todo em correr para dentro da empresa e tentar não suar muito, já que a minha primeira tarefa do dia seria me apresentar para os meus mais novos colegas de trabalho.  

E eu obviamente não podia aparentar ser a louca que pega caronas em viaturas, por mais que eu fosse. 

No saguão do prédio, avistei os cabelos negros e a pele pálida de Yoongi esperando por mim. Ele andava de um lado para o outro ajeitando seu terno de um modo um tanto inquieto e provavelmente planejando almoçar o meu fígado enquanto o fazia — afinal de contas, fora ele a pessoa que me indicara para ser promovida. Não pude fazer muito ao passar por ele além de arrancar-lhe o crachá que ele tinha em mãos.  

— Esse é o meu, não é? — indaguei um tanto alto, pois eu me afastava apressada dele enquanto o fazia.  

— Sim! — ele exclamou de volta, assustado com a minha presença. — Mais tarde nós vamos ter uma conversinha sobre isso, Jeon Soojin! 

Tradução: ele almoçaria não só o meu fígado, como também os meus rins. 

Bem, contanto que eu continuasse empregada, não me importaria de viver com menos um órgão ou dois. Ainda me restavam exatos quarenta segundos para fazer isso acontecer, eu checava enquanto ia na direção do elevador. Mas, como nem tudo na vida são flores, lá estava aquele maldito, prestes a fechar suas portas enquanto eu o alcançava. Não havia outro jeito a não ser correr e me lançar (literalmente) para dentro do elevador, então foi exatamente o que eu fiz.  

No fim das contas, parte do plano deu certo: eu estava dentro do elevador e, provavelmente, alcançaria o meu andar exatamente às nove horas; já outra parte, a que havia descido pelo ralo de tão errada, consistia na minha pessoa se lançando sobre alguém dentro do elevador. Tudo aconteceu rápido demais para que eu pudesse descrever, mas essa pessoa provavelmente não estava esperando ser atingida, derrubada e imprensada por todo o peso do meu corpo contra a parede do elevador.  

Sinceramente, o que mais poderia dar errado nesse dia? 

— Meu Deus, me desculpe! — eu me desculpava enquanto tentava mentalmente abrir um buraco no chão para me enterrar nele e nunca mais sair. — Eu realmente sinto muito. Você está bem?  

Tratava-se de um homem o qual eu até então não tinha conseguido ver o rosto, pois estava ocupada demais me tirando de cima dele e me desculpando no meio do processo, mas que felizmente fora forte o suficiente para sustentar nossos corpos e nos impedir de encontrar diretamente o chão. Por fim, quando nós finalmente conseguimos nos recompor, eu fiz questão de me afastar dele o máximo que conseguia, pois não queria passar-lhe uma imagem ainda mais errada.  

E, então, nós nos fitamos.  

Se a minha vida fosse um desenho animado (eu ainda tenho minhas dúvidas sobre esse quesito), o meu queixo com certeza cairia até o chão, tamanha a minha surpresa. 

Ele arregalou os olhos como se suas retinas fossem saltar dali e parou de ajeitar seu terno cinza no mesmo instante em que me reconheceu.  

— Você? — indagou Park Jimin, perplexo. 

E era isso que ainda poderia dar errado no meu dia.  


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Vamos interagir, prometo que eu não mordo.

Até ♥