Meu querido sonâmbulo escrita por Cellis


Capítulo 18
Meu querido ma-lu-co


Notas iniciais do capítulo

Eu não estou mais aparecendo pelas notas iniciais, mas tive que passar aqui para avisar que esse capítulo é um tantinho especial rsrs. Vocês vão descobrir o porquê logo nas primeiras linhas, prometo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/770869/chapter/18

Ma-lu-co. 

Assim mesmo, com a separação de sílabas e tudo, para que a ênfase pelo menos tente traduzir o meu atual estado mental. 

Jeon Soojin me deixava maluco. 

E por falar nela, é a Jeon que vem contando essa história, certo? Céus, eu imagino o que ela deve estar falando de mim por aí. A lista de adjetivos que Soojin atribuiu à minha pessoa é um tanto longa e nada delicada: sonâmbulo maluco, tarado, invasor de casas, tarado, maníaco... Eu já disse tarado? Tudo me leva a crer que esse é o favorito dela.  

Pois bem, chegou a hora dos humilhados serem exaltados e dos injustiçados ganharem voz.  

Muito prazer, meu nome é Park Jimin e eu estou prestes a contar a minha versão dessa história.  

Acredito eu que não preciso me apresentar com riqueza de detalhes. Digo, de algum modo Soojin saiu por aí como se a vida fosse um grande jogo de detetive e descobriu poucas e boas sobre o meu passado, o que me leva a crer que ela não tenha conseguido segurar a língua e acabou compartilhando os fatos com vocês. Tudo bem, eu já estive mais irritado sobre isso, mas agora me parece que foi há uma vida atrás. Conviver com Jeon Soojin significava uma aventura diferente — quando não mais de uma, claro — a cada dia, então o dia de ontem já parecia ter sido no ano passado. O tempo passava extremamente rápido, mas não no bom sentido; no sentido de que eu terminava o dia parecendo aqueles zumbis figurantes do The Walking Dead.  

Mas vamos ao que interessa: como eu cheguei no meu atual estado mental, vulgo como Soojin me deixou assim. 

Primeiramente, eu já estava até acostumado a acordar nessa casa vazia e fria toda maldita manhã. Foram dois anos nessa situação, até que, um dia, a corretora de imóveis finalmente me flagrou dormindo na suíte do segundo andar e eu acabei indo parar na delegacia como um invasor de casas — e olha que ela nem era a Soojin, mesmo a moça que estava a acompanhando, interessada na casa, fazendo um escândalo muito parecido com o da Jeon quando me viu dormindo feito o anjinho que sou. Foram horas e mais horas até que eu conseguisse provar que era um sonâmbulo e que aquilo vinha acontecendo com frequência. Foi naquela época que conheci o policial Kim Namjoon, hoje meu amigo, que foi o primeiro a me dar uma chance de me explicar e a me ouvir até o final.  

Tudo bem que ele também não acreditou de primeira e eu tive que mostrar uma tonelada de exames para que acreditasse, mas, bem, pelo menos ele tentou

Depois daquele dia, eu decidi que não tinha mais como continuar arrastando aquela situação. Como nenhum tratamento aqui parecia funcionar, o jeito foi radicalizar: me mudar para o outro lado do mundo, o mais distante possível dessa casa. 

Eu nem preciso dizer que o resultado disso foi um completo desastre, não é mesmo? Foram os três piores meses da minha vida, incluindo noites inteiras sem dormir, crises de humor, nenhum foco no trabalho... O pacote completo que faz do ser humano um genuíno miserável. Pois bem, ruim aqui e pior lá, o jeito foi voltar para a Coréia.  

E o resultado disso foi outro completo desastre. 

Como eu já esperava, logo na minha primeira noite de volta eu estava andando de samba-canção pelas ruas de Seul até esta maldita casa, como uma mariposa voando estupidamente na direção de uma fogueira. Até aí tudo bem, eu planejava ir até a imobiliária no dia seguinte e, dando meu braço a torcer, comprar de volta a casa — mesmo com todas as memórias e fantasmas do meu passado que a mesma me trazia, aquilo ainda era melhor do que acabar preso.  

E, então, eu acordei ao lado de Jeon Soojin.  

Atenção, alerta para o desastre número três, possivelmente o maior de todos. 

O resto da história vocês já devem saber: uma Soojin furiosa, gritos, vidros quebrados pelos meus próprios punhos, cozinha queimada e por aí vai. Eu juro que cheguei a cogitar fazer uma oferta para que ela me vendesse a casa, mas, desde a primeira vez que conversamos, Soojin parecia bastante destinada a morar aqui. No começo, eu não entendia o porquê — digo, realmente era uma boa casa, mas sequer era a melhor da rua — mas, foi quando ela mencionou o irmão mais novo que eu pude começar a enxergar a sua situação com outros olhos.  

Não era por ela, mas sim pela única família que lhe restava. Dado o meu histórico e a lacuna que o tema família acabou formando dentro de mim, foi um tanto involuntário que eu simpatizasse com a sua história. Quando ficamos presos na ponte em Busan e ela me contou com detalhes sobre ser órfã e tudo mais, eu não pude deixar de compreendê-la e, por fim, finalmente entender de onde vinha toda a força que aquela mulher simplesmente exalava.  

E é aí que se encontra o maior desastre dessa história, caro leitor. 

Jeon Soojin não era qualquer mulher, era mulher. Mesmo sendo alguns poucos centímetros mais baixa do que eu e tendo os cabelos curtinhos lhe dando uma aparência um tanto jovem e fofa, Soojin escondia um verdadeiro furacão por debaixo dos seus terninhos modernos e os saltos de solado vermelho. Sejamos sinceros, a Jeon não tem nenhum filtro sobre o que fala ou faz, é inconsequente, teimosa e irritante; mas, ao mesmo tempo, é persistente, decidida, fofa quando fica irritada e, bem... linda

Agora vocês entendem o desastre, certo? 

Sinceramente, eu não faço a menor ideia sobre o que tem de errado com o meu cérebro — e eu nem estou me referindo à história do sonambulismo e tudo mais — para ter esse tipo de pensamento. Nós estamos falando de Jeon Soojin aqui, a mulher que ateou fogo na própria cozinha sem querer e já ameaçou me denunciar para a polícia diversas vezes, então como o meu coração poderia bater feito um trem desgovernado quando eu ficava muito próximo dela? 

Exatamente como naquele momento. 

Eu nem deveria ter começado aquela brincadeira, ainda que não fosse admitir isso em voz alta nem no meu leito de morte com duas armas apontadas diretamente para a minha cabeça, mas não é como se a coisa toda tivesse começado naquele momento, quando colocamos os pés dentro de casa. 

Busan Taehyung, duas palavras que assombraram todas as horas possíveis do meu dia. Céus, a cena de Soojin debruçada sobre aquele garoto que tinha exatamente tudo para ser um modelo mundialmente famoso ainda fritava o par de neurônios que me restava. Eles estavam tão felizes e confortáveis um com o outro, exatamente como um casal de longuíssima data estaria. 

Argh. 

Mas tudo bem, eu entendia que eles eram, na verdade, como dois irmãos que se gostavam muito e que raramente se viam. Era compreensível, claro, ainda que não fizesse do tal Kim Taehyung um homem menos bonito e capaz de conquistar até mesmo o vento ao seu redor. Mas estava tudo explicado, sob controle, eu tinha conseguido controlar o formigamento que descia pelo meu braço direito e me fazia cerrar os punhos involuntariamente... 

E então, Jung Hoseok entrou na história. 

Sério, quantos homens bem-apessoados e simpáticos essa mulher conseguia atrair para a sua volta? Além disso, Hoseok era meu primo. Ela nunca tinha ouvido falar da regra de não flertar com dois homens amigos ou da mesma família ao mesmo tempo nessa vida? 

Não que ela estivesse flertando comigo, mas vocês me entenderam.  

Então, ela mencionou um encontro com o Jung, começou a me encher e perguntas e do nada boom, lá estava eu falando mais do que deveria. Eu estava começando a acreditar que além de não possuir um filtro, Soojin tinha a habilidade de roubar o dos outros quando estava por perto.  

Eu admiti na cara dura que estava com ciúmes.  

Vocês não estão realmente chocados com isso, não é? Pois bem, ela ficou e bem mais do que eu esperava. Seus olhos dobraram de tamanho diante da minha confissão e ela pareceu congelar onde estava, o que não era um sinal nada bom mesmo visto a muitos quilômetros de distância.  

Por isso, a saída que me restava era fingir demência. 

— Era isso que você esperava que eu respondesse?  

Sério, está para nascer nessa Terra ou em qualquer outro planeta um ser humano mais cara de pau do que eu — bem, talvez a Soojin conseguisse me superar, mas não naquele momento em específico.  

Pelo menos era o que eu achava. 

Fingindo porcamente uma crise de risos, como se tudo aquilo não passasse de uma simples brincadeira, eu fui pego de surpresa quando a Jeon me puxou pela gravata e praticamente colou nossos rostos. Céus, o perfume dela era doce como baunilha, porém nem um pouco enjoativo. Eu poderia sentir aquela essência por horas e mais horas, se não fosse a presente situação.  

Nesse momento, eu estava precisando me concentrar ao máximo para manter as minhas pernas já bambas me sustentando. 

— E por que eu não esperaria? — ela indagou, sorrindo maleficamente de canto. — Olha como você está agora, Park Jimin. Nem consegue negar que tem sentimentos por mim, não é mesmo? 

E, assim, nós voltamos para o começo dessa narrativa: Jeon Soojin me deixa ma-lu-co

Sério, tinha tanta informação naquela frase que eu sinto que precisei de longos segundos para processá-la. Soojin, além de me afrontar descaradamente daquele modo, estava insinuando que eu tinha sentimentos por ela? Mas oras, um homem não pode sequer sentir ciúmes de uma mulher, pensar nela durante boa parte do seu dia e comprar café para ela todas as manhãs apenas porque gosta da expressão que ela faz quando bebe o primeiro gole que já tem sentimentos por ela? 

Espera aí.  

Droga. 

Eu tinha sentimentos por Jeon Soojin.  

— Eu... — comecei a falar, mas eu sinceramente sequer tinha o que dizer diante daquela situação.  

Digo, eu tinha sentimentos por Jeon Soojin. Vocês entendem a gravidade disso?  

— Exatamente, Park Jimin. — disse e eu confesso que durante um momento fiquei apavorado com o modo como ela parecia ter lido os meus pensamentos. — Da próxima vez, não cutuque a onça de Louboutin com vara curta. 

Oi? 

Sinceramente, às vezes eu tinha vontade de sacudir pelos ombros e implorar para que aquela mulher fizesse algum sentido. Depois do episódio da onça de Louboutin, a Jeon soltou a minha gravata — deixo aqui a observação de que sequer me mexi depois disso — e, passando ao meu lado, subiu pelas escadas como se nada tivesse acontecido e simplesmente me deixou plantado no meio da sala de estar. 

Eu não podia acreditar naquela mulher. 

Honestamente, se até o final dessa narração eu acabar indo parar num hospital psiquiátrico trancado em uma solitária e vestindo uma camisa de força, vocês já sabem de quem foi a culpa. 

 

*** 

 

Eu nunca pensei que fosse chegar ao ponto de dizer isso na minha vida, mas, saudades sonambulismo. Digo, é preferível a condição psicológica ou sabe-se lá o que mais que me faz sair pelas ruas de Seul de samba-canção, do que aquela que não me deixa pregar os olhos a noite inteira e me faz ficar fitando o teto enquanto me lembro de certos perfumes de baunilha.  

E dos abismos — porque queda aparentemente é pouco — que eu acabei desenvolvendo por esse perfume.  

E pela sua dona. 

Aquilo era impossível de todas as maneiras possíveis desse mundo. Qual era a probabilidade de que acabar me interessando pela mulher que comprou a única casa do universo com a qual eu tenho toda uma ligação? Aquela baixinha intrometida e que não tinha um pingo sequer de vergonha na cara... Tinha mesmo que ser ela?  

E foi basicamente isso que eu me perguntei a madrugada inteira. Sendo sincero, eu nunca tive um tipo ideal de mulher em mente, mas eu realmente não esperava que Soojin acabasse por ser uma. E o pior de tudo: como prosseguir agora que eu sei disso?  

Confessar estava fora de cogitação, inclusive tinha sido a primeira opção a ser descartada. Eu e Soojin ainda morávamos sob o mesmo teto e ela era, tecnicamente, minha funcionária, então trazer aquilo à tona geraria um desconforto que provavelmente me faria enfiar a cabeça num buraco na terra e nunca mais tirá-la de lá. Sem contar que, sinceramente, eu sequer sabia ao certo o que estava sentindo. Poderia ser muito bem algo passageiro e que, com a próxima ameaça de Soojin direcionada para a minha pessoa, aquilo passasse e eu voltasse para o meu estado irritadiço normal para com ela.  

Bem, seguindo essa linha de raciocínio, talvez o melhor a se fazer fosse ignorar aquele sentimento de que o meu peito poderia explodir caso ficássemos perto demais um do outro. 

Mas aquilo obviamente também não iria funcionar. 

Veja bem, eu também não sou tão trouxa assim. Não posso simplesmente ignorar o fato de que a dona dos lábios que eu gostaria de estar beijando está exatamente no andar de cima nesse momento, provavelmente vestindo mais um daqueles seus terninhos que realçam... Foco, Park JiminEis aqui a prova real de que fingir demência não irá funcionar, igualmente. 

Espera um minuto. Soojin não estava vestindo terninho nenhum no andar de cima, porque hoje não era dia de trabalhar. Na verdade, era muito provável que ela tivesse dormido feito uma pedra a noite inteira enquanto o palhaço aqui ficou olhando para um teto branco durante horas por sua culpa. 

Sinceramente, ser trouxa é extremamente cansativo.  

Dando-me por vencido de que não dormiria mais, eu já estava prestes a sair para comprar café quando ouvi a campainha da porta da frente. Quem diabos bate na porta alheia num sábado de manhã? Bem, eu estava prestes a descobrir, porque já estava a alguns passos da porta. 

Quando abri a mesma, me deparei com dois homens vestidos iguais — uniformizados, percebi em seguida. O mais velho segurava uma prancheta, enquanto o mais novo me fitava com uma enorme cara de sono. 

Certamente a cara dele não estava pior do que a minha. 

— Bom dia. — o mais velho cumprimentou educadamente. — Desculpe o incomodo, mas nós somos da loja de artigos de reforma. É aqui que mora a sra. Jeon Soojin?  

Ah, os materiais da cozinha! Até que enfim, porque eu não aguentava mais ter que olhar para aquele cômodo carbonizado e não poder sequer fazer um pouco de lamén no meio da madrugada. 

— Sim, é aqui mesmo. — respondi. — Vocês vieram entregar os materiais da cozinha, certo? 

— Sim. Podemos entrar?  

Só se for agora, senhor. 

Fazendo que sim com a cabeça para não parecer tão desesperado por uma cozinha, eu abri passagem para que os homens começassem a descarregar os materiais. O mais novo finalmente abriu os olhos, vulgo os arregalou, quando deu de cara com o cômodo carbonizado. 

— Ah, nós tivemos um pequeno incidente com o fogão na semana passada. — eu expliquei meio sem jeito, coçando a nuca.  

Sinceramente, Soojin que ateava fogo na própria cozinha e era eu quem tinha que receber os olhares assustados como se fosse um maluco que incendeia a própria casa? Eu poderia dizer que ela iria me pagar quando acordasse, mas, sendo franco, eu já não tinha mais disposição ou sequer confiança para iniciar outro joguinho de vingança daquele. 

Sabe-se lá os céus o que pode acontecer da próxima vez que aquela mulher estiver tão perto de mim. 

O jovem apenas balançou a cabeça, ainda espantado, e continuou fazendo o que tinha que fazer. Esperei que os dois finalizassem o serviço e, quando o mais velho requisitou a presença de Soojin para assinar os papéis da entrega, eu me lembrei de que poderia utilizar do artifício marido naquele momento para não precisar acordá-la apenas para aquilo. Assinei os papéis em seu lugar — no final das contas, eu que tinha pagado por tudo aquilo mesmo — e agradeci aos dois homens pelo serviço nada fácil; digo, vocês sabem o quanto pesa aquele maldito mármore branco que Soojin comprou aos baldes para colocar na bancada da cozinha? 

Muito. 

— Que barulheira é essa? — ouvi a voz sonolenta resmungar atrás de mim enquanto fechava a porta da frente.  

Virando-me na direção da sala, encontrei Soojin parada aos pés da escada encarando a casa como se não reconhecesse o ambiente. Ela coçava os olhos vagarosamente devido ao sono e tinha os cabelos curtos bagunçados, o que seria extremamente fofo, se não fosse pelo restante do cenário — e com isso eu quero dizer o conjuntinho que ela usava como pijama, a blusa listrada de manga comprida que não tinha tecido suficiente para cobrir a sua barriga até o final e o shorts da mesma estampa.  

Céus, de onde tinha saído toda aquela perna? 

Pigarrei algumas vezes, antes de finalmente conseguir respondê-la. 

— Vieram entregar os materiais para a reforma da cozinha. — eu disse, meio engasgado. Era sério mesmo que a Jeon conseguia me desestabilizar até depois de acordar? — Os pedreiros virão na segunda, então...  

— Mas hoje é sábado. — ela me interrompeu, com uma nítida interrogação na testa. — A gente vai ter que esperar o final de semana inteiro passar para começar a reforma? 

— Sim, oras. — respondi. — Você não quer que os homens venham trabalhar em pleno domingo, não é?  

— Claro que não. — ela rebateu, séria. Eu conhecia aquela expressão, significava que alguma ideia mirabolante estava sendo confeccionada naquela cabecinha geniosa. — Mas isso não significa que eu tenha que esperar por eles. 

Eu disse.  

— O que você quer dizer com isso, Jeon? — perguntei, já desconfiado.  

— Park Jimin, você acha mesmo que eu não sei como começar uma reforma? — retrucou, rindo. — Eu aprendi a lixar uma parede quando você estava pensado em entrar para a escola.  

— Você está me dizendo que está planejando entrar naquela cozinha toda queimada e caindo aos pedaços para começar a reforma sozinha? — indaguei, abismado com os raciocínios absurdos que a cabeça daquela mulher formulava.  

— Bem, se você não estiver planejando me ajudar, então sim, farei isso sozinha. — respondeu, correndo o pé contra o chão como quem não queria nada. 

Falsa. 

— Nem morto que eu faço isso. — respondi, convicto.  

Ingênuo.  

Existe um famoso ditado que diz que, se você não pode vencer o seu inimigo, junte-se a ele. No meu caso, já que eu não podia convencer Jeon Soojin do quão estúpida era a sua ideia de adiantar o trabalho de pessoas que eu pagaria para fazer a reforma, fui praticamente obrigado a me juntar à mesma para, pelo menos, evitar que um pedaço do teto caísse sobre a sua cabeça e piorasse ainda mais a sua condição mental.  

Traduzindo: nem meia hora depois de negar com firmeza que iria ajudá-la, lá estava eu segurando os pés da escada para que ela lixasse a parte mais alta das paredes. 

Sim, eu tinha ficado segurando a maldita escada porque, de acordo com Soojin, eu não saberia como lixar direito a parede. 

Sinceramente, eu estava a um passo de lançá-la dali de cima sem a menor piedade. 

— Jimin. — ela me chamou, pausando o esforço que fazia para lixar a parte preta e queimada da parede. Ela estava coberta por pó de cimento e, sinceramente, eu não deveria estar muito diferente. — Tem algo que eu queria lhe perguntar.  

Franzi o cenho.  

— Diga. — autorizei, receoso.  

— É sobre o Hoseok. —  ah, pronto. — Não faça essa cara, para de besteira. — que cara? Oras, um homem com poeira de obra grudada no suor da sua testa não pode mais rolar os olhos ao ouvir o nome do primo que já está fazendo uma cara? — Ele é filho do Presidente Park?  

— Sim. — respondi, de má vontade. — Por quê? 

— Porque eles não têm o mesmo sobrenome.  

Ah, era isso. Bem, Hoseok odiava falar sobre aquilo, mas não era como se ele estivesse aqui mesmo.  

E o que os olhos não veem, o coração não sente, certo? 

— Ele é um filho de fora do casamento. — expliquei. — O meu tio teve um caso com sua antiga secretária e ela acabou engravidando. O sonho do meu tio era ter um filho homem para assumir o seu lugar na Maximum, mas, como a minha tia não pode ter filhos, ele aceitou o Hoseok.  

— Aceitou sem dar o próprio sobrenome? — Soojin indagou, intrigada. 

— Bem, ele ainda é fruto de uma traição. A minha tia jamais permitiria que ele entrasse oficialmente para a família. — respondi. — O meu tio deu toda assistência que o Hoseok precisou ao longo da vida, desde roupas até as mensalidades da escola e da faculdade, mas nunca pode assumi-lo de verdade. É uma história complicada...  

— Vocês ricos são complicados. — ela murmurou, voltando a lixar a parede.  

Sinceramente, eu estava ali todo prestativo respondendo algo que nem desrespeitava à minha pessoa e Soojin ia mesmo me chamar de complicado

Não era como se eu não fosse realmente, mas não precisava que alguém jogasse isso na minha cara. 

— Vou beber água, já volto. — comentei emburrado, soltando a escada e dando-lhe as costas.  

Quem Soojin pensava que era para...  

— Jimin! 

Tudo aconteceu numa fração de segundos. Eu não tinha sequer saído da cozinha quando ouvi o grito de Soojin e, em seguida, um barulho extremamente alto e oco de algo batendo contra o chão. Virei-me na direção da Jeon no mesmo instante, assustado, mas o pavor me atingiu de verdade quando a encontrei caída no chão com a escada sobre sua perna direita. 

— Soojin! — exclamei, correndo até ela. Tinha muita poeira ao nosso redor e, conforme tossia, ela reclamava de dor. — Não se mexa.  

— Mexer?! Eu tenho cara de quem consegue se mexer?! — ela indagou, irada. Bem, ela tinha toda razão em estar irritada comigo e, além disso, sua expressão denunciava que também estava com dor. — Park Jimin, eu vou matar você! 

Bem, agora além de terminar essa narração maluco de vez, terminarei também sendo um homem morto.  

E com motivos para isso. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Espero que tenham gostado de saber um pouquinho mais do ponto de vista do Jimin!
Até o próximo ♥