Preto|Branco escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 1
O policial, o nazista e o cientista


Notas iniciais do capítulo

Só um lembrete: o tema desta fic é discriminação racial. Muitos personagens são racistas, por isso algumas frases horríveis podem ser ditas. Nada que os personagens pensam coincide com o que o autor pensa. Vamos separar as coisas.

Boa Leitura.



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BROOKLYN - NOVA IORQUE

Em meados de 2016, um pastor luterano negro saiu de sua casa para a paróquia da comunidade por volta das 16 horas. Naquele dia, ele nunca voltou para casa. A sua esposa relatou seu sumiço às autoridades. Iniciou-se uma verdadeira campanha da comunidade para encontrar o Pastor Johnson.

Quase uma semana depois, o corpo do religioso foi encontrado na área da Long Island, amarrado num matagal e com marcas de suásticas. O crime teve a motivação de ódio racial.

Investigacões preliminares indicavam que um membro da gangue Ku Klux Klan estava sendo investigado por homicídio a um mendigo negro.

 

O policial Zachary Scott Thomas, negro, foi quem prendeu o racista. Colocou-o na cela enquanto ouvia insultos como "macaco" ou "preto imundo". E olha que Zachary nem era descendente de africanos, haja vista sua mãe era uma dona de casa escocesa e o seu pai um jornalista jamaicano. Era o típico caso de moreno com rosto caucásico.

— Como você está? — perguntou o seu superior.

— Exausto, mas não surpreso.

— Pegue o resto do dia de folga.

Aos 30 anos, Zach se dedicava revezando a carreira com a família. Casado com uma advogada negra, teve um filho cinco anos atrás. Atualmente moram na parte oeste de Nova Iorque.

— Cheguei — disse ao abrir a porta do apartamento.

— Papai! — o pequeno Louis correu para o braço do pai.

— Tá pesado. Desde quando cresceu tanto?

— Desde que quis ser policial como o pai dele — falou Brittany Thomas.

A morena com os seus longos cabelos pretos e cacheados aproximou-se do cônjuge e o beijou.

Naquela noite, Zach desabafou com a esposa. Ficou cansado somente pelo fato de ter ouvido desaforos racistas e não poder fazer nada.

— Relaxa, querido. A justiça vai ser feita e o pastor Johnson será vingado.

— Deus te ouça.

 

Meses preso, Victor Cherokee foi julgado pelo homicídio de dois homens negros, o mendigo e o pastor. Na porta do tribunal de NI, um grupo ligado ao Black Lives Matter levantaram cartazes querendo a condenação do homem.

Zach foi testemunha de acusação por ter sido o policial que prendeu o crápula. Mais algumas testemunhas de acusação, e a primeira de defesa apareceu. Depois disso, mais cinco vieram na defesa do acusado.

O julgamento estava tenso. O júri ficou rachado ao meio. Esperava-se que Cherokee falasse que era acusado e teria 15 anos a cumprir sem condicional, mas ele e seu advogado de porta de cadeia negaram o recurso. A audiência foi encerrada inconclusiva até aparecer mais provas contra ou a favor do acusado.

Uma semana depois, na tarde de uma quinta-feira, uma testemunha chamou a atenção de todos, inclusive da imprensa. Um rapaz negro se sentou no banco das testemunhas e falou a coisa que mais impactou na decisão do júri.

— Victor não é racista. Ele é o meu amigo. Estava comigo na noite que o pastor sumiu.

Zachary saiu do recinto e foi ao banheiro. Vomitou na privada o seu almoço daquele dia. Não acreditou que um afroamericano estava defendendo um membro da KKK.

— Declaro o réu inocente.

O juiz falou o amargo veredicto. As pessoas vaiaram no recinto. O júri ficou dividido, mas apenas 1 deles desempatou o resultado final.

A notícia apareceu nas principais capas de revistas e jornais. Times, New York Times, Washington Post, Vanity Fair, Fox News, CNN, entre outros noticiaram o caso mais absurdo da justiça novaiorquina.

— Papai, o senhor está bem?

— Querido, você se trancou no banheiro faz uma hora.

Ele abriu a porta do banheiro de casa e viu os dois tristes. Abraçou ambos com toda força.

...

Victor Cherokee chegou em casa em Long Island. O homem era branco, careca e tinha uma tatuagem de Hitler no braço esquerdo. Foi recebido por parentes e amigos somente brancos.

— Você se saiu muito bem — disse um rapaz sentado na poltrona.

O rapaz loiro, bem aparentado, novo, parabenizou o amigo. Sasha Beringer era o filho do falecido deputado Roy Beringer, um dos líderes do clã neonazista e nacionalista branco. Sasha, com apenas 28 anos, assumiu a responsabilidade de tomar a dianteira nos negócios inescrupulosos do pai.

— Sasha! Vindo de você... obrigado.

— Como se saiu aquele neguinho? Ele foi convincente?

— Claro.

— Ainda existem pessoas mau-caráter em toda a raça. Acredita que ele não se importou que dois da sua raça haviam sido mortos? Até eu me surpreendi com a sociopatia daquele cara — disse bebendo uma cerveja.

— Agora que estou livre, posso voltar a espancar esses pretos?

— Seu idiota. Acabou de tirar a corda do pescoço e já quer pôr de novo? Não faça mais nada. A irmandade precisa estar completa e firme. O sul vai vencer o norte.

— É que eu queria matar aquele macaco de farda. Ele me prendeu. Que raiva dele, cara!

— Você terá a sua chance.

Sasha parecia ser mais jovem que a sua idade no documento. Filho de pai e mãe loiros, sua ascendência vinha da Rússia e Alemanha. Desde cedo aprendeu a discriminar os outros que ele achava serem inferiores. Infelizmente o seu pai o ensinou algo horrível.

Morava num apartamento alugado no Bronx. Na sala, a bandeira confederada estendida na parede. Retirou a jaqueta, a blusa e ficou só de calça. Nas suas costas uma tatuagem grande da suástica.

A campainha tocou. Ele foi atender sem a roupa de cima. Uma ruiva apareceu, entrou sem muita cerimônia.

— Que foi? Salvei a pele do teu primo, não foi? Nem pra isso me agradece.

— Eu só vim pra uma única coisa. Pensão. Passa a grana.

— Sabe o que você parece, Samantha? Aquelas putas. Tipo a Júlia Roberts de Pretty Woman. Toma.

— Isso é a grana da tua filha, cara.

— Até parece que eu vou me importar. Ela foi criada por acidente. Tipo aqueles projetos científicos que dão errado no laboratório.

Samantha deu uma bofetada no rosto de Sasha. Saiu nervosa, apesar de ter recebido os mil dólares da pensão.

...

 ABRIL DE 2018

— Não faço a menor questão de ir para esse jantar luxuoso.

— Meu bem, eu fui convidada pois sou a advogada do anfitrião. — Brittany ajeitava a gravata de Zach.

— A advogada de um cientista maluco.

— Ele não é cientista maluco. James Marone van Strannix é um cientista de renome. Dono da BioCorp, ele vive em Boston.

— Seus honorários devem ser bem gordos.

— Eu sou advogada criminalista, livro o meu cliente de problemas jurídicos... então sim, eu ganho bem. Agora vamos.

Zachary e Brittany foram para a festa de aniversário de Jimmy Strannix. A festa acontecia na cobertura de um prédio em Manhattan. O policial, ao chegar no salão de festas, tentou disfarçar a surpresa. Era muito luxo. Nunca soube que a sua esposa se envolvia com a elite novaiorquina.

— Aja naturalmente e sorria.

— Tenho medo é da sola do meu sapato estragar esse piso.

Entre os vários convidados estavam jornalistas, famosos, empresários e filantropos. Um homem magro, entre cinquenta a sessenta anos, calvo e com um bigode branco, se aproximou do casal.

— Brittany. É um prazer vê-la no meu aniversário. Esse jovem é o seu marido?

— Claro. Amor, esse é o meu chefe, doutor Strannix. Doutor Strannix, este é o meu marido, Zachary.

— Prazer, senhor.

— O prazer é todo meu, jovem. Bom, divirtam-se.

O destino daquela festa era o sucesso completo, mas um evento — que mudará a vida do policial —  ocorreu naquela noite.

...

No apartamento de Sasha Beringer, um grupo de neonazistas se reuniu para traçar um plano para, supostamente, conquistar bastante dinheiro. O loiro utilizou um slide para mostrar todos os passos do ataque.

— Vamos nos disfarçar de garçons do buffet e vamos roubar tudo que custar cinco mil dólares pra cima.

Um furgão branco parou na frente do prédio e o grupo com até seis criminosos, incluindo Sasha, entrou.

Disfarçados de garçons, os seis conseguiram se infiltrar na festa do cientista Jimmy Strannix. 

Um segurança fazia a ronda nos corredores do andar quando Sasha apareceu com uma bandeja na mão. Fazendo-se que passava mal, aproveitou que o segurança baixou a guarda para eletrocutá-lo.

— Feito. Já apaguei o último segurança — falou no rádio.

Os bandidos retiraram suas pistolas e anunciaram o assalto.

— Ai não — lamentou Brittany.

— Calma, querida. Eu estou com a minha arma aqui.

— Não faça nenhuma irresponsabilidade.

Os bandidos arrancaram brincos, colares, pulseiras e relógios dos convidados. O doutor James foi mantido em cárcere por um dos bandidos.

— Calma, rapaz. Se é só dinheiro, eu dou.

— Vocês ricaços pensam que tudo pode ser resolvido com dinheiro, não é?

— E não é?

— Não. Eu inventei este assalto para um único propósito. Matar o homem que arruinou a vida do meu pai — Sasha retirou a balaclava preta, revelando o seu rosto. James reconheceu o homem na mesma hora.

— Sei quem você é. O filho daquele deputado racista que morreu numa perseguição policial. Veio se vingar só porque eu revelei seus podres?

— Imundo. Traiu a nossa causa. Fez amigos mundanos como pretos, judeus e homossexuais. Como pode fazer isso, doutor Strannix?

— Ora... acorda, moleque! Em que século você vive? Essa coisa de neonazismo está fora de moda. Vocês querem o quê? Pegar o Obama, Beyoncé ou Oprah, colocá-los num navio de volta para a África? Vocês são doentes. Ainda bem que eu pulei fora desse barco.

Sasha apontou uma pistola na cabeça de Strannix.

Zachary se afastou da esposa, conseguiu trocar tiros contra dois bandidos, acertou os dois, subiu as escadas do triplex para o andar da suíte em que o anfitrião estava. Ao chegar, viu um homem apontando a arma na cabeça do velho.

— Larga a arma!

— Venha me impedir.

— Eu estou avisando, cara.

— Só podia ser neguinho — ficou por trás de James. — O que vai fazer, neguinho? Sua mira é boa o suficiente para me atingir? Eu vim disposto a tudo.

Policiais entraram no prédio.

— Meus colegas estão subindo. Não tem pra onde correr.

— Avisa pra esse cara que se ele não sair da minha frente, irei espalhar seus miolos pelo carpete.

— Por favor. Faça isso pela sua mulher. Deixe-nos passar.

Zach abriu caminho para que os dois saíssem da suíte e entrassem num elevador rumo ao heliponto. O policial não deixou barato e pegou a escada de incêndio.

— Podemos conversar. Você age como um covarde, deixando seus amigos para trás.

— Eles são como kamikazes. Agora anda!

O piloto do helicóptero foi abordado com muita violência e teve que ligar a aeronave. Zachary apareceu no heliponto e começou a atirar.

— Maldito! É aquele macaco de novo!

— Não decola!

— Decola. Se não quiser levar um buraco na sua cabeça, decola. Velho, não me encha a paciência.

O loiro e o moreno trocaram tiros. O helicóptero levantou vôo, mas, antes de sair completamente do chão, o policial se agarrou nos pés da aeronave.

— Está desestabilizado.

— PORRA!

Sasha abriu a porta e atirou para baixo. Zach conseguiu entrar e iniciou um confronto corpo a corpo com o loiro. Dois tiros foram suficientes para matar o piloto e fazer o helicópter girar até cair de volta no heliponto. Sasha quebrou a clavícula o braço direito, James a perna esquerda, Zachary caiu para fora e bateu a cabeça numa parede, causando um traumatismo craniano.

— Ai... droga...

Sasha tentou fugir, mas os policiais chegaram a tempo para detê-lo.


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