Amor em Pigmentos escrita por Kaline Bogard


Capítulo 8
Um Ômega muda tudo


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o POV do Shino, um pouco de como ele está lidando com toda essa situação inesperada. E um pouco de Shino + Ino, que é uma amizade que eu gosto bastante!!

Boa leitura!



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— Você está parecendo um adolescente. E eu não acredito no que estou vendo! — a voz de Ino soou mais divertida do que a dignidade de Shino achava justo.

— Exagerada— a palavrinha veio junto de um suspiro.

Estava começando a se arrepender de ter pedido conselhos para a amiga. Mais do que depressa (e isso tinha muito a ver com a curiosidade), ela correu para o pequeno apartamento em que Shino morava para atender ao chamado.

O apartamento alugado era de designer muito clean e prático. Shino tinha restrições quanto à visão, quanto menos móveis, mais fácil era sua vida.  Também possuía poucos amigos a quem chamar ali, sendo Ino a que conhecia por mais tempo.

A jovem era uma Alpha de personalidade extravagante e singular, que vivia se enroscando com Betas por aí, porque afirmava não querer responsabilidade sobre nenhum Ômega. No exato momento estava deitada na cama de Shino, observando enquanto o rapaz tentava se decidir por qual casaco cinzento vestir.

Shino nunca teve dificuldade em se arrumar antes. Era uma situação inusitada.

— O da direita — Ino ajudou — É mais curto e informal — referiu-se a peça que chegava aos joelhos do Alpha. A segunda opção cobria-lhe o corpo por completo.

— Obrigado.

— Não me agradeça. Ainda estou chocada que você encontrou mesmo uma Alma Gêmea. E uma que eu nunca imaginei que seria o seu tipo.

Shino resumiu os dois encontros que teve com Kiba, mencionando de forma breve o incidente na sala de detenção. Foi cuidadoso ao descrever o Ômega, de um jeito que chamou a atenção de Ino. A garota logo viu a paixonite nascendo ali! Era fofo! Mas não disse nada, a personalidade de Shino era relutante em ceder certos limites.

— To louca pra conhecer esse cara — Ino riu.

Shino foi sentar-se à beira da cama, antes de responder:

— Ele é um bom garoto. Vocês vão se dar bem.

Ino analisou a expressão do amigo. Shino parecia indiferente a maior parte do tempo, mas ela o conhecia o suficiente para ler certas nuances. E aquela suavidade toda era uma indicação de que ele estava feliz. Até mesmo empolgado com o fato.

Quase riu. Quase. Sempre imaginou que Aburame Shino seria o solteirão convicto da turma deles. E ali estava o destino lhe provando o contrário.

Um Ômega muda tudo.

— Por isso não me meto com eles — Ino resmungou.

— O quê? — Shino realmente não compreendeu o que ela disse em voz baixa. Estava distraído.

— Ômegas. Eu não me meto com eles.

Shino não rebateu. Também não se envolvia com Ômegas na intenção de algum relacionamento duradouro. Saiu com um ou outro, mas nada que o empolgasse ou mudasse seu ponto de vista.

E a situação em que se viu naquele dia, na sala de detenção, não era algo que pudesse simplesmente virar as costas por “não querer se envolver com Ômegas”. A questão era de um nível humanitário. Shino estava prestes a presenciar o descontrole de outros Alphas. Virar as costas e fingir-se de cego não era uma opção.

Aquele foi o caminho que a vida escolheu para apresentar seu companheiro destinado. Talvez Ino não compreendesse todas as perspectivas que se descortinavam. Podia escolher se encontrar e se relacionar apenas com Betas. Todavia, isso não garantia que um dia não se deparasse com um Ômega a quem reconhecer como parceiro. Talvez ao dobrar de uma esquina. Talvez numa lanchonete.

Talvez ela própria precisasse interferir em uma situação de tensão, quem sabe?

Ou, no fim das contas, talvez nunca acontecesse com tal shifter. A vida era misteriosa.

Podia apenas refletir sobre si próprio. Era aluno da faculdade, conseguiu um bom estágio e seguia firme na intenção de se tornar professor. Seu pai, a única família que tinha, o ajudava com a mensalidade do curso e o aluguel do pequeno apartamento próximo ao campus.

Não era rico, embora gozasse de certa folga financeira.

Os planos a longo prazo: se formar, ter uma carreira sólida como docente até aperfeiçoar-se e conquistar sua própria cátedra, a exemplo do próprio pai, professor universitário.

Em momento algum incluiu um companheiro a essa jornada.

Muito menos um companheiro destinado.

Alma Gêmea.

Fugiria disso? Jamais. Como poderia ser insensível a ponto de dispensar o garoto empolgado, que teve coragem de chamá-lo para comer crepe e cachorro-quente no parque? E como virar as costas a todas as sensações que vinham com a presença exótica?

Fosse tal encontro destinado ou não, ele veio com consequências. O pequeno era tagarela, arrogante, boca suja e impaciente. Dono de uma animação brutal e sem rédeas, minava vida e alegria. Parecia enlevado por mergulhar no mundo colorido que a presença de Shino lhe trouxe, conquanto vez ou outra se deixava saber que aquilo não importava. Não de verdade.

Ele contou que estava disposto a abrir mão de qualquer cor, caso seu companheiro destinado estivesse entre os Alphas que quase o atacaram na nefasta detenção. Por outro lado, ao ir devolver o casaco na certeza de que Shino não era sua Alma Gêmea, já levava em mente o plano de convidá-lo para um encontro e consequentemente conquistá-lo como um “bom partidão” – palavras auto-definitivas escapadas da boca de Kiba.

Um Ômega exótico.

— Ah, não! — Ino rolou na cama depois de dar um longo sorriso — Você já está com o ar pateta de todo apaixonado! Isso foi muito rápido, traidor! — riu ao final.

— Ar pateta?

— É... todo avoado. Aburame Shino se perdendo em devaneios... eu preciso conhecer esse Ômega! — ela terminou sentando-se na cama ao lado do outro Alpha e o tocando no ombro — Vai fundo, campeão. Eu estou me divertindo, mas sei que você não é leviano. Se esse Ômega começou a mexer com seus sentimentos, deve ser uma figura e tanto. Ouça seu lado Alpha e invista, não perca a chance.

— Ino, obrigado — surpreendeu-se um pouco com o incentivo vindo de uma solteira convicta.

— Eu sei como a natureza é forte. E ela traz o que a gente precisa, mesmo que não esteja procurando. No fundo eu não tenho certeza que conseguiria virar as costas pra minha Alma Gêmea, caso conhecesse essa pessoa. E é por isso que eu evito muito contato com Ômegas. Amo minha liberdade, amo minha independência. Vou defendê-las o quanto puder! Até ter outra pessoa a quem defender. Se isso surgiu agora na sua vida, agarre com as duas mãos. Segure firme para não se arrepender. A natureza é forte, sabia e cruel. Nem sempre dá uma segunda chance.

Alguma coisa no tom de voz de Ino ao dizer aquela frase final chamou a atenção de Shino. Mas ele não se sentiu a vontade para investigar mais a fundo. Foi a primeira vez, em todos os anos de amizade, que Shino sentiu haver algo escondido na relutância de Ino que não fosse apenas o jeito despojado de ver a vida.

— Você sabe que pode conversar comigo a hora que quiser, não sabe? — apesar de tudo, não pôde evitar oferecer.

— Claro que sei, garanhão. To mais preocupada que saia tudo bem no seu encontro essa noite. Arrasa!

— Tem certeza de que...

— O Ichiraku é a melhor opção? — Ino cortou a pergunta depressa — Vai por mim. Toda certeza do mundo. Você me contou sobre aquele domingo no parque. Seu companheiro é um colegial! Te pagou um crepe, Shino. Pelo amor dos deuses, não precisa levar o moleque em nenhum restaurante mil estrelas. Isso é fora do seu orçamento e só vai assustar o bichinho. Comece com algo simples, aos poucos vai chamando pra lugares melhores. Nada de ficar se exibindo, sinto que não vai funcionar.

Shino sentia isso também. Embora fosse difícil controlar seu lado Alpha! Tinha se encontrado com alguns Ômegas, não era inexperiente. Sempre os levou a bons lugares e bancou a conta, como ditava a tradição.

Era a primeira vez que queria impressionar um Ômega, não porque era papel de um Alpha. A vontade de agradar vinha do desejo de sentir a alegria do outro, sentir que ele estava sorrindo, já que não podia enxergá-lo em todos os seus detalhes.

O vínculo com o garoto lhe trouxe sensações que nunca experimentou. A debilidade em seus olhos o impedia de ver claramente expressões de alegria, de ansiedade, euforia.

Viver mergulhando em um mundo de extremos o tornou mais perceptivo ao ambiente. E, ainda assim, o que vinha graças à ligação com seu Ômega destinado era fenomenal e fora de escala! Captar as emoções… algo que jamais cogitou.

— Eu… — Shino começou e calou-se sem saber como continuar a se expressar.

Ino compreendeu perfeitamente. A falta de palavras corretas comunicava tanto quanto o seu oposto.

— Você conseguiu algo lindo, Shino. Vá devagar, saboreie o momento… e proteja o quanto puder.

Dessa vez o Alpha respondeu com um aceno de cabeça. Relutou muito, teve dúvidas e hesitou. Agora começava a aceitar.

Saborear o momento… protegê-los com as próprias mãos.

Era exatamente o que pretendia fazer.


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Notas finais do capítulo

Aqui eu trouxe uma Alpha mulher. Tenho um contexto em que Alphas existem em um número menor, porque eles são os lideres natos e talz, tipo em "A Lei do Amor" e "Marcas da Solidão". E esse contexto em que eles existem em mais ou menos o mesmo número que Betas e Omegas, então tem Alphas mulheres também, a questão deixa de ser ligada a genero, tipo nosso mundo claramente machista. E passa a ser "Alphista", não importa se você é homem ou mulher, se for Alpha é um dos donos do parquinho!

O próximo é o último ♥

Nos lemos na quarta!



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