Amor em Pigmentos escrita por Kaline Bogard


Capítulo 7
Domingo no parque


Notas iniciais do capítulo

Gente, agora vocês vão ver um verdadeiro Don Juan em ação

SQN

Boa leitura!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/770085/chapter/7

O domingo chegou mais rápido do que Kiba esperava. Acordou mergulhado em um poço de ansiedade e sentindo-se muito adulto, obrigado. Afinal, era o dia que teria seu primeiro encontro a sério com o Alpha destinado.

Antes, tal ideia o repudiava um pouco. Agora, o enchia de animação. Pelo fato de transformar seu mundo cinzento em uma teia intrínseca de cores inimagináveis. Além do fato de ser um Alpha interessante, misterioso e que salvou seu pescoço em uma situação que poderia ter sido desastrosa.

Saltou da cama cheio de energia e escolheu sua melhor combinação de roupa: casaco cinza com pelos no gorro e nas mangas e bermudão cinza escuro. Bem, ele achava serem cinza, pois aquela variação de cores era a única que podia enxergar longe do companheiro destinado.

Tomou café com o dobro do apetite. Ansiedade lhe dava muita fome!

Recebeu um sermão caprichado de Tsume, recomendando várias vezes que tivesse cuidado e juízo. Percebia seu filho empolgado demais com a coisa toda. Compreendia como a questão de ver um mundo em cores era impressionante, mas como mãe, Tsume não podia deixar de se preocupar com o filhote!

Hana tinha passado a noite na casa do namorado, provavelmente voltaria só ao final do dia, mas também fez sua cota de recomendações. Muito mais contida e suave, todavia com similar preocupação. Kiba era seu precioso irmão caçula, adorava vê-lo feliz. Queria o melhor para ele e por isso incentivava que se envolvesse em coisas mais adultas e seguras do que seguir os planos de Naruto. E se ele conseguiu o prêmio de encontrar a Alma Gêmea, então torceria para que tudo desse certo!

Após o café reforçado, conferiu se estava tudo de acordo, se a aparência era do bonitão de sempre, repassou o perfume e aprovou o quadro geral. Se tanto capricho não seduzisse o Alpha, então nada mais seduziria!

Despediu-se da mãe, prometendo pela enésima vez que seria cuidadoso e não agiria por impulso, e saiu de casa.

O combinado era encontrar-se com Shino em frente ao Conselho. E de lá sair para dar uma volta e almoçar.

Tão logo foi se aproximando e a sensação familiar o acometeu: pouco a pouco o cinza monótono que recobria o mundo esvaeceu e as cores vibrantes tomaram o seu lugar. Cores fortes, cores amenas, cores desbotadas e cores que pareciam recém pintadas.

E no meio desse redemoinho de tons, parado empertigado e muito sério, o shifter responsável por mudar sua vida. Aburame Shino com seu típico casaco longo, com gola a encobrir metade do rosto e óculos escuros.

Kiba chegou cinco minutos mais cedo (o que era um milagre para os padrões Kibanos), mas o Alpha chegou ainda mais cedo.

— Yo! — foi cumprimentando animado.

— Olá — Shino respondeu. A primeira coisa que notou, depois do grande sorriso de presas afiadas, foi o aroma agridoce de morangos que o envolveu. Suave, quase diáfano, mas o suficiente para mexer com seus instintos.

Algo familiar, que não soube nomear. Aprazível e que preencheu com uma sensação da qual não tinha notado sentir falta no curto espaço de tempo em que se separaram. Desconcertou Shino.

— Vamos até o parque? O crepe de lá é ótimo! — Kiba garantiu.

— Por mim tudo bem. Deixei meu carro no outro quarteirão…

— Não precisa! Vamos andando — Kiba descartou a oferta, pois o parque não ficava longe dali. Podiam ir conversando. E tomou a dianteira, obrigando Shino a segui-lo — Eu pesquisei na Internet sobre cores. Meu celular é muito velho, por isso nem trouxe. Mas qualquer dia quero estudar perto de você e decorar os nomes. Fiquei pensando sobre as estrelas, por algum motivo elas me lembram o tom da sua pele…

Foi falando sem pensar muito. Shino não teve dificuldade em acompanhar a enxurrada de palavras, algumas até mesmo constrangedoras.

O fluxo de pessoas era pouco. Um domingo preguiçoso, de clima ameno, no qual Shino acabou por se concentrar no monologo empolgado, acompanhado pelo aroma de morangos, algo que uma semana atrás jamais imaginaria.

Shino poderia continuar assim, não fosse dois Alphas desconhecidos que vinham em sentido contrário, conversando. Pareciam ter por volta da idade de Kiba, sem nada em suas aparências que chamasse a atenção. E, ainda assim, ele moveu-se discreto, mudando de posição na calçada em um movimento calmo, colocando-se entre os dois Alphas e o Ômega que caminhava junto a si cheio de gestos e sorrisos.

Ninguém notou sua atitude (nem mesmo Kiba), mas isso não mudou o pequeno constrangimento que Shino sentiu pela demonstração de... ciúmes?

Chegaram ao Parque, onde o movimento era mais intenso: famílias passeando, casais de mãos dadas, crianças correndo. Estava tudo bem animado e Shino se prometeu ser mais comedido. Não tinha ligação oficial com o Ômega ao seu lado, que segurava nas bochechas com as duas mãos, encantado ao ver tudo tão colorido pela primeira vez! Era de aprazer o coração.

— Ali — Kiba apontou o carrinho onde os crepes eram preparados.

Esperaram alguns minutos na fila que andava rápida. Quando chegou a vez deles, Shino fez menção de sacar a carteira, mas Kiba o impediu com um gesto.

— Quem convidou paga! — ele soou cheio de si, o peito estufado de leve.

Shino teve o único gesto de erguer as sobrancelhas. Um Ômega querendo pagar a conta…? Era inédito em sua vida.

— Obrigado — agradeceu querendo ver onde aquilo ia dar.

— Minha mãe que ensinou: não importa a casta, é coisa de cavalheiro — então se voltou pro dono da barraquinha — Dois crepes de morango com leite condensado!

— Sim, senhor — o homem começou a preparar. Kiba fisgou a própria carteira, uma de couro marrom com várias estampas do símbolo Hokage, e contou o dinheiro. Tinha algum porque Hana-nee lhe emprestou!

Com a guloseima em mãos foi fácil achar um banco onde pudessem se sentar, momento que Kiba aproveitou para atacar o crepe.

— Delícia! — suspirou de olhos fechados — Você está estudando para ser professor! Achei incrível, mas se eu fosse um Alpha seria Hokage.

Hokage era o posto mais alto da Vila do Fogo. O sonho de toda criança, que era deixado de lado a medida que se crescia e amadurecia.

— Gosto da ideia de ensinar outras pessoas — Shino respondeu, dando uma pequena mordida no crepe. Não apreciava coisas doces, por isso foi mais constrito. Apesar disso, o gosto não era nada do que esperava: a massa era neutra, o que evitava que o leite condensado pesasse no açúcar. Havia equilíbrio que dissolvia morno na boca. E os pedacinhos de morango fresco fazia saliva se juntar na língua. Era apetitoso.

— Hum! — Kiba lambeu o polegar por onde escorreu um fio de leite condensado — To no último ano da Academia. Não sei bem o que fazer do futuro, não aceitam Ômegas no time ninja.

Soou um tanto triste. Achava que seguir o caminho jounin e fazer missões combinava consigo. Se ao menos tivesse nascido Beta…

Se tivesse nascido Beta não seria companheiro de Shino. Talvez nunca conhecesse as cores.

Observou o tom dos morangos, a cor apetitosa da massa e o leitoso da cobertura.  O colorido tornava tudo muito mais apetitoso,

— Não precisa se apressar — Shino falou suave — Tente a faculdade, pode se decidir enquanto cursa as matérias básicas.

— Foi o que a minha irmã falou. Ne, eu sou meio indeciso sobre o futuro, porque não tem muitas profissões legais que um Ômega pode escolher. Mas fora isso sou um partidão. Se me aceitar como companheiro não vai se arrepender!

A propaganda divertiu Shino. O garoto era agressivo em sua abordagem, não podia negar.

— Sei… — não se comprometeu.

— Esse crepe está gostoso, não está? É um dos melhores lugares de Konoha pra se comer! Por isso quis te trazer aqui. Mas tem outros. Onde eu moro abriu uma sorveteria que é incrível, podemos ir lá na próxima vez.

Jogou o convite no ar como quem não quer nada.

Um grupo de Alphas vinha pelo meio da praça, andando em skates e falando alto, numa algazarra jovial. Sentado no banco, Shino não podia simplesmente mudar de lugar. Mas a proximidade mexeu com seu lado Alpha, tanto que propagou um tiquinho sua presença, envolvendo o Ômega com ela, de modo a proteger o aroma de morango que pairava convidativo no ar. Foi uma infantilidade que não pôde controlar.

Percebeu de canto de olho o momento em que a silhueta de Kiba lhe encarou com surpresa, ao ser protegido com discrição.  Queria poder ver o rosto daquele garoto, queria divisar os detalhes, mais do que apenas contornos entrevistos por quem vive num mundo tal qual um quarto escuro.

Porém, mesmo sem a capacidade de enxergar plenamente, Shino sentia. Sentiu o coração do Ômega disparar e a corrente sanguínea acelerar. Não tinha como ele saber que tais reações eram comuns quando o rosto enrubescia de vergonha.

Vergonha contundente pelo gesto possessivo, ainda que não o bastante para ocultar a satisfação que minou do Ômega ao captar claramente o gesto típico de Alphas com seus companheiros.

— Não vou na sorveteria com você — Shino soou rouco. Decepção veio a Kiba, sem tempo de estabelecer morada — Nosso próximo encontro é por minha conta.

Kiba sorriu. E foi pura felicidade.

Shino não viu a bela cena, apenas a captou pela ligação sobrenatural, sabendo-se preso por sentimento muito similar.

Mal se conheciam.

Mas já se reconheciam.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

shame on me, mas Alphas possessivos são meu espírito animal. Perdão, Shino. Nem você escapou xD

Até quarta!! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor em Pigmentos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.