Memento Mori escrita por EsterNW


Capítulo 7
6.0 - Just a feeling




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/770018/chapter/7

Nós vamos atrás das questões

Que ninguém ousa perguntar,

Nós desvendamos sonhos

E vamos através de fatos,

Nós esboçamos um mundo

Sem sequer darmos a mínima.”

— Scientist, Marcela Bovio

 

Academia de Ciências Intergalácticas — ACI —, 2032.

Clara estreitou os olhos, colocando com todo o cuidado possível as amostras de sangue em cada um dos pequenos frascos, tendo o auxílio do conta-gotas. Aquela pesquisa não levou a nada, até o presente momento, portanto, iria direto dali para a geladeira. Quem sabe algum dia serviria de cura para alguma doença e ela não seria a responsável pela descoberta? Ela não se condenava por sonhar demais às vezes.

Dentro do laboratório, suas colegas de pesquisa, Julie e Diana, preparavam-se para ir embora logo. Clara já havia combinado com Diana de ficar para o simpósio de Biológicas que começaria mais para o final do dia. Mesmo cansada, a jovem pesquisadora não queria perder a oportunidade de encontrar tantas mentes brilhantes reunidas em um só lugar!

Quanto a Julie... Ninguém fazia ideia do que se passava naquela mente.

Terminando de guardar as amostras, Clara olhou de relance para a colega, observando-a guardar suas coisas mecanicamente na própria bolsa, com um olhar vazio, como ostentava havia alguns dias. Nem Clara nem Diana compreendiam tamanha mudança na amiga, outrora tão espontânea e alegre, e agora tomada por uma inexpressividade gritante. Ela sequer conversava mais, exceto se fosse algo relacionado ao trabalho. E mesmo assim, sem vida, inexpressiva em suas opiniões, como se apenas dissesse as coisas por falar.

Tendo terminado com seus pertences, Julie levantou-se e foi embora sem se despedir de suas colegas, ainda deixando a porta aberta ao sair, o que era um pouco de irresponsabilidade, afinal de contas, aquilo era um laboratório. Mas ela parecia nem se importar mais com isso.

Diana trocou um olhar com Clara e deu de ombros, sem ter mais o que fazer. A pesquisadora recolhia os próprios pertences, enquanto a outra terminava de guardar todos os utensílios de volta ao lugar.

— Ei! — As duas pesquisadoras viraram-se para olhar o vidro ao lado da porta, possuindo uma boa visão através dele do corredor do lado de fora.

Finalizada a arrumação do final de período, as duas foram em direção à saída, com Diana pronta para trancar a porta, tendo o molho de chaves já em mãos.

— Vamos, Peri, também não é motivo para tanto. — Clara visualizou um desconhecido estender a mão para ajudar uma moça morena caída no chão. Ao mirar mais ao longe, apenas viu as costas de Julie a virar o corredor.

— Você diz isso porque não foi você que acabou de cair de costas no chão... — a moça — Peri, provavelmente — reclamou com uma careta.

— Perdoe a minha colega — Clara desculpou-se pela amiga inexpressiva, tendo deduzido sem muito esforço o ocorrido. Provavelmente Julie havia esbarrado na jovem, derrubando-a e partido sem sequer se importar. Era estranho pensar que alguém tão gentil iria se comportar assim algum dia. — Ela tem estado um pouco... — Clara pensou no adjetivo que daria. Estranha? Completamente indiferente? Insensível? Totalmente fora de si?

— Parece ser algo recorrente pela Academia, pelo que pude perceber — o desconhecido comentou com ela, enquanto a jovem que o acompanhava passava as mãos pela bermuda, limpando-a após a queda.

Clara deu uma breve olhada para Diana, tendo esta já trancado a porta e pronta para acompanhá-la até o refeitório, enquanto não chegava a hora do início do simpósio. A pesquisadora voltou o olhar para a dupla desconhecida... E peculiar, diga-se de passagem: o homem loiro vestia um casaco que parecia ser a peça mais colorida que ela vira em tempos! Cientistas e suas manias... Espere, será que eles estavam lá para participar mesmo do evento? Ao contrário dele, sua acompanhante era mais despojada, com um conjunto de bermuda e camiseta na cor azul. Clara acabou gostando de seu corte de cabelo chanel, contudo resolveu deixar suas observações para si mesma.

— Isso é o que acontece quando a gente trabalha demais aqui dentro, eu costumo dizer — Diana se meteu na conversa, cruzando os braços morenos com o jaleco enroscado no braço esquerdo. Foi nesse momento que Clara deu-se conta que se esqueceu de retirar o seu, estando mais distraída com a amiga que já sumira pela Academia.

Peri sorriu, talvez achando graça na afirmação de Diana. O homem ao seu lado, ao contrário dela, tinha a testa franzida, portando um semblante pensativo.

— Cansaço, talvez, porém não tamanha apatia... — ele soltou pensativo, voltando os olhos azuis para as pesquisadoras em seguida. — A colega de vocês passou por alguma... Experiência diferente recentemente?

As duas colegas trocaram olhares. “Vai mesmo dizer?”, Diana parecia perguntar com o olhar para Clara. Entretanto, a pesquisadora tinha a ligeira impressão de sentir uma aura familiar vinda daquele desconhecido. Algo que estava no fundo da mente, mas que ela não conseguia lembrar ou acessar por algum motivo.

— No início da semana Julie foi embora mais tarde, porque havia sido chamada pela professora Hilda Clark para conversar. E no dia seguinte, estava assim. É a única coisa de diferente que aconteceu recentemente — Clara apresentou os fatos, tentando buscar na memória algum motivo para a tremenda apatia de Julie. Ela não confiava naquela tal professora Clark, que chegara tão de repente na Academia, contudo, somente sua intuição não era motivo para acusar uma mulher que ela sequer conhecia.

— Em um dia ela estava toda feliz por ter sido notada pela professora Clark, e no outro, parecia um zumbi — Diana complementou.

— Desculpe, você acabou de dizer Hilda Clark? — As pesquisadoras assentiram, não compreendendo o porquê de tamanha surpresa do desconhecido ao ouvir o nome. — Vamos, Peri, há algo muito suspeito nessa Academia.

Com esse chamado, o estranho seguiu determinado até a próxima curva do corredor, deixando Peri para trás. A morena apenas sorriu, como se pedisse desculpa pela pressa, e correu para alcançar o loiro que já ia desaparecendo na virada do corredor.

— Eu disse que esse lugar tá cheio de gente estranha... — Diana afirmou para Clara, que observava a dupla sumir no corredor, deixando para trás um sentimento de desconfiança ainda maior. Talvez sua intuição não estivesse tão errada...

...

— E ele ainda pediu pra sair de novo, acredita? — Clara ria das desventuras contadas por Diana sobre seu último encontro com um jovem da Academia. Ao menos ela conseguiu se distrair por alguns momentos, entretida nas histórias da amiga.

— Ei, meninas! — Herbert, um dos pesquisadores especialistas em Biogenética e amigo das garotas, sentou-se no banco ao lado de Diana, trazendo junto de si a última versão de um tablet e um semblante preocupado. — Vocês viram a Julie por aí?

— Você está atrasado em quase uma hora — Diana respondeu antes de dar uma garfada no pudim. — Foi embora e nem se despediu da gente...

— Ela nem se despede mais da gente — Clara completou, brincando com o garfo enquanto permanecia com o rosto apoiado sobre a mão. — Aconteceu alguma coisa, Herbert?

— Digamos que sim...

Antes de formular qualquer resposta, o pesquisador colocou o tablet sobre a mesa, mostrando para ambas as moças uma notícia de intrigar qualquer um na Academia: professora Hilda Clark encontrada morta por causas desconhecidas. A data? Três semanas atrás.

— Mas como... — Diana encarava a tela de uma forma estupefata, como se o amigo fosse declarar aquilo sendo uma mentira a qualquer momento.

Clara arregalou os olhos, surpresa consigo mesma e com sua própria intuição. Ela tinha certeza que havia algo de extremamente errado com aquela mulher e seus olhos azuis glaciais nas poucas vezes que acabaram se cruzando pelo corredor.

E ela iria a fundo nessa história, Clara tinha certeza disso.

...

O trio atravessava os corredores da Academia com determinação, esbarrando em inúmeros convidados do simpósio que teria início logo em breve. Contudo, os três pareciam ignorar até mesmo a excitação com as mentes brilhantes. Naquele instante, a concentração era dirigida ao reitor e sua sala, tendo como objetivo tirar aquele mistério a limpo e desmascarar aquela impostora.

Diana, que parecia liderar o grupo, bateu na porta com a placa metálica contendo o nome do reitor, contrastando com o escuro da madeira. Após um “entre” abafado, ela abriu a porta. Com os sentidos em um alerta constante, Clara teve a ligeira impressão de ter ouvido algo não muito longe dali. Era um grito abafado ou sua imaginação lhe pregava peças?

Pedindo para que Herbert entrasse na sua frente, e causando estranheza no rapaz, Clara apurou mais sua audição, afastando-se de seus amigos e da segurança da sala do reitor. Não tão distante dali, estacou, vendo um dos conhecidos da Academia levantar a mesma moça de antes, Peri, desacordada sobre o ombro, como se a americana não passasse de um saco de batatas.

Não tendo tempo para ficar parada atordoada no lugar, Clara apenas piscou os olhos tentando clarear a mente e pôs-se a seguir o rapaz alto — ela tinha certeza que o vira antes... Ele não trabalhava junto de Herbert na Biogenética? —, mantendo distância e discrição. Era naqueles instantes que ela agradecia por usar sapatilhas e não saltos para trabalhar.

Virando corredores e mais corredores e tendo a ligeira impressão que desciam mais para o fundo do prédio da Academia, Clara esgueirava-se nas curvas onde poderia passar despercebida. Até que, em um dado momento, quando parecia que iriam ainda mais para baixo, o rapaz parou, virando-se com uma postura rígida e entrando por uma das últimas portas. Nem tanto para sua surpresa, aquela parte mais antiga da Academia era diferente de seu laboratório e toda a área moderna, onde as pesquisa eram feitas às claras. Lá não havia vidro que possibilitasse enxergar o que acontecia fora ou dentro daquelas salas fechadas, deixando em oculto o que acontecia ali dentro.

Clara pisou na ponta dos pés, colocando parte do rosto pela porta escancarada. Do lado de dentro, espantou-se ao ver fileiras de macas e equipamentos espalhados pela área do laboratório. Medidores de frequências cardíacas e coisas que ela sequer sabia a função, sendo avançado demais até para um cientista do século XXI.

Colocando com rudeza a americana sobre uma das macas vazias, o pesquisador pôs-se a conectá-la a cabos e mais cabos.

Clara começou a olhar para todos os lados, procurando o que fazer. Lembrando que aquele corredor era cheio de laboratórios, entrou em um deles, dando a sorte da porta estar apenas encostada. Apressada, pegou o maior vidro de bequér que conseguiu, voltando em silêncio até a macabra sala do outro lado do corredor. Respirando fundo como se criasse coragem, finalmente entrou pé ante pé, feito um gatuno. Parando às costas do rapaz, e dando a sorte dele não tê-la percebido ainda, quebrou com toda a força o vidro na nuca exposta dele, fazendo-o ir direto para o chão. Ela se sentiria mal por isso mais tarde, tinha certeza.

Pulando por cima do corpo desacordado, teve acesso à maca onde a moça ainda permanecia sem sentidos. Perdida no meio de tanta adrenalina, a pesquisadora fez o mínimo que podia e retirou os cabos e mais cabos conectados nas têmporas da jovem e os pertencentes ao medidor de frequência cardíaca. Para sua surpresa, Peri começava a dar sinais de que voltava à consciência. Atordoada e balbuciando por um “Doutor”, foi o suficiente para Clara suspirar de alívio ao perceber que ela estava bem.

— Nós vamos conseguir um doutor para você, não se preocupe — Clara tentou acalmá-la assim que a moça abriu os olhos castanhos. — Só preciso que você me diga o que aconteceu.

— Não, o Doutor... Eu preciso avisá-lo, a professora Clark... — Peri levantou o tronco lentamente, aparentando um pouco de tontura.

— Ela é uma impostora, eu sei. — Clara ajudou a jovem a sentar-se na maca.

Peri passava as mãos sobre os olhos, tentando manter o foco, pois a sala toda parecia girar à sua frente.

— Não é só isso, você não entende. Ela é a culpada pela sua amiga ter ficado daquele jeito. Ela... — Peri balançou a cabeça, tendo a voz um pouco gaguejante em algumas sílabas, contudo, aparentava realmente ter certeza no que falava. — Ela está de alguma forma fazendo isso com as pessoas, tirando os sentimentos delas, e eu preciso encontrar o Doutor! Ele pode pará-la.

Clara analisou por instantes a informação que a jovem lhe dera. Aquele tal de Doutor parecia suspeitar de algo quando se esbarraram pela primeira vez — supondo que ele fosse o mesmo estranho de casaco colorido que acompanhava Peri —, talvez... Provavelmente a americana estava certa!

Peri tentou levantar-se da maca, ainda sentindo um pouco de tontura e não muita firmeza nas pernas. Clara amparou-a para que não caísse.

— Eu acredito no que você disse. Onde podemos encontrar esse Doutor?

— Eu não sei... — Peri murmurou, balançando a cabeça enquanto tentava adivinhar onde o senhor do tempo poderia ter se metido. A americana começou a sentir-se melhor aos poucos, respirando o ar frio de perto do subsolo. Retomou a postura, porém, ainda era amparada por Clara. — Ele deve ter ido atrás da Rani... A professora Clark.

Clara assentiu, descobrindo finalmente o nome daquela que se passava pela verdadeira Hilda Clark. Ela se perguntava como Rani conseguiu mentir a própria identidade por tanto tempo.

— Julie mencionou que a sala dela era na área mais antiga do prédio. Acho que sei como chegar até lá.

As duas saíram da sala macabra com as macas, deixando para trás toda aquela loucura de equipamentos, contudo, ambas sabiam que poderiam encontrar coisa ainda pior pela frente.

— Quem é essa Rani que você mencionou? Você parece conhecê-la... Consegue andar sozinha? — Peri soltou-se do braço que Clara passava sobre seus ombros, assentindo em resposta. As duas começaram a caminhar mais rápido, descendo suavemente cada vez mais para o subsolo da Academia.

— Ela é uma cientista — Peri afirmou, percebendo então que todos naquela Academia também eram. Balançou a cabeça, sentindo-se incomodada com aqueles corredores que lhe davam certa sensação claustrofóbica, parecendo todos iguais para ela. Perguntava-se como a pesquisadora conseguia se orientar por ali. Mas não era hora para isso.  — Uma senhora do tempo, do mesmo planeta do Doutor. — A americana olhou para Clara, que apenas assentiu com firmeza. Com tantos convidados para o simpósio, não era novidade que haveria seres de tantos planetas diferentes. — O Doutor suspeita que ela planeja continuar o experimento de Koturia**...

Nesse momento, Clara ergueu as sobrancelhas, não entendendo a referência da outra.

Peri e o Doutor encontraram-se surpresos ao descobrir o plano de Rani, pois o próprio senhor do tempo havia entregado o cristal zerado para ela em Koturia, após ter deletado todos os dados lá contidos. Contudo, a dupla não esperava que a senhora do tempo continuaria em sua busca de tentar manipular a regeneração de seu próprio povo, indo até o planeta Azzarozia atrás do cristal semelhante ao de Koturia. E, para espanto ainda maior dos dois, ela havia contornado o “problema” do afeto — afinal, o experimento havia falhado anteriormente por necessitar de amor ou o mínimo de afeto que fosse por outra pessoa para ativar o cristal —, mesmo que fosse à custa dos sentimentos de outras pessoas. Porém, Rani não dava a mínima para isso. Para ela, tudo o que importava era sua ciência.

Contudo, como a grande maioria dos experimentos de Rani, aquele não estava dando tão certo, extraindo não apenas os sentimentos necessários de suas “cobaias”, mas tudo aquilo que sentiam, tornando-os seres de uma apatia imensurável. Quase semelhante ao processo de criação de um cybermen, em uma comparação. Ao menos aquelas pessoas ainda serviam como lacaios para a cientista...

Peri não conseguiu explicar nenhuma das circunstâncias para Clara, não tendo tempo para isso na corrida. A pesquisadora, que guiava o caminho, fez sinal com a mão para que a outra parasse, pedindo silêncio com o dedo em riste logo em seguida. As duas encostaram-se à parede, ocultando-se da visão da porta aberta. E através dela viram o maior laboratório até aquele momento: como a sala anterior da qual saíram, também estava forrada de equipamentos que elas não sabiam identificar a finalidade. A única certeza é de que não era para coisa boa.

No centro de tudo, estava um grande computador, que ocupava uma mesa inteira, contendo várias telas e teclas. O Doutor estava logo ao lado, com ligas de metal passando pelo seu tronco e pelos pulsos, prendendo-o à cadeira do mesmo material.

De costas para as jovens, estava Rani, trabalhando com calma enquanto conectava cabos nas têmporas de seu antigo conhecido. Com um movimento preciso, conectou o último dos cabos, balançando os cachos castanhos ao sair de perto dele.

— Sabe, você poderia muito bem testar o seu próprio experimento em você mesma. Faria um grande favor a todos nós — o Doutor comentou com sarcasmo, tentando irritar a senhora do tempo e talvez ganhar mais tempo com isso.

— Fique quieto! — Rani exclamou para ele, tendo sua pouca paciência já no final, após minutos de picuinhas com o Doutor. — Você deveria me agradecer. Estou lhe fazendo um favor ao tentar manipular sua próxima regeneração.

— Agradecer! Agradecer! — O Doutor repetiu o verbo, dando mais ênfase na última vez. — Para sua informação, eu estou muito bem com essa regeneração, obrigado, e não desejo passar por outra tão cedo. Consegui melhorar com o tempo... — Os olhos azuis do senhor do tempo correram pela sala, procurando por uma saída, até visualizar a porta, não passando despercebido por ele as duas morenas escondidas. Nem Rani nem nenhum de seus lacaios, sendo um deles Julie, haviam reparado na presença de Clara e Peri do lado de fora. — Ao contrário de você — ele provocou, tentando irritar ainda mais aquela que outrora fora sua amiga e ganhar tempo.

Rani apenas dignou-se a dirigir um olhar gelado para o Doutor, que o senhor do tempo manteve sem temer.

— Peri, você consegue distrai-los? — Clara questionou em um sussurro. — Eu vou entrar depois de você e tento soltar o Doutor.

Peri apenas assentiu, estando insegura. A americana tomou fôlego e passou pela porta aberta.

— Doutor! — Peri entrou chamando pelo senhor do tempo, fazendo com que Rani voltasse o rosto para ela, desviando os olhos de seu computador.

— Você! Garota estúpida... Peguem-na! — ela gritou as ordens para Julie e o outro cientista, que estavam todo aquele tempo parados como duas estátuas, inexpressivos, portando, cada um, uma arma do tamanho de seus antebraços, como se aquilo não fosse nada demais.

Sabendo ser aquela a sua oportunidade, Clara correu em direção aos controles, apertando todos os que seus dedos conseguiam em menos tempo.

— O que você... — Atordoada pela presença da pesquisadora desconhecida, Rani correu até ela, tentando empurrá-la para longe de seu precioso computador, contendo os dados de sua pesquisa. A senhora do tempo conseguiu jogar Clara ao chão, a moça, porém, também puxou-a para a queda. — Atirem! — Rani ordenou para qualquer um de seus lacaios.

Clara arregalou os olhos, vendo Julie erguer sua arma e tendo a ela do outro lado da mira. A pesquisadora chamou pelo seu nome, mas de nada adiantou: Julie estava desprovida de seus sentimentos. Para ela, Clara era uma desconhecida qualquer, por quem ela não sentia absolutamente nada. Alguém que ela mataria como se fosse uma mosca, sem sequer pensar antes.

Peri arquejou e Julie atirou, sendo sua amiga de outrora a última visão dos olhos castanhos de Clara, antes de eles se fecharem para sempre para aquela vida.

O Doutor olhou com fúria para Rani, que permanecia indiferente a mais uma morte, como sempre.

Pelas mãos de sua própria amiga, a Garota Impossível encontrou-se com a Morte mais uma vez pelo meio do caminho, no final de tudo, garantindo que o Doutor permanecesse em sua sexta encarnação por um pouco mais de tempo. Tempo suficiente para que aqueles olhos azuis encontrassem o pior de si mesmo, o Valeyard.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Scientist, Marcela Bovio: https://youtu.be/VHjq6LgNfrY

* A Rani é uma senhora do tempo, antiga amiga dos tempos de Academia do Doutor e do Mestre, e, assim como eles, ela também é uma renegada de Gallifrey.
Segundo o Mestre, um dos experimentos dela se tornou um rato gigante, comendo o gato do Lorde Presidente e depois mordendo a ele, o presidente, forçando-o a regenerar. Da série: coisas que só acontecem em Gallifrey -q
Fria, sendo descrita pelo 6° Doutor como uma sociopata no áudio drama The Rani Elite (que serviu de inspiração pra esse capítulo), para ela, "a ciência justifica a ciência", sendo capaz de matar sem remorso algum em prol de seus experimentos. 

** A ocasião citada refere-se ao conto Algo Emprestado, com o 6° Doutor e a Peri, do livro 12 Histórias 12 Doutores. No planeta Koturia, seus habitantes passam por um processo semelhante a uma regeneração, chamado "faseamento". Ele acontece durante a cerimônia de casamento, com os noivos tocando uma pedra, porém, para que isso aconteça, os dois têm de amar um ao outro ou sentir o mínimo de afeto que seja. 
Rani disfarçou-se e enganou uma das famílias mais ricas do planeta para se casar com o filho deles, tendo como objetivo ter acesso à pedra, além de estudar a biologia dos koturianos nesse meio tempo, para compreender como funciona o processo.
Segundo o Doutor, por não ser capaz de sentir afeto por ninguém, a não ser pelos seus próprios experimentos, Rani não conseguiu ser capaz de ativar a pedra para completar seus planos. Antes que ela fugisse, o Doutor teve tempo de apagar o cristal onde estava todos os resultados da pesquisa dela.
Essa pedra não era única, tendo um outro exemplar dela no planeta Azzarozia. Nesse capítulo, pensei da Rani estar extraindo os sentimentos daqueles que ela considerava serem os mais inteligentes da ACI, querendo de alguma forma ativar a pedra. No final, conseguindo algo com isso, ela queria testar o experimento no Doutor, forçando-o a regenerar.

Notas grandes pra combinar com um capítulo grande -q E então, o que acharam? Alguém conseguiu descobrir o mistério antes da Clara? Sou doida pra saber as teorias que vocês foram criando xD
Saindo do assunto, vocês viram que a fic tá de capa nova? Volta lá no índice rapidinho, porque tá muito lindeza ♥ Deixo aqui os agradecimentos às meninas da página Litera Fanfic pelo trabalho ♥
Até o próximo, povo o/