O Despertar dos Sentimentos escrita por Luana de Mello


Capítulo 37
A Jornada de Um Shinobi


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, espero que gostem!!



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Caminho pelas ruas de Konoha de cabeça baixa, não desejo falar com ninguém, algumas pessoas até tentam me cumprimentar e falar comigo, mas não prolongo muito qualquer diálogo. Ultimamente quando saio de casa, meu destino é certo e não me desvio da rota por nada; no último mês Hinata e eu recebemos o apoio e a solidariedade dos nossos amigos, cada um a sua maneira, demonstrou o quanto sentiu a nossa perda, e agora estamos tentando recomeçar, reencontrar nosso caminho.

Konoha também está em obras, apesar de a batalha ter acontecido bem longe daqui, a vila sofreu as consequências, algumas explosões de Bijudamas ocorreram bem próximas daqui, e isso causou alguns estragos. Chego ao prédio em minutos, o guarda faz menção de me barrar, mas quando ergo meu rosto, ele recua assustado e me deixa entrar sem perguntar mais nada. Ultimamente têm sido assim, algumas pessoas voltaram a ter medo de mim, mas não daquela forma de quando eu era criança, eles me temem de um jeito admirado, como se eu pudesse não ser real; principalmente depois que ficaram sabendo o que fiz ao conselho Hyuuga; o que ninguém sabe é o que aqueles malditos fizeram a Hinata, só podem supor que teve algo haver com ela e isso gera muita especulação e fofoca na vila. Também me chamam de aquele que matou Uchiha Madara, como se eu precisasse de mais algum nome, isso é tão irritante, antes ninguém me notava, agora me seguem por onde vou com falsos pretextos para chamar minha atenção.

— Não deixe isso te afetar garoto, você não quer voltar a estaca zero comigo, quer? — ouço Kurama dando uma de sabichão para cima de mim.

Suspiro resignado e concordo com ele, não preciso levar as coisas tão para o pessoal, nunca fiz isso, não vou fazer agora. Passo pelos corredores e os guardas me cumprimentam da mesma forma que fazem com a vovó Tsunade, digo o nome de quem vim ver a um deles que prontamente me guia até lá, ninguém questiona nada, apenas fazem o que pedi, e no momento seguinte estou parado a frente da sela mais afastada de todo o complexo. O vejo parado ao fundo, os olhos vendados e as mãos presas atrás do corpo, além de estar coberto por vários inibidores de Chakra; acho que não querem arriscar e decidiram tomar todas as providências para que ele não escape, como se isso fosse bastar, sei melhor que ninguém que se Sasuke quiser sair daqui, ele sairá e não há nada que o pare, o que é um mistério para mim agora, é por que ele está aqui e por que se entregou de tão boa vontade? Sentindo minha presença, ele caminha até a luz, olho para o guarda e faço sinal para que abra a sela, ele fica indeciso e com medo, e isso faz um pouco da minha paciência ir para o ralo.

— Abra logo isso, ele não vai fugir, se quiser me tranque ali dentro também. — digo irritado e ouço Sasuke dar uma risadinha — Não vou ficar o tempo todo em pé aqui do lado de fora!

Muito assustado ele abre a sela, não antes de sacar uma kunai e se preparar para qualquer ataque, como se isso bastasse, reviro os olhos indignado. Entro na sela e ele logo a fecha, nem um segundo a mais nem a menos, ouço seu suspiro de alívio; ele certamente me acha maluco por entrar aqui, mas eu não ligo, parei de me importar com a opinião alheia já tem um tempo.

— Não achei que viria, não depois de tudo. — Sasuke começa, sondando o terreno — Sabia que mal humorado assim, você fica muito parecido comigo?

— Você pediu que eu viesse, aqui estou. — suspiro cansado, sentando na cama — O que precisa falar comigo?

— Como estão as coisas? Quero dizer, além do obvio. — ele pergunta incerto e eu estranho.

— O que foi agora Sasuke? Você nunca foi disso, por que agora? O que te aconteceu? — pergunto intrigado.

— Eu senti também Naruto. — ele fala e eu entendo de pronto — Toda noite lembro cada segundo daquela ultima hora, aquilo me atormenta incansavelmente. Não sei como você ainda está em pé, não sei como consegue...

— Hinata precisa que eu me mantenha forte, preciso estar forte por ela. — respondo deixando tudo que tenho reprimido vir a tona.

— Como ela está? — Sasuke volta a perguntar.

— Na medida do possível está se recuperando, fisicamente não ficou com nenhuma sequela graças ao Chakra de Kurama, mas emocionalmente ela ainda está abalada, têm se ocupado e treinado excessivamente para não pensar, está se preparando para assumir o clã. — conto me escorando na parede fria — Por que quer saber? Não entendo o que te fez deixar sua vingança de lado e se entregar.

— Foi algo que Itachi me disse, e depois de ver tudo aquilo eu entendi perfeitamente; nós também somos irmãos Naruto, irmãos de alma, e depois de sentir a sua dor eu lembrei de algo que me disse há anos atrás, lá no Vale do Fim, você disse que sentia e entendia minha dor. Na época eu não acreditei, estava cego pela sede de poder e vingança, mas naquele dia eu entendi o que é sentir a dor do outro, entendi o que você sentiu todos esses anos sozinho, e vi o quão errado eu estava. Eu pensei que você não se vingava de todos por que era fraco, mas vendo tudo que vi, percebi que você não era fraco, só tinha escolhido um caminho melhor que o meu! — quando Sasuke fala isso, as peças do quebra cabeças se encaixam.

Ele com certeza encontrou Itachi aquele dia, e isso mexeu com ele de alguma forma, e quando lutávamos contra Madara, senti uma energia diferente emanando dele, era como arrependimento, culpa e vergonha, tudo misturado. Então eu não me enganei, ele se arrependeu de verdade, e agora que me dou conta disso, sinto um enorme alívio, acabei de me libertar de uma grande responsabilidade e isso me deixa leve, não precisava de mais isso para resolver, não agora; finalmente posso encerrar esse assunto de vez, virar a página, e sem precisar quebrar a cara do Sasuke para que ele entenda.

— O que vocês vão fazer agora? — ele pergunta me tirando dos meus pensamentos.

— Vou dar um tempo para nos recuperarmos, quero dizer, para nos acostumarmos com a nova realidade e depois, se Hinata ainda quiser, vamos casar. — respondo com um nó se formando na garganta.

— Queria te perguntar uma coisa que não sai da minha cabeça nos últimos dias, por que Hinata foi para a batalha se estava grávida? Ou vocês não sabiam? — Sasuke pergunta meio sem jeito.

— Foi para escapar dos conselheiros Hyuugas, alguém deu com a língua nos dentes e eles ficaram sabendo, mas eles já tiveram o que mereciam. — respondo.

— Quem foi que contou para os velhos? — Sasuke insiste no assunto.

— Natsu, ela era a única fora da família que sabia, e Hiashi só contou por que ela era responsável pela alimentação da família principal, mas aquela maldita ficou com raiva pelo filho cretino dela ser banido e resolveu se vingar! — conto sentindo meu sangue ferver nas veias, nem percebo que já estou chorando — Ela contou aos conselheiros e eles decidiram que meu filho não deveria nascer e o tirariam da mãe assim que Neji e Hiashi partissem para a guerra. Pode imaginar o desespero de Hinata quando ouviu eles falando não é? Ela planejava ficar em um esquadrão médico na retaguarda, não participaria da batalha real, mas nada saiu como planejado, e quando vimos já era o fim!

— O que você fez aos conselheiros Naruto? O que Hiashi fez a essa mulher?— ele pergunta muito assustado pelo meu tom de voz.

— Não os matei se é o que quer saber, Hinata precisava de mim e eu não pude ir até o fim, agora estão sob custódia da Godaime e vão responder por conspiração e traição, o que acho muito pouco. — conto controlando minhas emoções — Já Natsu deve estar recebendo sua punição agora, Hinata a baniu do clã e vai selá-la, ela será a ultima pessoa que receberá um selo perpétuo entre os Hyuugas. É terrível que o preço para a abolição desse selo maldito e o fim da guerra, tenha sido a vida de um inocente!

Me exaspero novamente e seguro os punhos com força, tento controlar a respiração e voltar ao normal.

— Segundo o que ouvi, quem é acusado de traição pode ser punido com a morte. — Sasuke fala melancólico e me dou conta que o julgamento dele é amanhã.

— Você não será condenado. — conto e ele engasga surpreso — Kakashi, Sakura, Sai, eu e Hinata já testemunhamos a seu favor, contamos a verdade é claro, mas contamos que você se juntou as forças aliadas na guerra e isso contou muito, e ainda falta o restante da nossa turma, que prometeram falar a verdade.

— Eu não mereço isso, como ainda consegue estar perto de mim depois de tudo que fiz? Como ainda consegue ser meu amigo? — Sasuke pergunta suas lágrimas descem silenciosas pelo rosto coberto.

— Você mesmo disse, somos irmãos de alma, e por mais errado que você estivesse, se arrependeu e está disposto a pagar pelo que fez. Não cabe a mim julgar Sasuke, e mesmo que fosse o caso, eu já te perdoei, sei que só escolheu o caminho errado. — falo e faço sinal para o guarda vir abrir a sela — Mas se você sair um dedinho sequer da linha, eu não vou mais bancar o bonzinho com você! Agora tenho que ir, Hinata está me esperando.

— Naruto? — ele chama e olho para trás — Tente não guardar tanto ódio, deixe as coisas seguirem seu rumo, acredite, eu sei o que estou falando. Não faça nada que te traga pelo mesmo caminho que percorri!

Quando deixo a sela e caminho em direção a escada, avisto a sela de Obito, ele está preso do mesmo modo que Sasuke, mas diferente desse último, o destino dele é incerto, ainda mais que não há nenhum sinal de arrependimento de sua parte, mas isso só o tempo dirá. Saio da prisão e o choque com a luz do sol me cega momentaneamente, meus olhos ardem e lacrimejam um pouco, quando minha visão volta ao normal, encontro a razão pela qual ainda acordo todos os dias me esperando do lado de fora; os cabelos longos soltos balançando ao vento, a pele clarinha ressaltada pela luz do sol, a expressão calma e gentil de sempre, mas os olhos de lua estão demarcados por uma linha vermelha, sinal de que ela andou chorando e isso parte mais um pouco meu coração. Já estamos tão destruídos, nem sei quanto mais vamos suportar, e tudo parece contribuir para que a vida continue nos machucando; vejo Hinata suspirar baixinho, ela está cansada, têm treinado noite e dia, se dedicado muito ao clã, ela tenta parecer durona para os outros, mas eu sei o quanto está sofrendo, toda noite a escuto chorar baixinho antes de dormir, e todos os dias a vejo por um sorriso no rosto e encarar a realidade.

— Amor, eu disse que te buscava no clã. — falo me aproximando dela.

— Eu sai mais cedo de lá, te procurei no prédio Hokage e Kakashi-sensei me disse que estaria aqui. — ela responde me abraçando — Papai manda lembranças, pediu para você não sumir.

Outro aperto no coração, Hiashi têm sido tão atencioso conosco, até permitiu que Hinata ficasse no meu apartamento para que se recuperasse melhor, mas eu não consigo o olhar nos olhos sabendo que não fui bom o suficiente para proteger meu filho. Mas não posso fugir das pessoas para sempre, se Hinata consegue encarar, eu também consigo, que tipo de homem eu seria se deixasse todo esse peso com ela? Que tipo de ninja eu seria se fugisse das minhas responsabilidades?

— Eu não vou, que acha de irmos lá hoje a noite? Você não deve ter visto Hanabi pela manhã, não é? Aproveitamos e matamos a saudade daquela pestinha. — digo tentando parecer animado e ela me sorri docemente — Agora vamos almoçar? Que acha de irmos ao Ichiraku?

— Acho uma boa ideia, faz muito tempo que não vamos, acho que a ultima vez foi quando Fukasaku-sama te invocou. — ela fala e ri pela primeira vez em dias — Você passou mal lembra?

— Ninguém merece comer a comida da vovó Shima, Hina. — rebato feliz por distraí-la.

Ela me estende a mão e juntos caminhamos pelas ruas rumo ao Ichiraku, as pessoas nos observam e cochicham, outras apontam e nos olham descaradamente; esse foi outro ponto que ainda estamos nos adaptando, depois do que aconteceu na batalha, a notícia se espalhou feito fogo e logo a vila toda sabia que Hinata e eu perdemos nosso filho. Claro que ninguém foi louco de falar qualquer coisa, mas percebo pelos olhares que muitos reprovam e criticam nossas escolhas, mas a grande maioria nos olha penalizados e compreensivamente. Quando chegamos ao Ichiraku, encontramos Izumo e Kotetsu, eles ficam surpresos aos nos verem, afinal é a primeira vez que Hina e eu saímos para ir a algum lugar que não é o hospital ou a sala da vovó Tsunade.

— Naruto-senpai, Hinata-sama. — Izumo levanta e Kotetsu faz o mesmo.

Eles nos cumprimentam e fazem uma pequena reverência, e parecem constrangidos e sem saber o que fazer.

— Não façam isso pessoal, não precisa. — digo antes que eles chamem mais atenção — Somos todos amigos aproveitando um bom ramen.

Os dois concordam mais relaxados e Hinata também fica mais a vontade depois que dispenso qualquer formalidade.

— O que vão querer hoje Naruto? — Teuchi pergunta assim que nos vê.

— Um ramen de porco para mim tio. — respondo e olho para Hinata — E você Hina?

— Um ramen comum, ainda não posso comer nada forte. — ela responde.

Assim que nos sentamos, os outros dois fazem o mesmo, tento manter uma conversa agradável sobre a vila, as missões e tudo o mais; Hinata parece se interessar por tudo e participa e se solta mais, ela conta sobre as mudanças que tem feito com o pai no clã, e quantas mais fará, explica como foi a extinção do selo perpétuo e a reação dos membros da família secundária; ela está tão bem, que nem nota Izumo e Kotetsu indo embora.

— Agora, vou levar para a senhora Tsunade uma proposta de pesquisa, para tentarmos achar um modo de anular o selo em quem já o têm. — ela conta feliz.

— Isso vai ser ótimo pequena, o que seu pai achou dessa ideia? — pergunto querendo que ela fale mais.

— Ele me deu total apoio, Neji também, e você o que acha, sinceramente, acha que consigo fazer isso? — ela pergunta e isso me intriga.

— Claro que sim Hinata, que pergunta é essa agora? — digo achando estranho o modo como ela fala.

— Aqui está, para meu cliente número um, um ramen de porco no capricho, e para sua linda noiva, um ramen comum com bastante molho. — Teuchi chega trazendo os pratos, e agradecemos.

Sem deixar que esfrie, devoramos o ramen, e como sempre está uma delícia, nem sabia que estava sentindo tanta falta assim.

— Então Hina, por que acha que não consegue achar um meio de anular o selo? — insisto na pergunta.

— Não é nada. — ela desconversa e finge brincar com o rachi.

— Hinata. — chamo sério, ela me olha e entende que não deve me esconder.

— Foi só uma coisa que Natsu falou antes de ser selada. — ela conta e a incentivo a continuar — Ela disse que uma garota fraca e ingenua como eu nunca conseguiria liderar um clã, que não sou boa o bastante para isso, que sou uma inútil; disse que sou muito idiota se acredito que você ainda se casará comigo, não agora que não tenho mais nada que me prenda a você, e que agora você está famoso no mundo ninja e pode escolher a moça que quiser para desposar, uma moça com a honra intacta.

A cada palavra que Hinata proferiu, a fúria foi tomando conta de mim, um ódio incontrolável, uma vontade enorme de matar aquela mulher, de arrancar seus membros um a um; seguro com força o banquinho que estou sentado, ou eu vou sair daqui e fazer uma besteira. Já não basta todo o mal que nos fez? Ainda quer por em dúvida e enfraquecer o que tenho com Hinata? Kami me dê forças, mordo minha língua para ver se me acalmo, tento pensar em coisas boas, mas nada faz efeito; olho para Hinata e noto que a estou assustando, tento me controlar melhor, conto até dez e respiro pausadamente.

— Hina, eu te amo e isso nunca vai mudar, nós vamos nos casar assim que você me disser que podemos ir adiante, nunca mais pense em algo assim. — falo tentando me conter.

Mas estou tão furioso, que minha voz sai mais como um rosnado, meu corpo treme por completo; e como se fosse uma tentação para testar minha paciência, vejo a desgraçada caminhando pela rua, sendo escoltada por dois guardas Hyuugas, seguidos logo de perto por Hiashi, Neji e Hanabi. Não consigo me conter, no instante seguinte já passei pelos guardas, que estão confusos buscando de que direção eu vim; seguro um de seus braços com força, Natsu me olha apavorada e um grito de puro pavor escapa dos seus lábios, no minuto seguinte a confusão já foi instaurada e as pessoas param para ver o que acontece. Logo sinto a presença de dois ANBUS atrás de mim, eles tentam chegar perto, mas os braços de Chakra de Kurama lhes barram, vejo pela visão periférica Hiashi fazer um sinal para que não se aproximem mais.

— Você, sua cobra desgraçada, achou que ia falar qualquer sandice para a minha Hinata e sairia ilesa? — grito e rio ironicamente, deixando todo o meu ódio transparecer — Maldita ordinária! Você não presta, quem não tem honra aqui é você, você que traiu a confiança da família que sempre te acolheu; eu vi, não foi ninguém que me contou, eles sempre te trataram com respeito, dignamente. Mas o que você fez em troca? Agiu como o ser mais ardiloso e cruel que existe, armou junto com aqueles velhos hipócritas para assassinar meu filho! Mas onde eles estão agora hã? Estão quase mortos no hospital, você quer que eu te mande para lá também? É só dizer mais uma palavra sequer e te faço esse favor! — grito no meio da rua, cego de ódio, inconscientemente noto algumas senhoras arfarem espantadas — E isso por que? Por uma mesquinharia, por ser egoísta demais para aceitar que o bastardo que você trouxe ao mundo era um cretino, mas acho que ele teve com quem aprender não é? Você foi uma ótima sensei, uma família de mentirosos, traiçoeiros e traidores, é isso que você e aquele imbecil são! Sua imunda, nunca mais abra a boca para maldizer Hinata, você não merece nem falar o nome dela; acha que eu sou o que? Um moleque babaca igual seu filho? Eu sou um homem, não volto com minha palavra, amo Hinata mais que minha vida, e vou me casar com ela e não há nada no mundo que me impeça!

Estou descontrolado, sei que estou agindo igual um animal, igual um monstro; mas não me importo, cansei de ser tolerante e compreensivo, pessoas como essa ordinária não merecem isso; tomado pelo ódio, sigo apertando o braço de Natsu que ainda seguro, ela se debate e grita de dor enquanto tenta bloquear meus Tenketsus com a mão livre, sorrio maldosamente, ela pode tentar o quanto quiser, eu ainda vou lhe arrancar o braço. Sinto meu peito doer de tanta raiva que estou sentindo, não tenho mais paciência para aguentar esse tipo de coisa; noto Hinata se aproximando calmamente de mim, ela não está nem um pouco assustada comigo, já me viu em estado pior e sabe que nunca a machucaria, ela me sorri docemente, um pedido silencioso para que me acalme, apenas nego com a cabeça e Hinata compreende, agora não consigo me acalmar mais, não tenho mais forças para reprimir o ódio que estou sentindo. Por que sei que se não fosse essa mulher, se ela não tivesse armado com aqueles velhos, Hinata não teria se arriscado, ela teria ficado na vila, Hiashi já tinha conseguido uma permissão especial com a vovó Tsunade para ela ficar; ele só precisou cobrar um favor que a vila devia ao clã, e tudo foi resolvido sem necessidade de mais explicações, então se não fosse essa mulher odiosa, meu filho ainda estaria vivo, Katsu estaria crescendo bem e seguro no ventre da mãe e logo eu o veria nascendo, poderia o pegar nos braços e dizer o quanto o amo, Hinata não estaria sofrendo dia após dia agora, e por culpa dessa mulher as coisas não serão mais assim. Ouço o barulho de ossos estalando e um grito agonizante, mas nem isso me sensibiliza, eu quero que ela sinta a mesma dor que sentimos, quero que guarde bem na memória, quero que saiba o que sou capaz de fazer, quero que meu rosto a aterrorize a noite, para ela nunca mais pense em fazer algo contra a minha Hinata.

— Kurama! — ouço Hinata chamar alto, a voz firme — Me ajude, por favor.

Escuto ela pedir e logo o braço de Chakra de Kurama envolve minha mão e me faz soltar o braço de Natsu, ela cai no chão chorando e se contorcendo de dor, mas eu não consigo sentir pena, não consigo me compadecer, só consigo a olhar com nojo e fúria.

— Que isso sirva de aviso! A próxima vez que alguém aqui fizer ou falar qualquer coisa contra esses dois. — a voz grave e rosnenta de Kurama soa alta por toda a vila, seus braços de Chakra apontam para mim e Hinata — Eu não vou impedir que Naruto mate o responsável, isso se eu não o matar antes!

Basta isso para fazer os cochichos pararem, todos voltam a circular pela rua como se nada tivesse acontecido.

— Vê se controla essa raiva um pouco, idiota! — Kurama fala do meu inconsciente.

— Eu tô tentando Kurama, mas está cada vez mais dificil. — respondo e deixo as lágrimas caírem.

— Lembra que a Hyuuga precisa de você, lembra que seu pai te prometeu cuidar do moleque, as coisas vão melhorar Naruto, só de tempo ao tempo. — ele fala e suspira tão cansado quanto eu.

— Eu vou tentar mais, obrigado. — prometo já me sentindo mais calmo.

Ele balança as orelhas daquele jeito irritante e me dá um meio sorriso debochado e presunçoso, quem diria que um dia ele me daria conselhos? Essa raposa sem vergonha que queria possuir minha alma, hoje está segurando essa barra comigo, está me apoiando e ajudando a enfrentar essa tempestade. Vejo Natsu ser levada pelos guardas Hyuugas, pelo menos ela ficará longe daqui, ou eu não garanto que não quebraria o resto dos seus ossos; me viro para Hinata e a encontro esperando pacientemente que eu me acalme de vez.

— Desculpe por isso amor, eu prometo que vou me controlar mais. — digo lhe abraçando.

— Tudo bem, você não é de ferro, eu não devia ter te contado aquilo. — ela responde baixinho.

— Não Hina, você sempre deve me contar, qualquer coisa, nunca esconda nada de mim, promete? — peço aflito, não quero que ela guarde segredos de mim.

— Prometo querido, também não volto com minha palavra sabia? — ela responde com um pequeno sorriso e eu relaxo um pouco.

— Me desculpe por isso também, Hiashi-sama. — peço me virando para os três Hyuugas que ainda estão plantados no lugar — Eu agi por impulso e ainda envolvi a sua família em um escândalo.

— Não se preocupe com isso Naruto, só foi um acerto de contas que você tinha total direito; e é nossa família, você é parte dela também filho. — Hiashi fala e coloca as mãos nos meus ombros, ele suspira e seu rosto assume uma expressão cansada — Não se culpe tanto meu filho, tenho te visto se culpar por algo que nem nós conseguimos impedir, não foi nossa culpa Naruto, fomos vítimas das artimanhas de pessoas cruéis e sem escrúpulos. Não se deixe levar pelo ódio, volte a ser aquele homem de bom coração que veio até minha casa humildemente pedir para desposar minha amada filha.

Quando Hiashi fala isso, sinto minhas pernas cederem, não tenho mais forças para suportar esse peso, essa dor esmaga, sufoca e rouba a paz, me sinto oprimido e acuado, preciso de ar, preciso de luz; Hinata me abraça apertado, logo sinto Neji e Hanabi se juntando a nós, e por último Hiashi, eu choro e deixo minha dor e minha magoa ir embora com as lágrimas. Me dou conta de que todos nós o perdemos aquele dia, que toda essa família que também é minha, sente essa dor monstruosa; mas precisamos deixar essa dor ir embora, aprender a nos libertar dela, e isso não significa que meu filho será esquecido, pelo contrário, Katsu será amado e lembrado enquanto nós vivermos, será amado como se estivesse aqui conosco. Quando enfim consigo me recompor, me levanto junto com eles, ainda envergonhado por minhas atitudes, mas já não sinto aquela opressão corroendo meu coração.

— Papai, eu preciso ir falar com Tsunade-sama agora, mas a noite passamos no clã para jantar. — Hinata fala e abraça o pai e depois cada um dos irmãos.

— Certo, vamos esperar os dois. — Hiashi responde feliz e os três fazem o caminho de volta para o clã.

Depois que pago a conta, e recebo um olhar entristecido de Teuchi e Ayame, Hinata me estende a mão e juntos rumamos para o prédio Hokage. Os guardas nos deixam passar sem contestar nada, acho isso muito errado, e se fosse alguém disfarçado tentando assassinar a vovó? Vou falar sobre isso com ela. Chegamos a porta de sua sala, Hinata para e me faz bater na porta, e só depois que recebemos a ordem, entramos; lá dentro já se encontram Kakashi-sensei, Sakura, Sai, Shikamaru, Yamato a vovó Tsunade e Shizune. Isso é muito estranho e de imediato já os encaro desconfiado.

— Ah Naruto, que bom que veio, eu já ia te chamar. — a vovó fala quando nos vê.

— É mesmo? Por que? — pergunto desconfiado.

— Acabei de nomear Hatake Kakashi o Rokudaime Hokage. — ela responde feliz.

— Sério? Que legal, parabéns Kakashi-sensei. — digo realmente feliz por ele — Ou tenho que te chamar de Kakashi-Hokage-sensei?

— Me chame como sempre Naruto. — ele responde constrangido — E já tenho um primeiro pronunciamento ao time sete, que agora é liderado oficialmente pelo Yamato; a partir de hoje você é um Jounin de elite de Konoha, Naruto! Suas habilidades no campo de batalha, sua capacidade estratégica, inteligencia, sagacidade e rapidez de avaliar o inimigo, provaram o quanto você é capaz e merecedor desse posto.

Minha cabeça fica a ponto de explodir, vejo Hinata e Sakura comemorando, os outros me parabenizam, só que ainda fico um pouco perdido, como pode isso, se ainda nem sou Chunin?

— E já tenho uma missão para você. — Kakashi fala chamando a atenção de todos e volto a ouvi-lo — Desde que a guerra acabou, há muita insegurança entre as cinco grandes nações, os líderes das grandes e pequenas vilas precisam saber que a aliança que nos uniu na dificuldade, perdurará e ninguém melhor que o herói do mundo ninja para afirmar essa aliança e manter a paz.

— Tá se tenho que assinar algum acordo, assino sem problemas. — respondo de pronto.

— Não é tão fácil assim Naruto, os líderes querem você, querem que você os visite em suas vilas, que veja seu povo e lhes garanta que a aliança continua. — a vovó fala chamando minha atenção.

Agora entendo o que significa, e isso está fora de cogitação; fecho a cara e fico irritado novamente.

— Não, nem pensar, eu não vou sair da vila em mais uma jornada sem fim pelo mundo! — digo decidido — Não vou deixar Hinata sozinha!

— Mas Naruto... — a vovó começa.

— Mas nada Tsunade, não vou sair da vila de jeito nenhum, podem ficar com o posto de Jounin, prefiro ser Genin a vida toda! — falo e já me viro para sair dali.

— Querido. — aquela voz doce e calma me faz parar no lugar — Sei que você não gostou muito da ideia, mas devia aceitar!

— Não Hina, não vou sair do seu lado nunca mais. — digo pondo as mãos em seu rosto delicado.

— Nos deem licença só um minuto. — ela pede e me puxa para fora da sala, quando para, seus olhos já estão marejados e me encaram profundamente — Meu amor, eu sei o que isso significa, sei que ficaremos afastados novamente, mas nada no mundo pode apagar o amor que tenho por você, então não importa quanto tempo dure essa missão, quando voltar, estarei te esperando aqui! Naruto, sei que é difícil agora, mas você deve pensar que se não aceitar, e não for a essa missão para assegurar a paz, tudo será em vão, tudo que lutamos para conquistar, tudo que nos custou, nosso pequeno Katsu terá morrido em vão!

Ela coloca as mãos no ventre vazio e isso me quebra mais uma vez, olho seu rosto sentido e triste, e me vejo de mãos atadas; sei que Hinata têm razão e seu apelo, suas palavras doem na alma, mas minha cabeça trabalha para achar uma solução mesmo assim.

— Hina, meu amor, da última vez que te deixei... eu não consigo, não posso mais... — falo entre os soluços.

— Vai ficar tudo bem querido, por favor, não deixe nossa vida pessoal afetar seu julgamento. — ela fala enquanto lágrimas descem por sua face branquinha — Pense no futuro que podemos construir se você aceitar essa missão.

— Tudo bem, eu aceito. — respondo vencido — Mas antes de ir, nós nos casamos!

— Naruto, não podemos...— ela rebate e eu me desespero.

— Você não quer mais se casar comigo? Por Kami Hinata, não faça isso comigo, não me abandona...— me ajoelho aos seus pés e choro como um menino.

— Não, não Naruto, não faz assim, não é nada disso. — ela me puxa e me beija rapidamente para me calar — Não querido, eu quero muito me casar com você, só não podemos ainda. Nós ainda estamos tão machucados, e teria que ser feito tudo correndo de ultima hora, não acha que nos arrependeríamos depois? Um casamento deve ter alegria, felicidade de sobra, e por mais que nos amemos, não estamos plenamente felizes agora; ainda nos recuperamos e curamos nossas feridas. Não quero nos condenar a falhar Naruto, e agora eu vou estar muito ocupada treinando para assumir a liderança do clã, você vai ficar algum tempo fora, você acha mesmo que daria certo? E talvez esse tempo faça bem para nós, assim quando você voltar da missão, estaremos curados e prontos para seguir nossa vida casados.

Tenho que concordar com ela de novo, logo estaríamos cobrando a ausência um do outro, nos acusando e sofrendo pela distância.

— Tudo bem. — digo cansado e sem forças para argumentar — Mas você fica no meu apartamento, e nem adianta reclamar, não quero dar mais motivo para essa gente falar de você pequena, e voltar para a casa do seu pai só daria mais assunto para eles; já fui muito irresponsável uma vez, não vou ser de novo!

— Se isso te deixa mais tranquilo, tudo bem. — Hinata concorda e afaga meu rosto — Agora vamos falar com o Rokudaime.

Quando entramos na sala novamente, vovó Tsunade dá um sorrisinho debochado, ela sabe que Hinata conseguiu me dobrar, bufo exasperado e tento me conformar com minha situação.

— Então Naruto? Aceita a missão? — Kakashi pergunta.

—Eu aceito sensei, mas só quero partir daqui uma semana, preciso me organizar e deixar tudo certo para Hinata. — digo cruzando os braços, concordando a contra gosto.

— Certo, sua equipe será composta por Sai, Yamato e Shikamaru. — Kakashi fala e passa a anotar as informações em um pergaminho — Agora sobre os pagamentos da missão, preciso que destaque um sapo mensageiro para que sejam feitos e entregues a você.

— Não será necessário, todos os pagamentos devem ser feitos para Hinata. — digo e ela me encara de olhos arregalados.

— Não! Você vai se manter como durante a missão? Nada feito Naruto! — ela cruza os braços e me encara com a conhecida teimosia Hyuuga estampada na cara.

— Hinata, Hinata! O que eu faço com você mulher?! — falo puxando os cabelos, escuto todos rindo, para eles deve ser engraçado mesmo assistir a frustração alheia — Eu fico com dez por cento, está bom assim? Não adianta contestar, as rações são baratas e não preciso de muito dinheiro para isso, e pelo que entendi, vamos falar com lideres de várias vilas, eles certamente vão nos estender sua hospitalidade.

Ela concorda ainda com um enorme bico de reprovação nos lábios, eu ergo as mãos aos céus em agradecimento, o que causa mais risadas nos demais. Depois de acertar mais detalhes da missão, e de Hinata conversar com a vovó e explicar sua ideia e acabar obtendo a sua ajuda e de Sakura, nós nos despedimos de todos e vamos a passos lentos rumo ao clã Hyuuga.

— Você acha que foi uma boa ideia, pequena? — pergunto um pouco nervoso.

— Foi sim querido, pode não parecer agora, mas você vai ver que foi a decisão mais acertada. — ela responde e sinto suas pequenas mãos acariciando as minhas.

— Você vai me esperar voltar? — pergunto já sentindo o peso da saudade.

— Claro que sim! Eu te amei desde muito cedo Naruto, sempre vou amar e não há nada que mude isso, meu coração será sempre seu! — ela afirma emocionada e eu a trago para mais perto de mim.

— Eu te amo tanto Hinata, sempre vou amar. — digo alisando seus cabelos e olhando profundamente em seus lindos olhos de lua — Não importa quanto tempo passe, quão longe eu vá, eu sempre voltarei para você! Te amo mais que a própria vida e vai ser assim até meu último suspiro!

 


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