O Despertar dos Sentimentos escrita por Luana de Mello


Capítulo 36
Cicatrizes


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, espero que gostem!



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Pov. Hinata

Dói, sinto dor, arde, rasga; não sei o que está acontecendo, meu corpo está pesado, não posso mexer minhas pernas, sinto minha barriga latejar e arder. Não consigo abrir os olhos, tento, mas a escuridão não deixa; ouço vozes, elas sussurram e choram baixinho, quero consolá-las e dizer que está tudo bem, mas minha boca não se mexe, não tenho mais voz. Estou com medo, por que não posso falar? Por que toda essa dor? De repente algo quente toca minha mão, eu conheço essa sensação, conheço esse toque, mas de onde? Mais uma onde de dor e ardência me ataca, ouço um barulho estranho, incômodo, depois as vozes falam mais alto, mas ainda não ouço direito, escuto mais alguns ruídos e logo me sinto flutuando, parece que estou boiando em uma água morninha; a dor some, eu flutuo para a escuridão esquecendo de tudo, gosto daqui, é quente e não tem dor, é calmo, quero ficar aqui para sempre.

Não sei quanto tempo se passa, mas volto a sentir dor, mas não é isso que me chama de volta, volto porquê mais uma vez escuto um choro baixinho, sofrido e angustiante; está fazendo meu coração e alma doer. Não quero mais que chore, mas não entendo por que está assim, queria fazer alguma coisa, queria poder ajudar; por isso tento ficar acordada e me manter longe da escuridão, por mais que doa ficar aqui, não posso deixar essa pessoa chorando assim, meu coração dói só de ouvir. Tento me mexer um pouco, mas só isso faz minha barriga arder muito, queria saber o que aconteceu comigo; respirar também machuca, tudo machuca. Sinto minha boca seca, queria um pouco d'água, mas se não conseguir falar, ninguém vai me dar; onde será que estou? Volto a ouvir aquele barulho chato e repetitivo, agora tenho certeza que é uma máquina, ouço passos a toda a volta, pessoas falando baixo e ditando ordens; e aquele choro baixinho e sentido, logo o calor em minha mão volta, e agora sei que ela está sendo segurada, sinto lábios tocando minha testa e lágrimas molhando meu cabelo, meu coração aperta e acelera, ouço a máquina aumentar o barulho também.

— Por favor Hinata, volta para mim amor, eu não vou suportar perder você também. — uma voz sofrida e rouca fala baixinho perto do meu ouvido.

Meu coração acelera mais, eu conheço essa voz, é a voz do meu Naruto; mas ele parece tão cansado, tão triste, agora quero acordar logo e cuidar do meu amado, tirar essa tristeza dele. Sinto suas mãos acariciando meus cabelos e suspiro, e isso faz minha barriga doer muito, e então eu lembro; lembro dos conselheiros armando contra mim, lembro da guerra, do Juubi, de Kurama me protegendo, da forma sombria e da estaca cravada em meu ventre. Me desespero, quero acordar logo para que me digam que isso foi só um pesadelo, que está tudo bem; me esforço para sair da escuridão, forço minha mente e meu corpo a me obedecerem, e logo consigo mexer meus dedos, minhas pernas, agora forço meus olhos a se abrirem, a afastarem esse peso que os mantém fechados. Quando os obro, a primeira coisa que vejo é branco, um branco que cega e arde, levanto minha mão e cubro os olhos; consigo então olhar ao redor e agora tenho certeza que estou em um quarto de hospital, isso não é bom, meu coração se aperta mais um pouco. Busco o dono da voz, vejo uma janela por onde entra a luz do sol, uma mesinha com um enorme vaso de girassóis, e uma poltrona bem pertinho da cama, onde Naruto está sentado, ocupado em trançar algumas mechas dos meus cabelos. Vejo suas lágrimas caindo em seu colo, seus dedos que se mexem sem parar estão muito feridos, dois ou três sem as unhas, a boca está cortada, os braços também, ele também veste uma bata branca do hospital, e só agora percebo que no seu braço há um tubo conectado, manchado de vermelho pelo sangue que conduz, sigo o tubo e encontro sua outra ponta conectada ao meu braço, mais a direita têm uma outra máquina barulhenta balançando uma bolsa de sangue; essa deve estar processando o plasma. Aflita e com um nó cada vez maior em meu peito, eu tento me mexer, mas isso é insuportável, então tento falar, mas minha voz não quer sair, tento fazer saliva e quando consigo, tento mais uma vez.

— Na... ham... Naruto. — por fim consigo chamar num fiapo de voz.

Duas safiras escurecidas e brilhantes de lágrimas se erguem e me fitam, tão cansadas e tristes que me fazem perder o ar, grossas marcas roxas circundam seus olhos, denunciando o quanto está cansado; ele está pálido e com o rosto todo machucado também, não muito, mas é um sinal claro do que aconteceu conosco. Não preciso perguntar nada, a dor estampada em seu rosto conta tudo, não precisamos de palavras, sabemos, sentimos. Automaticamente minhas mãos se direcionam para meu ventre, encontrando várias ataduras e gazes, e nada da minha pequena borboleta; sinto uma bola sufocante subir pela garganta, engasgando e roubando o ar, vai aumentando e tomando espaço, até sair para fora, na forma de um choro convulsivo e intenso. Sinto os braços de Naruto me envolvendo e ouço seu choro igual ao meu, a dor é terrível e se instala na alma, o coração sangra e implora por um fim; a consciência e certeza do que aconteceu é a pior parte, o vazio é um abismo sem fim, nada que façamos poderá preenche-lo, esse vazio perdurará para sempre, essa parte de mim pertence a minha pequena sementinha de amor, que tão injustamente me foi arrancada. Os braços que me envolvem tentam consolar, ao mesmo tempo que buscam consolo, juntos assim, buscamos confortar um ao outro, aos poucos os soluços, gritos e palavras desconexas se transformam em lamentos e logo em suspiros cansados e secos; não sei dizer quanto tempo ficamos assim, até que um de nós tenha coragem de falar alguma coisa, e como sempre, quem toma a frente é Naruto, ele sempre foi assim, sempre foi a luz que me guiava para fora da escuridão, agora não seria diferente.

— Me perdoa Hina, me perdoa amor! — ele implora angustiado, a voz quebrada, igual seu coração — Se eu tivesse chegado antes, se tivesse quebrado aquela barreira...

Não o deixo terminar, silencio seus lábios com o dedo indicador, não quero que se culpe ou se responsabilize por essa tragédia que nos aconteceu, não isso não é sua culpa, ele sempre protegeu a mim e nosso filho.

— Não é sua culpa, não fala assim Naruto. — digo com a voz rouca, quase não entendo o que digo — Por favor não se culpe, você sempre cuidou de nós, não tínhamos como prever o que aquela sombra faria. Só fica aqui comigo e me abraça, me promete que isso passa um dia.

— Ah Hina, eu queria tanto tirar essa dor de você, eu queria tanto não sentir essa dor, se eu pudesse voltar no tempo. — Naruto fala pondo as mãos no meu rosto — Eu me sinto tão vazio cada vez que penso que nosso moleque não está mais ai dentro, eu o amo tanto Hina e nunca mais vou poder falar isso a ele.

Sem conseguir dizer mais nada, o abraço e volto a chorar, eu me sinto tão quebrada, tão destruída por dentro, é como se tivessem arrancado um pedaço de mim. Mais algumas pontadas atingem meu ventre e eu me encolho na cama, gemendo baixinho, Naruto se separa de mim rápido e fica muito nervoso, seus olhos me fitam aflitos.

— Está doendo muito Hina? Está sentindo mais alguma coisa? — ele pede preocupa.

— Não, só está doendo um pouco. — respondo tentado me recompor.

— Não mente para mim Hina, eu vou chamar a vovó Tsunade para te examinar. — ele fala já apertando um botão na cabeceira da cama.

— Não precisa Naruto. — tento dizer, mas outra pontada me faz arfar.

Logo a porta se abre rapidamente, e vejo Tsunade-sama entrando correndo, seguida de perto de Sakura; as duas me olham surpresas, mas logo assumem uma postura séria e começam a analisar os equipamentos ligados ao meu corpo.

— Eu disse que ela não deveria se mexer Naruto, Hinata está no pós operatório, precisa descansar. — Tsunade ralha com Naruto.

— Não é culpa dele. — digo chorando, não quero que ninguém o maltrate, já estamos feridos o suficiente — Eu estava sentindo dor quando acordei.

Vejo Tsunade se acalmar e ministrar algum medicamento direto na veia, logo a dor vai passando; a todo momento Naruto segura minha mão, seus olhos não desgrudam de mim e ele não se afasta nem por um segundo. Depois que a dor passa, Tsunade passa a me explicar o que aconteceu, eu passei os últimos quatro dias sendo sedada; passei por duas cirurgias, a primeira para restaurar o meu útero e uma das trompas que foi atingida e retirar qualquer vestígio da estaca que me atingiu, a segunda para parar uma hemorragia interna e retirar o apêndice que se rompeu um dia depois da primeira operação. Tsunade disse que perdi muito sangue, que durante os primeiros socorros no campo de batalha, foi Kakashi-sensei quem me doou sangue, e que depois da primeira operação, Naruto, já que não quer sair de perto de mim; ela explicou que agora tenho que ficar de repouso para me recuperar sem por cento, e que devo evitar me mexer muito, para que os pontos não se abram, Naruto também disse que Kurama queria me doar seu Chakra, mas como Tsunade não sabia como isso me afetaria, preferiram usar métodos tradicionais e só recorreriam a Bijuu em último caso. Passei as últimas três horas fazendo vários exames, Naruto teve o tubo removido do seu corpo e foi sedado uma hora depois que eu acordei; ele não deixava ninguém além de Sakura e Tsunade chegar perto de mim, e ficou furioso com a Hokage, por ela não permitir que ele fosse junto em um dos exames. Agradeci mentalmente por ela não permitir, já era doloroso demais ter que responder as perguntas do Dr. Sakumo, constrangedor passar por aquele exame, seria mil vezes pior se Naruto estivesse comigo. Quando retornamos ao quarto, o encontramos dormindo na nova cama que Tsunade providenciou, Sakura espera pacientemente para me ajudar a deitar na cama.

— Você poderia me ajudar Sakura-chan? — pergunto baixinho — Eu queria tomar um banho.

— Claro que sim Hinata, vamos, eu te ajudo. — ela responde me estendendo o braço para me apoiar.

Com sua ajuda levanto da cadeira, e a passos lentos rumo ao banheiro, sentindo todas as partes do meu corpo protestando, cada passo é uma repuxada nos pontos, uma ferroada em meu ventre. Quando estamos lá dentro, Sakura liga a torneira para encher a banheira com água quente, fico parada me escorando na parede e vou me despindo da camisola do hospital, retiro também as ataduras ao redor dos meus pontos; olho para meu ventre, agora para sempre marcado, um sinal do quanto perdi aquele dia, sigo a linha com o dedo até o final, agora é só isso que resta da morada do meu bebê, uma cicatriz igual a que tenho em meu coração. As lágrimas descem livres por meu rosto, suprimo os soluços, não quero que Naruto acorde com meu choro; me viro para Sakura e a encontro com a face também banhada em lágrimas.

— Hina, eu não sei o que dizer, o que fazer para amenizar a dor de vocês, nem acho que algo possa fazer isso, mas quero que saiba que eu vou estar aqui para o que precisarem. — ela fala tentando controlar o choro.

— Eu sei Sakura-chan, eu sei. Esse é só o primeiro dia de muitos mais que serão difíceis e nada no mundo vai fazer esse vazio ser preenchido, mas é bom saber que temos o apoio dos amigos. — respondo mais calma do que imaginei.

— Todos nós Hina, todos nós estamos a disposição de vocês. — ela fala me estendendo as mãos.

Com seu apoio, entro na banheira, as minhas feridas ardem e latejam ao entrar em contato com a água e o sabonete, mas isso não é nada comparado a dor na minha alma. Deixo meus olhos chorarem tudo que preciso, sinto as mãos de Sakura lavando meus cabelos e ela cantarola baixinho em meio ao próprio choro, tomo coragem para perguntar o que mais me aflige desde que acordei, e sei que Sakura pode responder.

— Você o viu? — pergunto engasgando com a bola que se forma em minha garganta.

— Sim. — ela diz incerta.

— E como ele era? Já dava para ver se era menino ou menina? — pergunto soluçando.

— Hina eu não sei...

— Por favor Sakura-chan, eu preciso saber como era meu filho. — soluço um pouco mais alto.

— Era pequeno, menor que um dedo indicador, grande para o tempo de gestação, mas era perfeitinho. — Sakura responde com a voz embargada — Seu coração, seus pulmões, tudo estava perfeito e com certeza já tinha seu sexo definido, era um garoto.

Quando escuto isso, eu choro mais, meu menino, meu lindo menininho, com certeza teria os mesmos olhos azuis do pai.

— Ele ficou lá? — pergunto sentindo um grande medo da resposta.

— Não, Naruto o trouxe com você, ele fez Tsunade-sama o manter em uma câmara fria até que você esteja em condições. — Sakura responde e a olho intrigada — Ele organizou um enterro, já providenciou tudo junto com seu pai.

Levo as duas mãos a boca surpresa, sentindo um amargo e doce ao mesmo tempo, vou poder me despedir apropriadamente do meu bebê, e ele não foi esquecido na terra fria do campo de batalha, mas já posso prever o quão terrível será ter que fazer isso.

— Naruto o batizou sabia? — Sakura conta e me ajuda a enxaguar o corpo e me enrola em uma toalha.

— Você sabe qual o nome? — questiono.

— Sei, mas vou deixar que ele te conte. — ela responde e me leva para o quarto.

Quando voltamos, Naruto já está acordado e caminha de um lado para o outro, com as duas mãos na cabeça; quando seus olhos me encontram, ele para de andar, vê meus cabelos molhados e compreende onde estive, também nota meus olhos inchados e o nariz vermelho e sem esperar por pedido, ele vem até mim e me abraça.

— Você ajuda ela a se vestir Naruto? — Sakura pergunta e ele concorda — Vou buscar mais ataduras e gazes.

Naruto me pega no colo com cuidado e me poem na cama, ele busca algo em uma mochila grande que até então eu não tinha notado, quando volta para mim, ele trás nas mãos um dos meus pijamas e minha escova de cabelos; com delicadeza, me seca e veste, em seguida penteia sem pressa meus cabelos. Sakura volta e refaz meus curativos, ela sai dizendo que vai avisar minha família que acordei, aproveito para perguntar mais umas coisas que estou em dúvidas.

— Naruto, o que ouve com suas mãos? Por que está tão machucado assim? — questiono por que sei que ele nunca fica machucado por muito tempo.

— Eu dei um jeito em algumas pessoas. — ele responde com certa raiva — E proibi Kurama de me curar.

— Que pessoas? E por que fez isso Naruto? — pergunto ficando aflita.

— Você só precisa saber que não existem mais conselheiros Hyuugas, e não há mais ramificações no clã. — ele responde e me faz deitar na cama.

Olho surpresa para ele, há algo diferente em seus olhos, ele não vai me contar o que houve, mas eu tenho outro aliado agora.

— Kurama, preciso falar com você. — chamo e vejo Naruto arregalar os olhos.

Nem adianta ele negar, sei que Kurama pode sair quando quiser, e pode muito bem me ouvir agora; antes que ele possa protestar, seus olhos ficam vermelhos e sei que ele já está em seu inconsciente.

— Hyuuga. — a raposa fala e vejo sua expressão triste no rosto de Naruto.

— Você pode me dizer o que houve com Naruto? — peço e ele suspira.

— Ele quase matou os conselheiros Hyuugas. — Kurama conta de pronto — Assim que você entrou na sala de operações ele foi ao clã sem dizer nada a ninguém, entrou lá transtornado, ninguém conseguia detê-lo, nem o moleque Kakashi, nem a Godaime, nem aquele Uchiha metido, ninguém conseguiu pará-lo e um a um ele os pegou, bateu, quebrou seus membros e quase os matou, se não fosse a garota testuda chegar dizendo que você precisava de sangue, ele teria terminado. Agora estão todos internados no hospital, pelo que entendi, seu pai os destituiu do posto de conselheiros e os baniu do clã, eles serão selados assim que derem alta do hospital.

— E por que ele não te deixa curá-lo? — peço muito surpresa com tudo isso e sinto até uma certa satisfação.

— Por quê ele disse que um lixo, que nem protege o filho, merece viver com todo tipo de dor. — ele responde triste, a voz grave saindo baixa.

— Kami-sama! — exclamo contendo mais uma onda de choro — Kurama, por favor cure-o, faça isso, eu estou te implorando. Deixe que depois eu me entenda com ele, eu digo que lhe ordenei, qualquer coisa, mas cure-o.

— Estava contando com você para passar a perna nesse cabeça oca, Hyuuga. — Kurama responde dando um singelo sorriso — Eu queria ter tido mais força, talvez se tivesse, eu teria quebrado a barreira e chegado até você.

— Eu sei que tentou Kurama, eu vi. — falo baixo.

— Ele sentiu, e eu nunca senti tanta dor como naquela hora, todos nós Bijuus sentimos. — ele conta enquanto o Chakra vermelho envolve Naruto — Foi terrível, agonizante. Quero que saiba que eu me importava com o garoto.

A raposa fala e seus olhos vermelhos marejam, e consigo ver através deles, consigo ver o inconsciente de Naruto, onde ele habita, a enorme raposa de nove caudas, sentada e lágrimas gigantes escorrendo por sua face. Não sei como isso é possível, e nem tento entender, nem tenho tempo, um calor aconchegante me envolve e quando noto, o Chakra vermelho já me cobriu inteira.

— A Godaime é uma grande médica, mas sua mente humana ainda é limitada. — ele fala.

No minuto seguinte, meu ventre para de latejar e não sinto mais as fisgadas em meu interior.

— Obrigada Kurama. — agradeço e faço uma pequena reverência.

— Disponha Hyuuga. — ele rebate e logo vai embora.

Vejo os olhos de Naruto voltando ao azul, ele me encara sério, mas não diz nada, permanece calado; sei que ele ouviu toda minha conversa com a raposa, só pelo modo como batuca os dedos no braço. Decido mudar sua atenção, preciso que ele pare de pensar besteiras de si mesmo.

— Qual foi o nome? — pergunto baixinho.

— O que? — ele fala distraído.

— Que nome deu ao nosso filho? — volto a perguntar com calma.

Sua expressão se suaviza, ele volta a estampar sua tristeza e suspira cansado.

— Katsu. Ele se chama Katsu. — Naruto responde e sua voz falha.

— Refúgio de vitória. — penso e digo baixo.

Naruto me abraça e assim ficamos até minha família chegar; quando eles entram no quarto, suas expressões me quebram mais um pouco. Meu pai parece bem mais velho e cansado, meus irmãos estão abalados e parecem estar definhando em tristeza. Eles passam os próximos trinta minutos me abraçando e confortando e sendo confortados por mim, tento parecer o mais forte possível e isso me mantém sã, por algum tempo consigo não pensar na minha dor, me concentro na dor da minha família, isso é um escape para minha mente e meu coração. Depois de muito conversar com Tsunade e lhe garantir que estava bem e prometer que não faria esforço, e ela fazer mais alguns exames para confirmar; finalmente saio do hospital, Naruto me carrega o tempo todo, só parando em uma ala desconhecida por mim, ele sai de lá com uma caixa de metal em mãos e meu coração se aperta. Minha família nos acompanha em silêncio, e eu não faço questão de quebra-lo, sinto que vou ruir se ousar dizer qualquer coisa; assim me deixo ser levada pelas ruas de Konoha sem saber para onde vamos, paramos algumas vezes quando pessoas nos abordam, mas Naruto não deixa ninguém chegar perto de mim, recebo vários olhares de pena, mas me parecem tão vazios e desprovidos de emoção, tenho certeza que ninguém que me olha assim, sabe realmente o que essa dor. Chegamos ao destino, e reconheço de imediato a nossa casa, não entendo o que fazemos aqui; Naruto passa direto pela entrada e se direciona para o jardim de trás, onde encontramos os nossos amigos aguardando, eles me encaram pesarosos e um a um vem até mim me abraçar.

— Trouxe o que pedi Ino? — ouço Naruto perguntar.

— Sim, a mais linda que tinha. — ela responde chorosa.

No minuto seguinte, ele me deixa aos cuidados de meu pai e Neji, e se poem a cavar um buraco no chão; Naruto trabalha sem parar, até achar que está bom, então ele vem até mim, me pega pelas mãos e me leva até o buraco, faz um sinal para os demais se aproximarem e me olha.

— Eu não queria que ele ficasse sozinho, não queria que ficasse junto de estranhos. — ele fala para mim — Então pensei que o melhor lugar era aqui, onde ele ficaria sempre perto de nós. Pedi a Ino que me trouxesse o mais belo jasmim que ela tivesse, assim ele sempre terá o perfume da mãe junto de si.

Concordo sem poder falar nada, minha visão está embaçada e sinto meu corpo convulsionar pelos soluços. Naruto pega a pequena caixinha de metal a embrulha em uma manta com o símbolo do seu clã, e um pequeno sapo de pelúcia e a deposita com cuidado no fundo do buraco, que agora sei que será o túmulo do meu bebê. Ele segura minhas mãos e suspira, tentando se manter forte.

— Te amo tanto moleque, Kami sabe o quanto eu queria te ver crescer, e é tão injusto que eu e sua mãe não possamos ter você aqui, mas você não estará sozinho; o vovô e a vovó cuidaram bem de você por nós, e um dia eu e sua mãe vamos te encontrar, é uma promessa meu filho, e eu nunca quebro uma promessa. Não dê ouvidos as conversas do Ero-Sennin, não são assuntos para você, seja um bom menino e obedeça seus avós e nunca esqueça que amo você meu filho! — Naruto fala pausadamente, intercalando as palavras com os soluços.

Quando me preparo para falar, um vento sopra, fazendo as árvores balançar, sinto algo reconfortante no meu coração. Me ajoelho no chão e olho para a pequena caixinha.

— Filho, eu te amei desde o primeiro momento que soube que você existia, planejei tantas coisas para quando você viesse ao mundo, queria tanto sentir seu cheirinho, ninar você até que dormisse; mas nesse momento o que eu mais queria agora Katsu, é sentir você mexendo dentro de mim. O mundo não é justo meu amor, e agora para a mamãe e o papai só vai restar saudade do nosso bebêzinho, mas eu sempre vou amar você meu lindo menininho serelepe e quando chegar a hora, nós seremos uma família e a mamãe finalmente vai poder ninar você e te aconchegar em meus braços. — me despeço do meu filho chorando profusamente.

Naruto se poem a tampar o túmulo assim que planta a muda de jasmim, em meio as lágrimas, depois que meu pai, Neji e Hanabi também se despedem; nossos amigos fazem menção de o ajudar, mas ele nega e faz tudo sozinho. Quando termina, ele pega uma pequena plaquinha de mármore e a posiciona abaixo da muda. Um a um, nossos amigos deixam pequenos ramalhetes de jasmim no lugar, eu faço o mesmo, quando me abaixo consigo ler a inscrição na placa: "Uzumaki Katsu - 10/10/2017.". Mas apesar da dor que carrego em meu peito, me sinto estranhamente calma, o pessoal vai indo embora e só restam nós aqui, minha família, Naruto e eu; aquele vento volta a soprar e trás até mim o perfume das flores, levanto os olhos e vejo o motivo da minha calma, sei que meu filho está bem, agora tenho certeza disso. Ao longe, quase não sendo possível ver, avisto três figuras, o primeiro reconheço de imediato, o sorriso fácil, os cabelos rebeldes e olhos muitos azuis iguais aos do filho; o segundo também, os longos cabelos brancos, as marcas abaixo dos olhos negros e um livro em uma das mãos; já a terceira é uma linda mulher de cabelos longos e muito vermelhos, olhos expressivos e carinhosos e sorriso gentil, ela segura com delicadeza um pequeno embrulho que se remexe em seus braços, consigo ver apenas uma pequena cabeleira negra escapando para fora da manta, mas é o suficiente. Os três sorriem para mim, sorrisos tristes e compreensivos, coloco as mãos no coração para acalmar meus batimentos, vejo Jiraya brincando com o bebê e lhe fazendo caretas, Minato acaricia seus cabelinhos negros e Kushina beija com todo amor o seu pequeno rostinho.

— Amo você meu filho! — sussurro para o vento os vendo sumir, na esperança que meu bebê escute.


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