O Despertar dos Sentimentos escrita por Luana de Mello


Capítulo 24
Treinamento




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/770006/chapter/24

Nunca me senti tão culpado quanto hoje, quando me despedi de Hinata para voltar para meu treinamento. Ela estava tão frágil quando nos despedimos, mas tentava a todo custo se manter forte, disse que ficaria tudo bem, para eu não me preocupar. Mas quando entrei na boca do sapo, antes dela se fechar pude vislumbrar seu rosto sendo tomado por lágrimas, e nessa hora eu me senti um lixo por ter que deixa-la justo quando ela mais precisa de mim, me senti tão impotente, é como se eu falhasse com ela. Agora estou aqui, ouvindo um sermão do capitão Yamato de como fui imprudente, como agi por impulso e não pensei nas consequências; sei que ele tem razão, um Shinobi nunca deve agir por impulso, mas ele precisa se por no meu lugar também, as coisas nunca foram fáceis para mim e quando acontece algo bom, eu não posso estar perto para acompanhar. Depois que todos se dão por satisfeitos e deixam de me puxar as orelhas, o navio volta a se movimentar em direção a ilha, o capitão Yamato diz que ficaram parados a noite toda, esperando que eu voltasse, e hoje de manhã trocaram de embarcação quando o pessoal da vila da Nuvem veio nos buscar no próprio navio. De repente o navio começa a balançar e uma criatura enorme emerge da água. Um animal meio rosado e cheio de tentáculos, com uma cara bem malvada também, então me lembro da profecia do sapão velhote.

— Esse é o polvo que vai me ajudar? - pergunto tentando entender como esse bicho vai me ensinar alguma coisa.

— Isso é uma lula Naruto. - Aoba corrige.

Então a lula começa a atacar o navio, Gai-sensei cai na água, e do nada outro animal enorme aparece e expulsa a lula como se espanta um cachorrinho. Eu pensando que a tal lula era um animal grande, mas este é realmente enorme, musculoso e agil, nunca pensei que algo tão grande seria tão rápido.

— Esse definitivamente é um polvo! - digo abismado.

— Esse é o Killer Bee, irmão mais novo do Raikage. - o Shinobi da Nuvem fala.

Então esse é o Jinchuuriki da Bijuu de oito caudas. Esse cara é muito forte, e certamente é o polvo que o sapão velhote viu, então é ele que vai me ajudar a dominar o poder da Kyuubi; dizem que ele foi o único capaz de dominar a Bijju de oito caudas, um enorme feito, considerando o temperamento agressivo das Bijuus, ou será que só a Kyuubi é assim?  A ilha é realmente um lugar bacana, cheio de lugares para explorar, dá para perceber isso assim que desembarcamos, mas não é uma colônia de férias como o sapão velho fez parecer; e nem que fosse eu passaria mais que o tempo necessário aqui, tenho muita pressa de ir embora, então decido procurar o tio polvo e ver o que ele tem para me ensinar. Mas acontece que esse cara não é só bom como Jinchuuriki, ele é bom em sumir do mapa também, procuro em cada canto, cada pedra e arbusto, mas não encontro, decido ver no seu quarto, bato na porta e ele abre com a maior cara de sono. Eu tô ferrado, ele veio aqui para me ensinar ou para dormir? É um cara bem estranho, fica fazendo rimas e parece que esta sempre cantando. Ele quer que eu faça uma rima, mas não tenho tempo para isso, é estressante e irritante ficar ouvindo rimas, quanto mais fazer rimas. Kami Sama, estou parecendo com o Sasuke, sempre reclamando.

— Vamos seu tolo, idiota! - Killer Bee fala do seu jeito estranho.

— Não tenho tempo para isso seu bobão! - solto sem pensar.

Do nada ele se vira e bate a porta na minha cara, ele é muito doido, como vou aprender com ele, se não quer me ensinar? E não sei fazer rimas, quando muito eu escrevia alguma coisa que o Iruka Sensei pedia. Ai caramba, eu tô muito ferrado! Decido então procurar o cara da Nuvem, o tal Motoi, ele realmente é minha melhor chance aqui, já conhece a ilha, pode me dar umas dicas; peço que ele me mostre onde devo treinar. Assim rumamos para uma cachoeira, ele me diz que devo ficar no centro e olhar para ela, que ali eu encontraria meu verdadeiro eu, e assim o faço. Me concentro na cachoeira, fico assim não sei quanto tempo; é um exercício difícil, não gosto de treinos que me façam ficar parado. Então vejo alguém se aproximando, vindo de dentro dela, primeiro parece uma sombra, depois vai tomando forma. Me assusto quando me vejo saindo por entre as águas. É sem dúvida uma cópia de mim, mas eu não lembro de ter feito um clone das sombras. Me dou conta, enquanto nos analisamos, que esse deve ser o outro eu que o Motoi disse que eu encontraria. Mas parece uma versão muito malvada de mim, o sorriso no seu rosto escarnece enquanto seus olhos vermelhos zombam o oponente. Com certeza isso é uma peça da cachoeira, um truque para me fazer falhar, eu não seria assim de verdade.

— Por que está tão desesperado para voltar? Ninguém quer que você volte. - o outro eu fala com ódio.

— É mentira. - rebato.

— Não é, e você sabe que não. - ele ri sarcasticamente - Sempre foi assim e nunca vai mudar, você sempre será um rejeitado e as pessoas da Vila sempre vão te ver como a raposa demônio!

— As pessoas da vila não me veem mais assim. - balbucio.

— Viu, nem você tem certeza, eu sei, eu também lembro da dor de ser sozinho. - ele quase grita.

Mas esse é meu verdadeiro eu? Eu tenho tanto ódio assim? Mas eu não sou assim, tenho coisas boas também, não sou mais sozinho, tenho Hinata e logo teremos um bebê, terei uma família. O outro ri, ri como se fosse a piada mais engraçada do mundo.

— Eu sei tudo que você pensa, não adianta esconder o que sente de mim. Sabe a família dela nunca nos aceitará, e ela será muito infeliz e logo vai nos deixar; quanto a criança, ele nunca vai te amar e você já percebeu isso, essa criança terá vergonha de ter um monstro como pai! - ele grita.

Isso é demais para mim, não é possível que seja verdade, eu não sou assim, não posso ser! Não pode ser que depois de tudo, eu acabei igual ao Sasuke, com ódio das pessoas, com mágoa do que me fizeram. Não deveria ser assim , eu não deveria ter dúvidas. Minha cabeça dói de tanto pensar, enquanto outro ri do meu desespero; então faço a única coisa que sei fazer de melhor, eu ataco meu eu com tudo que tenho, mas golpe após golpe, ele se defende; é como um espelho, faz tudo que faço, tento os clones das sombrar, mas o outro faz também; decido fazer um Rasengan e ele faz também, os dois Jutsus colidem e explodem água para todo lado. É frustrante, como posso vencer se ele sabe tudo que vou fazer? Como posso ganhar de mim mesmo?

— Você não pode me vencer, eu sou você e nada vai mudar isso. - escarnece.

Não pode ser! Eu não quero ser mal, eu não quero ter ódio, quero acreditar que tudo vai ficar bem; que pelo menos uma vez na vida eu posso ser feliz. Estou cansado, cansado de me sentir fraco, de ter medo e me sentir sozinho, não quero aquele vazio que corrói a alma em mim novamente; queria ter só por um tempo, alguém que cuidasse de mim, que me olhasse com ternura. Nesse momento me dou conta de que preciso desesperadamente do amor da minha mãe, sinto mais falta dela hoje, do que em qualquer outro dia da minha vida. Extremamente frustrado, com uma tristeza tão grande se acumulando em meu peito, saio do centro da cachoeira e caminho a passos largos para a floresta.

— Estou perdendo tempo aqui! - grito - Tem uma guerra chegando e Hinata precisa de mim, e eu estou aqui fazendo coisas sem sentido.

— O que foi Naruto? - Yamato pergunta.

— Não tenho como vencer meu verdadeiro eu. - digo com raiva.

— Espera Naruto, onde vai? - Yamato pergunta, mas não respondo.

Me afasto dali furioso comigo mesmo, sem dar ouvidos para os chamados do capitão Yamato e de Motoi. Como vou dominar a Kyuubi se nem posso vencer a mim mesmo? Nunca vou conseguir passar desse estagio do treinamento, e justo agora que mais preciso ir adiante o mais rápido possível. É tão irritante, é sempre assim, tenho que correr e batalhar por tudo, nunca ganhei nada de graça; mas o que me deixa pior, é saber que não sou capaz e que talvez nunca serei. Como posso ser um bom marido ou pai de família assim? Meu verdadeiro eu têm razão, eu sou um monstro, Hinata ficaria melhor sem mim; mas só de pensar nisso eu fico em desespero. Eu não deveria ficar andando em círculos, me queixando de como a vida é injusta comigo, mas eu não estava preparado para essas questões, justo essas que mais temo. Droga, não é hora de ficar me lamentando! Preciso pensar em um modo de contornar essa situação.

Em minutos chego ao que seria a costa da ilha, sento ali e fico parado  buscando alternativas, mas logo me perco pensando nas coisas que o outro eu disse, e mesmo que sejam cruéis, poderiam ser verdade, mas só se eu estivesse com outra pessoa, não com Hinata. E agora vendo por outra perspectiva, as coisas não são cem por cento como o outro eu disse, Hina não é uma garota mimada que gosta de brincar com as pessoas; ela sempre foi muito fraca e sincera comigo, nunca me tratou mal como todos faziam, sempre tão gentil e amável com todos; mas comigo era diferente, existia desde sempre uma conexão entre nós dois, uma cumplicidade mesmo não estando na mesma equipe que ela. Não creio que a pequena e doce Hinata tenha se tornado fria e manipuladora, na verdade ela é cada vez mais gentil e doce quanto alguém poderia ser, ou melhor, quanto só ela poderia ser. Os anos que se passaram desde nossa infância, só deixaram nosso vínculo mais forte, acredito que mesmo que o mundo estivesse acabando, Hinata ainda estaria ao meu lado, como sempre esteve. E nosso bebê, eu terei tempo para aprender a ser o melhor pai, para saber tudo que preciso saber, não vou deixar ódio que as pessoas ainda sintam de mim, atrapalhe a vida dele; e principalmente, vou ter para viver com ele tudo que queria ter vivido com meu pai. Em segundos me imagino segurando um garotinho gorducho igualzinho a Hinata, me vejo fazendo cocegas em sua barriga e ouço sua gargalhada gostosa; imagino seus bracinhos curtos se estendendo para mim toda vez que eu chegar em casa; penso quais serão suas primeiras palavras. Meu filho não vai ter que aprender tudo sozinho, vai ter uma família para lhe apoiar, ele não vai estar sozinho. 

As vezes me pergunto como teria sido minha vida se meus pais estivessem vivos, nunca fiquei pensando muito nisso porquê sempre me deixava deprimido; mas desde que conheci meu pai, esses pensamentos vem e vão. Talvez eu não tivesse sido rejeitado por todos, eu teria uma casa alegre para voltar depois da academia, meu pai teria me treinado desde  pequeno e isso seria incrível, e eu teria uma mãe amorosa me esperando em casa. Será que um dia eu vou conhecer minha mãe? Como eu gostaria de conhece-la, como gostaria de contar a ela sobre a Hina, sobre tudo. Meu pai não me falou se eu iria conhece-la, mas de certa forma sei que ele me deu isso de presente, então estou ansioso por isso.

Não sei a quanto tempo estou aqui, mas me dou conta de que estou muito parado, me distrai com minhas próprias angustias e receios e nem pensei muito em como passar por aquela versão cheia de ódio minha. Tento me concentrar em achar uma solução, e quando me dou conta, descubro que tudo que que aquele eu disse, são meus maiores medos; sinto muito medo de perder Hinata depois de ter demorado tanto para descobrir que a amo, tenho medo de não ser um bom pai ou de que meu filho não me queira como pai, então tudo que aquele eu disse, de certa forma são verdades, não quer dizer que vai acontecer, mas eu sinto esses medos; mas também tenho tempo e a chance de evitar que essas coisas aconteçam. Fico mais uns instantes pensando no assunto, e escuto as vozes de Yamato e Motoi me chamando, as vozes começam ao longe mas vão se aproximando, até que vislumbro os dois mais ao longe andando pela encosta rochosa da ilha. Levanto e vou em direção deles, acabo me sentindo envergonhado por minha atitude infantil e não consigo encara-los direito, eu não deveria ter agido daquela forma, como se fosse uma criança mimada que não teve o que queria.

— Desculpem. - peço constrangido.

— Tudo bem Naruto, é normal se sentir frustrado, você está passando por muitas emoções seguidas. - Yamato responde.

Fico um pouco aliviado por ele ter compreendido, e juntos nos três vamos voltando para o centro da ilha pela costa. É então que a  lula gigante volta a atacar, é como se ela estivesse ali o tempo todo só esperando por uma chance, como um assassino a espreita; nos ataca com seus enormes tentáculos tentando nos esmagar, nós nos desviamos e nos protegemos, fomos pegos tão de surpresa que nem conseguimos contra atacar direito. E quando nos reunimos para ataca-la juntos, um dos tentáculos agarra Motoi e o leva para cima, enquanto os outros nos mantem afastados. Minha reação é instantânea, faço um Rasengan e corro para um dos tentáculos, quando o acerto o animal urra de dor, e enfim a lula se volta para mim; faço mais um Rasengan, e quando estou prestes a desferir o golpe no tentáculo que segura Motoi, Killer Bee aparece em sua forma de polvo e ataca a lula com um super soco. Eu nunca tinha visto nada assim, ele realmente domina essa forma, é muito habilidoso e forte. A lula finalmente solta Motoi e volta para o fundo do mar derrotada, foi algo muito impressionante de se ver. Eu e Yamato ficamos um pouco mais atrás, observando a conversa entre Motoi e Killer Bee, percebo que mesmo depois de tudo que aconteceu, o tio polvo não guardou ressentimento de ninguém, nem mesmo de Motoi que tentou matá-lo. Pensando nisso, me volto para a minha situação, eu não deveria ter medo de algo que nem aconteceu, hoje mesmo eu estive com a Hina e ela não me parecia infeliz comigo, nosso bebê vai entender o que sou quando tiver idade para isso, e eu posso aprender e melhorar por eles. Me dou conta de que, a única pessoa que pode me atrapalhar, sou mesmo. Decidido a vencer minha versão sombria e maldosa, me volto para o caminho da cachoeira, só que antes que eu dê dois passos, Killer Bee para a minha frente e me estende o punho fechado; fico pensando o que ele quer agora, isso não parece a forma de iniciar outra rima.

— Toca aqui garoto, Yeh! - ele diz entusiasmado.

Sem entender muito o que significa, fecho a mão em punho e toco a dele, é um gesto legal e por incrível que pareça, me acalmou um pouco, trouxe segurança.

— Agora vamos passar aquela cachoeira, seu tolo idiota! - e ele sai rimando novamente.

Todos juntos voltamos a cachoeira, eu me posiciono no centro como antes, e como já sei o que fazer, é muito mais fácil me concentrar; me prendo apenas no barulho da água, esqueço o que acontece atrás de mim, e num instante já posso ver o outro eu se aproximando, o sorriso debochado no rosto, a expressão feroz de quem encurralou a presa.

— Resolveu voltar por quê? - pergunta enquanto me avalia.

— Porque precisamos resolver isso agora. - respondo com calma.

— É claro, basta você admitir que eu sou seu verdadeiro eu e que estou certo. - fala calmamente.

— Sim você tem razão, eu tive medo, odiei as pessoas, por vezes queria fazer mal a quem me feria. - seu sorriso só aumentava enquanto eu falava - Mas eu descobri que não precisa ser assim, não estou mais sozinho, fiz amigos, tenho família; e para essas poucas pessoas importantes, eu não sou uma raposa demônio!

— Eles podem te trair, podem te abandonar! - ele grita - Eu te mantive vivo enquanto todos te rejeitavam, o meu ódio te trouxe até aqui!

— Eu te agradeço por isso, mas agora não precisamos mais ter medo, não precisamos mais odiar, e mesmo que o resto do mundo nos odeie, essas pessoas importantes nunca vão nos odiar, nos machucar ou abandonar! - concluo enquanto meu eu fica mais irritado.

— E como resolvemos isso então?! - fala e parte para cima de mim.

— Assim. - respondo e o abraço quando chega perto o suficiente.

Sinto sua raiva indo embora, e ele ir se acalmando, até que finalmente deixa de existir e fico sozinho na cachoeira. Demoro um pouco a sair do meu estado de concentração, mas quando volto, encontro todos me esperando com ansiedade, que se esvai quando veem o meu sorriso.

— Mandou bem, seu tolo idiota! - Killer Bee solta mais uma de suas rimas.

Yamato e Motoi me dão tapinhas nas costas, me parabenizam e incentivam, mas tudo que consigo pensar é que estou um passo mais perto de casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Para quem me acompanha aqui, peço desculpas pela demora gigante de atualizar a história. Eu realmente estive sem tempo para escrever, espero conseguir conciliar o trabalho e o que eu mais gosto de fazer, que é escrever. Obrigada pela paciência, pelo carinho e incentivo e principalmente por lerem, obrigada a todos; quem lê, quem vem só das uma espiada, quem comenta, vota, muito obrigada!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Despertar dos Sentimentos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.