Os Inimigos do Olimpo escrita por Milhouse


Capítulo 2
Vamos todos brincar de casinha!




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À esquerda e à direita, haviam apenas árvores e mais árvores, porém, à minha frente, estava a maior porta que já vi. Ela era de um tom cinzento desgastado pelo tempo, com dobradiças de ferro, encaixando-se entre duas arvores especialmente grandes.

Todos estávamos parados diante do paredão com malas e mochilas em mãos. Uma bela mulher aguardava ao lado da porta e quando todos ficamos em silencio constrangedor, ela deu um passo à frente:

— Eu sou Pandora, diretora do acampamento que vocês estão prestes a entrar. — Só consegui encara-la enquanto falava, a mulher que tinha aberto o jarro contendo todos os males do mundo era incrivelmente linda. Seus cabelos avermelhados brilhavam como se estivessem em chamas, o rosto delicado em formato de coração. — Para alguns, será a realização de um sonho. Para outros, esperamos que seja o início de um. Para todos, digo que o Acampamento Meio-sangue existe para sua própria segurança. Vocês possuem um grande poder, e, sem treinamento, esse poder é perigoso. Aqui, nós os ensinaremos a controlá-lo e também os instruiremos sobre as histórias de heróis como vocês que datam desde o passado mais remoto. Cada um de vocês possui um destino único, diferente do caminho convencional que trilhariam longe daqui, um destino que encontrarão do outro lado destas paredes. Vocês já devem ter percebido isso quando vislumbraram os primeiros traços de seus poderes. Porém, enquanto estão aqui, diante desta porta, imagino que pelo menos alguns de vocês devam estar pensando onde foi que se meteram.

A voz dela era cantarolada e hipnótica, quase me fazia querer abraça-la.

— Aqui vocês encontrarão os seus irmãos e descobriram que somos uma grande família. Também encontraram criaturas de grande beleza, mas que também representam um grande perigo. Os monstros existem em nosso mundo desde a aurora dos tempos. Vocês lutarão contra essas criaturas selvagens, fazendo com que se inclinem diante de sua vontade. Vocês estudarão nosso passado à medida que se tornam nosso futuro. Vocês descobrirão o que o seu eu comum jamais teria o privilégio de ver. Vocês aprenderão coisas sensacionais e farão outras coisas ainda mais incríveis. Bem-vindos ao Acampamento Meio-sangue.

Os outros aplaudiram. Quando olhei ao redor percebi que todos os olhos brilhavam, até os de Beverly que resistia enquanto Drake e o motorista uniam forças para reboca-la para fora do ônibus.

Pandora deu outro passo à frente.

— Amanhã vocês verão mais do acampamento, mas, esta noite, sigam seus guias e se acomodem em seus quartos. Por favor, permaneçam juntos enquanto eles os conduzem pelo acampamento.

Ela ergueu uma de suas mãos pequenas e delicadas, com os dedos espalmados, e disse algo em voz baixa. Um momento depois, com um rangido agudo que se assemelhava a um grito, a porta começou a se abrir.

Uma luz escapou dentre o vão, e os nós começamos a andar em sua direção, alguns soltando suspiros e exclamações. De repente, a descrição que Drake havia feito parecia de alguma forma, muito pobre.

A porta se abriu para um vasto hall de entrada, do tamanho de umas três quadras de basquete. Ao longe era possível ver que um vale cercava todo o local e seguia até as margens da praia. A arquitetura grega antiga estava impregnada em todo lugar, um pavilhão com colunas de mármore branco, uma arena circular e o que parecia ser um anfiteatro. Em um campo de areia iluminado por tochas queimando, uma dúzia de crianças jogavam voleibol.

Dois guias se apresentaram quase imediatamente e nos separaram em dois grupos, um de garotas e outro de rapazes antes de nos levar até nossos quartos. Felizmente, Beverly foi separada e encaminhada para ficar em observação na enfermaria enquanto espumava pela boca.

Era decepcionante que com tantos chalés incríveis e um belo casarão a beira-mar eles estivessem caminhando na direção oposta, na direção de um casebre de aparência abandonada no meio do bosque.

— Por aqui. — disse Jade, nossa guia. Sua voz sonora ecoou pela escuridão.

As outras duas garotas que nos acompanhavam era Astrid, a gótica e Sarah, uma bonita garota ruiva com sardas salpicadas no rosto.

Por fim, Jade colocou a mão sobre a porta do casebre e com um clique dentro da porta ela se abriu.

— Ninguém aqui usa a maçaneta? — perguntou Astrid.

Jade sorriu para ela.

— Você pode usar se quiser, mas eu não recomendaria.

— O que isso quer dizer? — perguntei cautelosa.

Jade entrou, estendendo os braços ao redor do que parecia um dormitório e zona de guerra. As paredes do casebre eram de madeira e começavam a entortar, velas acesas eram a única iluminação do local. Quatro camas ocupavam cada canto do quarto e ao centro uma mesa tinha sido posta com quatro lugares, com pratos e copos que pareciam ser feitos de bronze.

Jade foi até a mesa.

— Em geral, achamos melhor deixar que os novatos se acomodem em seus quartos antes de serem levados para o refeitório, que é um local bastante movimentado. Por isso, vocês comerão aqui esta noite.

— Mas estes pratos estão vazios — Sarah observou.

— Ótima observação, porque não se sentam?

Depois que obedecemos, Jade prosseguiu.

— Agora imaginem sua comida preferida.

Não consegui evitar olhar para a Astrid que tinha uma expressão tão deprimente quanto eu me sentia. Jade queria que brincássemos de comida de mentirinha.

— Hum, isso parece uma delícia. — falei para meu prato vazio.

A outra Sarah abafou uma risada enquanto Astrid fingia mastigar alguma coisa invisível.

Jade nos encarava como se tivesse dúvida sobre nossas capacidades mentais.

— Vocês são engraçadas — disse Jade sem humor algum. — Então, se vocês quiserem comer alguma coisa de verdade é só dizer.

— Pizza — testei.

Jade estalou os dedos e uma pizza com muito queijo cobriu o exato tamanho do meu prato. Um cheiro delicioso tomou conta do casebre.

— Uau. Isso é mágica? — perguntei impressionada.

— Sim. — Ela respondeu e virou-se para as duas. —Vocês vão querer comer também ou só vão ficar babando em cima do prato de vocês?

— Pizza, por favor. — elas repetiram ao mesmo tempo.

Por fim, Jade estalou os dedos mais três vezes e além das pizzas surgiu uma jarra com liquido de cor laranja que supus ser suco.

Parecendo satisfeita, ela disse:

— Agora vou deixá-las para que se acomodem. Espero vocês acordadas e vestidas às nove, amanhã. Além disso, conto que estejam atentas e prontas para aprender.

Depois que a guia saiu, nós terminamos de comer em silencio. Havia um pequeno banheiro do lado de fora do casebre, mas nenhuma de nós tinha vontade de usa-lo por causa do cheiro de enxofre que impregnava o local.

— Vocês acham que nossos pais se importam que estamos aqui? — Sarah sussurrou na escuridão do casebre quando nos deitamos para dormir.

Minha relação com meu pai não era das melhores. Quase nunca nos víamos e nossas poucas conversas geralmente envolviam apenas xingamentos e palavrões, mas as vezes acho que essa era a nossa própria maneira de demonstrar afeição.

— Você sabe quem são seus pais? — Astrid perguntou. — Eu ainda nem sei quem é o meu pai.

— Meu pai é um cantor, mas ele nunca fez muito sucesso. Ele diz que minha mãe se apaixonou por ele antes de ouvi-lo cantar. Afrodite. — Sarah respondeu com uma risadinha fofa.

— Eu sabia! — disparou Astrid. — Vocês são todas tão bonitinhas que me dá náuseas.

Senti que Astrid estava me incluindo nesse comentário, o que não era tão ofensivo quanto deveria parecer, mas me senti obrigada a responder.

— Meu pai é Ares, o deus da guerra. — falei. — Você tem o sorriso dele, Astrid.

Pude ouvir quando ela pulou para fora da cama como se eu tivesse acabado de dizer que tinha colocado um escorpião nela. Ela acendeu uma vela, veio até o pé da minha cama e me encarou nos olhos.

Eu não tive tempo de colocar meus óculos escuros, então meus olhos esquisitos estavam à mostra, mas se ela teve alguma reação não deixou transparecer.

— Eu nunca sorrio — ela disse com uma expressão séria.

Sarah estava deitada de lado fingindo dormir.

Geez. Você até fala como ele — respondi. Era verdade. Astrid era como uma mini versão de Ares. — Somos irmãs, Astrid.

— Acho que vou chorar — comentou Sarah.

Antes que o rosto de Astrid pudesse demonstrar algum sinal de emoção, ela apagou o fogo da vela com a ponta dos dedos e saiu batendo os pés de volta para a própria cama.

Me senti culpada pela forma que havia dito aquilo. Tinha reconhecido a semelhança imediatamente, mas Astrid nem sequer sabia quem ele era. Decidi que iria me desculpar quando amanhecesse.

— O que você fez com a Beverly? — Astrid murmurou momentos depois que Sarah começou a roncar de um jeito que não tinha nada de princesa.

Enfiei a cara no travesseiro e até estar dormindo para não ter que responder aquela pergunta.


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Notas finais do capítulo

I've come to talk with you again...



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