Futuro Imperfeito escrita por I Hershell I André Victor I


Capítulo 4
Queda Livre




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Centro do Território azul                                                                              05/06/2041                                                                                                                                                              

 

 

 

 

( Acima das montanhas de Gondafar – Norte)

—Prefere yakitori, ramen ou sushi? – Jim indagou um pouco envergonhado.

Ele observava a moça ruiva por cima do seu cardápio e tentava desviar o olhar da beleza daquela figura. Falhando miseravelmente. Ela era linda. Tinha vinte e poucos anos, cabelos vermelhos e olhos tonalizados em castanho-mel. Sardas pareciam ter sido pintadas cuidadosamente em sua face. Seus óculos quadrados escondiam um olhar sedutor e acanhado ao mesmo tempo. Era um meio-termo perfeito. Tão chamativo quanto o chapéu rosa que lhe cobria a cabeça, protegendo do sol da manhã na França.

 O touche d’amour total como mostrava o letreiro amarelo sobre suas cabeças era uma restaurante japônes muito bem conceituado da zona central de Paris. Ali pessoas passavam e conversavam rapidamente enquanto se podia observar a luz alcançar aos poucos todos os cantos da cidade. Os dois estavam no segundo andar, que era quase uma varanda grande, aberta pro céu. Dezenas de mesas estavam ocupadas enquanto casais ocupavam aos poucos as outras. Garçons bem vestidos iam de um lado a outro carregando os mais diversos pratos e bebidas, perfeitamente equilibrados em suas mãos.

—Nunca provei yakitori. Parece ser delicioso – ela sorriu.

—Ok – Jim ergueu o braço e um garçom de barba muito bem feita se aproximou. – Olá, nós gostaríamos de um yakitori. Se puder ser breve nós agradeceríamos.

—As suas ordens. – O homem assentiu levemente e se afastou, entrando no restaurante.

—Agora é só aguardar... – ele deixou o guardanapo deitado sobre a mesa sem jeito e sorriu. Jim tinha uma franja loira e usava uma jaqueta de couro. Estava um pouco mais frio do que ele gostaria que estivesse.

—Sobre o que você gostaria de falar? – ela cruzou as pernas, mordeu o lábio e o observou interessada. - Nós poderíamos passar na minha casa após sairmos daqui. Não acha?

—É, na verdade... – as mãos dele foram até o bolso da jaqueta e apertaram um botão em um pequeno controle. No mesmo momento a garota se afastou um pouco e voltou a posição anterior. Ela pareceu um pouco desnorteada, mas logo voltou a sorrir.

—Sobre o que você gostaria de falar? Tem lido algo interessante?

—Na verdade, faz tempo que eu não leio. E você?

—Apenas coisas relacionadas aos meus estudos. Sociologia em geral. Você sabe o quanto antropologia me atrai né?

—Sim – ele sorriu e olhou para o lado. Jurava ter visto uma mesa ao lado da deles minutos atrás. Talvez fosse apenas uma falha em sua memória. O sistema às vezes travava. – Gosto dessa parte, mas prefiro muito mais engenharias.

—Ah, claro. Você tem cara. Eu imagino que deva gostar muito de jogos e programas.

—Pode ter certeza. Simulações em geral são meu ponto forte. Eu geralmente...

 Antes que pudesse terminar a frase um carro se chocou contra o semáforo a dois quarteirões dali. O som foi absurdamente alto e pessoas começaram a levantar pra olhar no mesmo instante. A moça a sua frente não parou de olhá-lo. Sua expressão era a mesma.

—Você podia pelo menos fingir que se importa com o resto do mundo – ele falou desanimado. Novamente, outros carros se chocaram em vários pontos da rua ao longe e mais parto deles. A rua virou uma confusão total. Pessoas corriam gritando coisas ininteligíveis, cachorros latiam e os garçons pediam para que todos mantivessem a calma.

—O que você quis dizer com isso? – a garota ruiva inclinou levemente a cabeça para a esquerda, indagando-o.

—Nada que você vá entender. Pelo menos não dessa vez.

—Como assim?... Assim!... Ass...... ssshhhhhhhhh – ela fechou os olhos e caiu para o lado, sumindo ao tocar o chão.

Ele se levantou e olhou ao redor. Prédios estavam em chamas, sirenes ficavam cada vez mais altas e os garçons se socavam, desajeitando o cabelo alisado. – Droga, eu não cheguei faz meia.

Em alguns segundos o céu escureceu. As pessoas caminhando ficaram imóveis, assim como todo o resto. Pássaros, os galhos das árvores e os carros. O mundo caótico ficou imóvel. Jim havia apertado um segundo botão no objeto em suas mãos. – Desabilitar funções padrão e retornar ao odo básico. – No mesmo momento prédios começaram a perder partes, que desapareciam em blocos. As lojas se tornaram um jogo de luzes e efeitos especiais que foram sumindo e se desfazendo aos poucos. Toda a cidade se desmaterializou de forma holográfica até que restaram Jim, a mesa e um pedaço de do letreiro da loja, que agora deixava visível a frase: to mor to.

—Ok. Pelo menos isso foi inesperado. – ele caminhou até um quadrado holográfico a dois metros de distância e saltou. Quando retornou ao chão tudo ao seu redor era escuridão. Jim fechou os olhos e não estava mais lá.

 O garoto tirou os óculos especiais VR e piscou algumas vezes acostumando-se com a luz real. Estava dentro de seu quarto. Um ambiente desorganizado e cheio de roupas jogadas pelo chão. Havia restos de x-burguer e refrigerante em cima da cama, além de livros de física e ficção científica em cima de uma pequena estante.

 Parado a sua frente, segurando os cabos grossos dos óculos, que se conectavam a tomada, estava um homem alto. Era impossível dizer a sua a idade. Era enorme e careca, com músculos a mostra no tronco nu e tatuado. A pele do senhor era totalmente verde escura e tinha cicatrizes em algumas partes.

—Meu Deus Drax! – Jim gritou ao acostumar-se a luz. - Foi só minha segunda vez na semana e deu uma merda surreal. Achei que eu tinha feito alguma merda ou estragado a porra do sistema. Por que você tirou o fio? Eu tava no meio do encontro. – Ele chutou uma latinha, que voou e acertou uma cesta de basquete do outro lado do quarto. Em seguida se aproximou do homem, pelo menos dois palmos mais alto que ele, e ficou encarando – Fala sério. Sucata não vai cair só porque eu visito a França às vezes, então é bom você ter um ótimo motivo pra ter feito essa porra quase me deixar louco.

—Regras são regras. Você deixou suas roupas jogadas fora do seu quarto. Só vim avisar que isso não deve se repetir. – A voz de Drax era grossa e rigorosa. – E você podia pegar sua calça lá fora e já arrumar isso aqui também. - Ele girou o indicador mostrando o quarto. Então se virou e saiu do quarto, deixando um jovem estressado e uma bagunça sem limites ali dentro.

 Drax sabia que Jim ficaria bravo, mas não iria teimar em reclamar com ele. Por mais que fosse mal educado e pavio curto, ele sabia muito bem as regras. O grandão seguiu por um corredor longo passando por mais duas portas holográficas e desceu uma escada rente a parede no fim do corredor.

 O primeiro andar era uma sala gigante com equipamentos tecnológicos, mesas de jogos, alguns sofás, armários com dezenas de objetos e um painel de controle no "bico" da nave. Drax atravessou o compartimento e subiu o pequeno degrau que separava a área de controle do resto do local. Sentou-se em uma das duas confortáveis cadeiras de frente para um enorme visor que mostrava o lado de fora e estalou os dedos.

—Cerveja Landaziana?— a voz robótica de Nantica, a inteligência artificial da nave, surgiu. Ela era no momento a única companhia com a idade aproximada a dele. - Acertou em cheio – sorriu. Ele se espreguiçou e abriu uma das mãos no momento exato em que uma lata laranja voava em sua direção. Após pegar, ele abriu e deu um longo gole. O sabor ácido teria feito qualquer um se dobrar e vomitar as vísceras, ou berrar e pedir piedade a alguma divindade, mas Drax engoliu o líquido e colocou a lata no painel a sua frente. – Tá nevando?

—Levemente. Os flocos estão se formando conforme avançamos.

—A quanto tempo estamos no ar?

—Cerca de duas horas.

—Previsões pra amanhã?

—Sol. Talvez chova um pouco. É impossível afirmar com certeza já que o tempo está instável por toda Gondafar.

—Certo. O que as meninas estão fazendo?

— Katerine está dormindo. Luna está montando um quebra cabeças unlogusiano. Ela parece estar a ponto de terminar.

—Fique de olho na Kate por favor. Se ela não dormir em meia hora mande uma mensagem no quarto dizendo pra deitar. Ela tem que dormir. - O velho estralou as mãos apertando uma contra a outra e continuou a olhar as informações holográficas na tela a sua frente. – Algum sinal dos guardiões? Qualquer um deles?

—Continuo a buscar informações que indiquem o paradeiro de algum deles ou que combinem com o trejeito de atividades produzidas por um dos membros, mas receio dizer que não tive êxito.

—Tudo bem. Obrigado Nântica. Você tem como me dizer o que Jim tava fazendo na realidade virtual dele?

—Segundo as informações que consegui obter invadindo a rede privada, ele estava... Em um encontro com uma garota. Em Paris. Há indicações de que fosse um ano entre dois mil e quinze e dois mil e vinte. Não consigo ter certeza.

 O velho sorriu quase imperceptivelmente e observou que o pico de algumas montanhas surgia a frente da nave. Eles passavam rapidamente, indicado que estavam a uma alta velocidade. Ele fechou os olhos por um momento e refletiu sobre encontros. Não era muito de sair com pessoas na juventude, mas conhecia um cara que curtia isso. Peter Quill havia se perdido em algum lugar no espaço muitos anos atrás, na Grande Batalha, e desde então Drax vinha tomando conta de sua nave, que ele havia remodelado e aumentado, além de ter inserido uma inteligência artificial de emergência feita pelo Tony. Ele imaginava que seria xingado pelo dono original caso ele visse as modificações. Mas sinceramente, Drax torcia por isso. Tudo o que tinha feito nos meses seguintes à batalha havia sido buscar alguma face conhecida. Ele envelhecia mais devagar naturalmente, mas sentia o peso da idade chegando. Não lutava mais como antigamente, embora fosse ainda mais forte que na época. Sorrindo, ele fez um paralelo com o da própria nave. Já havia atravessado meia galáxia, conhecido desde cantos belíssimos, até os mais obscuros do universo. Onde luas sombrias rotacionavam em torno de planetas desérticos e nocivos.

 Eles estavam em uma missão em Londres. O ano era 2025, quando o primeiro raio surgiu dos céus e explodiu o grande relógio Big Bang. Drax estava na linha de frente quando o mundo transformou-se. Talvez todas aquelas montanhas que ele observava tivessem feito parte de um antigo país, ou simplesmente haviam surgido.

 Drax não tinha tido um objetivo claro na vida desde então. Ele nunca desistira de encontrar a antiga equipe, porém, a cada mês que se passava Drax suas esperanças diminuíam. Por algum tempo sua única forma de fazer algo era perguntar coisas a Nantica que tinha sido criada por Stark antes da Grande Guerra.

 Tudo mudou no momento em que ele sobrevoava uma floresta ao sul, perto de algumas cachoeiras congeladas. Luna estava sendo caçada por alguns caçadores nativos que a tinham tomado por um ser infernal. Drax a salvara, matando os caçadores e lhe dera um lugar em sua nave. Com o tempo os dois se afeiçoaram e eram quase como pai e filha uma ano depois. Luna desenvolveu habilidades com uma katana encontrada no porão da nave e vinha sendo a principal caçadora desde então.

 Dois anos após tê-la encontrado, um jovem ladrão chamado Jim Cooper fugia de uma vila a oeste, por ter roubado comida e antes de ser capturado entrou na nave, que estava parada para reabastecimento de energia.  Luna e Drax o defenderam e expulsaram as pessoas que queriam mata-lo. O jovem se mostrou extremamente versátil e inteligente, e logo estava junto a tripulação, Viajando por Gondafar. Ele apelidou a nave de Sucata, que era chamada assim desde então.

 Por último, há três anos, uma garotinha observava chorando sua vila ser queimada por seres enormes das montanhas cinzentas. Eram doutrinadores de uma seita que destruía qualquer coisa que não fosse parecida com eles, de pele azul. Ela não sabia para onde ir e nem o que fazer, até ver a salvação descendo dos céus. Os três rapidamente dizimaram os inimigos e a recolheram pra se unir ao grupo. Drax a assustou no início, mas ela logo se acostumou ao lugar quando ele lhe deu um guaxinim de pelúcia. Luna, com o tempo, passou a protegê-la como uma verdadeira irmã e Nantica a vigiava constantemente. Seu nome era Katerine, e ela, assim como o resto, era órfã.

  Com o passar dos anos todos passaram a ficar cada vez mais próximos, embora, com dois adolescentes na família, os quartos parecessem ser bem interessantes. Eles tinham livros e informações colocados no porão a muito tempo, e todos sabiam muito sobre o mundo. Principalmente Jim, que usava o mundo virtual pra aprender e construir coisas.

 -Avise-me se algo estiver errado. – Drax se ergueu e pensava em ir dormir.

—Algo está errado.

—É, essa foi boa.

—Tem realmente algo errado. Alerta de aproximação iminente.

—O que? – ele correu até o painel de operações e observou cada centímetro da tela vendo as possíveis anomalias. No mapa holográfico uma nave vermelha com a forma de uma lua crescente se aproximava.

—Que porra é essa?

—Surgiu aparentemente do nada. Talvez possuam um sistema avançado de camuflagem. Perdão por não ter notado antes.

—Tudo bem, não se preocupa com isso agora. Preciso saber que opção temos.

—Posso tentar desviar, mas estão realmente se aproximando rápido, sinto que o objetivo é que haja o choque contra nós.

—Não é possível... – Drax notou um desenho conhecido no casco da nave semi-lua. Era um tridente cortado por um X vermelho no centro. – Achei que eles estivessem mortos. É uma nave de origem submarina.

—Como as do povo subaquático?

—Exatamente a deles. Faz anos que não vejo uma assim.

—Estão a menos de cem metros. E aproximando.

—Ok. Ativar plano alfa. – Drax saltou por cima de algumas cadeiras e mesas e logo estava do outro lado da sala, apertando botões e retirando cabos e fios da parede. – Hora de usar a defesa máxima.

 No segundo seguinte, alguns segundos antes que a nave inimiga se aproximasse o suficiente para colidir, um campo de força de tom roxo surgiu ao redor de Sucata. Ouve uma explosão do lado de fora do círculo de proteção e todos dentro da nave ouviram.

 No primeiro andar Katerine abriu a porta de seu quarto devagar. A garotinha saiu de pijama esfregando os olhos. O tremor intenso a tinha acordado. Em um banf Luna apareceu ao seu lado no corredor. A jovem era descendente de um antigo x-men, por isso possuía poderes de teletransporte e a habilidade de escalar locais sólidos. O lado bizarro era a aparência. Pele azul, três dedos nas mãos, orelhas pontudas, olhos roxos e uma longa e fina calda eram apenas alguns aspectos que a diferenciavam do resto dos humanos.

—Por que o chão mexeu? – Kate perguntou. A garota de dez anos arrastava seu guaxinim de pelúcia pelo chão. Luna fez com que sua calda longa se enrolasse ao redor do corpo da garotinha e a puxasse pra perto.

—Vamos descobrir. – Ela fechou os olhos para teleportar quando a porta ao seu lado abriu. Jim saiu rapidamente do quarto segurando uma vassoura.

—Não sei por que a nave fez isso, mas essa vassoura me acertou e agora eu tô estressado. O que tá havendo?

Luna moveu a cabeça em negação mostrando que não fazia ideia. -Tem algo muito errado.

—Caceta – Jim olhou pela janela no fim do corredor contrário a escada. Luna tampou os ouvidos de Kate olhando feio pra Jim, e em seguida viu também. Fogo e fumaça do lado de fora.

—Ok. Hora de ir lá ver. – Ela tocou o braço de Jim.

Banf

 No seguinte segundo os três estavam na sala, em cima da mesa. – Oh, droga, calculei errado. – Eles caíram uns por cima dos outros e se levantaram rapidamente do chão. Kate ia bater contra a cadeira mas a calda de Luna a manteve no ar.

—O que ta rolando? – Jim correu até um Drax, que parecia frenético.

—Um ataque surpresa de um povo que deveria estar extinto. Isso não é brincadeira, nós corremos perigo.

—Que?

—Sem perguntas. Me ajuda aqui. Pega esse fio azul e arranca quando eu mandar.

—Ok. – o jovem correu e pegou o fio. Drax o olhou rapidamente.

—O campo de força dura cinco segundos, tem mais três naves vindo e só temos mais duas chance de usar a defesa. Assim que tivermos usado pela segunda vez, você vai correr a central de comando e girar a nave manualmente pra esquerda, em direção as montanhas com formatos esquisitos.

—Sério? Vai me deixar pilotar?

—Horas desesperadas requerem medidas... Idiotas. Enquanto vocês saem vou ter que me atirar contra a outra nave pra derrubá-la.

—Segundo choque em dois segundos.

—Puxa agora!! – Drax puxou seu fio enquanto Jim fazia o mesmo. A nave deu um tranco e tudo saiu do chão por um segundo. Outra explosão do lado de fora. Nântica ia avisar sobre o próximo choque, mas Drax já sabia. – Puxa em três segundos o outro fio.

—O verde?

—Não, o vermelho. Puxa com força. Ele tem que detonar a placa do lado de dentro da parede. Quanto mais detonar, mais forte é a defesa. Agora!!

 Eles puxaram seus respectivos fios e uma terceira explosão surgiu nos céus. Jim se jogou desesperadamente pra longe dos fios e chegou até a área de controle. Seus dedos procuraram o sistema de giro e ele apertou um dos botões enquanto observava a terceira a próxima nave se aproximando. Girou com os dedos pro sentido anti-horário e a nave virou pra esquerda violentamente passando por um túnel de gelo e chegando a uma nova área completamente feita de estátuas gigantes, aparentemente sem sentido. Eles haviam visitado o local uma vez a algum tempo.

—Segurem-se. – O choque contra uma estatua com formato de árvore arrancou parte da asa direita, o que fez com que fumaça começasse a sair. Drax segurou a mão de Kate e de Luna. – Vou ter que retirar esses babacas do caminho. Cuidem de tudo até eu voltar. – ele deu uma piscadinha e correu pra janela no lado traseiro da nave. – NÂNTICA, ABRIR O COMPARTIMENTO SEIS!

 Todos olharam pra Drax e viram quando ele pegou um machado no armário de ferramentas rapidamente e correu até os sofás de trás, saltando pra fora no momento exato em que a janela abriu.

—Aquela merda abre? – Jim arregalou os olhos. Eu sempre fico escorado lá.

—Se eu fosse você olharia pra frente e não pra trás. – Luna disse apontando.

 Havia uma estatua de pelo menos trinta metros de altura a alguns metros. Era um senhor, aparentemente muito velho ao julgar pelo tamanho da barba de gelo perfeitamente esculpida. Olhava para o céu com o semblante cerrado e segurava um cajado com uma esfera reluzente ao lado. Jim desesperado tentou atingir os botões do modo de ataque pra desintegrar qualquer coisa a frente, mas apertou errado e um rock pesado se espalhou pela nave. Ele caiu para trás com dor nos ouvidos e viu os pinos de um de seus jogos se espalharem ao seu redor. “então eles tavam aqui nesse armário o tempo todo”. Após levantar correu até a parede pra se segurar no que pudesse.

A nave se chocou exatamente contra a esfera, que explodiu em incontáveis pedaços. Ela girou cerca de 60 graus antes de estourar a cabeça de uma estátua gigante de urso. Todos caíram no chão e giraram pros lados. Kate viu as montanhas em posições estranhas e arregalou os olhos surpresa.

—Luna – gritou Jim – segure a Kate e vai pra fora. – ele gritou por cima da música.

—E você? – ela gritou do outro lado.

—Eu vou ficar bem, vai logo!

 A mutante segurou a garotinha com força e fechou os olhos tentando sentir o ambiente ao redor. Sentiu alguns metros, e em seguida alguns quilômetros, o que lhe deu dor de cabeça. Então abriu os olhos e olhou pra Jim.

—Se eu for agora pra um local estável não vou conseguir mesmo voltar pra te pegar. A nave vai se chochar contra o rio e...

—Tudo bem. Eu vou manter tudo sob controle. – Jim sorriu e levou o dedo indicador e o médio juntos a testa, apontando pras garotas em seguida.

—Lu, o Rocky. Eu deixei ele no corredor. - Kate arregalou os olhos.

—Pegamos seu bichinho na volta. Eu prometo. Se segura.

Banf.

Ambas sumiram e Jim saltou sobre a cadeira de comando novamente. Olhando os cálculos de distância ele agarrou os controles e observou o sistema de propulsores laterais de urgência.

— Como eu faço pra acionar os controles de propulsão?

—Tem certeza de que deseja acioná-los? Foram feitos pra outra situação se der errado a nave pode...

—ABSOLUTA!!! Como eu faço?

—Botão azul no canto esquerdo do painel. Aperte duas vezes. Mas devo avisar que o resultado pode...

 Jim já havia socado o botão pelo menos cinco vezes. A nave oscilou na velocidade, mas o sistema falhou e eles continuaram indo em direção ao solo. “Esse rio deve ter dezenas de metros. Ok, isso vai doer”, pensou. O rio se estendia até o sul e era largo de uma lateral a outra. Se Jim não morresse afogado, morreria de frio. O refrão da musica de rock continuava enquanto a morte se aproximava.

—Sem controle sobre as defesas. – A voz de Nântica surgiu — Sinto informar que iremos...

 Buuuuuuuummm

Pedaços da nave voaram enquanto ela batia em diversas partes de diversas estatuas e girava descontroladamente. Jim se chocou contra centenas de objetos que voavam de um lado ao outro. Um pedaço da mesa atingiu sua testa e ele perdeu os sentidos. Se estivesse acordado, veria que ao se chocarem contra o rio, a nave não ficou submersa. O local era completamente vazio. Como se todo o espaço do rio que deveria ser ocupado por água não tivesse nada. A camada superior que indicava uma superfície congelada era como uma casca fina sobre um lugar vazio de centenas de metros. A nave continuou a cair por centenas de metros até finalmente atingir alguns espinhos gigantes de gelo, que destruíram as janelas e partes inferiores de Sucata.

 Jim foi jogado contra o teto, que agora estava na lateral e caiu desacordado no meio de cartas e caixas. Sua mente não poderia imaginar o que estava por vir.


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