Ela estava rasgada por dentro e os dois choraram com aquelas palavras que pareciam facadas adentrando cada pedaço de seu corpo, Julia tentou se aproximar dela, mas Victória recuou não permitindo nenhum contato dela. Na porta ele apareceu e nada entendeu daquela cena e apenas os questionou.

— O que está acontecendo aqui? - e todos os olhares foram para a porta.

Ele olhou a todos e seus olhos pararam em Ângelo, o que ele fazia ali? Olhou para Victória e percebeu que ela chorava, Julia também estavam em prantos e logo veio em sua cabeça o dia que os viu juntos e que Victória tinha descoberto sobre os dois. Heriberto era muito discreto e não queria se intrometer na vida deles, mas tinha voltado antes do horário para fazer uma surpresa para ela e ali estava sendo ele surpreendido.

— O que está fazendo aqui, padrinho? - foi direto.

Victória no mesmo momento arregalou os olhos e sem deixar que ele respondesse tomou a frente e parou na frente de Heriberto que a encarou com todo amor como sempre fazia, mas ela estava se sentindo traída por ele também. Se Heriberto conhecia aquele homem ele também sabia de sua história, muitas coisas se passaram na cabeça dela naquele momento ao ouvir "padrinho".

— Então você também sabia disso? - rosnou as palavras e ele deixou o rosto tenso. - Você é como eles!!! - gritou sem dar a chance dele dizer nada.

Heriberto sentiu o corpo esfriar, como assim era como eles? Ele não sabia de nada, apenas suspeitava e pelo modo como ela estava era apenas uma confirmação, mas ele não sabia de coisa alguma e não iria ser julgado por ela como estava sendo apenas pelo olhar.

— Victória, eu não sei o que aconteceu aqui...

— Ele não sabe de nada!! - Ângelo falou cortando Heriberto porque não iria mais ficar calado. - Sua mãe e eu somos os únicos que sabem disso minha filha.

Ele queria poder ficar com sua menina em paz, já tinha perdido tanto tempo, mas sabia que seria difícil dela perdoar aquela mentira.

— Não me chame assim!! - gritou sentindo dor por ouvir as palavras dele. - Não me chame. - podia sentir seu corpo todo tremer quando ele a chamava assim.

— Minha filha, você tem que se acalmar... - Julia queria tocar sua menina e a confortar mais sabia que ela não permitiria contato naquele momento.

— Eu não vou me acalmar coisa nenhuma, vocês são todos uns mentirosos que não pensaram um momento se quer no que eu queria ou no que iria sentir. - respirou pesado. - Vão embora que eu quero ficar sozinha.

Heriberto ainda estava meio sem entender o que se passava ali, ele tocou os braços dela e a fez olhar em seus olhos, Victória somente queria chorar e chorar, estava tão magoada que não conseguia ver uma solução para tanta dor em seu peito. Uma vida de mentira era somente isso que se passava em sua cabeça naquele momento, mas Heriberto não pensava em sair de seu lado não a vendo daquele modo.

— Eu não vou embora. - disse firme. - Você precisa de mim e eu quero é vou ficar com você!!!

— Eu já disse que quero ficar sozinha. - se afastou dele indo para a escada. - Não quero ninguém aqui quando eu voltar. - subiu as escadas correndo e mais lágrimas vieram com loucura quando adentrou seu quarto.

Heriberto respirou pesado e olhou para os dois pedindo uma explicação, tinha deixado Victória bem a pouco mais de uma hora e agora ela estava destruída e não era somente ela quem estava ferida, mas sim todos. Julia chorou mais e olhou para Heriberto assim como Ângelo.

— Algum de vocês dois pode me dizer o que aconteceu? - queria correr atrás de Victória e dar a ela seus braços para que ela chorasse tudo que era preciso para curar a dor de seus olhos.

— Ela é minha filha... - Ângelo falou emocionado e ao mesmo tempo tão triste. - Minha...

A boca de Heriberto abriu e fechou naquele momento e ele nem sabia o que dizer a eles, apenas queria ver o seu amor.

— Meu Deus, padrinho... - agora entendia o desespero dela. - Eu preciso falar com ela. - foi pra subir a escada.

— Isso não é tudo... - Julia chamou a atenção dele que parou a olhando. - Osvaldo esteve aqui e se não fosse por Ângelo, ele teria... - nem quis completar deixando as lágrimas rolarem.

Heriberto naquele momento ficou ainda mais desesperado e o corpo todo tremeu, um ódio subiu por todo seu corpo e ele olhou para seu padrinho que tinha os olhos negros se lembrando que o maldito ainda estava preso e também já deveria estar acordado uma hora daquelas.

— Não se preocupe que eu vou cuidar disso enquanto você cuida da minha filha. - caminhou para a porta era a hora de ir. - Cuidei dela.

Ele saiu da casa e Julia correu para falar com ele estava despedaçada e sabia que iria perder tudo, ela o segurou e tocou seu rosto. Julia o amava tanto que somente em pensar que iria perdê-lo, por que era isso que iria acontecer depois daquele dia ela já não sabia o que seria dela.

— O que vai fazer? - soluçou.

— Resolver essa situação!!! - tinha os braços para baixo e não a segurou mesmo sentindo a necessidade dela.

Os dois estavam destruídos e não viam caminho para trilhar juntos, era a hora do adeus e mesmo que o amor falasse mais alto parecia que já não existia espaço para os dois viverem juntos aquela vida.

— Você vai me deixar não é? - não era hora para aquela conversa mais seu coração pedia. - Eu te amo!!!

— Eu preciso ir... - se afastou sem responder.

Julia sentiu as forças de seu corpo se perder e ela quase foi ao chão com a dor que sentia em seu peito, Ângelo não olhou para trás ou fraquejaria e não era o que precisava naquele momento. Ele queria dar um corretivo em Osvaldo e depois pensaria com calma em tudo que faria dali em diante, mas sua prioridade era Victória e ele se foi.

Julia ficou ali o olhando sumir pelas ruas e respirou fundo quase sem conseguir e um carro preto que ela conhecia muito bem parou frente a ela. Afonso estava ali há muito tempo e tinha presenciado todas as cenas possíveis para seu ego, estava com ódio e apenas abriu a porta do carro para que ela entrasse.

Julia sabia que se entrasse naquele carro era um caminho sem volta, mas estava na hora de enfrentar todos e pagar por todas as mentiras que tinha dito até aquele momento. Olhou para a casa de Victória novamente e respirou fundo indo para o carro, Afonso nada disse apenas seguiu seu caminho com ela que controlava seu choro.

Já Heriberto respirou fundo por alguns minutos na porta do quarto dela, não queria ela mais nervosa e por isso ficou ali por alguns minutos apenas ouvindo o choro dela. Quando diminuiu ele abriu a porta e os olhos dela foram diretos aos dele que apenas caminhou em sua direção depois de fechar a porta.

— Eu disse...

— Não me importa o que disse!!! - foi direto e deitou na cama a puxando para ele depois de tirar os sapatos. - Eu vou ficar aqui e cuidar de você mesmo que me xingue ou me mande ir embora!!! 

Ela era turrona e cabeça dura, mas sabia que não podia ficar sozinha mais mesmo assim se soltou dele e virou de costas abraçando o travesseiro. Ele deu um meio sorriso e com calma se aproximou e beijou o ombro dela.

— Eu estou aqui pra você e vou esperar o tempo que precisar até que você queira conversar. - colocou seu corpo no dela para que ela se sentisse acolhida. - O meu desejo no momento é apenas que fique bem!!! - deu mais uns quantos beijinhos no ombro dela e se ajeitou melhor na cama e nada mais disse apenas ficou ali fazendo carinho em seus cabelos...