Academia da Pena (Interativa) escrita por Kath Gray


Capítulo 5
Capítulo 3 - Incursão Introdutória


Notas iniciais do capítulo

Heyhou! Desculpem a demora!
Parece que nesse capítulo ainda não apareceram os outros personagens, mas teremos bastante tempo para isso depois~
Eu acabei tirando uns dias para pensar no mapa da Academia antes de escrever esse capítulo introdutório. Ele foi especialmente difícil de escrever, por causa de todas as informações (recomecei do zero umas três vezes porque achei que estava ficando mecânico demais), mas espero que tenha conseguido resolver isso >.< Ainda não tive tempo de revisar muito, porque já tinha ficado muito tempo sem postar e estava ficando um pouco ansiosa, então se alguém perceber um erro de digitação ou alguma frase que pareça destoar do resto, por favor, avise para eu corrigir!
Enfim, espero que gostem ♥ (principalmente aqueles que estavam curiosos para saber como a Academia era!)



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Quando várias horas mais tarde a movimentação a despertou de sua leitura, qualquer pessoa que a visse pensaria que ela acabava de acordar de um sonho. O que, pensando bem, até que não estava tão longe da verdade.

Quando ergueu os olhos das páginas do livro, a sensação de Evanna era de que parte dela continuava dentro da história. Sentia sua alma tranquila e o peito surpreendentemente leve, e apesar de ver o mundo com os mesmos olhos de sempre, era como se o visse através de um filtro ou uma lente - aquele padrão na parede oposta sempre fora tão fascinante?

Fechando os olhos por um momento, Eva respirou fundo. Ela ainda quase podia sentir o cheiro salgado misturando-se ao do ambiente, e poderia jurar que algumas gotas da água do mar haviam respingado em sua língua.

É claro, a sensação não lhe era estranha. Ela já estava bem familiarizada com os efeitos de uma leitura Imersiva.

Desde que se desligara da realidade, muitas pessoas novas tinham chegado. Olhando ao redor rapidamente, Eva constatou que a maior parte dos vinte e quatro admitidos já estava ali, o que provavelmente indicava que a introdução começaria em breve.

Ligeiramente surpresa, ao olhar para uma parte mais distante da sala, ela percebeu o garoto que viera com ela no trem. Ele continuava apático, com as costas apoiadas na parede e se esforçando para não cruzar olhares com qualquer um dos outros. Curiosa, ela se perguntou como não tinha reparado nele a caminho dali. Será que ele tinha pego uma rota diferente da dela? Provavelmente.

Embora alguns dos outros aspirantes estivessem como ela e o garoto, encostados em algum lugar com suas coisas e sem aparentar interesse em interagir com quem quer que fosse, outros tinham se juntado em pequenos grupos e agora conversavam animadamente.

Por um momento, Evanna se perguntou o que seus avós diriam se a vissem ali. Provavelmente algo relacionado à sua falta de cortesia ou à importância de fazer novas amizades; eles eram aqueles tipos de pessoas que todo dia, sem falta, chamavam os moradores das redondezas para o chá das cinco, onde conversavam calorosamente sobre os diversos acontecimentos do dia.

Imaginando a cena, Eva revirou os olhos e deu um meio sorriso. Ela realmente não entendia a necessidade que algumas pessoas tinham de interagir socialmente, mas, pensando bem, talvez não fosse uma má ideia cumprimentar alguém.

Talvez fosse a imagem dos avós, talvez ainda fosse o efeito da leitura; o que quer que a estivesse impulsionando, Evanna não se demorou mais antes de se levantar, guardando o livro novamente na sacola.

Olhando em volta, ela procurou algum grupo pequeno de que pudesse se aproximar. Seus ouvidos foram imediatamente atraídos para perto da entrada, onde um rapaz alto de cabelos ruivos falava alto e com entusiasmo sobre alguma coisa. Será que apenas ouvir seria considerado suficientemente cortês? Ela deu outro meio sorriso ao pensar nisso.

Quando começou a andar em sua direção, porém, outro som alcançou seus sentidos; o som de passos abafados à sua direita.

Virando a cabeça, Evanna viu uma mulher chegando por um dos corredores.

Seu primeiro pensamento foi de que ela lhe era estranhamente familiar. Após alguns instantes, reconheceu-a do dia em que viera fazer o teste; a mulher não era uma das examinadoras, mas passara brevemente pela sala em que Eva estava para discutir algo com o responsável pelo grupo.

Seus cabelos cor de fogo brilhavam sob a luz das lâmpadas como uma tocha, soltos e volumosos, caindo em ondas até o meio das costas. Ela tinha um brilho em seus olhos cinzentos e um sorriso entusiasmado e estranhamente fascinante, como o de alguém que consegue ver alguns minutos no futuro e gosta do que vê; como se pudesse ler a tudo e a todos como um livro aberto.

Evanna reparou que não era a única que tinha notado a recém-chegada; no momento em que esta deu o primeiro passo para fora do corredor, um silêncio quase absoluto pairava no ar, e quase todos os olhos da sala a encaravam, curiosos ou com palpável interesse.

Em resposta à atenção que recebia, a mulher não disfarçou o próprio interesse nas pessoas que se encontravam ali. Passou os olhos lentamente pela sala, parando por alguns instantes em cada rosto novo, inclusive o de Eva, antes de passar para o próximo.

Quando finalmente decidiu que já tinha olhado o suficiente, a mulher deu um sorriso e começou a falar.

— Então, vocês são os novos aspirantes da Academia. - disse, alegremente. Sua voz era poderosa, sem precisar se erguer para ser ouvida, mas também agradavelmente suave. Sóbria, mas com um quê musical escondido atrás das palavras casuais. - Meu nome é Carissa, e eu serei a responsável por vocês enquanto estiverem nessa Academia.

.

— Tenho certeza de que estão orgulhosos por estarem aqui hoje, e têm todo o motivo para estar. - ela continuou, colocando as mãos no bolso do sobretudo vinho escuro. - Afinal, como tenho certeza de que sabem, a reputação de nossa Academia é de enorme prestígio e atravessa até mesmo as fronteiras desse país. A competição para conseguir uma vaga é extremamente acirrada, e o fato de terem escolhido testar suas habilidades em nosso processo de seleção e conseguirem estar entre os vinte e quatro escolhidos pelos meus colegas me diz duas coisas. Primeiramente, me diz que, neste momento, eu me encontro diante dos vinte e quatro mais talentosos, ambiciosos e promissores aspirantes a escritores desta área do continente.

Suas palavras provocaram reações diversas na platéia. Alguns pareciam constrangidos pelas palavras ousadas, enquanto outros demonstravam alegria pela conquista ou orgulho por sua capacidade.

Carissa não estava brincando nem sendo teatral. Ela pronunciara as palavras com naturalidade; “estou apenas atestando fatos”. Ao perceber isso, Evanna sentiu algo dentro de si; ela não conseguia se decidir se era algo positivo ou não, mas definitivamente era intenso, e fez seu peito palpitar por um momento.

Eu estou aqui. Na Academia. Eu, Evanna Lewis, fui aceita na Academia da Pena.

Percebendo a reação que provocara, Carissa deu um sorriso divertido e continuou.

— E, segundamente, me diz que vocês estão dispostos a se dedicar totalmente a essa atividade fascinante que é a escrita de ficção. E, mais especificamente, à cativante e enigmática arte da Escrita Imersiva.

Se sua afirmação anterior tocara cada pessoa naquele recinto, essa definitivamente tinha alcançado seus ouvintes; a simples menção do termo atravessara a sala como uma onda de choque.

A própria Evanna sentiu o coração acelerar; dizer que um aspirante a escritor se interessava pela Escrita Imersiva era como dizer que o dia era claro, a noite era escura e o chão das ruas ficava molhado depois de um longo dia chuvoso. Era uma verdade universal, incontestável e absoluta.

— Sim, eu tenho certeza de que a maioria de vocês está ansiosa para começarmos as atividades. - disse Carissa, abrindo ainda mais o sorriso torto. - Mas antes de mais nada, vocês devem ser apresentados à sua nova casa, aos seus professores e aos seus colegas de aprendizado, e é para isso que eu estou aqui. Aqueles que tiverem interesse na incursão introdutória, por favor, me sigam.

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É claro, todos a seguiram.

Antes que se desse conta, Evanna se encontrava perto do início do grupo, perto o suficiente de Carissa para que quase pudesse tocá-la ao estender o braço. Porém, sua atenção estava voltada para outras coisas.

O caminho que pegaram ao sair da sala era o corredor imediatamente à esquerda da entrada. Ao passarem por uma porta, Eva reconheceu a sala em que participara do teste para admissão, mas a guia apenas continuou andando. Aquela área dispensava introduções.

O mesmo, porém, não se aplicava ao lugar no final do corredor.

Um arfar encantado percorreu o grupo conforme os aspirantes viam o primeiro local ao qual a incursão os levara. A área era espaçosa, impressão essa reforçada pelo teto notavelmente alto. No piso térreo, o mesmo carpete do corredor se estendia sobre todo o chão, escondendo completamente a pedra lisa que Eva sabia existir embaixo. Na parede que Eva considerou como sendo a frente da sala, erguia-se uma enorme lareira, com as chamas bem contidas através de um vidro e a fumaça cuidadosamente guiada por uma longa chaminé que terminava além do teto. A luz calorosa e aconchegante do fogo se sobrepunha à luminosidade branca e artificial das lâmpadas elétricas e iluminava uma série de bancos, cadeiras, poltronas e almofadas que se dispunham à sua frente em um formato de meia-lua, onde algumas pessoas podiam ser vistas, sentadas nas poltronas e bancos ou no chão, lendo ou conversando entre si animadamente.

Nas laterais do recinto, era possível ver as entradas de diversos outros corredores também no piso térreo, e várias escadas laterais erguiam-se junto às paredes e davam para duas passarelas, uma de cada lado, que por sua vez davam para ainda mais corredores. Mais uma vez, diversas pessoas subiam e desciam pelos degraus, sozinhas ou em duplas, discutindo o que parecia ser uma variedade de assuntos.

E todas as paredes estavam cobertas por cadernos.

Cadernos. Cadernos, fichários e cadernetas. Cadernos de brochura e espiral, em cima e do lado, à direita e à esquerda. Cadernos de couro e papel e madeira, organizados com esmero ou desleixo, com suas folhas perfeitamente alinhadas ou pedaços de papel escorregando pelas laterais.

Cada mínimo pedaço de parede exposta tinha sido encoberto por estruturas de estantes de madeira escura, e as prateleiras estavam preenchidas até onde o olhar podia alcançar.

Era um lugar maravilhoso.

Depois de dar alguns momentos para que o grupo pudesse apreciar à vista, Carissa falou.

— Esta daqui é a sala de estar. - apresentou. - É aqui que vocês provavelmente passarão a maior parte do tempo livre, como podem ver. Os cadernos que vocês podem ver nas paredes são os blocos de anotações pessoais dos antigos aspirantes da Academia, que eles escolheram deixar para as próximas turmas. Sugiro que dêem uma olhada depois; pode haver coisas bem interessantes escondidas entre suas folhas. - ela lançou um olhar enigmático para as estantes; então, tornou a se virar-se para o grupo. - Os corredores do segundo andar dão para seus futuros dormitórios, onde morarão em duplas. Inicialmente, como ainda não tiveram tempo de se conhecer, nós escolheremos seus pares, mas isso poderá ser rearranjado mais para frente. Também no começo não haverá quartos mistos, mas isso também é negociável.- Carissa cruzou os braços e olhou para eles, com um ar divertido. - É claro, quando isso acontecer, esperamos que vocês se lembrem de manter as práticas de escrita como prioridade. Afinal, é para isso que estão aqui.

Sem saber exatamente porquê, Evanna sentiu o rosto enrubescer. Por que estava se sentindo envergonhada se nunca pensava nesse tipo de coisa? Desde pequena, sua paixão sempre fora a escrita, e certamente continuaria assim por muito tempo, pensou consigo mesma.

Se divertindo com algumas das reações do grupo, Carissa gesticulou para eles.

— Certo! Agora que deram uma boa olhada, vamos continuar.

.

O próximo lugar em que passaram foi a cozinha.

Diferente da sala de estar, ali o chão estava nu, por motivos óbvios; limpar os resquícios culinários do carpete não seria exatamente uma experiência divertida.

Algumas pessoas pareciam ligeiramente decepcionadas com a visão depois da imagem quase mágica do recinto anterior, mas Evanna passou os olhos pelo lugar avidamente. Ela amava cozinhar, e a cozinha da Academia não deixava nada a desejar; todos os equipamentos pareciam ser de última linha, havia várias bancadas com espaço suficiente para se dispor os ingredientes e recipientes com conforto e os armários de chão e parede estavam cheios dos ingredientes mais diversos.

Naquele momento, Eva não viu ninguém ali, mas ela se perguntou quantas pessoas normalmente utilizavam aquele espaço.

— Aqui vocês prepararão todas as suas refeições. - disse Carissa. - Caso prefiram não fazer a própria comida, há um estabelecimento na praça do lado oposto à Academia que possui uma comida caseira maravilhosa, mas caso utilizem nossas louças e equipamentos, pedimos que lavem cada peça e deixem-nas secando antes de saírem. Ao cair da noite, nós guardaremos tudo o que tiver secado, mas caso alguém deixe de cumprir essa regra e deixe algo nas pias, terá que cumprir alguns dias de trabalho voluntário aqui. - Carissa inclinou a cabeça e sorriu, como se imaginasse a cena. - Os alimentos e ingredientes esgotados ou vencidos serão repostos semanalmente, e vocês podem usá-los à vontade. Não temos uma sala de jantar, mas vocês podem comer ali. - ela apontou para algumas mesas de madeira do outro lado das bancadas.

O lugar seguinte a que foram foi a biblioteca.

Se a cozinha tinha atenuado a animação do grupo, agora ela tinha reacendido completamente, e estava ainda mais forte do que antes.

Eles não se aventuraram pelo labirinto de estantes, mas podiam ver o tamanho do lugar. Afinal de contas, era a maior coleção de livros da região.

Perto da entrada, havia várias mesas circulares dispostas. As cadeiras da cozinha eram simples e descobertas, mas estas tinham almofadas e superfícies estufadas para maior conforto.

Também havia ali uma mesa comprida e com um formato de semicírculo, onde um homem estava sentado.

Ao ouvir o grupo da incursão chegando, ele ergueu os olhos de um volume que lia e se levantou.

— Ah! Olá, Carissa - cumprimentou ele.

— Oi, Shira - cumprimentou ela de volta. Ela voltou-se de novo para o grupo. - Esta daqui é a biblioteca da Academia. Em nossa coleção, possuímos todo o tipo de obras; encontrarão aqui tanto livros renomados quanto desconhecidos, vários até mesmo escritos e doados pelos nossos antigos aspirantes. Também poderão encontrar várias obras de não-ficção, para estudos e referências; aqueles que ainda não o fazem vão perceber logo que conhecimento geral não é de se desprezar quando estamos falando de escrita de ficção, e sobretudo de Escrita Imersiva. - ela se sentou em uma das mesas circulares e indicou o homem com um gesto. - Este daqui é Shira. Caso procurem algo em especial, falem com ele e ele os ajudará. Todos os livros desta biblioteca podem ser retirados desta sala, desde que sejam devolvidos depois, e em hipótese alguma devem sair desta Academia sem que vocês façam um pedido formal e obtenham uma permissão expressa para tal. Isso também deverá ser tratado com Shira.

Shira cumprimentou-os com um aceno de mão.

— Olá. Espero vê-los bastante aqui nos próximos anos - disse ele, com um sorriso sutil e um pouco tímido. Evanna observou-o rapidamente; sua pele era ligeiramente morena, não muito, mas o suficiente para contrastar com a pele alva e o rosto corado de Carissa. Tinha ombros estreitos e uma estatura esguia e um pouco mais alta que a média, e seus olhos eram de um verde levemente desbotado. Os longos cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo liso. Nem de longe comunicativo e extrovertido como a colega, ele afastou uma mecha de sua franja do rosto com um gesto discreto.

— A escada para o andar de baixo pode ser encontrada ali atrás. - continuou Carissa. - Agora, vou apresentá-los ao resto da Academia, mas mais tarde vocês poderão voltar aqui e explorar tudo com mais calma.

 


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Notas finais do capítulo

Ah, e esqueci de colocar nas notas iniciais, mas algumas informações de alguns personagens tiveram que ser modificadas. Quase todos eles tinham algumas características físicas e de personalidade exatamente iguais, o que tornaria a história um pouco desinteressante, e algumas das histórias e motivações são impossíveis/irreais de acordo com a premissa da história (por exemplo, entrar na Academia por indicação ou só escrever em determinadas circunstâncias, visto que a única coisa que vale na admissão é a dedicação e/ou talento e a vida inteira dos personagens gira em torno da atividade da escrita).
Caso algum dos casos citados ou semelhantes queira alterar alguma coisa, por favor, mande uma mensagem, mas se quiserem deixar isso comigo, já estou trabalhando em alternativas que possam balancear os dois lados de uma forma equilibrada e sem quebrar demais a alma do personagem~
Enfim, mais uma vez, espero que tenham gostado! Se tiverem qualquer crítica ou correção a fazer, por favor, não hesitem em apontá-la nos comentários!