Academia da Pena (Interativa) escrita por Kath Gray


Capítulo 3
Capítulo 2 - O Trajeto


Notas iniciais do capítulo

Heey!
Desculpem esse capítulo ser mais curto que o anterior. Eu queria escrever já a parte da introdução, mas acabou que não tive fichas suficientes, então tive que adiar mais uma vez.
Eu acabei de acabar de escrever, então ainda não tive tempo de revisar o todo, mas enquanto vejo apenas os detalhes finais, não vi problema em já deixar postado, visto que eu parava para reler a cada mais ou menos duas linhas XD só falta a finalização, mesmo.
Bem, espero que gostem! o/



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Capítulo 2

 

Evanna apoiou a nuca na janela do trem enquanto assistia à cidade passando rapidamente ao seu lado.

Seu corpo sacolejava com o balanço ora suave, ora turbulento do vagão. Não era uma viagem longa, mas não eram necessários mais do que alguns minutos de silêncio para que sua mente começasse a divagar. Às vezes, ela ficava especialmente distraída por um ou dois minutos, e quando voltava a si, a paisagem do outro lado da janela já estava completamente diferente.

Ela não costumava sair muito da cidade - fazia-o apenas em ocasiões especiais, uma das quais sendo o próprio dia em que fora fazer o teste na Academia. Assim, embora o ambiente lembrasse vagamente aos arredores de onde vivia (pois, afinal, os dois lugares eram próximos um do outro), ele era simultaneamente algo completamente desconhecido.

Desviando brevemente o olhar da janela, Evanna tornou a repousá-lo no garoto sentado à sua frente.

Não havia muitas pessoas pegando o trem naquele dia, então os dois estavam sozinhos naquele par de bancos em especial. Provavelmente caberiam mais três ou quatro pessoas ali em um dia mais lotado, mas agora, com a maior parte da bagagem de Evanna colocada em um vagão separado junto de todas as outras bagagens, havia apenas espaço vazio ao lado dos dois.

Diferente da garota, que escolhera ficar próxima à janela, o outro passageiro optara por sentar mais para o meio de seu banco, tendendo para o corredor. Não para o incômodo de Eva, ele não parecia ter nenhum interesse em puxar assunto; em vez disso, durante o trajeto inteiro, ele praticamente não desviou seu olhar da pequena caderneta que trazia em mãos. Em certos momentos, Eva teve a impressão de que era proposital, como se ele quisesse ter certeza de que ela não o cumprimentaria ou tentaria começar uma conversa.

Já em outros, ele parecia genuinamente interessado no que quer que fosse aquilo que tinha em mãos. Ele lia e relia as anotações que pareciam ter sido escritas à pressa, quase sem se atentar à caligrafia, como se estivesse fazendo suas próprias anotações mentais sobre o assunto.

Seus cabelos e olhos castanhos eram escuros como os de Eva, o que fazia sentido, já que era o mais comum naquela região. Da mesma forma, sua pele era clara, embora um pouco menos do que a da garota. Porém, seu cabelo não era cacheado, e sim liso, meio bagunçado de uma forma que era descuidada demais para ter qualquer tipo de charme.

Vendo-o ler com tanto interesse, Evanna retomou ciência do peso da alça da sacola em seu braço. Ela poderia ter deixado o livro no banco ou no bagageiro, mas ele era simplesmente precioso demais, e só de pensar em tirá-lo de seu pulso, ela já sentia um impulso de puxá-lo mais para perto.

Por um momento, ela sentiu um ímpeto de abrir as páginas e começar a ler. Porém, logo se controlou e tentou afastar esse instinto; em pouco tempo, o trem estaria chegando à estação, e seria um desperdício começar um livro novo sem saber quando teria tempo de retomar a leitura. Ainda mais em se tratando de um livro de Escrita Imersiva, como era o caso.

Pouco tempo se passou até que um homem de uniforme entrasse no vagão e anunciasse que estavam chegando ao seu destino.

O garoto reservado finalmente ergueu os olhos de sua caderneta, olhando meio por cima do ombro de Eva para o funcionário que falara. Sem dizer nada, ele pegou a mochila de ombro que trazia consigo e guardou dentro dela o bloco encadernado a couro, em seguida tornando a recostar-se no banco e apoiando um dos braços ao redor de suas coisas.

A falta de uma desculpa não o impediu de continuar tentando dissuadí-la de qualquer possível interação. Assim que tornou a se ajeitar, ele virou a cabeça nada sutilmente para a janela. Evanna apenas o observou, sem muita reação além de um certo desinteresse ou ceticismo, enquanto ele continuou encarando além do vidro, até o trem finalmente parar alguns minutos depois.

 

.

 

A praça estava notavelmente movimentada. Porém,  Eva ficou um pouco surpresa que não estivesse mais.

A parte da cidade em que morava não tinha muitos comércios além do básico nem pontos turísticos ou lugares importantes, então havia um limite para a quantidade de pessoas que normalmente se via andando pelas ruas. Porém, a Academia ficava perto de um dos principais centros de comércio da área, e a densidade demográfica ali era desconfortavelmente alta em comparação com o que estava acostumada, com todo o tipo de pessoas andando de um lado para o outro apressadamente, quase se atropelando.

Porém, a quantidade de pessoas não aumentou conforme se aproximou da frente da Academia. Seria de se esperar que a chegada dos futuros escritores fosse um evento marcante, mas talvez as pessoas que moravam ali nos arredores já estivessem acostumadas com a cena. Afinal, novas turmas chegavam todos os anos.

Por sorte, Evanna tinha conseguido abrir caminho com facilidade até ali, quase sem nenhum esbarrão. Talvez suas malas pesadas tivessem ajudado nesse quesito; ela por si só não era uma garota muito grande, mas suas bagagens impunham certo espaço.

Bom, fosse como fosse, lá estava ela.

Bem no meio da praça e no centro do grande padrão circular gravado no piso de pedra, a garota parou e ergueu a cabeça para observar a Academia.

Aquele lugar poderia ter sido qualquer coisa. Poderia ter sido uma catedral. Poderia ter sido uma universidade. Poderia ter sido um museu. A construção era enorme e imponente, e enquanto as pedras e materiais usados em sua estrutura e os ornamentos presentes em cada detalhe chamavam atenção para sua idade, o estado notavelmente conservado da edificação fazia Eva se sentir como se tivesse atravessado um portal para o passado. Sua arquitetura lembrava alguns aspectos das Casas Espirituais em sua grandeza, mas, diferente de algumas delas, não fazia Eva se sentir pequena. Em vez disso, era como se uma parte dela apenas se esquecesse totalmente de si mesma por um momento, e outra ansiasse por andar por aqueles corredores. A grande entrada, cujas portas de madeira avermelhada se encontravam totalmente abertas para o dia, pareciam convidá-la a entrar e explorar.

Algumas pessoas se fascinavam com a modernidade. Com os esparsos e barulhentos carros e sua fumaça sufocante, com os telefones que alcançavam quase qualquer lugar do país. Com todas as promessas de novas invenções, que por sua vez prometiam tornar a vida mais fácil e o tempo, mais eficiente.

Quanto a Eva, era aquilo que a fascinava. O passado que durava para sempre. O eterno que conectava os tempos. O atemporal.

Ainda faltavam várias horas para o horário da recepção e introdução dos novos escritores, mas se a porta estava aberta, Evanna deduziu que eles já esperavam que alguns novatos chegassem com antecedência. Sem se demorar mais, ela pegou suas malas uma última vez e andou em direção à porta.

As lembranças de quando viera fazer o teste ainda estavam frescas em sua memória. Lembrava-se como se fosse ontem do corredor relativamente largo, do carpete vermelho que avançava pelo piso como se mostrasse o caminho, das diversas pinturas emolduradas penduradas logo acima de placas de metal gravadas com frases variadas.

Ela reconhecia várias daquelas citações. Eram trechos de alguns de seus livros preferidos. Livros que tinham nascido ali.

Novamente, ela se viu ciente do peso especial em seu braço.

Evanna seguiu o caminho vermelho sangue até o fim do corredor, onde atravessou uma passagem esculpida na mesma forma de arco angular da porta principal e entrou em um lugar um pouco diferente.

Ainda não se tratava de um ambiente desconhecido. Eva se lembrava vividamente do teto incrivelmente alto, alto a ponto de ela duvidar que a luz dos lustres alcançaria o chão. Uma das poucas coisas que pareciam ter sido modificadas na Academia desde a sua fundação era a instalação de luz elétrica, com fontes luminosas instaladas sobretudo nas paredes e em pontos estratégicos do teto e que, em um primeiro momento, pareciam estar dando conta do recado. O posicionamento distinto das luzes lembrava vagamente a Eva de como a iluminação deveria ser na época das velas, candelabros e lampiões, a qual vivera apenas brevemente quando era bem mais nova, nova demais para se lembrar, mas que revivia constantemente através das histórias de seus livros.

Evanna não sabia o que aquela área era em dias normais, ou se era costumeiro ela ser tão vazia e espaçosa quanto o era em sua visita anterior e agora. Tampouco sabia para onde davam dois dos quatro corredores que saíam de lá, sendo os dois conhecidos o corredor que acabara de atravessar e o que agora se encontrava à sua esquerda, que tomara para fazer o teste havia tão pouco tempo.

Mas como da última vez, agora o lugar parecia ter sido reservado para a acomodação dos recém-chegados. Não havia muitos lugares para se sentar ou qualquer tipo de comida ou bebida, mas algumas pessoas já começavam a se acumular ali, sentadas no chão ou apoiadas na parede ao lado de suas malas, mochilas, bolsas e o que mais tivessem trazido consigo. Alguns adultos e pessoas mais velhas perto das entradas respondiam às perguntas ocasionais que lhes eram feitas, e no resto do tempo apenas observavam os novatos com olhares que variavam de ativo interesse a neutralidade.

Evanna deu uma olhada em volta rapidamente. Dentre aqueles que ela deduzia serem outros escritores novatos, até o momento a maioria era relativamente jovem, perto de sua idade, e alguns eram um pouco mais velhos, já acima dos vinte e poucos anos. Não que houvessem muitos para que ela pudesse definir exatamente o perfil de seus novos companheiros de aprendizado; a maior parte provavelmente chegaria mais tarde.

Concluindo que teria tempo para conhecer seus colegas depois da introdução, Evanna procurou um canto tranquilo em que pudesse se acomodar por hora. Seus olhos se atraíram por um trecho da parede, para o qual se dirigiu.

Apoiando suas coisas ao seu lado de maneira relativamente organizada para não atrapalhar qualquer eventual pessoa que também resolvesse ficar por ali, a garota apoiou as costas na parede e sentiu o atrito em sua pele enquanto lentamente escorregou para o chão, onde se sentou e cruzou as pernas.

Agora, estava onde devia estar e teria várias horas livres pela frente. Não havia mais por que esperar.

Eva delicadamente retirou a sacola de seu braço e tirou de dentro dela o precioso volume. Os movimentos de suas mãos ao manuseá-lo eram cuidadosos, quase como os de um adorador que tocava um objeto venerado. Por um lado, era quase insultante que agisse como se a qualquer movimento brusco pudesse quebrar em milhares de pedaços um objeto como um livro, que era tão resistente que podia atravessar as eras melhor do que qualquer homem, mas ela não conseguia evitar.

Depois de admirar mais uma vez a capa, ela abriu o volume na primeira página e começou a ler.

A primeira frase de um livro era sempre importante, mas em um livro Imersivo, isso era ainda mais verdadeiro. A primeira frase era o que definia como você seria puxado para dentro da história; se seria um puxão repentino, seguido por um baque de emoções, ou se seria a transição tranquila de uma brisa suave, acompanhada pelo calor do fim da tarde e pelo começo de uma bela poesia. Se seria ao som urbano das ruas movimentadas de uma cidade fictícia, ou se seria com os ruídos naturais de um belo bosque.

Em Borboletas, Mariposas e o Cheiro do Mar, a transição foi suave, quase imperceptível.

Quando eu era pequena, minha avó me contava histórias. Uma das minhas preferidas era de como as mariposas nasciam dos cristais de areia das praias, e as borboletas nasciam da espuma do mar...


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