Academia da Pena (Interativa) escrita por Kath Gray


Capítulo 2
Capítulo 1 - Despedida


Notas iniciais do capítulo

E aqui está o primeiro capítulo ♥
Confesso que planejava ter mais personagens antes de escrevê-lo, mas na falta de alternativas, tive que começar assim mesmo ^^' mas olha, vou dizer que até que curti o resultado! :33
Enfim! Espero que goste, Peregrin~



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— Pegou todas as mudas de roupa? A sua camisa preferida? Os dois frascos de xarope? A caneta tinteiro que te demos de aniversário?

— Sim, vô, já peguei tudo.

Evanna estava tendo um pouco de dificuldade descendo a escada com as duas malas pesadas, mas como sempre tentou não deixar isso transparecer. Sabia que seus avós insistiriam em ajudá-la, e nenhum dos dois estava mais em condições de carregar tanto peso.

— Querido, você devia ter um pouco mais de confiança na Eva. - disse sua avó, Odessa, que descia à sua frente, enquanto Sabino, o avô, já as esperava perto da porta. - Você sabe que ela é duas vezes mais organizada do que você e eu juntos.

— Mas e se ela esquecer alguma coisa importante? Só vamos conseguir levar para ela daqui a uma semana! - insistiu o avô.

— Vô, você sabe que a Academia aceita visitas depois e antes do horário das aulas. - disse Evanna. - Além disso, eu passei a semana inteira listando tudo de que precisaria, e chequei tudo duas vezes ontem à noite. Tenho certeza de que está tudo aqui.

Sua avó olhou para seu avô. "Eu te disse".

— Você sabe que não é que eu não confie em você. - disse Sabino para a neta. - Só estou preocupado. Você nunca passou tanto tempo fora de casa...

Aos dezoito anos, várias pessoas já começavam a procurar escolas de ofício ou profissionais que as aceitassem como aprendizes nos ramos que queriam seguir profissionalmente, mas Evanna não tinha pressa de correr atrás do futuro. E curiosamente, sua paciência acabou dando frutos dos mais dourados.

A Academia. Só de pensar nisso, sua cabeça começava a girar. Nunca teria imaginado que seria aceita em uma escola tão renomada. Claro, ela sabia que escrevia bem e tinha fé em suas histórias...

...mas a Academia da Pena estava em um nível completamente diferente. Ou, pelo menos, isso era o que ela achava.

Seis meses. Seis meses morando em uma construção histórica, bem ao lado da maior coleção de livros daquela região do país e uma das maiores do continente. Seis meses aprendendo com os maiores profissionais de Escrita Imersiva da nação. Se fosse dedicada o suficiente, conseguiria se manter lá até o final do ano. Se continuasse se dedicando, estenderia seu período de estudos por mais um ano.

E então, se conseguisse, chegaria ao seu terceiro ano na Academia, quando se graduaria oficialmente. Quando já teria absorvido cada gota de experiência que a Academia poderia lhe oferecer. Quando já teria aprendido com ela tudo que lhe poderia ser ensinado, e finalmente estaria pronta para seguir dali em diante por conta própria.

Eram raras as pessoas que se graduavam no terceiro da Academia e não se tornavam escritores internacionalmente reconhecidos.

Esse era o objetivo que Evanna mantinha junto à mente e ao peito enquanto arrastava a bagagem até a porta de casa.

— Tem certeza de que não quer que a gente te acompanhe? - perguntou a avó, ao dar um abraço apertado de despedida em Eva. - Não seria problema nenhum.

— Eu consigo me virar. - disse Evanna, ao se afastar da avó e se virar para o avô, que também a abraçou com força. - Além disso, quero dar uma passada lá no caminho.

— Não se esqueça de mandar notícias sempre. - disse o avô, apertando-a como se não tivesse planos de deixá-la ir. - Se lembrar de qualquer coisa que esqueceu de levar ou sentir saudades, é só ligar ou mandar um telegrama.

— Vô, eu só estou indo para a cidade vizinha. - Eva deu uma risada suave. - Não é como se vocês nunca mais fossem me ver.

— Ainda assim...

Finalmente, ele a soltou. Evanna passou a mão pelos curtos cabelos escuros e ondulados, bagunçando-os um pouco. Isto é, um pouco mais do que o normal.

— Bom, acho que vou indo. - disse, então. - Não quero chegar atrasada para a introdução.

— Realmente, não seria um bom começo. - brincou a avó. Evanna sabia que ela brincava, mas que não tão no fundo, também sentiria saudades. Eva também sentiria.

A garota puxou as alças das duas malas, uma em cada mão.

— Até o fim de semana! - despediu-se ela. - Assim que estiver estabelecida, prometo que mando um telegrama.

— É para mandar mesmo, viu! - disse o avô.

Se fosse continuar ali até se despedir o suficiente, ela nunca chegaria à Academia na hora. Por isso, Evanna se forçou a virar-se, dando as costas para as duas pessoas que a haviam criado como se fosse sua filha, e começou a arrastar as bagagens em direção à sua segunda e última parada.

 

.

 

— Olá!

O som dos sinos quando a porta abria ou fechava era profundamente familiar e nostálgico para Eva.

A livraria não era nem de longe um lugar grande ou espaçoso em qualquer sentido, mas isso não a impedia de acumular uma quantidade inacreditável de livros.

Eles estavam em todos os lugares. Alinhados nas prateleiras, enfiados nos pequenos espaços vazios em cima e embaixo delas, e até empilhados no chão, às vezes em pilhas que chegavam à cintura de uma pessoa adulta.

— Eva! - uma voz surgiu dos fundos da loja.

Se Evanna tivesse que dizer quem era a pessoa mais importante para ela depois de seus avós, Arlen não tinha concorrentes. Ela praticamente crescera passando suas longas tardes desocupadas ali ao seu lado, rodeada de livros de ficção e não-ficção.

Além disso, fora Arlen que descobrira seu talento para escrita e a incentivara a praticar. Na verdade, ele fora provavelmente o principal motivo para ela ter conseguido ser aceita na Academia da Pena.

Arlen tinha uma pele morena e cabelos escuros, e em torno de trinta ou quarenta anos. Quando apareceu de trás da bagunça que mantinha perto do balcão, trazia três grossos volumes nas mãos, os quais acabou largando sem muita cerimônia em cima de alguns outros sobre a superfície de madeira.

— Já é o grande dia? - perguntou ele, se aproximando da garota e colocando as mãos nos bolsos de maneira casual.

— Sim. Resolvi passar aqui antes de pegar o trem. - Evanna ergueu brevemente as duas malas para ilustrar.

— Nossa... o tempo passou rápido, né? - comentou ele, em um tom ligeiramente nostálgico e divertido. - E pensar que mês passado você queria vir trabalhar comigo...

— N-não é que eu não queira trabalhar aqui - a garota apressou-se em se explicar. - É só que é uma ótima oportunidade, e...

Arlen riu.

— Eu sei disso. Estou só brincando com você. - ele bagunçou os cabelos dela carinhosamente, como costumava fazer quando ela era mais nova. - Você tem todo o meu apoio nisso. Tenho certeza de que se dará muito bem.

— Hm... vou sentir saudades de vir aqui. - confessou ela. “De estar perto daqui, de maneira geral.”

Onde morava com os avós, Evanna estava a menos de quinze minutos de distância dali. Sempre que estava entediada ou estressada ou simplesmente com muito tempo livre, era muito fácil dar um pulinho ali e ler um pouco ou conversar com Arlen sobre as histórias que tinha lido ou sobre os livros novos que tinham acabado de chegar.

Ela sentia que não ter mais essa opção seria um pouco angustiante, mesmo que o lugar para onde estava indo também fosse repleto de livros.

— Tenho certeza de que os meus clientes também vão sentir saudades de você. - riu Arlen. - Você sempre dá as melhores sugestões.

— Eu só ajudo eles a encontrarem o que estão procurando. -  Evanna desconsiderou o comentário com um dar de ombros. - É fácil saber qual livro combina com as descrições quando já se leu quase todos.

— ...e esse é um dos motivos pelos quais você vai impressionar na Academia. - sorriu ele. - Aposto que os seus colegas e veteranos vão se surpreender nas reuniões dos debates.

O termo era novo para Eva.

— Debates?

— É. Basicamente, os aspirantes e professores se juntam para discutir sobre temas específicos. - explicou ele. - Você vai se surpreender com o quanto os ensinamentos da Academia se baseiam em uma boa discussão saudável.

— Como é que você sabe isso? - pergunta ela, curiosa. Era natural que as histórias corressem por aí, sendo um lugar tão conhecido e não exatamente sigiloso, mas ela nunca tinha ouvido sobre isso antes.

— Eu tive uma amiga que foi aceita lá. - ele contou, dando de ombros. Ele se virou para a estante ao seu lado. - Ela ficou durante dois anos e meio, mas acabou saindo mais cedo. Os professores decidiram que não havia mais nada que pudessem ensinar a ela. - ele passou os olhos rapidamente por alguns dos volumes. Finalmente, encontrou o que estava procurando e puxou-o de entre os outros com o indicador, em seguida segurando-o com as duas mãos. Ele admirou a capa brevemente. - Ela escreveu esse daqui logo depois da graduação.

Então, estendeu o livro para Evanna.

Ela ficou confusa por um momento. Em seguida, surpresa.

— É para mim? - perguntou.

— Sim. Fique com ele como um presente de aceitação na Academia. - disse Arlen, sorrindo. - É bem do seu estilo preferido. Aposto que vai adorar.

— Mas... mas... - ela encarou-o por um momento. - ...ela se graduou na Academia, certo? Isso não quer dizer que ele é...

— Sim, ele é de Escrita Imersiva. - respondeu ele. - Uma das melhores que já li, inclusive.

— Mas...!

Livros de Escrita Imersiva eram extremamente caros. Não caros a um nível que uma pessoa comum não pudesse ter um ou outro em sua estante com um pouco de esforço, mas certamente muitas vezes mais caros do que um livro comum. Dezenas de vezes, até. Em casos extremos, algumas centenas.

Afinal, um escritor tinha que se dedicar totalmente a essa atividade se quisesse ser capaz de escrever um. Era algo que não possuía atalhos nem desvios: ou você fazia ou não fazia. Não só isso, como também boa parte deles consistia em volumes únicos: um Livro Imersivo só possuía uma cópia se seu escritor decidisse fazer uma à mão - o que raramente acontecia, levando em conta que esse tempo poderia ser melhor aproveitado começando outra história do zero.

O próprio Arlen não possuía muitos Livros Imersivos à venda. Eva se lembrava claramente de três deles e vagamente de um quarto, que fora vendido quando ela era bem nova, mas a maioria dos que ele vendia eram livros comuns - o que não era ruim, era até bastante prazeroso, mas simplesmente não estava no mesmo nível.

— Ela ia gostar que você o tivesse. - disse Arlen. - Na verdade, acho que ia se divertir se soubesse que esse livro chegaria a visitar o lugar que o tornou possível. Talvez eu mande uma carta para ela mais tarde contando isso.

Evanna ainda estava hesitante.

— ...tem certeza de que não vai fazer falta? - perguntou.

— Absoluta.

Finalmente, ela cedeu. Recebeu o volume encadernado com as duas mãos, como pessoas de algumas culturas faziam ao receber objetos ou documentos importantes.

A capa era feita de um couro liso tingido de um azul escuro e tinha um acabamento em dourado com alguns cordões prendendo as folhas juntas. Nela, se lia o título Borboletas, Mariposas e o Cheiro do Mar, e uma ilustração bastante icônica de borboleta ocupava o lugar central.

O jeito bastante artesanal do volume fez com que Evanna se sentisse instantaneamente cativada por ele. Ela quase conseguia sentir o carinho e a dedicação que a escritora investira nele ao finalizá-lo com as próprias mãos.

A garota ergueu os olhos para o amigo.

— Vou cuidar bem dele.

— Eu sei que vai.

Eles se encararam por alguns momentos. Nenhum dos dois sentiu necessidade de preencher o silêncio; dois leitores assíduos não precisavam desse tipo de rituais e formalidades. Às vezes, o silêncio dizia tanto quanto qualquer palavra.

Finalmente, Arlen desviou o olhar.

— Bem, acho que você devia ir indo. - disse. - Não ia ser legal chegar atrasada no primeiro dia.

Eva riu.

— Eu disse a mesma coisa. - ela foi pegar as alças das malas novamente, mas percebeu que estava sem mãos suficientes. As duas estavam completamente cheias, e ela dificilmente conseguiria achar algum espaço para mais um livro (afinal, por maior que fosse a coleção da Academia, ela nunca conseguiria deixar de levar seus preferidos. Seria como ter parte da alma arrancada de seu peito e mantida longe do resto por um longo tempo). - Você não teria uma sacola para me emprestar, teria?

— Vou pegar uma lá atrás.

As sacolas e embalagens ficavam guardadas debaixo do balcão, em caixotes. Ele pegou uma de pano com cordões ajustáveis, do tipo que normalmente se usava para colocar presentes.

— Aqui. - ele estendeu-a para a garota, que aceitou-a. (Que sentido faria recusar uma sacola para presentes se já tinha aceitado um dos livros mais caros da loja?) Ela colocou o volume cuidadosamente dentro dela, fechou o cordão com um laço e passou a mão pela alça.

— Até um dia, Arlen! - despediu-se ela. - Eu vou passar para visitar um fim de semana desses.

— Estarei esperando! - ele acenou para ela.

Com isso, a garota saiu da loja. Assim que a porta de madeira e vidro se fechou às suas costas, a saudade já começou a tomá-la.

Sem perder mais tempo, ela pôs-se a andar rumo à estação.


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Notas finais do capítulo

Minha ideia original era já entrar na Academia no próximo capítulo, mas se não chegarem mais personagens, talvez eu tenha que contornar os planos um pouco mais ^^'
Enfim, vagas abertas. Se você ainda não mandou, sinta-se à vontade~