He Looks Like Hell escrita por siriustick


Capítulo 1
Get down, baby


Notas iniciais do capítulo

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Please to meet you

Hope you guessed my name

 

A música pulsava pelos alto-falantes daquele bar minúsculo e claustrofóbico, estremecendo toda a estrutura do lugar e fazendo com que o corpo de Lily Evans vibrasse em conjunto. Sentia as notas pulsando pelo chão enquanto se movimentava, acompanhando a música estridente. Sentia o suor escorrendo pelo pescoço, fazendo um caminho pelo vale de seus seios. Sentia seus cabelos longos e vermelhos grudando em sua nuca. Sentia olhares das pessoas em si.

Sentia tudo.

Sentia um conjunto de sentimentos apertando sua garganta. Tantos que não conseguia contar.

Frustração. Desejo. Necessidade. Raiva.

Mexeu o quadril com mais vontade, os braços balançando ao som do ritmo arrastado.

Não queria sentir nada.

Sua irmã estava noiva daquele porco horrendo. Alice havia perdido os resumos das aulas de psicopatologia que Lily vinha escrevendo há dias, preparando-se para as provas finais. Marlene, que a estava acompanhando, fora embora horas atrás com um homem que havia acabado de conhecer. E ela estava ali, sozinha.

Lily inveja Marlene. Havia saído em um encontro na noite anterior e, por mais encantador e gostoso que o cara fosse, ele não era James Potter.

Seu demônio particular. Aquele que Lily nunca provou, mas era constantemente utilizado por ela como parâmetro de comparação com qualquer outro sujeito do sexo masculino.

O filho da puta estava sempre por perto, fisicamente ou em seus pensamentos.

Naquele momento, estava em ambos.

Lily podia senti-lo.

 

But what's confusing you

Is just the nature of my game

 

O lugar vibrava pela música e pela presença dele.

Estava ali, escorado no balcão de madeira enquanto segurava um copo cheio de um líquido escuro. Como sempre, com Sirius Black à tiracolo.

Lily dificilmente admitiria em voz alta, mas adorava Sirius. Ele era um babaca, é bem verdade, mas diferentemente do amigo, ele a divertia.

Potter a enlouquecia.

Black tagarelava enquanto gesticulava enfaticamente com as mãos, mas James não parecia estar atento ao monólogo. Os olhos - escondidos pela porra de uma armação preta que fazia Lily imaginar o quão bom seria ter ele entre suas pernas, a barba mal feita arranhando suas coxas, e, Deus, a merda daquela língua fazendo… - estavam focados nela.

Ela sentia. Sentia a conhecida tensão sexual que os rodeava, que vinha crescendo diariamente em um período de dois anos. Desde aquela maldita matéria de antropologia em seu primeiro semestre da universidade.

Sua turma de Psicologia dividia algumas matérias com os estudantes de Ciências Políticas - e James era um deles. O típico cara rico com toda aquela gloriosa áurea rebelde e ego inflado, tão confiante e seguro de si que era insuportável observá-lo por muito tempo sem querer arrancar com as próprias unhas a expressão presunçosa que parecia não abandonar aquele rosto bonito.

Como se não bastasse, ele era extremamente inteligente. Lily nunca conhecera alguém com a língua tão afiada, ainda que morasse com Marlene. Potter parecia sempre ter uma resposta pronta e articulada para todos os assuntos do mundo. Foi impossível não notá-lo: a garota tinha um fraco por acadêmicos - principalmente se fossem bonitos.

E Potter fazia questão de ser notado, assim como fazia questão de notá-la. Dois anos de investidas e indiretas bem elaboradas, de comentários ácidos, de troca de olhares carregados de desejo e nenhum, nenhum contato físico onde realmente importava. Nada além de provocações sussurradas e, eventualmente, beijos no rosto que raspavam o canto de sua boca. Ou mãos que, sem querer, raspavam suavemente por sua pele.

Ele era seu inferno pessoal.

 

 Just as every cop is a criminal

And all the sinners saints

 

James estava vestido como o pecado. Usava um par de jeans que agarravam nos lugares certos e fariam Maria abrir mão do seu título de virgem e a habitual jaqueta de couro preta, jogada por cima de uma blusa qualquer e que de nada a interessava. Preferia que ele estivesse sem, na verdade.

Tudo nele parecia ser pensado para intensificar a libido de Lily: o corpo delicioso, a voz melodiosa e rouca, o cabelo sempre com o aspecto de quem havia tido uma boa foda e um rosto, a porra de um rosto esculpido por anjos.

Lily tinha dúvidas da existência do paraíso até conhecer James Potter. Agora, sabia que era real.

O cara era tão perfeito que parecia de mentira. Por favor, que fosse de mentira.

E a estava encarando explicitamente. Por tanto tempo que Black precisou socá-lo no ombro para receber novamente a atenção do amigo. Cristo.

James levou o copo aos lábios, o pomo-de-adão movimentando-se lentamente ao engolir o líquido, e desviou os olhos dela para dar atenção a Sirius - que alternava o olhar entre os dois com um sorriso presunçoso nos lábios.

Lily estava tão absorta encarando Potter de volta que havia, sem perceber, parado de dançar. Merda.

 

As heads is tails

 

Sentiu o rosto, já rubro pelo calor, aquecer-se ainda mais por vergonha. Passou a mão pelo pescoço, sentindo-o molhado por gordas gotas que suor que escorriam sem pudor algum por todo o seu corpo. O bar, já antes abafado pela grande quantidade de universitários eufóricos reunidos em um espaço tão pequeno, agora parecia completamente sem ar. Claustrofóbico.

Precisava refrescar-se. Sentia seu corpo queimando.

Desviando com dificuldade dos corpos movidos a álcool e sabe-se Deus o que mais, conseguiu chegar ao banheiro feminino, localizado paralelamente ao balcão onde Potter continuava escorado e tomando sua bebida.

Uma pista inteira os separava. Lily podia finalmente respirar.

Ao entrar, lutou com algumas garotas pelo espaço em uma pia. Rapidamente, amarrou os fios ruivos com um elástico que sempre mantinha em seu pulso e ligou a torneira, que liberava um fraco fluxo de água. Cuidadosa e pacientemente, encheu as mãos com o líquido e o passou pelo pescoço. A carne parecia estar fervendo. Molhou seus braços, o peito e a testa. O vestido, por mais curto que fosse, esquentava seu corpo como se fosse um sobretudo. Estava em chamas.

Não apenas pelo calor.

Suspirou. Precisava se acalmar antes de voltar para a pista, ou faria papel de tola novamente. Era ridículo o tanto que se deixava afetar pela figura de um homem. Lily, a mulher que torcia o nariz toda vez que Alice se desestabilizava na presença de Frank Longbottom (seu amor platônico desde que o conhecera no primeiro dia de aula) agora estava ali, paralisada em uma pista de dança por causa de um olhar de James Potter.

Lily era católica. Acreditava em pecado. Acreditava em punição.

Estava recebendo a sua.

Que Deus a ajudasse. 

 

Just call me Lucifer

'Cause I'm in need of some restraint

 

Molhou o pescoço mais uma vez, secando a pele com o papel vagabundo que o bar oferecia. Ao seu redor, diversas garotas tagarelavam sobre suas noites e suas conquistas amorosas enquanto preenchiam novamente os lábios com batom. Vermelhos, sempre vermelhos.

Precisava ir para casa.

Soltou o cabelo, frustrada, e guardou o elástico novamente no pulso. Arrumou os fios e verificou seu reflexo no espelho. Bochechas vermelhas, rímel um pouco borrado ao redor dos olhos por conta do suor, vestígios de batom nos lábios, diversas sardas cobrindo-lhe a pele. Olhos verdes, cansados e confusos. O decote do vestido escondia seu celular, que provavelmente estava ensopado. Nojento.

Exalava tesão mal resolvido. Patética.

Deu as costas para o espelho, pescando o aparelho telefônico entre o sutiã e os seios. Não estava tão molhado quanto imaginava, ainda bem. Enquanto caminhava em direção à saída do cômodo, procurava em sua agenda o número do serviço de táxi. Estava decidido, ia para casa.

Torcia para que Marlene não tivesse levado seu encontro para o apartamento que Lily dividia com ela e Alice. Não iria aguentar outra noite ouvindo os gritos da amiga.

Iria se corroer de inveja.

Marlene conseguia ser bem expressiva em alguns momentos.

Suspirou profundamente. Abriu a porta. Conseguiu dar apenas um passo para fora do banheiro antes de ouvir uma voz conhecida. 

 

So if you meet me

Have some courtesy

 

“Sabe, Evans, você tem esse hábito ridículo de viver fugindo de mim.” James bloqueava a saída do banheiro e, consequentemente, a saída dela. Ele estava em sua frente, de braços cruzados e sorrindo maliciosamente para ela. Cacete.

Lily engoliu em seco. Guardou novamente o celular. Mais um suspiro, dessa vez irritado. Porra. De perto, ele parecia ainda mais bonito. Os cílios longos, os olhos provocativos. O perfume - um cheiro que não sabia identificar, mas que era bom. Maravilhoso.

Imediatamente arrumou a postura, incorporando a habitual expressão de desafio que vestia quando o outro estava por perto. Sentiu todo o seu corpo entrar em estado de alerta e excitação. E ele só havia falado algumas palavras.

O rosto de um anjo em um corpo coberto pelo pecado.

“Sabe, Potter, felizmente o mundo não gira ao redor do seu umbigo.” Rebateu. Percebeu que James avançava lentamente em sua direção, enquanto a encarava fixamente. Lily tentou parecer inabalada. “Supere seu complexo de Deus”.

Potter soltou rapidamente o ar pelo nariz, divertido. “Gosto quando você me patologiza”. E então, estavam a centímetros um do outro. Podia sentir o calor emanando do corpo masculino e o suave cheiro de álcool em seu hálito. Lily gostava.

Lily amava. Por pouco, sua respiração não falhou.

“Mas escute, Evans.” James sussurrou, inclinando a cabeça na direção do ouvido de Lily. Ela enrijeceu a postura, sentindo um arrepio nascer em sua nuca e deslizar por todo o corpo. Estremeceu. Potter riu, percebendo a reação dela. O sopro suave que escapou de seus lábios fez Lily querer chorar. “Estou lidando um dilema interno”.

 

Have some sympathy, and some taste

Use all your well-learned politesse

 

O nariz dele roçou seu pescoço. As mãos enormes apertavam sua cintura, os polegares fazendo círculos na pele coberta por tecido.

Nunca haviam ido tão longe. Lily estava aflita.

Estava nervosa.

Estava fervendo.

“E quer conversar sobre isso aqui? Na porta de um banheiro de bar?” Sua voz não havia saído com a entonação que desejava e se sentiu patética. Estava ofegante. Seu pescoço, instintivamente, inclinou para o lado como se convidasse os lábios dele para um passeio pela pele alva. Lily conteve a vontade de fechar os olhos. Os braços, ainda cruzados, se apertaram para manter as mãos no lugar.

Longe dele.

Mas as mãos dele estavam em todos os lugares.

Não conseguiria conversar se resolvesse tocá-lo, e estava com a sensação de que James diria coisas interessantes. Por favor, que falasse coisas interessantes.

“Foda-se, Evans. Estou ansioso. Prefiro não enrolar”. Uma garota gritou ao lado deles, pedindo gentilmente para que saíssem da frente da porta. James empurrou Lily para o lado, os dedos apertando sua cintura com ainda mais força. Ele sorriu, debochado.

Lily suspirou. Alto. Como quem desiste. Suas mãos, em um movimento involuntário, se desfizeram do aperto de ferro e foram para os bíceps de James.

Merda.

Os dedos desceram até tocarem o pedaço de pele entre a barra da blusa e o cós da calça. Conseguia sentir os músculo firmes do abdômen masculino. Lily perdeu completamente o controle de seu corpo. Sua boca salivou. James sorriu mais uma vez.

Ele sorria muito.

Ela queria chorar.

 

Or I'll lay your soul to waste

 

Com um aceno de cabeça, sinalizou para que Potter continuasse a falar. Não confiava em sua própria mente para montar uma frase coerente. James, demorando-se no movimento, tirou os cabelos ruivos que estavam espalhados pelo colo sardento e colocou-os por trás dos ombros de Lily. Fez questão de roçar suavemente os dedos por todo o trajeto. Lily estremeceu.

Ele segurou o queixo de Lily delicadamente e a encarou, sua atenção fixa nos olhos esmeralda.

“Estamos nessa merda a dois anos, e acho que posso me dar o luxo de ser direto nesse assunto. Você quer me foder, Lily. Eu quero foder você. Por que não paramos com esse jogo doentio de ver quem cede primeiro e aproveitamos logo a parte onde eu te como e ficamos finalmente satisfeitos?”

 

Pleased to meet you

 

Os olhos castanho-esverdeados estavam em chamas.

Vermelho como o cabelo dela.

Vermelhos como o inferno.

Ela acreditava em Deus.

Acreditava também no diabo.

Em Lúcifer.

No momento, não queria o céu.

Ela adorava o inferno.

Adorava vermelho.

Amava.

 

Hope you guessed my name

But what's puzzling you

 

Lily sentia todas as terminações nervosas de seu corpo arderem em prazer. Seus seios pesavam. Sua calcinha estava ensopada. Seus lábios se separaram pela surpresa o máximo que conseguiram, pois a mão dele ainda segurava seu rosto. Forte. Lily reuniu toda a pouca compostura que ainda restava em seu corpo para respondê-lo.

“Bem, você realmente foi direto. Estou um pouco decepcionada, Potter. Não vai dizer nada poético sobre me levar ao céu ou coisa do tipo antes? Achei que você fosse do tipo galanteador por trás dessa pose de badboy.

Ele a encarou, incrédulo, e um som estrangulado escapou pelos lábios carnudos. Era um riso baixo, carregado de ironia. O desgraçado ainda lhe arqueou a porra da sobrancelha, em uma expressão cheia de malícia e soberba.

O estômago de Lily se revirou.

 

Is the nature of my game

 

Ele era o próprio pecado.

“Céu, Lily?” ele desdenhou. “Passo. Deus não deve ver com bons olhos tudo o que eu quero - merda, preciso - fazer com você.” Ele aproximou seus lábios dos dela, roçando-os suavemente. Uma promessa. Um aviso. “Prefiro te levar para o inferno. Tenho certeza de que o demônio nos abençoaria”.

E Lily, católica, nunca quis tanto pecar.

 

Get down, baby.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado - e talvez, um dia, eu volte com a continuação :)



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