EnGraçadinha escrita por Sweet Madness


Capítulo 6
Minha (Des)Graça




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Joker estava largado em seu sofá.

Ele gostava de como ser o príncipe do crime lhe proporcionava luxo. E gostava especialmente daquele sofá de couro.

Estava morrendo de tédio, e implicar com Arlequina sensível daquele jeito mais lhe ferrava a paciência do que o divertia.

Não queria dormir, não queria sair por Gotham, não conseguia pensar em nada que estivesse com vontade de comer...

Não estava a fim nem de provocar Batman aquela tarde. O mundo estava perdido.

Ouviu a namorada entrar em casa. Não estava lá com muita paciência.

Estranhou quando Arlequina se sentou quieta ao seu lado. E decidiu esperar. Em alguns minutos um envelope rosa bebê foi depositado em seu colo.

Ele abriu os exames e passou a lê-los tranquilamente, até o ponto dos hormônios. Eram exames, claramente, De uma mulher gravíssima, talvez de dois ou três meses. O feto não estava muito estável, mas estava lá.

Virou as páginas e achou o nome falso que Arlequina usava sempre que ia ao hospital por alguma razão. Que sempre era inventar que tinha uma doença para tentar chamar sua atenção. E se ferrava toda vez que lhe entregava os exames.

—Falsificou isso?

—Não...

—Então livre-se disso.

 

•~~•


Aquela vagabunda ia ver só.

Se rebela contra ele.

Foge.

Se torna a presa ideal para todos os seus inimigos do Submundo.

E ainda tinha a audácia de exigir que ele fosse ajudá-la com o parto?

Deveria deixá-la morrer pela petulância.

Mas aquela voz no fundindo sua mente o perturbou tanto que ele se viu naquele apartamento velho, onde ele se escondia quando queria paz. Ouviu os gritos estéricos no banheiro e se moveu para lá.

Claro que ele podia fazer um parto.

Então carregou a vilã para a cama e, com paciência, fez o parto.

A criaturinha que nasceu estava embebida em sangue, e chorou pouco. Bastou ele a aproximar do rosto.

Ainda meio no automático, ele levou a coisa de volta para o banheiro. Pretendia afogá-lá na privada. Mas se viu em pé na pia, banhando o pequeno corpo na água quente, um dos poucos luxos do lugar.

Então secou a criaturinha e percebeu que não havia nada apropriado para vestir a pequena. Colocou uma camiseta limpa e enrolou as mangas até os bracinhos ficarem de fora.

Ele mesmo colocou uma roupa preta e escondeu os cabelos verdes sob uma bandana. Retirou sua maquiagem e então foi colocar a neném para mamar o colostro.

Ainda colocando a pequena para arrotar, Joker caminhou até o centro de Gotham, encontrando uma loja de produtos para bebês.

—Boa tarde, senhor. Em que posso ajudá-lo?

—Eu vim comprar roupinhas... Tive um imprevisto e estraviaram a bagagem da minha bonequinha.

As vendedoras se aproximaram ao vê-lo com uma criança tão pequenininha, e deram um suspiro meio sonhador. Sabe-se lá o que elas estavam fantasiando sobre ele.

—Bem, vou lhe mostrar os produtos. Por aqui, por favor. Prefere que tipo de roupinha?

O vilão parou e apreciou o rosto da bebezinha por um tempo.

—Algo confortável... E algum agasalho para o inverno... E pijaminhas.

—Por aqui, senhor.

•~~•

Joker achou que valia a pena o furto da noite passada. Escolheu a dedo todos os remédio que quis e conversou com a bebê presa ao canguru enquanto colocava tudo na grande bolsa que havia levado.

Então arrumou o armário do banheiro com todos os remédios, e começou o próprio tratamento. Ele precisava de um plano, e precisava de toda a sua genialidade para que não tivesse falhas.

Então ele seguiu rigorosamente o tratamento por dias.

E toda vez que ele pensava em desistir, que queria se livrar dos efeitos colaterais dos primeiros usos, vinha aquela risada de bebê.

O dengo, o chorinho, as risadinhas, os aconchegos... Joker chegava a passar horas conversando com a neném. Sua neném.

As coisas estavam mudando de uma forma tão absurda, que Joker começou a ver até mesmo Arlequina de uma forma diferente.

A empolgação da vilã por aquela nova faceta do namorado durou alguns meses, até que ela entendesse que o fruto e o alvo de todo aquele amor, todas aquelas decisões, de Joker não era ela. Era a filha.

 

•~~•


—Querida? Cheguei!

Ninguém jamais imaginaria Joker dizendo aquela frase, acompanhada de um sorriso cansado, de quem havia trabalhado o dia inteiro.

Mas ninguém imaginaria que em perninhas curtas e desengonçadas viria uma menininha muito loira, rindo animadamente.

—Papai!-Uma Daintness de muito bem vividos cinco aninhos de idade vinha correndo em direção ao palhaço. Joker já estava sem a peruca loiro-escura, deixando os cabelos verdes bem a mostra, para o prazer de sua bonequinha.-Papai pega eu!

Ele a ergueu no ar, arrancando Uma gargalhada, antes de abraçar sua menina com todo o carinho.

—Eu sempre vou pegar você, minha graçinha.-A pequena enterrou os dedinhos magros nos cabelos verdes. Daintness não era uma criança comum. Ela nunca teve aquela carinha de bolacha, própria para as crianças de sua idade. E seus olhos ficavam de cores cada vez mais opostas. Joker sabia que a razão daquilo era a interferência dos químicos em seu sangue e no de Arlequina. Mas ele não podia fazer nada quanto a isso.-O que foi, meu amor?

O humor dela havia ficado sombrio, triste, e a menininha apenas se escondeu em seu pescoço, chorando baixinho. Joker decidiu que ia dar banho em sua bebê, é que eles sairiam para jantar. Não gostava de ver Daintness chorar.

Logo a água quente varria um pouco do cansaço, e sua menininha havia parado de chorar. Mas agora ele via as marcas roxas pelo corpo dela. E aquilo o enfurecia a níveis aterradores. Apesar dos remédios, ele ainda era o Coringa.

—Graçinha... Você não vai contar ao papai o que aconteceu?

—Ela me odeia...

—Quem, meu amor?

—Alequina...

—Não, amor. Ela não te odeia.-Ele sabia que mentir para crianças era um problema sério. Mas ele ia dar um jeito na mulher.-Ela só é boba.

—Ela disse que não é justo você ama eu... Que você tinha que ama ela... Po que não pode ama as duas?

—Eu posso, sim. Ela está sendo boba, filha. Não dê atenção pra ela.

A pequena limpou os olhinhos desiguais e lhe deu um sorriso de derreter o coração.

—Tá bom, papai.

 

•~~•


Tudo sempre estava bom. Mesmo com as crises de ciúme doentias, as agressões verbais e físicas injustificadas, com as faltas de tempo do pai...

Tudo sempre estava bom.

Joker não gostava da vida que podia dar para a filha sem arriscá-lá. Queria dar brinquedos melhores, roupas melhores, televisão e caixas de som...

Mas ele tinha que se afastar do luxo quando interpretava seu personagem. Ter coisas caras num apartamento daquela estirpe seria pedir por problemas.

O príncipe do crime ainda tocava terror em Gotham, é claro. Mas com menos intensidade e menos mortes. Afinal ele não confiava deixar sua filha sozinha por muito tempo com Arlequina.

—Papai! Hoje é Halloweeen!

—Sim, bruxinha.-A ergueu no colo, distribuindo beijos pelo rostinho corado da menina.-Hoje é o seu dia. Papai vai fazer sua comida favorita.

—Frango com abóboras caramelizadas!-Ganhou um beijo longo e barulhento de sua filha, o que lhe tirou uma risada.-Você é o melhor, papai!

Joker adorava aquela frase. Ela era sempre tão espontânea. Sua filha tinha o costume de dizê-la em momento aleatórios. Inclusive quando ela insistia que era grande e podia cuidar dele se aparecesse machucado, mesmo que ela não soubesse o motivo dos ferimentos.

—Eu vou ao mercadinho, certo? Sua mãe não está em casa hoje, e se vir qualquer movimentação estranha...

—Me escondo no armário em baixo da pia. Sim senhor!

—Boa menina. O pai já volta.

—Até mais, papai! Eu te amo.

Ele se foi, sorrindo largamente. Mas esqueceu de colocar a bandana naquele dia.

Foi um erro crasso. E quando se viu sendo levado pela polícia, quase implorou ao Morcego que pegasse sua filha, antes que Arlequina o fizesse.


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