Demi cambaleou porta a dentro e, com dificuldade, se jogou no sofá. A garrafa em sua mão foi ao chão, e o corpo parecia quase anestesiado pela bebida. Infelizmente, seu coração ainda gritava, implorando por alguém que nunca iria voltar.

Demi sentiu os braços a levantarem do sofá, mas não conseguia lutar contra. Ao invés disso, passou os braços pelo pescoço de quem a levantava.

— Miley? – externou aquilo que seu peito gritava, mas não teve resposta.

Demi sentiu o colchão contra suas costas e se forçou a abrir os olhos. Por um minuto, pode jurar ver a amada a sua frente, mas a bebida foi mais forte e a fez apagar. Pela primeira vez em um ano, Demi odiou a bebida.

***

— Miley, sejamos razoáveis...

— Você me traiu, Demetria!

— Você sabe que eu nunca faria isso.

— Tem a merda de uma foto.

— Eu sei, mas se você me deixar explicar...

— Não tem explicação!

Demi desviou do vaso que voou em sua direção por pouco, e encarou Miley, assustada.

— O que é isso, mulher? Enlouqueceu de vez?

— Eu odeio você Demetria. Você... Eu nem posso te olhar, agora.

***

Demi sentou na cama com a respiração pesada e olhou em volta. Seu peito pareceu pesar uma tonelada assim que reconheceu o lugar. Fazia um ano que não pisava naquele quarto. Naquela casa. Ela sinceramente evitava qualquer coisa que pudesse lhe lembrar Miley e, principalmente, daquela noite.

Demi praticamente se arrastou para fora da cama e desceu as escadas na velocidade de uma tartaruga. Sua cabeça pesava e ela mal podia manter os olhos abertos.

— Bom dia. – Dallas disse assim que viu a irmã e lhe estendeu uma xicara de café.

— O que faz aqui? – Demi murmurou, pegando a xicara.

— Você sumiu ontem e menos de dez minutos depois tava em tudo que é parte da internet.

— E como sabia que eu ia vir pra cá?

— Eu tenho calendário. – Dallas disse e Demi suspirou.

— Sinto muito.

— Eu entendo. Mas não vou te deixar sozinha hoje.

— Dal, qual é?

— Eu sei que você vai acabar bebendo de novo se ficar sozinha. E você sabe que está a um segundo de passar dos limites.

— Que eu passe. Que seja! Eu não me importo Dallas.

— Demetria...

— Foi minha culpa!

— Não foi sua culpa.

— O inferno que não.

— Demetria...

— Só... Eu só quero ficar sozinha hoje, Dallas.

— É, mas eu quero o seu bem, e não ligo pro que você quer.

***

Demi acelerou o carro quando Miley acelerou a moto.

Chovia torrencialmente e ela mal podia enxergar a sua frente. Ainda assim, se recusava a sair do encalço da namorada.

— Vamos lá, Miley. Seja razoável. Vamos conversar. – Demi murmurou.

Miley acelerou ainda mais a moto e Demi respirou fundo, a seguindo.

***

Dallas estacionou em frente ao cemitério e logo o carro estava cercado por fotógrafos.

— Tem certeza que quer fazer isso? – Dallas perguntou.

— Eu preciso.

Demi colocou os óculos escuros antes de sair do carro e Dallas a seguiu.

Os flashes e perguntas não paravam, mas Demi seguiu cemitério a dentro sem parar. Quando chegou em frente ao tumulo, porém, sentiu seu coração falhar uma batida e se deixou cair de joelhos, deixando as lagrimas escorrerem.

— Eu sinto tanto. – Demi disse – Me perdoe, por favor.

— Não foi sua culpa, Demi. – Dallas murmurou.

— Eu sinto tanto sua falta. E eu to cansada de tentar fingir que não. Eu te amo tanto. E eu nunca... Eu não posso te esquecer, meu amor. Eu não posso e não quero. Mas dói tanto... – Demi tentou afastar as lagrimas que embaçavam sua visão com as costas da mão e suspirou – Eu tentei vender nossa casa, sabe? Eu queria, porque eu nem consigo mais pisar lá. Mas eu não consegui. E não porque ninguém quis comprar, mas porque parece ser a única coisa que me restou de você. Todas as nossas lembranças ali...

Demi ficou em silencio por alguns minutos e Dallas se afastou, dando privacidade a irmã.

— Você teria vergonha de mim. Eu não sei nem mais o que é sobriedade. E eu sei como você odiava quando eu bebia até mesmo um pouquinho a mais. Só que, sem a bebida, dói ainda mais, sabe? E eu não posso lidar quando dói mais. E hoje então...

Demi suspirou e fechou os olhos, sentindo a cabeça latejar. Ainda assim, seu peito doía mais do que qualquer coisa.

Demi ouviu uma voz conhecida cumprimentando Dallas e respirou fundo.

— Eu sei que você deve estar em um lugar melhor agora. Sei que nunca vai voltar e que eu deveria seguir em frente, mas... Eu daria tudo só pra dizer que te amo mais uma vez. E pra te ouvir dizer de volta. – Demi fungou, sentindo as lagrimas voltarem a escorrer – A última coisa que você me disse foi que você me odiava.

— Ela não te odiava. – a voz de Billy soou atrás de Demi, e ela sentiu a respiração ficar mais pesada – Ela te amava, Demi. E faria qualquer coisa por você.

— Será que ela me salvaria dessa dor pelo menos por uma noite?

***

Demi abriu os olhos, se acostumando a claridade, e sentiu o coração parar por alguns segundos.

— Amor?

— Demi.

— Oh, meu Deus. Miley... Você... Eu pensei que tinha te perdido pra sempre.

— As pessoas que nós amamos nunca nos deixam de verdade.

— Você sempre amou Harry Potter.

Miley sorriu e abraçou Demi, que se apegou aquele contato como se fosse o mais importante da sua vida.

— Me perdoa.

— Você não teve culpa.

— Mas...

— Demi, nós duas sabemos que eu sempre fui cabeça quente. Ela te beijou, e alguém fotografou antes que você pudesse se afastar. Agora eu sei disso.

— Mas é tarde demais.

— Mas não é culpa sua.

— Talvez se eu não tivesse ido atrás de você...

— Para com isso, meu amor. Não é sua culpa. Tinha que acontecer.

— Miley...

Miley passou os braços pelo pescoço de Demi e a beijou apaixonadamente.

— Está na hora de acordar, amor. E lembre-se: eu amo você.

— Miley?

Demi sentou na cama chamando o nome da amada e, ao se ver sozinha novamente, deixou as lagrimas escorrerem. Mas, dessa vez, de alguma forma, seu peito doía um pouco menos.

***

— Para essa moto, Cyrus! – Demi gritou, mesmo sabendo que Miley não a ouviria.

Miley continuou seu caminho Demi não sabia para onde, acelerando cada vez mais, com Demi a seguindo.

A chuva aumentava a cada segundo, e Demi temia pela segurança da amada e pela sua própria.

Em um ato de desespero, Demi abriu a janela, colocando a cabeça para fora.

— Amor, por favor, para! Vamos conversar.

Miley olhou para trás ao mesmo tempo que Demi arregalava os olhos e freava.

Quando Miley olhou para frente, porém, era tarde para parar.

Demi pulou para fora do carro ainda a tempo de ver Miley cair de cima do capô do carro em que baterá.

***

— Muito obrigada! – Demi agradeceu os aplausos e sorriu.

Sentou ao piano e, reunindo toda coragem que tinha, começou a tocar.

Eu geralmente consigo beber até te tirar da minha cabeça

Mas essa noite, sinto sua falta

Eu normalmente consigo te expulsar do meu coração

Mas estou muito cansado para lutar.

Era a primeira vez que Demi cantava aquela música para o público, e sentia o nó em sua garganta.

Yeah a coisa toda começa

E eu deixo você penetrar nas minhas veias e eu sinto a dor como se fosse novidade

Tudo que nós éramos, tudo que você disse

Tudo que eu fiz e o que não pude fazer

Vem á tona, esta noite

Esta noite sua memória queima como fogo

Á cada palavra ele cresce mais e mais

E eu consigo superar isso

Eu só não consigo esquecer esse amor

Eu sento nessas chamas e rezo para que você volte

Fecho bem meus olhos, aguento firme e espero que esteja sonhando

Venha me acordar

Demi levantou e andou até a ponta do palco, enquanto a plateia não cantava aos gritos como normalmente, mas prestavam toda a atenção e, em sua grande maioria, choravam.

Ligo a TV no volume máximo para abafar a sua voz mas eu não consigo esquecer

Agora eu estou sem idéias e baby, estou no meu último cigarro

Yeah, você provavelmente está dormindo e

Sonhando enquanto eu estou sentado aqui chorando e tentando entender

Yeah, aonde quer que você esteja agora, eu tenho certeza, você seguiu

Em frente e não está repensando em nós dois, esta noite

Esta noite sua memória queima como fogo

Á cada palavra ele cresce mais e mais

E eu consigo superar isso

Eu só não consigo esquecer esse amor

Eu sento nessas chamas e rezo para que você volte

Fecho bem meus olhos, aguento firme e espero que esteja sonhando

Eu sei que você está seguindo em frente

Eu sei que eu deveria desistir

Mas eu espero que você tropece e caia de novo nesta paixão

O tempo não está curando nada

Não baby, está dor está pior do que jamais esteve

Eu sei que você não pode me ouvir mas baby eu preciso que você me salve esta noite

Esta noite sua memória queima como fogo

A cada palavra ele aumenta mais e mais

E eu consigo superar isso

Eu só não consigo deixar de lado esse amor

Eu sento nessas chamas e rezo para que você volte

Fecho meus olhos com força, aguento firme e espero que esteja sonhando

Venha me acordar

O último refrão foi cantado a todo pulmões pelo público, enquanto Demi deixava as lagrimas tomar conta.

Oh, estou sonhando, venha me acordar

Oh, estou sonhando

Os gritos preencheram o ambiente e Demi suspirou.

— É a vida real, e você não pode me acordar. – Demi falou sobre os gritos da plateia – Mas eu sempre vou te amar, Miley.