Verde escrita por SundaeCaramelo


Capítulo 1
Verde


Notas iniciais do capítulo

Acho que eu sou a maluca das histórias com cores.
Bom, essa ideia existia na minha mente já há muito tempo. Espero que gostem, reflitam e entendam as mensagens.
Bjs de caramelo!



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            Ela sabia que ajudá-lo seria errado. Falar com ele seria errado. Na verdade, talvez até olhar para ele fosse errado. Não era?

            O “porquê” nunca fizeram questão de lhe explicar muito bem “Eles não são como nós”, foi tudo o que recebeu em resposta, toda vez que se atreveu a perguntar. Ficava emburrada, porque pensava que estavam lhe omitindo algo. Contudo, tinha lá suas dúvidas de que alguém poderia lhe responder melhor. Provavelmente, ninguém sabia a resposta de fato.

            De qualquer forma, não havia como contestar. “Não se aproxime dos amarelos”, diziam todos. Várias vezes, ao longo de sua vida inteira.

            Mesmo assim, ali, naquele momento, vendo aquele garoto que devia ter a sua idade lutando para se manter emerso em meio às correntezas do rio que ela já conhecia tão bem, a primeira coisa em que pensou foi ajudá-lo; não que ele era amarelo.

            Correu até ele, então. Esgueirou-se por entre as árvores, ágil e confiante como se fosse uma ninfa da floresta.

            De repente, porém, a concepção lhe veio: Amarelo. O menino era um amarelo.

            Ela paralisou, escondida atrás de um salgueiro a poucos metros da beira do rio, a respiração ofegante pelo choque de realidade.

            Céus, ela estivera prestes a ajudar um amarelo! Imagine se ela não tivesse percebido? Devia ir embora. Sim, devia ir embora agora! O que diriam se descobrissem?

            Que terrível! Seria terrível!

            Terrível... seria mesmo? Era melhor que ela o deixasse ali, para que se afogasse e eventualmente até... Ora, não seria isso verdadeiramente terrível?

            Conhecia a fúria que aquelas águas podiam ter, já tinha escutado tantas histórias... deixaria aquele garoto tornar-se parte de mais uma?

            Não, talvez nem chegassem a notar se algo ocorresse com ele. Ao menos não do lado de cá. Do lado de lá, todavia... difícil que não comentassem. E sentissem falta dele, se ele tivesse família... como sentiriam falta dela se algo parecido lhe acontecesse.

            Desde sempre, fora ensinada a não se comparar a pessoas como ele.

            “Diferentes”, pessoas como ele eram “diferentes”. Aquele garoto, pelo que diziam, não era como ela.

            Azuis não são como amarelos e amarelos não são como azuis.

            E no entanto, o desespero nos olhos dele era o mesmo que ela sabia que apareceria nos olhos dela. Ele sofria como ela sofreria. Estava lutando por sua vida como ela mesma lutaria.

            Mais um olhar bastou para que ela tomasse sua decisão. Aliás, não, sequer foi uma decisão; foi um impulso que ela não fez a menor questão de controlar.

            Dirigiu-se até a margem, seguindo correndo por terra o caminho que ele fazia arrastado pela água.

            Teria de agir rápido. Felizmente, velocidade sempre fora uma de suas maiores habilidades. Mas teria de ser precisa, também, pois do contrário poderia apenas piorar as coisas – ou se condenar junto.

            Por sorte, por benção, por destino – ela não sabe e não se importa – a garota conseguiu.

            Depois de minutos difíceis de esforço, estavam os dois estendidos sobre a  margem.

            Ele, resfolegante, tossindo água e se contorcendo, mas vivo, pelo menos.

            Por causa dela, ele percebeu, quando finalmente seu estado lhe permitiu.

            Havia sido salvo, por uma garota e azul, ainda por cima.

            Era uma infâmia, escória, o absurdo dos absurdos, ele sabia. Mas não conseguia refrear a gratidão, apesar de tudo.

            Ela era uma azul e ele nem devia chegar perto dela. Era muito humilhante que tivesse recebido ajuda justamente de alguém assim. Azul. E moça.

            Entretanto, quando ele a estudou com o olhar, percebeu que de uma das mãos dela escorria um filete de sangue e que esse sangue era vermelho. Exatamente como o dele.

            Por isso, ao vê-la, sem nada dizer, começar a se afastar, ele a segurou.

            E quando ele a tocou, ele não era mais amarelo. Ela não era mais azul. Os dois eram verdes.

            Verde é a cor da esperança.


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram?
Comentem e favoritem! Fico muito feliz!
Bjs de caramelo!



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