Zeros e Uns escrita por Creeper


Capítulo 9
Capítulo 8: Até breve, Cavaleiro


Notas iniciais do capítulo

Oiiieeee, gente linda que mora no meu core! Como vocês estão?!
Aaaa, eu pintei meu cabelo de vermelhoooo aaaaa, tô mega feliz! Eu amo inventar coisa para fazer no meu cabelo kkk e vocês?
Enfim, espero que vocês tenham uma ótima leitura! Mas já vou avisando que o capítulo tá (in)tenso!



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Não recebemos castigos, sermões ou coisa assim, somente olhares e suspiros de desaprovação. No fundo, sabíamos que estávamos proibidos de sair por tempo indeterminado, senão para sempre.

Minhas feridas arderam ainda mais quando expostas a água quente durante o banho, a intenção era que eu me sentisse relaxado, mas apenas fiquei pior.

Naquela noite, eu e André não trocamos muitas palavras e nem sequer estávamos dispostos para jogar Quod Creature. Nossa pontuação foi extremamente baixa, nos fazendo cair até a última posição.

Recebi uma mensagem de alguém não adicionado e senti desgosto e arrependimento ao ler seu conteúdo.

 

Lobo Lunar: Parece que você aprendeu a lição. Bom garoto. Gosto assim.

 

Rangi os dentes e me contive para não quebrar o mouse em minha mão trêmula. Cretino. Cretino. Cretino. Se alguém naquele mundo merecia todo o meu ódio, aquele alguém era o Renan.

Enxerguei o chat de “Zero,”, não havia nenhuma mensagem sua explicando o porquê de ter me deixado plantado no pior dia da minha vida. Ele estava online, ele havia jogado as cinco partidas.

Ousei lhe enviar uma mensagem com os olhos quase transbordando.

 

Sem Saída: O que aconteceu? E o encontro?

 

Sem Saída: Eu fui com a camiseta verde!

 

Sem Saída: Fiquei te esperando...

 

Sem Saída: Me responde, por favor, eu preciso de você.

 

Tudo que eu mais queria naquele momento era conversar com ele, precisava de alguma espécie de conforto. A dor em meu peito estava se tornando algo insuportável, era difícil até respirar.

Não recebi nenhuma resposta de “Zero,” e eu entendi isso como um sinal para ir dormir. André já estava dormindo, sabia que ele havia ficado profundamente chateado com toda a situação e optou por descontar no sono.

Ao deitar-me e desabar em lágrimas novamente, senti como se nunca mais quisesse sair daquele quarto. Tudo em minha estava partido: meu rosto, meu corpo, minha dignidade e... Meu coração.

 

Você sente contrição?

 

Essa foi a pergunta da quinta rodada daquele dia.

 

xXx

 

Você sente contrição?

Tanta que sinto que posso vomitar de angústia. Era isso que vocês queriam? Parabéns, seus cretinos, vocês conseguiram.

 

Contrição. Sinônimo de arrependimento. E, céus, como eu estava arrependido. Arrependido por ter aberto aquele e-mail, por ter acordado André no meio da noite, por ter aceitado continuar com aquilo, por acreditar que eu encontraria alguém que conheci pelo chat daquele maldito jogo, por pensar que ninguém ficaria sabendo da nossa “fugida” para outra cidade... Por tudo.

 

xXx

 

12hrs09 de 19 de agosto

 

Encarava o teto desde que havia aberto os olhos, sem vontade nenhuma de levantar-me do chão poeirento. A dor obrigava-me a fazer caretas esquisitas e remexer-me desconfortavelmente.

— Você acordou... – André murmurou. Ele estava sentado em sua cama, enrolado em um cobertor e abraçando um travesseiro. – Nossas mães estão nos chamando para almoçar.

— Como elas parecem estar? – coloquei minha mão sobre minha testa.

— Frustradas. – ele encolheu-se.

— Imaginei. – suspirei pesadamente.

— Será que deveríamos desistir do Quod Creature? Ele nos trouxe muitos problemas... – André massageou a nuca.

Levantei um pouco a cabeça e arqueei uma sobrancelha, desacreditado. Meu irmão havia mesmo dito aquilo?

— Eu conversei com a Rebeca, ela disse que estava cansada e que perderia de propósito, e bem, talvez devêssemos fazer o mesmo. – ele deu de ombros. – Ontem, após a atualização do ranking, a conta dela foi apagada, só sobrou o apelido dela em vermelho, abaixo da menor pontuação. Agora ela não tem mais nenhuma conexão com o jogo, está livre.

Fechei os olhos para refletir quanto a isso. Realmente, Quod Creature mudou nossas vidas com os problemas que causou. O primeiro lugar em um jogo idiota não tinha tanta relevância. Ainda não havíamos recebido os tais bônus que foram prometidos, acho que isso foi só enganação para que não desistíssemos antes. E... Meu contato com “Zero,” seria cortado, mas talvez isso não fizesse diferença para ele.

— Certo, você tem razão. – abri os olhos. – Hoje nos livraremos dessa corrente virtual. – franzi as sobrancelhas.

André deu um sorriso fraco e assentiu lentamente.

 

xXx

 

12hrs20

 

— As denúncias de jovens desaparecidos aumentam a cada dia desde o início de agosto. A polícia ainda está buscando seus possíveis paradeiros, porém, não temos mais informações sobre o caso. — disse a jornalista na tela da televisão.

O plantão terminou com a gravação de algumas viaturas e policiais sendo guiados por cães de grande porte em áreas isoladas.

— Jovens desaparecidos? – foi a primeira palavra que Marta pronunciou durante a refeição. Ela estava com os ombros caídos e uma expressão abatida no rosto.

— Será que foi aqui perto? – mamãe questionou, enchendo a boca de macarrão.

Na hora eu não liguei as coisas, apenas reparei na expressão assustada de André e a forma como ele buscou por seu celular desesperadamente.

Pela primeira vez, Marta não repreendeu o filho por estar com o celular em mãos enquanto comia. Ela apenas manteve os olhos fixos na televisão e o corpo estático no sofá.

Meus ombros caíram e suspirei pesadamente, sentindo aquela atmosfera tensa me sufocar. Aquele era o peso de decepcionar alguém. Perder a confiança de uma mãe (duas, no meu caso) era o pior de todos os castigos que eu podia receber.

 

xXx

 

13hrs15

 

Era domingo, não havia nada para fazer, então decidi dar uma arrumada básica no quarto enquanto André estava sumido em algum canto da casa.

Fechei os olhos com força ao puxar o mural detrás do guarda-roupa, ele estava tão rente a madeira e a parede que algumas folhas se soltaram ou rasgaram. Olhei para aquilo com incerteza, não sabia qual fim lhe daria.

O coloquei no chão e me sentei em sua frente com as pernas cruzadas, parecia uma criança curiosa estudando um bicho desconhecido.

Comecei a amassar anotação por anotação, enchendo o quarto com bolinhas coloridas de papel. Senti-me mais leve (e mais triste) ao encarar o mural vazio com aquela cor bege descascada.

Na minha fase tempestuosa dos 15 anos, eu agia como um protagonista daqueles animes que o André assistia, um dos meus princípios era nunca desistir. Deixar de lado por um tempo, tudo bem, mas dizer que havia desistido, nunca.

Talvez eu estivesse deixando aquele projeto de lado por um tempo indeterminado. Precisava abandonar as coisas que desgastavam meu psicológico. Era uma decisão madura.

Estava prestes a sair do quarto carregando um saco de lixo quando André surgiu em minha frente, seu rosto estava pálido como se houvesse visto um fantasma.

— O que aconteceu? – perguntei sem ânimo.

— A Rebeca. – ele engoliu em seco. – Minhas mensagens no whatsapp não chegam até ela! – mostrou-me o celular, todavia, sua mão tremia tanto que eu não conseguia ver o que estava na tela.  – E parentes e amigos estão publicando na linha do tempo dela... – abriu o Facebook.

Tomei o celular de sua mão para que eu conseguisse ler. No perfil de Rebeca, várias pessoas postavam seus telefones e diziam que a garota havia sumido. Arregalei os olhos e fiquei estático.

— Ela não disse a você aonde ia? – questionei receoso.

— Não! Ela parou de responder de repente e minhas mensagens pararam de ser entregues! – as pupilas de meu irmão tremiam.

— Calma, ela pode ter ido para a casa de alguém sem avisar... – menti. – Pensa na sua atmosfera positiva...

— O caralho! – André adentrou o quarto, empurrando-me para obter passagem. – E se... E se... – sua respiração estava ofegante. – E se essas forem as consequências que Quod Creature disse?! Você viu na televisão, não viu?! Jovens começaram a desparecer com mais frequência desde o começo desse mês! – sua voz oscilava entre irritação e pavor.

Subitamente, senti um estalo em minha cabeça. Lembrei-me do que “Zero,” havia dito: “Qual será o objetivo desse jogo? Acho meio difícil eles apenas nos testarem e deixarem por isso mesmo. Eles vão fazer alguma coisa”.

— André, não podemos tirar conclusões precipitadas, pode ser só coincidência... – coloquei a mão sobre seus ombros e os apertei com firmeza.

Não espalhe o terror.

— Lucas, eu não sou burro como você acha que eu sou! – André gritou e pude enxergar seus olhos marejados.

— Eu só... Só não quero que você fique paranoico! – rangi os dentes. – Se acalma, por favor. – olhei fundo em seus olhos.

Passos apressados foram ouvidos e Marta surgiu na porta, colocando a cabeça para dentro do cômodo.

— Escutei gritos, estão brigando?! – ela arregalou os olhos.

André a encarou fixamente durante longos segundos, desvencilhou-se de mim e com a voz chorosa exclamou:

— Manhê...                  

Por fim, a abraçou fortemente e foi retribuído logo em seguida.

— Shhh, tá tudo bem, a mãe tá aqui... – Marta sussurrou afagando seus cabelos. Ela ainda o amava, claro, nem todas as merdas do mundo podiam mudar o amor que uma mãe sente por um filho.

Eu conhecia meu irmão, ele pretendia fazer alguma coisa, entretanto, estava confuso e acabou entrando nesse colapso sentimental. Talvez eu soubesse o que ele pretendia fazer, talvez eu devesse ter impedido.

 

xXx

 

Não pretendia perder propositalmente no jogo, se eu tivesse que ser desclassificado, aconteceria naturalmente. Mesmo que eu dissesse que era paranoia de André, não podia correr o risco de desaparecer. Ainda precisava investigar aquilo mais a fundo.

A cada intervalo, encarava o chat de “Zero,” e uma tristeza invadia meu peito ao constatar que não havia mensagens suas.

O tema das partidas naquele dia era sobre a criação do mundo, havia respostas religiosas, cientificas, neutras e as que fugiam de todas as anteriores (essas eram totalmente aleatórias). A criação ainda era um mistério.

 

— É latim. Significa “A Criação”. – André explicou impressionado.

 

— Realmente, esse jogo é um mistério ainda maior. – dei um risada abafada e forçada.

Terminei com uma pontuação que me concedeu o quinto lugar no ranking enquanto Renan mantinha-se no primeiro, “Zero,” no décimo e André...

Meus olhos arregalaram-se ao ver o apelido de André em vermelho, muito abaixo dos nomes dos últimos lugares no ranking. Ele estava na lista dos desclassificados. Meu coração falhou uma batida.

Me virei bruscamente para encarar meu irmão, pronto para gritar com ele pela primeira vez em tempos. Todavia, as palavras evaporaram-se quando fixei meu olhar no rosto assustado do garoto.

— E-Eu... Eu... Perdi. – lágrimas escorreram por suas bochechas, ele não demonstrou reação contra elas, parecia desligado. – Lucas... Eu p-perdi... – semicerrou os olhos e fitou-me com uma expressão de dor.

— Você fez de propósito, não fez? – sussurrei e andei lentamente até ele.

Eu juro que aquela foi a primeira vez que eu tive vontade de bater no André.

— Eu não sei. – André mordeu o lábio inferior, a voz saindo quase como um sussurro.

— Você fez de propósito, droga! – rangi os dentes e encarei a tela de seu notebook.

Havia um recado ali.

 

Você foi um bom jogador, Cavaleiro.

Mas infelizmente, você foi desclassificado.

Não se preocupe, ainda aproveitaremos o seu potencial.

Até breve.

 

Quod Creature fechou-se sozinho, o atalho desapareceu da área de serviço e o aparelho desligou.

— O que eles querem dizer com “até breve”?! – sentei-me na cama com certa hostilidade e balancei o notebook para que voltasse a ligar. – Bando de... De... Pirados! – cuspi as palavras.

Soltei inúmeros palavrões abafados enquanto mordia a gola de minha camiseta com toda a minha força.

— L-Lucas... Eu vou desaparecer? – André balbuciou.

Respirei fundo e franzi as sobrancelhas. Eu estava com tanta raiva dele! Ele era tão irresponsável e impulsivo, perdendo daquele jeito para encontrar uma garota qualquer! Por que André tinha que ser tão idiota?!

Idiota! Idiota! Idiota!

Prendi um rosnado de raiva, fechei os olhos e procurei estabelecer minha respiração.

— Se depender de mim, não. – falei de modo sério.

Eu ainda era o irmão cinco meses mais velho, era meu dever protegê-lo.

 

xXx

 

6hrs40 de 20 de agosto

 

— É, hoje você não vai ao colégio. – Marta disse ao conferir o termômetro que eu havia esquentado na lâmpada.

— Já terminei de limpar o vaso. Céus, o que você comeu ontem, André? – mamãe apareceu no quarto segurando um pano e uma garrafa de água sanitária. Ela estava se referindo ao vômito falso que eu joguei no banheiro.

— Não me lembro. – André fingiu uma tosse.

— Certeza de que ele não pode ir?! – mordi o lábio inferior, fingindo estar preocupado.

— Desse jeito não, sinto muito. – mamãe balançou a cabeça negativamente.

Continuei minha encenação com um suspiro longo e uma expressão emburrada. Nossas mães deixaram o cômodo para que eu pudesse trocar de roupa.

— A primeira parte do plano foi um sucesso. – assenti pegando a camiseta do uniforme.

— Nem acredito que deu certo, por que nunca usamos essa tática antes? – André sentou-se na cama, jogando os cobertores para longe de si.

— Porque é errado. – vesti-me. – Então, você se lembra do que combinamos, né?

— Só posso andar por três cômodos da casa: nosso quarto, o banheiro e a cozinha. Devo manter portas e janelas fechadas o tempo inteiro. – ele repetiu entediado.

— Isso. – sorri de canto. – Você está oficialmente em prisão domiciliar. – calcei meus tênis.

— Por quanto tempo? – André tombou a cabeça de lado.

— Não sei... Até acharmos que está tudo seguro. – dei de ombros.

Abandonei André com um peso em meu peito, inseguro se deveria deixá-lo mesmo em casa. Nossas mães iam trabalhar depois que eu chegava do colégio, então ele não ficaria sozinho em nenhum momento, mas ainda assim eu não conseguia me livrar daquela sensação.

 

xXx

 

10hrs35

 

Como eu esperava, sem André como o alvo mais fraco, os valentões decidiram mexer diretamente comigo.

— Ei, cadê aquele seu bichinho de estimação?

— Eles estão separados, que milagre!

— Terminou com o namoradinho, foi?

Apenas escutei calado, apático no meio daquelas enormes muralhas de carne que me cercavam.

— Vamos, fale alguma coisa! Você não é o fodão que sempre tem uma resposta na ponta da língua?

— Que foi? Ficou demente de repente?

— Só me deixem em paz, não tenho nada que interesse vocês. – suspirei.

— Ah, você tem! Essa sua cara de otário que está implorando por um murro! – um deles aproximou-se ainda mais.

— Quer me bater? Vá em frente e acabe logo com isso. – dei de ombros. Minha cara já estava toda ferrada mesmo, ferrar mais um pouco não faria diferença.

Minha frase deixou os garotos em um estado de processamento, me aproveitei disso para passar por uma brecha entre eles e continuar meu caminho pelo pátio.

Não consegui dar nem dois passos sem trombar com mais um obstáculo. Ele fitou-me surpreso e congelou no lugar. Eu não tinha tempo para ficar encarando aquela anta.

— Vai mexer comigo ou não? Falta um minuto para acabar o intervalo e eu ainda não consegui ir ao banheiro, então, por favor, seja rápido. – bocejei.

Matheus engoliu em seco e continuou seu caminho sem pronunciar uma palavra sequer. Ele realmente era um cara estranho.

As aulas prosseguiram arrastadas e tediosas e em todas elas eu fui alvo de bolinhas de papel, tampinhas de caneta e elásticos. Senti na pele (literalmente) o que André passava todo dia, por isso ele odiava tanto o colégio.

Tive de fazer um grande esforço para não retrucar ou jogar minha carteira nos autores das brincadeiras sem graça. Era tudo tão estressante e desmotivador. Apenas desejava que aquilo acabasse logo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado 'u', o gancho para a reta final começou!
Até a semana que vem, meus amores ♥!
Bjjjjs.
—Tia Creeper.



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