Zeros e Uns escrita por Creeper


Capítulo 2
Capítulo 1: O convite infernal


Notas iniciais do capítulo

Um grande oi e um abração aos que chegaram ao segundo capítulo, já super amo e considero vocês! (Esse capítulo ficou menor do que o outro porque eles estavam grudados, mas os dividi para não ficar muito grande e cansativo. )
Boa leitura ♥!



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3hrs30 de 2 de agosto

 

Como sempre, eu estava sentado em frente ao computador ingerindo perigosas quantidades de cafeína durante a madrugada.

O ronco de André em seu décimo sono e o som do ventilador de teto eram minha companhia.

Afundei o rosto nas mãos trêmulas e fechei os olhos que ardiam por causa da falta de luminosidade no ambiente. Lembrei-me de que a enfermeira me aconselhou a dormir mais e me alimentar melhor ou teria o mesmo fim que o Matheus.

— Eu devia dormir. – murmurei. – Mas se eu deitar, vou encarar o teto até a hora do despertador tocar. — olhei para o relógio que marcava 3:30A.M. — Melhor continuar anotando o que posso. — firmei a caneta entre meus dedos.

Abri a gaveta da escrivaninha para pegar um post-it, todavia, meu olhar fixou-se em um frasco de remédio que rolou involuntariamente pela superfície de madeira.

"Eu não sabia que isso estava aqui!", pensei ao pegar o frasco e balançá-lo, observando os comprimidos sacudirem.

Marta havia comprado aquele remédio para que André dormisse, mas foi um dinheiro jogado fora, pois ele se negou a tomar e conseguiu dormir por livre e espontânea vontade um mês depois. Eu tomei um remédio por um tempo também, sem qualquer indicação médica, era apenas para que eu me acalmasse, contudo, não me causava sono de jeito nenhum.

Pensei durante algum tempo, me sentia agitado e cansado demais ao mesmo tempo para raciocinar de maneira coerente. Abri o frasco e peguei um comprimido. Antes que eu pudesse colocá-lo em minha boca, um barulho alto assustou-me, consequentemente derrubei o recipiente aberto no chão, o cobrindo de pastilhas laranjas.

Pisquei os olhos várias vezes e tentei acalmar meu coração que havia se acelerado.

— Mantenha a postura, Lucas. — encolhi os ombros e voltei meu olhar para a tela do computador.

O barulho responsável pelos comprimidos espalhados no chão era uma notificação de e-mail, cujo assunto era "Você pode ser o futuro da nossa nação!" e o remetente possuía um nome incomum.

— É trollagem isso, só pode... — franzi as sobrancelhas. — Moramos no Brasil, esse lugar não tem futuro. — dei de ombros e abri o e-mail mesmo sabendo que deveria ignorá-lo.

"Prezado(a) participante,

Parabéns, você é um dos cem jovens entre quinze e dezessete anos classificados para participar de um jogo virtual desenvolvido especialmente pelo nosso governo.

Sua mente é excepcional e devemos investir nisso, nosso jogo contribuirá para a sua formação!

Não permita que essa oportunidade passe, faça o download do jogo enquanto ainda resta tempo. Falta um dia para o início da primeira partida.

E abaixo havia um link para o download do tal jogo. Diversos fatos indicavam que aquilo era só mais uma armadilha que encheria o meu computador de vírus. Encarei a tela fixamente durante algum tempo, pasmo.

Assumindo qualquer risco, cliquei no link, eu esperava que diversos anúncios pulassem e o computador começasse a vibrar em sinal de perigo, porém, foi completamente diferente... A tela ficou preta e palavras em azul foram surgindo. Havia um contador no canto superior, que marcava exatos 7 minutos.

ATENÇÃO!

NÃO REPASSE ESSE LINK.

Essa página será fechada em 6 minutos e 57 segundos, o e-mail enviado será deletado e o histórico apagado.

É a sua única chance de instalar o jogo, caro(a) participante.

Confesso que fiquei completamente assustado. Aquilo era sério mesmo?

Havia uma barra azul com a palavra "download" em branco. Fiquei tentado a clicar ali.

3hrs35

 

Levantei-me de maneira desastrada e corri até a cama de André, decidido a acordar o garoto que dormia profundamente.

— Acorda! Ei, acorda! — arregalei os olhos e comecei a balançá-lo.

3hrs39

 

— Vamos abrir juntos então.

 

Ele sentou-se no chão com o notebook sobre as pernas cruzadas e eu sentei-me na cadeira giratória da escrivaninha. Clicamos no atalho no mesmo instante. A tela tornou-se branca e uma barra de carregamento cinza apareceu. Quando a barra foi preenchida, letras finas e quase transparentes formaram a palavra “Quod Creaturae”.

— É latim. Significa "A Criação". — André explicou impressionado. Seu pai era fluente em latim.

Finalmente alguma forma de cadastro surgiu, na frente dos campos em branco estavam as palavras: nome completo, apelido, estado/cidade, gênero e data de nascimento. Havia até um espaço para colocar uma foto!

— Droga, eu sou feio, não tenho uma foto decente... — André comentou. — A não ser que... — seus olhos brilharam.

— O que? — minhas mãos tremiam ao preencher os campos.

— Vamos ser outras pessoas! Nada de "filhos de lésbicas que provavelmente são viados e sofrem bullying". Vamos ser descolados! — ele sugeriu animado.

— Isso se chama fake. — arqueei uma sobrancelha.

— Quem se importa?!

— A ética! — o repreendi.

— Você não se cansa de sofrer?! Não quer mostrar que pode ser outra pessoa? Quem irá te julgar por trás de uma tela? Abre o olho, finalmente podemos ser alguém! — André me encarou seriamente.

— Continua sendo uma mentira. – estalei a língua.

— Lucas! — ele fez biquinho. — Não custa nada, fazemos outro perfil depois! – falou de modo manhoso.

— Ah... — suspirei. – Certo. – franzi as sobrancelhas. Não adiantava tentar ir contra o André, ele era teimoso e manhoso demais.

Apaguei o "Lucas Andrade Bastos" e substituí por "Thiago Albuquerque de Souza", contudo, o campo ficou vermelho e o nome foi apagado, voltando a ser simplesmente "Lucas". Escrevi outro nome qualquer e aconteceu o mesmo.

— Temos um problema... — falei incerto.

— Meu nome vai ser Gabriel Medeiros! — ele sorriu sapeca enquanto digitava. — Ué?!

— Que foi? — o fitei preocupado.

— Apagou automaticamente. — ele franziu as sobrancelhas e digitou novamente. — Apagou de novo! — arregalou os olhos.

Vi seu rosto ficar pálido.

— André? – o chamei, hesitante.

Meu irmão estava tremendo, sem conseguir pronunciar uma única palavra, ele apenas virou o notebook para mim. Havia um aviso com letras vermelhas gritantes ao lado do retângulo de nome.

Sabemos quem você é de verdade, não minta para o jogo.

— Porra... — senti um baque em meu coração e um arrepio percorreu minha espinha.

— Isso tá começando a me assustar... — André encarava a tela fixamente.

— Ah, jura? — ironizei.

Por fim, preenchemos tudo com a maior veracidade possível. Coloquei meu apelido como “Sem Saída” e André colocou “Cavaleiro” (irônico, não?). Não fiz questão de colocar uma foto de perfil, já meu irmão revirou sua galeria e escolheu uma imagem de um personagem de anime.

Após preenchermos o formulário e confirmarmos o cadastro, recebemos as explicações. Outro contador apareceu, esse marcava 17:09:15. Era o tempo que faltava para a primeira partida começar.

— Temos chat à disposição, podemos conversar com os outros noventa e oito participantes! — André comentou.

Li as explicações minuciosamente, ignorando o falatório de meu irmão sobre trivialidades.

Eram 5 rodadas por dia. Cada rodada durava 40 minutos e havia um intervalo de 25 entre cada uma, o que totalizava em 3 horas e 20 minutos dedicados ao jogo e 1 hora e 5 minutos de pausa. O jogo não possuía o intuito de ficar muito tempo no ar, então no primeiro dia 13 participantes seriam desclassificadas e nos outros dias apenas 3.

A primeira partida do dia era uma sequência de perguntas e alternativas; a segunda era igual a anterior, porém, visava a rapidez em responder as perguntas corretamente; a terceira era um jogo de quebra-cabeça; a quarta um desafio de certo ou errado e a quinta uma única pergunta aberta.

—  Isso é muito doente. Exige demais de um ser humano. — eu disse apreensivo. — É melhor perdemos de propósito e acabar com isso de uma vez.

— Não! Temos todo o potencial para vencer. Lucas, a partir de uma certa rodada começamos a ganhar prêmios como bônus! — meu irmão possuía um brilho de expectativa em seus olhos. – Isso incluí bolsa para a facul, dinheiro e esse tipo de coisa! – falou animado.

— Acha que vale a pena? — suspirei pesadamente e inclinei a cabeça para cima, apoiando a nuca no encosto da cadeira.

— Acho que vale a galinha. — André afirmou determinado.

— Quem serão as outras noventa e oito pessoas? — perguntei.

— Ah, quem são, eu não sei. Mas quem não são, posso ter certeza! Imagina, acha que alguém como o Matheus recebeu esse e-mail? Nem em sonho! — ele debochou.

— Boatos de que ele é um cara legal. — rebati. Mas eram só boatos mesmo.

— Lucas, ninguém é legal se abusa do poder intimidador! — alegou.

Revirei os olhos, ri e fechei o jogo.

— Vamos fazer um trato. Nada de contar isso para alguém. O que acontecer aqui, fica aqui. — sussurrei me curvando na direção de André.

— Pode deixar. – André gesticulou com as mãos como se fechasse sua boca com um zíper. — Aposto que aquilo ali também conta como sigilo, não? — olhou de maneira insinuosa para o remédio espalhado pelo chão.

— Por favor! — ri nervosamente.

Mal sabíamos que em 17 horas venderíamos a alma para um jogo que exigiria muito mais do que cansaço físico e mental.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim! Caso queiram, deixem um comentário para eu saber a opinião de vocês ^^!
Até o próximo capítulo!
Bjjjs.
—Tia Creeper.