Zeros e Uns escrita por Creeper


Capítulo 10
Capítulo 9: Calcanhar de Aquiles


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiiiiiieeeeeee! DEZEMBROOOOOOUUUUU, POURR, É NÓIS, BORA AGUARDAR A CHEGADA DO PAPAI NOEL, AEEEEE!
Férias chegando, meu Deus, amém! Se despedir das lambisgoias que (provavelmente) farão falta (mas outras nem tanto, né!) kkkkkkk !!!!
Aaaaaaa, a nossa querida história ganhou mais uma recomendação, UHUUUUUU, OBRIGADAAAAAAAA, luska ♥ ♥!!!!!! Fiquei felizona, sérião XD!
Então, sem mais delongas, tenham uma boa leitura!
(Particularmente, esse é o meu capítulo favorito sz!)
P.S.: vou estar respondendo os comentários logo logo, fiquei sem tempo, sorry ;-;!



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6hrs25 de 23 de agosto

 

— Cara, mamãe vai me levar ao médico amanhã! – André rangeu os dentes.

Isso era previsível, afinal, André estava há três dias na cama, uma hora ou outra, Marta tomaria uma atitude.

— Amanhã nós pensamos em outra desculpa. – espreguicei-me. – Mesmo que eu não aguente mais ir para o colégio sem você. – suspirei pesadamente.

— Ownt, que fofo! – ele sorriu iludido.

— Só porque estou sofrendo no seu lugar, não é porque estou com saudades. – brinquei.

— Idiota. – André revirou os olhos e posicionou o termômetro embaixo da axila, tendo que levantar o moletom amarelo surrado. Ele adorava aquele moletom, o tinha desde que éramos menores, quando ainda havia sobra nas mangas.

Acabei de me vestir e me preparei psicologicamente para atravessar a porta do quarto. Mais um dia daquele inferno. Contava os dias ansiosamente para o final de semana, quando estaria longe daqueles babacas tóxicos.

Estava com um pouco mais de sono naquele dia, havia terminado de jogar Quod Creature (subindo ao segundo lugar do ranking) e fui desenhar um pouco para relaxar, o que não deu muito certo, pois meus nervos ficaram a flor da pele quando uma notificação de mensagem apareceu. “Zero,” havia me mandado um curto e singelo “oi”, o qual eu fiz questão de não responder, precisava preservar o resto de dignidade que ainda tinha.

 

xXx

 

09hrs10

 

— Quero que formem duplas, discutam entre si e respondam as questões que irei passar na lousa. – o professor disse com a voz arrastada de sono e aquela cara de quem “AMAVA” a profissão que estava exercendo.

Duplas. O terror para um aluno solitário como eu. Formar dupla era uma das piores coisas do colégio quando André não estava lá para me xingar até que eu arrastasse minha carteira para perto da sua.

Olhei ao redor, observando os alunos se juntando com seus amigos e os não tão amigos assim. Infelizmente, Paulinha não era da minha sala, o que deixava tudo ainda pior.

Tentei afastar a sensação ruim que preencheu meu corpo, a sensação de solidão, a sensação de ser indesejado. Eu não deveria me importar em não ter outros amigos, todos ali eram cabeças de vento. Engoli em seco, sentindo um nó se formar em minha garganta.

Eu não deveria me importar, mas me importo.”, uma vontade de chorar me consumiu.

Estava prestes a levantar a mão para dizer ao professor que faria a tarefa sozinho, porém, minha mesa tremeu e minhas canetas rolaram ao chão quando alguém surgiu ao meu lado, acomodando sua carteira rente a minha.

Arregalei os olhos, incrédulo ao encarar a figura de cabelos castanhos e expressão vaga. Tá, aquilo só podia ser brincadeira. Uma brincadeira de mau gosto.

— Saí. – ordenei.

— O professor mandou formar duplas. Nenhum homem vive sozinho, sabia? – Matheus debochou com aquela cara de quem passou por uma lavagem cerebral.

— Eu não quero formar dupla contigo. – rangi os dentes e afastei minha carteira.

Ele voltou a empurrar sua mesa contra a minha com insistência.

— Qual é a sua? – franzi as sobrancelhas. – Se quer me fazer palhaço, acabe logo com isso, não tenho tempo para...

— Cala a boca e copia a lição. – Matheus olhava fixamente para a lousa. – Na boa, você é tãaaao sistemático. – revirou os olhos conforme arrastava o “a”.

Não respondi, apenas apertei a caneta com força contra meu caderno conforme fazia a transcrição. Estava planejando mentalmente como contaria aquela situação para André, caprichando nas caretas e sarcasmos.

— Cadê aquele seu... – Matheus começou.

— Se está se referindo ao meu irmão, o chame pelo nome. – disse seriamente. Precisava exigir respeito, já estava cansado dos apelidos que davam ao André.

— Ok, ok. Cadê o André? – o vi revirar os olhos.

— E é da sua conta? – disparei.

— E também é grosseiro, uau, surpreende um total de zero pessoas. – Matheus estalou a língua.

Lembrei-me do dia em que eu e André decidimos viver em um mundo sem o Matheus. Naquele momento, eu ativei esse mundo. Matheus não existia.

— O que eu mais odeio... Ou odiava em você, que seja, era essa sua defesa “quase inquebrável”. Você é igual a mim, afasta as pessoas. – ele comentou.

Então Matheus voltou a existir.

— Eu não acredito que vou gastar saliva para responder um ser inútil como você. – respirei fundo. – Nós nunca seremos iguais. – falei secamente.

Me comparar a ele era como um insulto.

— Você acaba de ganhar mais um adjetivo: desumilde. – Matheus parecia se divertir com a situação. – Você sabe que tem um calcanhar de Aquiles nessa sua defesa. E você sabe que eu estou entrando nele.

— O que quer dizer?! – larguei a caneta quando ela estourou, manchando todo meu caderno de azul. Eu estava a forçando tanto que nem percebi.

— Quero dizer que seu calcanhar de Aquiles são seus sentimentos. Parece que eu sou o único, além de André, que consegue arrancar mais de uma expressão de você. Com os outros garotos você sempre está com aquela cara de peixe morto, enquanto comigo você fica raivoso e cítrico. – Matheus riu com sarcasmo.

Entrei naquele choque de processamento. Tudo o que ele havia dito era verdade. Matheus me causava uma sensação diferente dos outros valentões, talvez porque ele fosse só um, talvez porque ele demonstrasse inteligência ou talvez por simplesmente ser ele.

Mas é claro que eu não iria aceitar aquilo tão facilmente, não deixaria ele pensar que estava por cima.

— Você é pirado. – minha voz saiu mais baixa do que deveria.

— Talvez. – ele deu de ombros.

Um sentimento de nostalgia me abateu naquele instante. Meu peito se apertou e eu senti meu corpo inteiro ficar mais sensível.

— Meu calcanhar de Aquiles também são os sentimentos, por isso somos iguais. Sabe, tem muita gente com cara de trouxa aqui, mas você é o único que eu tenho vontade de quebrar na porrada. – Matheus comentou. – Isso conta como um sentimento, não?

Semicerrei os olhos e o fitei como se ele fosse maluco (coisa que ele era).

Aquela conversa estava levando um rumo estanho, porém, correndo naturalmente como um rio. Eu imaginava a nós dois como cobras, uma esperando a hora certa para soltar veneno na outra.

— Você é esquisito. – encarei a tinta espalhada por meu caderno e carteira.

De repente, sua cabeça caiu sobre sua mesa, produzindo um som oco que chamou a atenção de todos. Seus olhos estavam fechados e sua boca entreaberta liberava a respiração calma. Não pude crer que ele havia desmaiado de sono mais uma vez. Aquele menino tinha problemas.

— Muito esquisito. – sussurrei perplexo.

 

xXx

 

Matheus dormiu o resto da aula na enfermaria, obrigando-me a continuar a lição sozinho, o que não foi ruim, porém, sentia que algo estava faltando. Matheus me intrigava.

Estava ansioso para relatar o ocorrido para André, ele iria rir horrores. Abri a porta de casa cheio de esperanças, entretanto, tudo o que encontrei foi minha mãe ao telefone e Marta se abanando no sofá, ambas exalavam desespero.

— O que houve?! – arregalei os olhos e bati a porta.

— Graças a Deus você chegou! – mamãe largou o telefone e veio ao meu encontro. – Onde o André está?


      “Só pode estar de brincadeira comigo...”, pensei.

Meu coração falhou uma batida e eu caí de joelhos sobre o chão. Meu ritmo cardíaco aumentou tanto que o único som que eu conseguia escutar eram minhas batidas intensas.

— Lucas! Você está bem?! – mamãe arregalou os olhos.

— Era para ele estar no quarto. – sussurrei, a boca seca.

— Sim, eu sei, mas nós fomos ao mercado e quando voltamos ele havia sumido. Pensamos que ele tivesse ido te buscar. – mamãe ajoelhou-se na minha frente, preocupada.

— Não... Não pode ser... – senti o pânico me tomar pouco a pouco.

Não... Quod Creature... Os criadores não podiam ter conseguido entrar em casa, tínhamos todo um plano arquitetado, era para o André estar seguro.

— O celular dele está aqui, eu não entendo. – Marta falou com a voz embargada, apertando o smartphone contra o peito. – Será que ele fugiu?! – semicerrou os olhos vermelhos e inchados.

— Claro que não! – gritei automaticamente.

Minha visão oscilava entre ficar estável e turva. Sentia-me zonzo e um frio alucinante começou a me consumir. Mesmo assim, insisti em tentar correr até o nosso quarto, tropeçando em meus próprios pés e trombando nos móveis.

Meus olhos passearam da cama bagunçada à janela aberta com cortinas esvoaçantes. Engoli em seco, sentindo meu coração pular mais uma batida.

Debrucei-me sobre a janela impulsivamente, não esperei até que meus pulmões estivessem cheios ou minha cabeça estivesse no lugar, apenas gritei. Gritei. E gritei. Sons aleatórios de raiva, tristeza e dor.

E por último um sussurro quase inaudível, um sussurro quebrado:

— Me devolvam o André.

E o sussurro quebrado tornou-se um grito histérico:

— Me devolvam o André! Me devolvam ele!

As pessoas que passavam na rua olharam-me com estranhamento, elas não entendiam pelo que eu estava passando, não sabiam o quão tortuoso e agonizante era o joguinho psicológico que Quod Creature fazia.

Maldita hora em que fizemos o maldito cadastro. Podíamos ter simplesmente excluído o e-mail e fingido que nada havia acontecido. Maldição! Devíamos ter parado enquanto ainda nos restava tempo, aqueles sete minutos, foram nossos últimos minutos de liberdade.

Meu choro saiu esganiçado e escandaloso, chamando a atenção de minhas mães, que me afastaram da janela imediatamente.

— Lucas, você precisa ficar calmo, nós vamos encontrá-lo. Eu tenho fé. – Marta disse isso com tantas lágrimas que foi impossível de acreditar.

— Vou buscar água com açúcar, já volto... – a voz de mamãe saiu como um fio de tão fraca.

Todas as minhas esperanças partiram-se naquele momento, meu ser esvaziou-se. Meu corpo formigava de tanto frio e minha pele era branca como papel, parecia que todo meu sangue estava saindo em forma de lágrimas. Uma sensação horrível me abraçava, um mal-estar arrebatador.

Manchas pretas cobriram minha visão e uma tontura martelou minha cabeça.

— Rita, acho que a pressão do Lucas caiu! – Marta envolveu-me em seus braços suados. – Me ajude!

Naquele momento, me senti fora de mim. Meu corpo parecia um peso morto e eu apenas uma alma vazia. Mas de uma coisa eu tinha noção... Eu precisava encontrar o André de qualquer jeito. Não deixaria que os criadores fizessem o que bem entendessem com ele.

 

xXx

 

— O pai dele está vindo para cá para ajudar nas buscas... – Marta comentou baixinho, sua voz estava arrastada.

— O Everton também virá. – mamãe falou, a incerteza gritante em sua voz.

Por que meu pai viria? Ele não tinha nada a ver comigo, muito menos com o André!

— E a polícia? – mamãe perguntou.

— Só pode ser acionada depois de vinte e quatro horas de desparecimento... – Marta suspirou pesadamente.

O telefone começou a tocar, cessando as vozes.

Abri os olhos com dificuldade, a umidade neles me deu vontade de coçá-los. Eu estava estático sobre minha cama, meus tênis e camiseta haviam sido retirados, suava debaixo da coberta colocada sobre mim e um gosto amargo fazia-se presente em minha boca.

A porta do quarto estava aberta, assim como a janela. Uma insegurança envolveu-me, entretanto, a reprimi. Eu ainda não havia sido desclassificado, mas isso estava perto de acontecer. Tinha certeza de que não jogaria as cinco partidas naquela noite.

Levantei-me lentamente, continuava com um pouco de tontura e uma baita dor de cabeça. Encarei a cama revirada de André, mordendo o lábio inferior até sangrar, tentando repreender aquele desejo louco de chorar e gritar.

Um vulto passou pela porta, fazendo-me retornar os pés ao colchão, todavia, se tratava de minha mãe, que voltou alguns passos ao me ver acordado.

— Filho... Você está melhor? – ela aproximou-se. – Você estava delirando. – sentou-se na beira da cama.

Não respondi, as palavras pareciam ter sumido, eu havia esquecido como se falava.

— Você pode não acreditar agora, mas vamos encontrar o André, ele não deve estar muito longe. – mamãe afagou meus cabelos suavemente.

Tão clichê. Tão forçada. Tão mentirosa.

— Chamei seu pai para ajudar na busca... Contei como você ficou e ele se preocupou, legal, né? – deu um sorriso fraco.

Oh, ele se preocupou comigo uma única vez na vida, sensacional.

— Os vizinhos também estão ajudando, até os da rua debaixo. Você precisava ver como a Paulinha reagiu... Ela também desmaiou. Falando nisso, ela está vindo para cá para que vocês possam fazer companhia um ao outro. – ela comentou, forçando uma falsa animação.

Quando mamãe percebeu que eu não me animaria e nem abriria a boca, ela depositou um beijo em minha testa e retirou-se do quarto. Me enrolei no cobertor, apesar do calor que fazia meu suor escorrer pelo lençol. Fiquei ali encolhido, chorando baixinho, me preparando psicologicamente pelo que estava por vir.

Eu estava com tanto medo... Medo de ter perdido o André para sempre, medo de não ser capaz de salvá-lo, medo dos criadores de Quod Creature... Naquele instante, o mundo parecia uma bola de medos gigante.

 

15hrs07

 

Meu corpo alertou-se quando senti um peso extra no colchão, ergui meu torso automaticamente, encontrando Paulinha sentada em minha cama. Ela estava com um sorriso fraco, olhos vermelhos e cabelos despenteados.

— Oi. – sussurrou, encarando-me fixamente.

— Oi. – sussurrei parecendo entalado.

— E-Então... Que loucura, achei que isso só acontecia com os outros, não com quem tava tão perto. – ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Observei seus ombros se encolherem.

— Eu sabia que ele gostava de mim... Só não tocava no assunto para não deixar o clima chato, sabe, eu não podia correspondê-lo... – Paula colocou as mãos entre as pernas. – Mas... Eu devia ter sido franca com ele, né? – deu uma risada forçada.

Pisquei os olhos várias vezes, (não tão) surpreso (assim) com a confissão. É, tava bem na cara que o André gostava dela, ela precisava ser muito lesada para não enxergar.

— Estranhei quando ele não apareceu no colégio contigo... Eu vinha visitá-lo hoje mesmo para saber se estava tudo bem... E olha o que aconteceu. – sua voz foi falhando a cada palavra.

A dor exalava de seu corpo. Nunca pensei que Paula podia ter aquele estado tão grave de tristeza. Ela era sempre alegre e despreocupada, transmitia uma confiança inabalável.

— Paula. – chamei, a seriedade presente em minha voz. Ela fitou-me atenta. – Você sabe que eu vou atrás dele.

Paula suspirou e soltou uma risada abafada, após um tempo confirmou:

— Eu sei. Na verdade, quero mesmo que você faça isso.

— Ótimo. – suspirei aliviado ao não receber nenhuma repreensão.

— Mas... Eu não quero te perder também, você precisa me prometer que vai voltar e trazer o André consigo, ambos em segurança. – ela franziu as sobrancelhas.

Eu sempre fui péssimo com promessas, porém, aquela era uma que eu me esforçaria para cumprir.

— Prometo. – lhe estendi o dedinho.

— Se essa promessa descumprir, seu dedinho irá cair. – Paula cantarolou ao entrelaçar seu mindinho com o meu. – Eu te darei a cobertura que precisar, a única coisa que não posso fazer é ir contigo.


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Notas finais do capítulo

Woooooow, o que será que está por vir após essa promessa? Espero que tenham gostado ^^! Tenham uma boa semana e até o próximo capítulo!
Bjjjjjjs.
—Creeper.



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