Aprendendo a Recomeçar escrita por Lelly Everllark


Capítulo 9
Isso é uma péssima ideia.


Notas iniciais do capítulo

Ahhhh eu voltei! Como assim, Letícia?
É que eu estou de férias da faculdade e logo, logo vou estar do serviço (já não era sem tempo kkkk) então vamos voltar àquele regime de vários capítulos por semana sem dias fixos de postagem, Ok?
Espero que tenham gostado da novidade e é isso, BOA LEITURA :D



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“Só eu sei das noites que eu passei em claro, só eu sei

Eu precisei do seu abraço e vacilei

Se ao menos eu tivesse o seu carinho

Eu não me importaria de viver sozinho

 

Hoje eu não saí de casa, não vejo nada

A porta está fechada eu só queria ver você voltar

Pra ver se tem um pouco de paixão

Pra ver se brotou no seu coração o amor que eu plantei”

Se Tem Paixão — Matheus e Kauan.

 

  Deve ter quase vinte e quatro horas que estou trancada em meu quarto, e passei boa parte desse tempo acordada, chorando e xingando. Só sai para ir ao banheiro e comer, por que não tem briga que me faça desistir da comida. Encaro o teto onde foram pintadas estrelas e aperto o pingente de madeira que o infeliz responsável por minhas lágrimas me deu. Durante esse último surto disse a mim mesma que o destruiria a dentadas e depois jogaria os restos pela janela, mas mudei de ideia no instante seguinte, isso só me faria ter mais trabalho ao ir buscá-lo no andar de baixo.

  Era mais fácil eu me livrar do meu celular que desse colar, brinquei com o pingente e quase o joguei mesmo pela janela quando batidas na porta me assustaram.

  - Você mofar aí não vai resolver seus problemas – Alice disse do outro lado e grunhi. – Isso, muito maduro da sua parte, Cordélia. A tia está trazendo bolo e café então é bom abrir a porta se não como a sua parte bem aqui na porta.

  Arrastei-me até a porta e a abri, Alice sorriu e eu revirei os olhos.

  - Só estou fazendo isso por causa do bolo.

  - Eu sei – ela respondeu se sentando na minha cama, voltei para a confusão aconchegante das minhas cobertas. Alice me olhou curiosa.

  - O que aconteceu ontem? De verdade. Você passou daquele jeito e se trancou aqui desde então e Theo foi embora antes que pudéssemos se quer perguntar o que aconteceu.

  - Ele foi embora?

  - Hugo aluga um apartamento na vila e quando Theo quer “dar um tempo” como diz ele, ele vai pra lá. É pra onde eles levam as piriguetes com quem ficam também.

  - Você adora o lugar em? – quase consigo sorrir, Alice faz careta.

  - Não é como se me convidassem com frequência. Acho que só fui lá duas vezes.

  - Durante todo o tempo em que conhece Hugo?

  - Bem, sim – ela parece envergonhada. – Eu disse a você, eu sou só a irmãzinha. Mas você está me dando voltas e mais voltas e nada de me contar. O que aconteceu?

  - Não quero falar sobre isso – resmungo cobrindo o rosto com um travesseiro. Minha vida era tão mais fácil antes de papai me mandar para esse fim de mundo.

  - Você ignorar não faz o problema sumir, acredite, eu tentei fazer isso com os meus – Alice diz puxando o travesseiro e o abraçando antes de se deitar ao meu lado para olhar o teto estrelado. – O que aconteceu?

  - A gente se beijou.

  - Sério? – ela apenas vira a cabeça para me olhar e faço que sim. – Achei que gostasse dele. Se vocês se beijaram, por que ele saiu puto e você passou a tarde chorando? Eu não entendo.

  - Sinceramente nem eu, Lice. Quer dizer, ele me magoou e me trocou, mas ontem o jeito que ele falou, quase fez parecer que a culpa foi minha. Eu provavelmente ainda sou apaixonada por ele e a gente se beijou e brigamos e foi isso, e meu pai dizendo que vir aqui ia ser bom pra mim.

  - E está sendo, pelo menos para o Theo está sendo – a voz de tia Beth nos alcança e eu e Alice nos sentamos no susto, a tia sorri e mostra a bandeja que tem nas mãos com café, leito, bolo e biscoitos. Ela vem até a cama e nos estende a bandeja. – Eu não vou fazer mais isso, então aproveitem.

  Alice já pegou um biscoito e eu me limitei a sorrir para tia Beth.

  - Obrigada, tia. Mas o que quis dizer quando disse que essa confusão fez bem ao Theo?

  - Ele tem sorrido mais dedes que você chegou, está menos rabugento. É um pouco mais o Theo de antigamente e até tem voltado a dedilhar no violão. Você faz bem a ele Cordélia, de um jeito bem louco, mas faz. Faz bem a ele de um jeito que só você consegue. E sei que a pesar e tudo, ele também faz bem a você.

  - Como eu faço pra esquecer, tia? – pergunto sem saber lidar com suas palavras. Dói saber que fazemos bem ao outro tanto quanto nos machucamos. – Como faço pra não me lembrar de nada do que a gente viveu? Como eu faço pra parar de doer mesmo depois de tanto tempo?

  - Se foi verdadeiro, se foi real, você não vai esquecer, a dor ou o sentimento não vão sumir, mas vai abrandar, se tornar menor, menos dolorido, mas não vai desaparecer. Mas sei que você é forte o suficiente pra saber o que fazer com tudo isso, você sempre foi, Cordélia – ela diz com seu olha doce e me beija a testa. Agarro-me a tia Beth num abraço que não sabia precisar tanto até estar em seus braços. Ela me deixa ficar ali durante uns minutos até me soltar. Ela anda até a porta, mas antes de sair se vira para me encarar. – Seja corajosa, eu sei que vai dar tudo certo. Por são vocês, e o que tiver que acontecer, vai acontecer.

  Depois que tia Beth sai eu e Alice nos limitamos a comer, cada uma perdida em seus próprios pensamentos. Estou bebericando meu café com leite e brincando com o pingente de madeira em minhas mãos quando meus pensamentos sem aviso ou preparo me levam ao dia de ontem, a tudo que senti e chorei, a tudo que aquele único momento me lembrou. São tantas lembranças que às vezes é difícil fingir indiferença, principalmente quando eu sinto tudo e cada pequena coisa. Quando que mesmo por um momento eu sou outra vez a velha Lilly que ria e sorria sem medo e cujo coração ainda estava inteiro.

  Suspiro revirando o pingente nas mãos e encarando a janela, se as coisas fossem simples e fáceis, talvez uma hora dessas eu e Theo estivéssemos namorando na varanda como costumávamos fazer.

  - O que é isso? – Alice me tira de meus pensamentos e a olho sem entender.

  - Isso o que?

  - Isso – ela toca o colar em minhas mãos e sorrio.

  - Isso é uma bugiganga que eu devia ter jogado fora a pelo menos uma década atrás.

  - E por que não jogou? – Alice pergunta analisando o pingente com mais cuidado, suspiro lhe entregando a peça para que possa vê-la, não é como se eu estivesse escondendo-a de qualquer forma.

  - Por que eu sou muito burra e não consegui.

  - O que significa “amo e para”? Que tipo de entalhe é esse? – ela está virando-o nas mãos como se procurasse pelo resto da frase, isso me faz sorrir.

  - Do tipo brega e ridículo que só faz sentido junto com a outra metade.

  - Bem, faz sentido. Mas o que diz a frase toda? E de quem é a outra metade?

  - Ok, já chega, me dê isso aqui que vou guardar – pego o colar e o coloco na gaveta do criado mudo fechando-a logo em seguida. – E como a senhorita já me irritou e comeu, que tal me deixar em paz? Como já vi que não posso sofrer tranquila, vou trabalhar, terminar minha lista e começar a checar alguns fornecedores.

  - Você é bem chata quando quer em patricinha, cortando meu barato assim. Mas já que agora é trabalho, vou te deixar sossegada. Só não vale dormir ou voltar a chorar, pode ser? – ela sorri e não consigo não sorrir de volta.

  - Pode ser, já chega de terminar com os olhos inchados por que quem não merece. Na verdade já chega de chorar por quem quer que seja.

  - Aí sim – ela levanta uma das mãos e trocamos um high five antes dela deixar o quarto levando consigo a bandeja que tia Beth trouxe. Eu respiro fundo e antes de qualquer coisa decido me arrumar, já se foi o tempo em que eu chorava e me deprimia por Theo.

  Pego minha toalha, uma calça jeans, uma regata branca, minha jaqueta de couro e meus fiéis saltos, talvez eu tenha que ir à cidade então é melhor já estar linda e pronta. O banho é rápido, os cabelos curtos nessa hora são uma vantagem, troco-me e decido fazer uma maquiagem simples, apenas o suficiente pra ninguém perceber que eu chorei boa parte da noite anterior. Depois que já estou pronta junto alguns papéis que trouxe para o quarto e vou até o escritório no andar debaixo. Independente de como vai minha vida amorosa, tenho certeza que papai ficaria orgulhoso de mim no que se refere à administração da fazenda, ele sempre brincou que esse era meu emprego dos sonhos, logo eu, a garota que adorava mandar.

  Sorri terminando de checar alguns números de telefone. A lista de preparativos e fornecedores estava Ok. Agora era arrumar carona até a vila e dependendo, até a cidade, uma vez que eu precisava checar preços e alguns materiais. Juntei meus papéis e segui até a cozinha, mas me surpreendi quando vi quem estava sentado despreocupadamente na mesa tomando café. Nossos olhares se cruzaram por uma fração de segundo e eu passei direto por ele, decidida a fingir que Theo Sales não existia.

  - Tia Beth, o Tio Jorge pode me dar uma carona até a vila? – pergunto e ela me olha, suspira e nega com a cabeça.

  - Ele está cuidando da plantação com Hugo, borrifando veneno em umas áreas que nasceram pragas nos últimos meses. Sinto muito, Lilly.

  - Droga.

  - Era urgente?

  - Um pouco. Eu precisava começar a catalogar produtos para a festa e queria tentar ter sinal de celular pra ligar pro meu pai.

  - O Theo pode te levar então – ela diz simplesmente e vejo o moreno atrás de mim engasgar com o café quente.

  - O que!? – perguntamos juntos e tia Beth sorri.

  - Você não ia fazer nada hoje mesmo, Theo, só esperar pelo Hugo, poder facilmente dar uma carona a Cordélia.

  - Mas e o Hugo? – Theo pergunta e tia Beth revira os olhos impaciente.

  - Seu pai pode levá-lo quando eles terminarem. Agora vão logo que parece que vai chover e voltem antes do jantar.

  - Mãe!

  - Tia Beth!

  - Crianças! – ela nos repreendeu como quando éramos pequenos e foi a minha vez de suspirar. – Deixem de birra e vão logo.

  - Theo, cuide da Lilly. E Cordélia, é só ser corajosa que vai dar tudo certo, amo vocês e não demorem – depois da minha tia praticamente nos expulsar da cozinha, Theo e eu seguimos lentamente até a varanda.

  A caminhonete está no lugar de sempre e não sei se nenhum de nós sabe o que fazer, ou dizer. Eu prefiro ficar calada por que se eu olhar para Theo provavelmente vou xingá-lo até não aguentar mais, aquele idiota!

  - Você vem ou não? – ele pergunta seguindo até a caminhonete sem nem se dar ao trabalho de virar para me olhar.

  - Você vai mesmo fazer isso? Por quê?

  - Por que se não levá-la, mamãe vai ficar uma fera comigo – é sua última resposta antes de entrar na caminhonete caindo aos pedaços que ainda conheço tão bem.                                

  Limito-me a segui-lo, não por que quero, mas por que não tenho escolha. Só espero que esse nosso pequeno passeio não termine em nenhuma confusão, ou pior, em lágrimas.


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Notas finais do capítulo

E foi isso, espero que tenham gostado!
Beijocas e até, Lelly ♥



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