Aprendendo a Recomeçar escrita por Lelly Everllark


Capítulo 7
Muitos sentimentos e conversas de garotas.


Notas iniciais do capítulo

Heeeey, amores!
Atrasada como sempre, eu sei, mas voltei! Desculpem mesmo!
BOA LEITURA :3



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“Olhando o céu

Lembrei que tudo que vivemos não passou

E pra dizer mais

Pensei que temos outra chance de fazer

Nosso Sol brilhar em mim

Em você

 

O tempo não apaga, não desfaz

O beijo que eu desejo sempre mais

Não posso esquecer o seu olhar no meu

Eu sei que o nosso amor ainda não morreu”

O Tempo Não Apaga — Victor e Leo.

  Eu já estava a mais de duas horas tentando terminar a lista de preparativos para a festa que eu teria que planejar no fim do mês e já odiava cada um dos fornecedores e os cálculos sobre orçamento. Alice recomeçou a cantarolar a música que ouvimos mais cedo no rádio e eu suspirei, ela já estava ali sentada na cadeira a minha frente a um tempão.

  - Você não tem mais o que fazer, não? - perguntei depois que desisti dos cálculos. Ela sorriu pra mim e deu de ombros.

  - Não.

  - Sério mesmo, Alice? Não tem mesmo nada pra fazer? Um emprego de verdade? Uma faculdade?

  Alice desviou os olhos parecendo incomodada e foi organizar meus papéis em cima da mesa para não me encarar.

  - Eu vou tentar o vestibular no final do ano.

  - O que quer fazer? - pergunto e ela sorri de modo triste finalmente me olhando.

  - Sinceramente?

  - Claro, já somos quase amigas de qualquer forma - digo e dessa vez ela sorri de verdade.

  - Nada, eu não quero fazer nada. Não faço questão de ir à faculdade, nunca fiz. Você formada e bem sucedida vai achar loucura, mas meu sonho mesmo sempre foi ser dona de casa. Talvez ser caseira de uma grande fazenda como a tia Beth, mas nunca me vi realmente indo para a faculdade.

  Suas palavras me pegam de surpresa, por que eu conhecia uma garota que pensava exatamente assim.

  - Se não quer ir, por que vai prestar o vestibular?

  - Por que é isso que meus tios e Theo esperam de mim. Já tem um ano que terminei a escola e estou ajudando tia Beth, mas tenho e preciso arrumar alguma coisa “de verdade” para fazer. Você deve achar loucura, mas enfim - ela suspira e sorrio.

  - Não é loucura, eu conhecia uma garota que pensava exatamente como você.

  - Conhecia? - Alice pergunta curiosa e faço que sim. - E o que aconteceu com ela?

  - Seu mundo encantado desmoronou e ela se formou em administração.

  - Como?

  - Eu sempre achei que me casaria com Theo quando fizesse vinte anos, eu seria uma dona de casa e nós teríamos três filhos e viveríamos felizes para sempre. Mas não foi bem o que aconteceu. Eu também nunca quis ir para a faculdade, não fazia questão, mas aí fui para a cidade e também virei outra pessoa, e a Lia queria isso tudo, pelo menos é o que sempre digo para mim mesma. Que ela quer.

  - Nossa eu nunca imaginaria. Você uma dona de casa feliz? - Alice ri e dou de ombros.

  - As pessoas mudam.

  - Mas nem tanto assim - ela discorda. - Mas você percebe o que diz, e como diz? Você fala “ela”, Cordélia, não “eu”. Ou você é a Lia ou não é.

  - Eu sou, é claro que sou - digo incomodada. - Mas chega desse assunto. Fala-me de você e do Hugo o que rolou depois que dançaram lá na festa?

  - Nada - ela suspira.

  - Como assim?

  - Isso mesmo que ouviu, não rolou nada, nós dançamos três músicas, eu já estava boba de felicidade e encharcada de suor e pensei “agora vai”, mas não foi, nós terminamos as danças e ele sorriu e disse que ia pegar outra cerveja, aí quando me virei para procurá-lo ele já tinha uma oferecida em seu pescoço e sorria como um idiota - Alice está espumando de raiva e não sei se fico indignada por ela ou rio de sua reação. - Mas e você e Theo?

  - Nós dançamos, ponto.

  - Só dançaram?

  - Sim, uma música aí eu fugi dele e fui me sentar no bar.

  - Achei que Cordélia Albuquerque não fugisse.

  - Eu também - sussurro e batidas na porta nos interrompe. Respondo com um “Entre” e tia Beth surge na porta.

  - Vocês vêm almoçar agora? Os meninos estão aqui hoje e já estão devorando a parte deles.

  Eu e Alice nos entreolhamos, vê-los agora? Nossa que legal, só que não. Ela ainda espera por uma resposta minha, por fim eu suspiro e faço que sim com a cabeça.

  - Nós vamos.

  - Ótimo, vou colocar mais pratos na mesa, não demorem – e dito isso ela se vira e sai outra vez.

  - Isso é mesmo uma boa ideia? – Alice questiona um minuto depois parecendo incomodada. – Já fiz muito papel de idiota, acho que a gente podia esperar eles irem.

  - Já tem dois dias Alice, e a gente nem se viu nesse meio tempo, e nós só vamos comer. Mesmo por que se depender daqueles dois a única coisa que vamos fazer juntos é passar raiva.

  - E eu não sei? – ela pergunta indignada. – Precisava daquelas vacas penduradas neles? É por isso que não gosto de sair com eles. Tem sempre alguma mulher se esfregando e eu fico lá tomando refrigerante e vendo como a irmãzinha que sou.

  - Por que não dá o troco? – pergunto ficando de pé e juntando meus papeis para guardá-los.

  - Como assim?

  - Sei lá, arruma um namorado, um ficante ou qualquer coisa assim aí dança com ele, beija e essas coisas todas de casal que sei que vai deixar Theo bem puto e Hugo se for ciumento, também.

  - Eu não conseguiria – Alice responde, mas seu sorriso divertido diz outra coisa.

  - Não? Pois conseguiria com prazer.

  - Achei que você gostasse de Theo – ela me olha terminando com os papéis e ficando de pé.

  - Pois achou errado, nós tivemos um namorico adolescente e foi só.

  - Nisso eu não acredito – Alice diz quando me junto a ela, nós saímos do escritório em direção à cozinha. – O jeito como se olham, como agem quando estão juntos, vocês tiveram muitas coisas, mas um “namorico” – ela faz aspas no ar. – Não foi uma delas.

  - Foi, definitivamente foi – digo tentando convencer não só a ela, mas a mim também. Alice nega com a cabeça e eu finjo não ver dando o assunto por encerrado. É irritante como qualquer um pode ver o quanto Theo me afeta.

  - Então as margaridas resolveram se juntar a nós? A que devemos a honra? – Theo debocha quando chegamos à cozinha e não me dou nem ao trabalho de responder. Ele e Hugo já estão à mesa com seus pratos cheios, eu e Alice nos servimos antes de nos juntarmos a eles. Tia Beth também está ali.

  - Cadê o tio Jorge, tia? – Alice pergunta depois do que parecem horas num silêncio desconfortável.

  - Saiu cedo com alguns peões para comprarem mantimentos para a fazenda.

  - Ele vai trazer as vacinas dos cavalos? – Theo pergunta e tia Beth dá de ombros.

  - Não perguntei.

  - Ele vai sim – respondo e ganho todos os olhares. – E vai trazer também a peça nova para o trator.

  - E como você sabe disso?

  - Sou administradora da fazenda pelo tempo que estiver aqui. Pelo menos foi o que papai me disse. E tem tipo um milhão de coisas pra fazer, está tudo uma bagunça – digo para ganhar um enorme sorriso de Theo, daqueles de fazer o coração acelerar. Sua reação me surpreende, mas a minha me surpreende mais, ele não devia ter esse poder sobre mim, não devia.

  - Vendo-a falando assim eu quase posso imaginá-la dando ordens por aí – Hugo sorri e fazendo com que eu e Theo desviássemos o olhar um do outro.

  - Isso é o que ela faz de melhor – Theo diz divertido. – Mandar.

  - Mando mesmo – respondo sorrindo. – Mas você não é obrigado a obedecer.

  - Antigamente eu era sim – ele ri e suas palavras e seu riso me causam um aperto no peito, por que são reais. – Não tinha escolha.

  - Agora tem.

  - Preferia não ter – Theo rebate e pra mim é suficiente. Encaro meu prato e termino de comer o mais rápido que consigo. Levo o parto a pia, peço licença e saio. Preciso pensar, respirar e me afastar dele e de seus lindos olhos azuis.

  Ando pela fazenda sentindo o vento no rosto, os cheiros tão conhecidos e quando quase caio por causa dos saltos decido tirá-los, ninguém vai me ver descer do salto então não tem problema, afundo os pés na grama e sorrio involuntariamente seria tudo tão mais fácil se eu nunca tivesse ido, se tivesse ficado e vivido meu tão sonhado conto de fadas.

  Talvez meu erro tenha sido esse, acreditar de mais que meu mundo cor de rosa duraria para sempre, que eu seria feliz para sempre e fim, mas não foi bem isso que aconteceu, nem de longe. Eu fui, ele ficou e na primeira oportunidade me trocou por outra. No fim talvez não era pra ser. Só me dou conta de para onde estou indo quando me deparo com a trilha que leva à cachoeira a minha frente, eu provavelmente não devia ir até lá, mas o faço assim mesmo, se tudo continua igual eu quero ver se aquele lugar mágico ainda é o mesmo também.

  Desço pelas pedras íngremes que continuam todas no mesmo lugar e menos de cinco minutos depois eu já cheguei à base da cachoeira, a água cristalina deságua na outra margem e eu sorrio vendo o lugar que significa tanto pra mim. Tudo continua igual, há mais vegetação, mas as árvores e arbustos dos quais me lembrava estavam todas ali. Deixei os sapatos no chão e segui até a árvore mais próxima da margem, eu queria saber se os vestígios daquele dia ainda continuavam ali.

  Corri os dedos pela marca no tronco da árvore, doze de março, três dias antes de eu ir embora, três dias antes do meu mundo encantado ruir. Mas a data e as minhas iniciais e as de Theo ainda continuavam ali dentro de um coração, aquele desenho era a certeza de que tudo não foi só um sonho distante. Havia ainda a fita vermelha amarrada a um galho, ela já estava desbotada e gasta, mas estava ali e isso me fez sorrir. A cachoeira sempre seria meu lugar favorito.

  - Você demorou a vir aqui – sua voz soou atrás de mim e não precisei me virar e vê-lo para saber que era Theo. Sua voz era inconfundível e os seus efeitos sobre mim únicos. – Esse lugar sempre me lembra você, por isso não venho muito aqui.

  - Esse lugar me lembra a melhor época da minha vida – digo ainda de costas, ainda tocando as marcas na árvore. – O maior sentimento que tive, o melhor momento que vivi – sussurro tentando afastar as memórias de tudo que vivemos juntos.

  - Lilly?

  - Não me chama assim, por favor – meus lábios estão trêmulos assim como todo o resto do meu corpo. Eu posso dizer o que quiser, mas não esqueci, nem de longe.

  - Baixinha?

  - Para, Theo! Não me chama assim, não chega perto, não faz isso comigo! Não quero me aproximar, não quero que você se aproxime! Não depois do que fez... Só me deixa em paz, por favor...

  - Cordélia – dessa vez é o meu nome, é tudo o que diz, mas é o suficiente. Viro-me e estou pronta para começar outra discussão se isso evitar que eu chore, mas paro no instante seguinte, Theo está a menos de um palmo de mim.

  Quando nossos corpos se chocam ele me segura no lugar, estamos colados e meu coração bate descompassado, nós dois estamos surpresos e eu não sei o que fazer, não sei se tenho forças para me afastar e não sei nem se é isso mesmo que quero. Theo está me comendo com seus brilhantes olhos azuis e quero muito voltar a ser aquela garotinha de quinze anos e poder me derreter em seus braços sem pensar em nada mais.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo! E prometo tentar não demorar tanto!
Beijocas e até, Lelly ♥



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