Aprendendo a Recomeçar escrita por Lelly Everllark


Capítulo 4
Lugar favorito e recordações.


Notas iniciais do capítulo

Heloooo meus amores, voltei!!!
Só me desculpem mesmo por esses meus sumiços, eu sumo, mas sempre volto, Ok? Não precisam se preocupar!
BOA LEITURA!! :3



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“Talvez te escutando, eu possa te deixar

Mas te garanto que algum dia você vai lembrar

Daqueles bons momentos que a gente viveu

Talvez eu seja aquele pedacinho de rancor

Talvez eu seja aquela foto que você rasgou

Talvez pro amor eu seja ilusão

Aquela folha seca jogada ai ao chão

 

Quem saiba eu possa ser também o que você deseja

Eu possa ser também o que você mais quer

Procuro em você algo que ficou

Eu sei que entre nós ainda existe amor

Talvez te escutando, eu possa te deixar

Mas te garanto que algum dia você vai lembrar

Daqueles bons momentos que a gente viveu”

 Ficou Marcado em Nós - Maurício e Eduardo.

          

  - Quanto tempo mais você pretende ficar sentada aí? – Alice pergunta e suspiro em resposta me ajeitando no banco de madeira da varanda. – É sério, tem tipo, umas duas horas que você nem se mexe. Achei tinha alguma coisa que precisasse fazer aqui.

  - E eu achei que você fosse babá e não terapeuta.

  - Posso ser os dois – ela sorriu e eu revirei os olhos.

  - Você é tão cínica quanto ele.

  - Tia Beth sempre diz isso – ela sorri como se eu lhe tivesse feito um enorme elogio e eu fecho a cara no instante seguinte. Essa magricela definitivamente gosta de Theo e por mais que eu finja que não, isso me incomoda pra caramba.

  - Vocês se conhecem há muito tempo? – pergunto sem ter realmente certeza de que quero saber a resposta. – Você e Theo?

  - Tem oito anos – ela sorri de um jeito nostálgico. – Ter chegado a essa fazenda foi a melhor coisa que me aconteceu. Não entendo como alguém pode não gostar daqui – ela alfineta e sei que é de mim que está falando, sorrio amarga.

  - Também não sei por que alguém se mudaria – sussurro. E ela me olha curiosa.

  - Disse alguma coisa?

  - Que é bem a cara de uma roceira dizer algo como isso. Pernilongos e lama? Não obrigada, eu passo – digo ficando de pé e vejo o rosto dela ficar vermelho.

  - Eu realmente achei que pudéssemos tentar ser civilizadas, mas estou vendo que é impossível!

  - Ainda bem que percebeu a tempo – sorrio irônica. Alice está prestes a me responder quando a caminhonete caindo aos pedaços de Theo estaciona a alguns metros e ele desce. Desta vez está sozinho, seu sorriso ao nos ver me derrete toda e me amaldiçoo por isso, nem fingir que não me importo eu consigo.

  Alice desce as escadas da varanda e vai ao encontro dele, Theo a abraça de forma carinhosa e a demonstração de afeto dos dois me faz ferver por dentro.  Não é ciúmes, não mesmo, só irritação por toda essa melação. Como claramente eu não tenho nada a ver com o momento irritantemente íntimo deles, sigo pela entrada lateral da varanda e desço, o céu de fim de tarde num misto lindo de laranja, amarelo e rosa me encanta, ainda estou andando quando me dou conta de que dei a volta na casa e estou ao lado do pé de manga cujo o balanço pendurado em seus galhos parece exatamente igual.

  Olho em volta e não tem ninguém por perto, e é só por esse motivo que me aproximo e me sento no balanço, testo para ver se não corro o risco de despencar dali, mas ele me parece firme, me seguro nas cordas que o prendem e encosto a cabeça ali, fecho os olhos por um instante e sou de novo aquela garotinha cujos sonhos pareciam ao alcance da mão.

  - Achei nunca mais veria essa cena – uma voz me assusta e dou um pulo do balanço. Theo está parado um pouco atrás de mim com um sorriso de tirar o fôlego.

  - Isso é algum mal entendido, eu nem devia...

 – Esse sem duvidas ainda é o meu lugar favorito de toda a fazenda – ele diz me interrompendo e dando um passo quase inconsciente em minha direção.

  Eu não me movo e no instante seguinte estamos cara a cara a uns trinta centímetros de distância e quase posso vê-lo erguendo o braço e colocando uma mexa do meu cabelo atrás da orelha como sempre fazia e é por isso que me afasto aos tropeços, com o coração a mil e uma súbita vontade de chorar, Theo parece perceber o que estava prestes a fazer e se recompõe, mas o sorriso ainda está em seus lábios.

  - Desculpe. Eu só fiquei surpreso de vê-la aqui – ele diz e só assinto, não sei o que dizer então me viro e dessa vez vou fugir, por que olhá-lo nos olhos a centímetros de mim e não poder tocá-lo dói tanto quanto doía quando fui embora.

  - Por que não me olha mais nos olhos? Minha baixinha jamais fugiu de qualquer coisa que fosse. A cidade te deixou mole, Lilly? – ele provoca e me viro com o rosto corado.

  - O que exatamente você quer de mim, seu idiota!? Argh! Pra que eu preciso olhar na sua cara se já sei que qualquer comentário que fizer dirigido a mim vai ser pra me irritar? – rosno e vejo o sorriso dele aumentar, Theo está claramente se divertindo as minhas custas.

  - Ah, ai está a baixinha desboca da qual eu me lembrava, pensei mesmo que tinha virado aquelas riquinhas sem opinião.

  - O dia em que eu não tiver opinião sobre alguma coisa eu vou estar morta! E para de me chamar de baixinha! Eu tenho 1m60cm, não sou baixinha!

  - Você tem 1m58cm, mentir ter dois centímetros a mais não vão fazê-los reais. E sim, você é baixinha – ele diz calmamente e estou com o rosto pegando fogo agora, num misto de vergonha e raiva.

  - Seu idiota! Cala a boca! – berro lhe dando as costas e seguindo outra vez para dentro de casa, ainda posso ouvir as gargalhadas de Theo enquanto me afasto, sem querer acabo abrindo um sorriso também. Minha altura sempre seria motivo de piada pra ele e me irritar sempre foi seu hobby favorito desde que eu me lembrava.

  - Que gritaria foi aquela? – Alice pergunta assim que entro na cozinha e tia Beth sorri divertida.

  - Ela e Theo estavam conversando, não é?

  - Seu filho é um idiota, tia – é tudo que digo me sentando em uma das cadeiras da mesa.

  - Conversando aos berros? Quem faz isso? – Alice ainda não se convenceu.

  - Eles fazem, desde sempre – tia Beth sorri nostálgica voltando às panelas, tenho certeza de que se lembrou de alguma discussão épica minha e de Theo, não é muito difícil, nós tivemos várias.

  - Eu não consigo acreditar que você morava aqui – Alice me olha de cima a baixo começando a descascar as batatas. – Logo você? Com esses saltos quinze e maquiagem impecável?

  - Pessoas mudam, evoluem – digo encarando minhas unhas bem feitas, sem conseguir olhar para nenhuma delas. – Às vezes para a melhor, às vezes para a pior, só depende do ponto de vista.

  - Às vezes só estão se escondendo, levantando muros, barreiras e vestindo disfarces – a voz de tia Beth me pega de surpresa e levanto os olhos para encará-la, ela sorri como se pudesse enxergar minha alma. E talvez possa, eu até pouco tempo atrás, sempre fui transparente.

  - Pode ser também – dou de ombros ficando de pé. – Vou subir, tenho que fazer uns cálculos, no fim talvez trabalhar faço o tempo correr mais depressa.

  - Trabalhar agora, Lilly? Precisa mesmo? Que tal nos ajudar com o jantar?

  - É Lia. E eu não cozinho – digo um pouco mais debochada do que pretendia e vejo o sorriso de tia Beth vacilar um instante, mas ela se recompõe e nega coma cabeça.

  - Tudo bem. Mas volte quando puder.

  - Voltar? – pergunto sem entender a meio caminho da porta que leva à sala. Tia Beth descarta a pergunta com um aceno e volta às suas panelas.

  Subo as escadas correndo os dedos pelo corrimão de madeira polida e suspiro. Tem dois dias que estou aqui e a confusão de sentimentos parece que vai me esmagar a qualquer momento. É dor, medo, raiva, mas também saudade, felicidade e mesmo que eu finja que não e me negue com todas as forças a ver, amor. Por esse lugar, por essas pessoas, pelas lembranças que cultivei aqui e por ele. Sempre ele.

  Peguei minhas roupas e me dirigi ao banheiro, o banho foi demorado e eu confesso que passei a maior parte do tempo pensando na vida. Nos motivos de papai, por que aqui? Por que ele fez isso comigo? Por que me torturar assim? Eu não consigo pensar em motivo algum, principalmente por que ele nunca fez o tipo que castigava, esse sempre foi o papel da mamãe, meu pai era quem me pegava aprontando alguma, dependendo do que fosse, me encobria ou fingia não ver, cansei de ser tirada de encrencas por ele. Por isso não conseguia mesmo entender seus motivos.

  Quando desci outra vez de banho tomado, saltos e maquiagem, tia Beth e tio Jorge, seu marido e pai de Theo, Theo e Alice já estavam sentados à mesa.

  - Só estávamos esperando você – tia Beth sorri.

  - E graças a Deus você apareceu – Theo reclama. – Da próxima evita acabar com a água do mundo e banha mais rápido.

  - Vou só fingir que não está aqui – digo me sentando e o vejo dar um sorriso.

  - Fico feliz que tenha vindo passar uns dias aqui – tio Jorge sorri pra mim. – Como está o seu pai?

  Nós começamos uma conversa sobre as lojas e papai e a todo momento sinto o olhar de Theo sobre sim. Depois que o assunto morreu apenas continuamos comendo em silencio, um bem desconfortável uma vez que sentia todos os olharem sobre mim. Theo esticou a mão sobre a mesa para pegar o sal e eu notei pela primeira vez o que parecia ser um bracelete de couro em seu pulso direto.

  - O que é isso? – perguntei sem conseguir me conter, ele me olhou parecendo surpreso de eu ter falado.

  - Isso o quê?

  - Isso – indiquei seu pulso. Não era bem um bracelete, parecia mais um emaranhado de cordões de couro que foram enrolados mais de uma vez ao redor do seu braço.

  - Nada – ele puxou a mão e segurou a pulseira. – Isso definitivamente não é nada.

  - Não é o que parece.

  - Mas é o que é. Não era você a senhorita Não Fale Comigo? Por que todo esse interesse agora? – ele pergunta me encarando com seus incríveis olhos azuis, mas dessa vez não recuo.

  - Por que todas essas voltas? Se não quer me dizer é só falar – revirei os olhos e fiquei de pé subitamente irritada. – Obrigada pelo jantar e com licença.

  - Vai fugir, Lilly? – o ouvi perguntar, mas não me dei ao trabalho de me virar para olhar.

  Subi pisando duro e só parei no banheiro para escovar os dentes e tirar a maquiagem entes de me trancar no quarto. Joguei os saltos longe e coloquei um dos meus muitos pijamas de flanela nada estilosos. Essa era a única hora do dia que eu me permitia ser a velha Lilly, aquela que tinha pavor a maquiagem, que vivia com os cabelos despenteados e adorava cavalgar e correr pela fazenda sem me preocupar com nada.

  Joguei-me na cama e mesmo que isso fosse ridículo e idiota eu, como em todas as noites, peguei o colar de couro que eu guardava como se fosse meu próprio coração, e talvez seja mesmo, ao menos parte dele, e coloquei no pescoço e o apartei, eu já conhecia cada detalhe do pingente de madeira entalhado de forma rústica, ele tinha o formato da metade de um coração e tinha duas palavras gravadas “amo e para” assim, avulsas não significavam absolutamente nada, mas quando unidas a outra metade do coração, eram uma declaração de amor, aquele tipo de amor que todos queremos encontrar um dia. Um amor que muitos diziam ser eterno.

  Encarei a lua que aparecia na janela pela cortina que eu tinha esquecido de fechar e girei o pingente entre os dedos. Eu já havia dito milhares e milhares de vezes nesses últimos dez anos que o jogaria fora, já disse que atearia fogo ou daria descarga nele, mas sempre, até durante meus ataques de fúria, eu mudava de ideia, essa era a única coisa da minha vida antiga, a única coisa que era da “Lilly” que eu guardava e única que eu não conseguia pensar em me livrar. E todas as vezes que o colocava e via as palavras gravadas me lembrava da nossa promessa, nós ficaríamos juntos para sempre e esse colar com um pingente rudemente entalhado era, por assim dizer, nossa aliança.

  Era ridículo, mas mesmo depois de ir embora, de ser esquecida e trocada por Theo eu ainda não conseguia me livrar da última coisa que me ligava a ele, mesmo depois de ter outros namorados, de ficar noiva e ter uma aliança de verdade, ainda assim eu continuava dormindo todas as noites com o colar no pescoço e o guardando com a minha vida. Eu era uma farsa, uma grandessíssima e completa farsa. Forte e decidida? Estava mais para idiota e chorona. Mas eu decidi há muito tempo atrás que nunca mais deixaria ninguém me ver assim. E o que eu tinha feito desde que cheguei aqui? Só chorava, hesitava e gritava, exatamente como fazia quando era adolescente.

  Esse maldito lugar estava derrubando todas as barreiras que eu havia criado ao longo dos anos e eu precisava evitar que isso acontecesse a todo custo, por que não estava disposta a me machucar outra vez por quem quer que fosse, nem mesmo por Theo.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando e quero opiniões!!
Beijocas, Lelly ♥



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