Aprendendo a Recomeçar escrita por Lelly Everllark


Capítulo 2
Reencontros extremamente precoces.


Notas iniciais do capítulo

Ahhh meus amores, voooltei! E bem rápido dessa vez.
Gente! Esse capítulo é o da semana, Ok? Isso significa que, talvez não tenha capítulo no fim de semana, é que o feriado, pode ou não render mais um capítulo u.u
E eu não sei se falei pra vocês, mas eu estou escrevendo meu TCC (a faculdade tá acabando, finalmente!) e não é difícil, mas é, como qualquer outro livro (artigo? coisa escrita? Sei lá kkkk) trabalhoso e exige tempo e estudo, então se eu sumo ou demoro é por esse motivo, Ok? Não pretendo abandonar vocês, mas tenham paciência comigo, sim? ♥
BOA LEITURA!!



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“Ela se cansou

Não quis mais o amor de um cowboy

Mas ela me deixou

E como um pássaro voou

 

Ela trocou a bota e o chapéu

E agora mora num arranha-céu

E fala que tem vergonha de nós

Diz que não gosta de cowboy

 

Ela trocou a bota e o chapéu

Por um brilhante preso em um anel

E fala que tem vergonha de nós

Diz que não gosta de cowboy”

Ela não gosta de Cowboy — Loubet.

  Meu pai provavelmente está tentando se livrar de mim. Não tem outra explicação para eu estar a quase uma hora andando a pé nesta maldita estrada de terra, de salto alto e debaixo do sol. Eu sei o tempo que leva da vila até a fazenda, como poderia me esquecer se o fazia todos os dias muitos anos atrás? Mas naquela época além de companhia eu também tinha sapatos adequados. Olhei para os meus pés sujos e doloridos e quis não pela primeira vez, desde que ele anunciou que eu viria pra cá, matar papai.

  Quando meu pai anunciou minha sentença e eu percebi que não tinha como fazê-lo mudar de ideia respirei fundo e tentei negociar, achei que já que estava sendo mandada para o fim do mundo pelo menos minhas coisas viriam comigo, ledo engano. Papai foi categórico quando disse que eu estava sem cartão de crédito e sem carro, basicamente viria com minha coleção de bolsas e roupas de marca, mas era só, não tinha direito de trazer mais nada. Eu estava tão em choque que a próxima pergunta demorou um pouco mais para se formar, só que por fim consegui perguntar a ele como chegaria aqui se não tinha mais carro, papai teve a audácia de sorrir quando me respondeu.

  - Como milhões de brasileiros se locomovem todos os dias, Lilly. Você vai de ônibus.

  Talvez depois dessa eu tenha surtado um pouco. Mas eu tinha direito, né? Papai estava ficando louco e eu tinha horror a ônibus, preferia andar a pé com meus saltos, que naquelas latas de sardinha motorizadas que eu via pela janela do meu porsche branco incrivelmente lindo. Mas agora não fazia mais diferença, né? Eu havia passado pela tortura e já estava aqui arrastando minhas malas por essa poeira desejando não pela primeira vez que alguém, qualquer um viesse me buscar.

  Eu sabia que papai tinha feito tudo isso de propósito, os cartões, o carro, a viajem de ônibus, a falta de carona. Era tudo para me testar, para ver se eu aguentava. Ele havia me dado um cartão com dez mil reais e tinha dito que esse era meu orçamento para a festa que tinha que realizar no fim do mês, ele queria que eu mobilizasse toda a vila, aquele amontoado de casas que não tinha evoluído nada em dez anos não podia ser chamado de cidade, com essa mixaria? Mas devia saber que essa não era a facada final, não mesmo, a cereja do bolo foi ele me dando cinco notas de cem e falando que era isso que eu teria para passar o mês, como alguém vive com quinhentos reais por mês? Papai tinha ficado louco, não adiantava mais discutir, eu já estava planejando usar o dinheiro da festa para o meu bel prazer quando ele sorriu e disse que se a festa não fosse um sucesso eu definitivamente não teria meu cargo na empresa de volta, empregada sim, administradora executiva da sede da empresa? Nem tanto. Meu pai era um monstro sem coração de sorriso gentil, isso sim.

  O toque do meu celular me tirou dos meus pensamentos. Parei no meio da estrada mesmo, aqui nesse fim de mundo esquecido por Deus o máximo que poderia acontecer era eu ser atropelada por uma carroça ou uma caminhonete caindo aos pedaços. Olhei o identificador de chamadas decidindo se valia à pena ou não atender.

  - Oi papai! - usei meu tom mais falso quando finalmente apertei a tecla verde. - O senhor está bem? Curtindo o ar condicionado aí de casa?

  - Estou ótimo, Lilly. E você também está pelo que posso ver. Já chegou? — ele perguntou divertido. Papai me conhecia da cabeça aos pés. Era a única pessoa para a qual eu nunca soube mentir, ele conhecia minhas birras e ironias e sempre se divertia as minhas custas.

  - No meio do nada, foi aonde eu cheguei. Ainda dá tempo de mudar de ideia, por favor.

  - Lilly, querida — ele suspirou. - Você ainda vai me agradecer por isso.

  - Nunca! 

  - Se você diz, não vou discutir. Quando chegar me liga. Te amo e só quero que seja feliz.

  - Também te amo - respondi de má vontade como uma criancinha birrenta e ele desligou.

  Guardei o celular no bolso e olhei a estrada a diante, não havia nem sinal de civilização, ou ao menos a casa da fazenda que eu ainda me lembro tão bem, não havia nada, só terra, mato e algumas vacas do outro lado da cerca de arame farpado que não tinha fim. Sentei em cima da minha mala branca e cara que a essa altura já estava marrom decidida a esperar meu fim.

  Suspirei e fiquei de pé dois minutos depois, eu não era assim, não seria a falta de asfalto ou minha dor nos pés que me fariam desistir, eu cumpriria essa maldita exigência do meu pai e voltaria para a minha cobertura de luxo. Ele veria só. Dei dois passos e a rodinha da mala prendeu em uma pedra, eu estava tão furiosa com a situação que tinha perdido toda a classe, os meus cabelos curtos já estavam grudando na nuca com o suor. Quando finalmente soltei a mala a teria atirado na cara de alguém se tivesse alguém por perto. Mas foi aí que quase por um milagre uma caminhonete brotou no fim da estrada atrás de mim indo em direção a fazenda.

  Eu não sabia se continuava ali e esperava que me dessem uma carona por livre e espontânea vontade ou contava simplesmente que era filha do meu pai e exigia que me levassem até a fazenda. Mas no fim não precisei decidir, a pessoa que estava dirigindo teve que parar por que eu estava no meio da estrada. Quando a caminhonete vermelha (caindo aos pedaços, óbvio!) parou, a poeira baixou e eu pude enxergá-la melhor, arregalei os olhos, a marca que mais parecia um furo e que na verdade não era nada disso, que a caminhonete tinha na porta do passageiro era inconfundível.

  Deus, se você está aí por mim faça com que seja qualquer um menos ele, eu não estou pronta, não assim de supetão. Ele vendeu esse troço que mal funcionava naquela época, não é a mesma caminhonete nem é ele. Não mesmo.

  -Você precisa de...? - quando o motorista finalmente deu a volta e me viu sua pergunta morreu.

  Nenhum de nós dois se moveu, ninguém disse nada, eu nem mesmo sabia se estávamos respirando. Eu mesma não me lembrava de como se fazia isso.

  Seus olhos azuis me encaravam surpresos, o cabelo escuro bagunçado a camiseta preta, a calça jeans apartada e parcialmente suja, as botas, o cinto com a enorme fivela, era ele em todos os sentidos. A voz era a mesma, o jeito de me olhar, até seu cheiro, nós estávamos a uns dois metros um do outro e eu conseguia sentir seu cheiro inconfundível. Theo estava parado a minha frente, era ele, eu sabia que sim. Estava diferente, maior em vários sentidos, mas ainda era ele, meu coração se alvoroçou e eu queria fugir dali e chorar.

  Deixei-me levar por esses sentimentos tão arrebatadores apenas por um instante, depois disso respirei fundo, empinei o nariz e dei o meu melhor sorriso debochado.

  - Vai ficar parado aí até quando? Você está indo para a fazenda, certo? Pegue minhas malas - apontei as duas malas paradas ao meu lado, Theo ainda piscava como se eu fosse uma assombração. Ele nunca foi dado a fingimentos, era fácil ler sua expressão e ele estava chocado em me ver ali no meio da estrada, aparentemente ninguém tinha se dado ao trabalho de dizer a ele que eu passaria umas férias forçadas aqui pelas próximas semanas. - Você ficou surdo nesse meio tempo, Theo? Eu disse pra pegar minhas malas.

  - Lilly? - ele perguntou com um meio sorriso me olhando de cima a baixo. Ele parecia em choque, mas claramente também estava se divertindo as minhas custas. Ele sempre foi o idiota número um, papai era o dois. - É você mesma?

  - Não me chame assim! E dá pra me levar logo embora dessa maldita estrada antes que os pernilongos me devorem?

  - Seu pai não mentiu quando disse que estava diferente. Outra pessoa eu diria - ele sussurrou parecendo decepcionado. Não posso fazer nada por ele, por que essa garota aqui foi quem me tornei para conseguir seguir em frente.

  - Sou mesmo, outra pessoa, então não me chame de Lilly. Meu nome é Cordélia, Lia se quiser. Agora pode me tirar daqui ou não?

  - Você quem manda, princesa - ele disse divertido e resisti ao impulso de grunhir, eu nem havia chegado à fazenda ainda e já não estava mais suportando esse lugar.

  Tentei, tentei mesmo não reparar em Theo enquanto ele pegava minhas malas e as jogava sem o mínimo de cuidado na carroceria da caminhonete, ele não era mais o garoto de dezoito anos que tinha me deixado dez anos atrás, era um homem, um lindo, forte e bronzeado, com quase 1m90cm de altura e braços enormes devido ao trabalho na fazenda, como eu fingiria por incontáveis trinta dias que até seu cheiro não me lembrava mil e uma coisas que eu fiz de tudo para esquecer nesses últimos dez anos?

  - Você está me ouvindo? - ele perguntou divertido e eu pisquei sendo pega no flagra encarando-o. Como me recusava que ele me visse corando desviei os olhos para a vaca mais adiante que ruminava tranquila há quase meia hora no mesmo lugar.

  - O que foi?

  - Perguntei se consegue se mover com essas coisas nos pés ou precisa que eu te pegue no colo como peguei as malas.

  - Como!?

  Theo riu indo em direção à caminhonete.

  - Anda logo, Lilly. Se minha mãe souber que está vindo hoje, provavelmente deve estar preocupada com você a essa altura do campeonato.

  - Como se isso fosse da minha conta - resmunguei subindo na caminhonete e batendo a porta, ela não fechou e Theo me olhou feio.

  - Além de diferente também está com a língua mais afiada, é?

  - É você quem está dizendo, não eu - revirei os olhos puxando a maldita porta que não queria fechar. Theo era o mesmo e até o interior da caminhonete estava um pouco igual, por que até a porta meio emperrada tinha que me lembrar do passado?

  Como se tivesse feito isso pela última vez ontem, o moreno esticou o braço a minha frente, agarrou a maçaneta da porta e a puxou com tudo a fechando como fazia todas as vezes que saíamos nessa geringonça caindo aos pedaços. Encarei a estrada a minha frente decidida a ignorar cada pequena coisa a minha volta, não olharia para Theo, nem repararia em seus músculos quando passava a marcha, nem em seu cheiro, nem no pingente de coração desbotado preso ao espelho da caminhonete, nada disso é da minha conta. Fiquei calada, de nariz empinado e braços cruzados, não cederia, não podia ceder, por que se eu o fizesse tinha certeza de que estaria perdida e teria meu coração já muito ferido, partido outra vez pelo mesmo homem.

  Antes de passarmos pelos enormes portões de madeira onde se lia “Fazenda Recomeço”, e Theo estacionar em frente à enorme casa em que vivi metade da minha vida eu podia jurar que o ouvi sussurrar algo como “Você não mudou nada, Lilly”.

    Virei-me para dizer a ele que havia mudado sim, que não era mais a garotinha de quinze anos que tinha saído daqui, mas Theo foi mais rápido, colocou minhas malas no chão e sumiu indo em direção aos estábulos no instante seguinte. Olhei em volta e me vi perdi em um mundo de lembranças, o pé de manga mais adiante ainda tinha um balanço preso em seus galhos, o caminho de pedras que levava até a porta de entrada estava gasto e parcialmente engolido pela grama, mas continuava igual e mesmo sem querer olhei em direção ao caminho que eu sabia levar até a cachoeira, quando minha mente viajou até lembranças nas quais eu definitivamente não queria pensar, balancei a cabeça.

  - Eu sou a Lia e não me importo. Não tenho nada a ver com nada disso – disse em voz alta como um mantra e puxei as malas em direção a porta de entrada.

  Não me importar ia ser a coisa mais difícil que eu teria que fazer nesses próximos dias.

  Entrei em casa como um furacão desejando subir direto para o meu quarto e poder me trancar lá até dar o dia de voltar para casa. Mas meus planos foram frustrados quando bati de frente com alguém, só não cai por que tinha prática em me manter de pé em saltos com tudo girando.

  - Olha por onde anda! – rosnei para quem quer que fosse, não estava com paciência para ser gentil com ninguém. Levantei os olhos e dei de cara com uma garota que parecia ser mais nova que eu, com cabelos escuros e compridos e olhos tão escuros quanto. Ela usava um short jeans, uma regata cor de rosa e botas curtas, uma verdadeira roceira.

  - Você esbarra em mim e eu tenho que olhar por onde ando? – ela perguntou sustentando meu olhar com o rosto vermelho.

  - Exatamente. Olhe por onde anda por que dá próxima de atropelo com minhas malas de grife, roceira – sibilei e vi a garota ficar roxa de raiva. Toda essa raiva com uma desconhecida era fruto do meu recente encontro com Theo e eu sabia disso, mas eu estava irada de mais para me importar com.

  Passei por ela e subi as escadas, a ouvi me gritar, mas não me dei nem ao trabalho de virar, se eu desse sorte ela era só alguma entregadora de produtos que eu não veria nunca mais. Rumei em direção aos quarto e fui até a porta branca com detalhes cor de rosa dos quais eu me lembrava bem. Girei a maçaneta morrendo de medo do que encontraria.

  Mas para minha surpresa o quarto estava como eu me lembrava, a cômoda cheia de quinquilharias inúteis que ninguém tinha se dado ao trabalho de jogar fora, o guarda-roupa grande e entalhado em madeira, o criado mudo, só a cama tinha sido substituída por uma de casal, fora isso, era o mesmo quarto que eu havia deixado há dez anos atrás. Larguei as malas no meio do caminho e sabia que me arrependeria disso, mas fui até a cômoda para ver o que tinha em cima dela. Vidros vazios de perfume cujos cheiros me lembravam um mundo de coisas, caixas desbotadas de jóias com bijuterias escurecidas dentro, havia até um velho batem esquecido, me surpreendi ao vê-lo ali, afinal eu sempre perdia meus batons e brincos, eles sempre terminavam com Theo.

  Assustei-me quando a lágrima pingou na superfície do móvel muito bem limpo apesar das quinquilharias que tinham ali. Tratei de limpar meu rosto, não choraria, não mais, já havia gastado lágrimas o suficiente com ele, me recusava a gastar mais.

  - Ah, então você está mesmo aí – uma voz disse e dei um pulo de susto. Tia Beth me encarava do batente da porta exatamente como eu me lembrava, o vestido florido, o coque feito com uma trança, só os cabelos pareciam mais grisalhos. – Você está chorando, Cordélia? – ela perguntou preocupada e me virei de costas para ela tratando de limpar o rosto o mais depressa que conseguia.

  - Não! Não estou chorando. O que a senhora quer? – perguntei me forçando a ser educada, se fosse qualquer outra pessoa eu já teria mandado embora aos gritos, mas tia Beth, a mãe de Theo, eu não podia, ela tinha ajudado a me criar, eu nutria por ela o mesmo respeito que por mamãe.

  - Eu achei ter ouvido sua voz e acabei topando com a Alice que disse ter sido atropelada por uma patricinha histérica, quis vir ver se era você. Estou realmente surpresa que seja.

  - Decepcionada? – perguntei com amargura. – Entra na fila – resmunguei.

  - Decepcionada, não. Como eu disse, só estou surpresa, mas se conseguiu achar o caminho para o seu quarto ainda posso ter esperanças. Vou avisar ao Theo que chegou talvez vocês queiram...

  - Ele já sabe, e nós não queremos nada, pode ter certeza – murmurei com o lábio tremulo, quando é que esse maldito sentimento de que eu tinha perdido tudo sempre que eu tocava no nome dele iria passar? – A senhora pode me deixar sozinha? Vou desfazer as malas.

  - Lilly? – ela chamou e sua voz preocupada me deixou ainda pior.

  - Por favor – continuei sem olhá-la, mas escutei quando a porta fechou. Nesse instante me joguei na cama ciente de que estava sendo fraca e estúpida, mas não conseguia conter. Chorei por alguns minutos em silêncio, mas me repreendi por isso e me refiz no instante em que me lembrei como terminamos, o que ele fez e como me senti.

  Eu não tinha mais quinze anos e me recusava a chorar outra vez por Theo Sales, ele não tinha mais esse poder sobre mim e provaria isso para ele e para mim mesma, nem que para isso eu tivesse que arrumar um namorado aqui nesse fim de mundo.


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Notas finais do capítulo

E é isso espero que tenham gostado!!
Beijocas e até, Lelly ♥



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