Enquanto sentia-se desligando de sua forma material, Raquel passou a temer a forma como começara a perder suas lembranças: aos poucos, porém de forma constante. Seu antigo chefe foi-se embora rapidamente, a primeira perda; seus colegas de faculdade, já desfigurados no velório, perderam-se por completo; seu pai e outros familiares esvaíram-se. A moça vivenciava a desassociação como se despencasse de uma alcantilada colina, com a memória do túmulo da mãe como o último gancho que a segurava à sua passada experiência terrena. Quando este gancho, também, se desmanchou, Raquel encontrava-se tomada pela libertadora sensação de que nunca pertenceu à vida.