Desde que tomou amor pela bebida, Shinsou sempre preferiu seu café assim: Amargo.
Por mais que às demais pessoas vivessem reclamando daquele saibo, o sabor forte era simplesmente revigorante para o rapaz. Tanto que ele nunca fez questão de experimentar sua versão adocicada propositalmente. Estava bem em desfrutar da bebida escura em seu estado mais "puro".
Além de tudo, através de comentários e algumas pesquisas por curiosidade, ele descobriu que beber café sem açúcar também tinha suas vantagens, algumas das quais confirmou por experiência própria. O gosto de outros alimentos, por exemplo, sempre parecia melhor quando ele tomava a bebida pura. O doce tendia a tirar essa essência dos petiscos, tornando sua degustação um pouco menos prazerosa. Outra coisa que ficou sabendo é que o café sem açúcar, possivelmente, poderia ajudar com suas dores de cabeça, o que era ótimo, afinal, esse era um problema incômodo e constante que ele enfrentava em sua vida – sua individualidade não ajudava nada a melhorá-las também. E tinha a crença popular de que a bebida tirava o sono, ou dava mais energia a quem a bebia, e para alguém como ele, isso era o mesmo que uma benção. Enfim, saber dessas coisas só aumentavam o apreço do rapaz pelo tão adorado amargo.
Não era de se estranhar que café adocicado nunca tenha sido algo no qual ele tivesse interesse, inclusive, ele podia contar nos dedos às vezes que o bebeu assim. A partir do momento que teve total controle sobre as doses de suas canecas, ele nunca mais despejou um grama sequer de açúcar por escolha própria. Geralmente, suas poucas experiências com o doce haviam sido culpa de outras pessoas.
Com ela inclusive, foi assim.
Tudo aconteceu nos dormitórios da U.A. em uma certa manhã. Eles estavam em seu segundo ano e Shinsou já havia sido transferido para o curso de heróis, tornando-se oficialmente o vigésimo primeiro aluno da 1-A. Bem, naquele dia, o garoto acordou algumas horas mais cedo do que o do costume e não conseguiu voltar a dormir, optando apenas por suspirar e descer até a cozinha, no intuito de comer alguma coisa.
Chegando lá, porém, Hitoshi foi surpreendido com a presença de uma outra pessoa que, por algum motivo, parecia ter acordado ainda mais cedo do que ele próprio. Seria mais um caso de insônia?
Esfregando os olhos e aproximando-se devagar, o garoto parou e bocejou, logo reconhecendo o curto cabelo acastanhado como pertencente a sua colega de nome Uraraka. Sem muito entusiasmo – o que para si era algo esperado –, Shinsou murmurou um educado “bom dia” pelas costas dela, vendo-a assustar-se antes de virar para olhá-lo, sorrindo ao retribuir o cumprimento. Logo, ele puxou uma cadeira e sentou-se, passando a encarar a mesa silenciosamente. Infelizmente, o rapaz não era muito o tipo de pessoa que puxava assunto.
— Quer café, Shinsou-kun?