Oclusiva escrita por S Q, WSU


Capítulo 9
Nightmares (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é o com mais ação até aqui. Não precisam se assustar, mas recomendo que leiam com calma, pois há uma sequência muito rápida de acontecimentos, repleta de detalhes.
Espero que tenha ficado bom ;)



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Os carros na rodovia passavam o mais longe possível, pois a cena dava mais medo do que curiosidade. Contudo, um veículo que já vinha acelerado, de farol alto aceso avançou rápido e bravamente para aquele lado. Dele saltou uma dupla obstinada, vestida de maneira bizarra; uma roupa metade armadura, metade praticamente todas as armas de fogo existentes. Mais fácil dizer que pareciam incineradores. Saíram simplesmente avançando para o carro de Trap sem explicar muito, fazendo menção de levar com eles os desacordados que estavam ali.

— Mas que porra é essa?! — exclamou Pedro.

Os homens instintivamente viraram as armas em direção a ele.

— Não faça perguntas. — disse o mais alto. Mello rangeu os dentes por mais aquela interrupção, estava se enrolando demais. Soltou seus seres de trevas para cima deles, mas entre as pistolas que carregavam tinha um aparelho que Pedro nunca vira antes, sacado no momento certo e espalhando a névoa que formava seus seres.

— Estamos bastante acostumados a lidar com seres sobrenaturais, meu caro. Somos os mais preparados, no caso. E podemos até te ajudar... se nos ajudar. Vimos pela internet o que é capaz de fazer. Aliás, bela maneira de "fugir" da polícia: o interior de Minas e Bahia nunca teve tantas lives. — Giovani riu, desdenhoso. Félix complementou, com presunção — Será capturado mais cedo ou mais tarde. web-celebridade em ascensão! Aconselho vir com a gente, assim não será fichado e poderá assistir de camarote o término do serviço que começou. — falou apontando para Carol e Jonas, que ainda se contorciam. Pedro, por sua vez, riu daquela proposta tão descabida.

— Até parece, me ajudar! Estavam tentando levar meus reféns na surdina! Que diacho são vocês e o que realmente querem?!

Félix e Giovani, então, mostraram suas credenciais de empregados pelo laboratório da MutaGenic .

— Você não faz ideia do material de estudo que estaria nos disponibilizando, liberando suas vítimas. Pode deixar, se quer vê-los mal, garanto que lá dentro será um inferno na Terra para todos seus inimigos. Só preciso que se alie conosco. Caso contrário, — Félix mostrou um poderosíssimo atordoador com o selo do laboratório enquanto Giovani apontou para outras peças da vestimenta especial que usavam — Nós conseguimos nos virar. Ah, e chamamos a polícia.

Mello bateu palmas.

— É realmente uma ótima negociação. Pena eu já ter percebido que estavam tentando fazer essas coisas também comigo. — E jogou energia atordoadora para cima da dupla. Eles espalharam as partículas destruidoras formadoras das sombras com umas das armas que carregavam e apertaram em um botão na parte superior de cada uma, atirando simultaneamente em Pedro. Ele se desviou a tempo, tendo apenas ferido o ombro de raspão. Ali enfureceram o homem para valer. O "Maluco do Vídeo", codinome que os memes na internet já estavam lhe dando só pela a transmissão conjurada nos circuitos de mídia, invocou rochas negras flutuantes e atirou-as com tudo contra os agentes laboratoriais. Eles se abaixaram bem a tempo.

— Hora da arma suprema! — gritou Félix para o colega. Giovani acenou afirmativamente com a cabeça. Os dois correram então, lançando cordas na direção de Pedro. Elas tinham um material complexo que bloqueava as ondas cerebrais de Mello para o mundo externo; uma versão mais agressiva do traje desenvolvido para Isabela, o que na prática não permitia que ele conjurasse nada. Ao perceber que não conseguia contra-atacar depois de laçado, ele começou a urrar de raiva.

— Não adianta dar pití! Seus poderes, seja lá de onde forem, não funcionam com nossa tecnologia aqui.

Carol e Jonas começavam a se recompor do estado infernal em que Pedro os pusera. Respiravam com certa dificuldade, mas conseguiram se levantar aos poucos. Algo não saía da cabeça da agente: nem Mefisto seria capaz de fazer alguma coisa parecida. Havia algo muito errado acontecendo por trás dos panos. Um humano comum jamais conseguiria ter domínio sobre uns dos maiores poderes das trevas já vistos. Jonas, por sua vez, se preocupava com outra coisa: os funcionários da MutaGenic. Estava com razão pois mal amarraram Pedro, foram caminhando agressivamente na direção deles dois.

Agora que já cuidamos do maluco, temos um garoto com capacidades sobre-humanas e enfraquecido dando sopa para a gente! — Félix disse esfregando as mãos tal qual uma mosca ao ver um pão doce na padaria. Jonas atirou uma gosma que era capaz de soltar pela mão contra a dupla de homens, mas foi em vão; eles se desvencilharam delas facilmente com os trajes que usavam e Félix o puxou pelo pescoço.

— Você vale ouro. — falou sorrindo gananciosamente. Mas a fala foi interrompida por um tiro no braço que usava para levantar o rapaz.

— Larga ele! — Trap falou com sua arma em punho, obstinada novamente, mas ainda tremendo pela tortura. Giovani avançou em sua direção a fim de dar-lhe uma coronhada, mas a agente conseguiu desviar a tempo e prender-lhe numa gravata. Jonas aproveitou para chutar o queixo de Félix que o largou atordoado, levando ainda uma voadora rápida do Aracnídeo, caindo justamente por cima de Pedro, o que acabou afrouxando a corda onde estava preso. Se já não bastasse a confusão, alguns dos que estavam desmaiados no carro começaram a acordar e gritavam desesperados, por dor e susto de estarem apertados uns contra os outros enquanto rolava a briga violenta do lado de fora. Mello aproveitou o mínimo espaço que conseguiu com o afrouxar das amarras e a ira que sentia de tudo aquilo, para invocar o número máximo de seres que conseguiu. Sua voz saiu monstruosa formando palavra em latim:

— Conteret Omnia! — Houve em seguida um estrondo tão forte que os heróis simplesmente pararam suas lutas com os enfermeiros especiais da MutaGenic, e até os recém - acordados reféns se silenciaram, suando frio. Uma das maiores nuvens negras já vistas no Brasil cobriu a estrada. Dela, milhares de bestas saíram voando, atordoando os presentes na insólita cena. Uns batiam, outros, sufocavam, corroíam, enfim, os bichos começaram a destruir qualquer coisa que estivesse à frente. Não importavam mais as lutas, o que podia ser feito era correr para se salvar enquanto os campos ao redor do acostamento sucumbiam. Pedro se elevou no meio da cena:

— Ninguém pode mais me atrapalhar! Dêem as boas-vindas à minha nova boa vida! Ao apocalipse de todos que me ferraram! Eu serei a encarnação do pesadelo na vida de vocês! — E gracejando, declarou. — Se quiserem me chamar de O Problema, me sinto lisonjeado.

Ria-se ante a cena de pesadelo real que tinha criado. Meio de felicidade, meio de nervoso. Não sabia mais exatamente o que faria com a situação criada. Continuava focando em torturar, mas evitava o momento de dizimar aquelas pessoas. Havia ainda um sentimento ligeiramente incômodo naquilo tudo, ao mesmo tempo em que não conseguia mais conter seu ódio e sede por vingança. "Mate eles e isso termina" "Não posso ser covarde de não assistir" eram pensamentos que passavam em sua cabeça. Se concentrando, e respirando com dificuldade, quando finalmente decidiu dar o comando de execução final tudo que conjurara simplesmente parou, como se tivesse congelado.

— O... QUÊ?! PORRA...SEUS PEDAÇOS DE POEIRA IMBECIS, É PARA ME OBEDECER!!!

Mas ao invés disso, milhares de raios começaram a subir por tudo que Pedro tinha armado. Era uma voltagem tão intensa que em segundos, geraram um clarão e as massas sombrias por onde subiram foram todas pelos ares, virando literalmente poeira. Ouviu - se, em seguida, um trovão. Na frente de Pedro, pego totalmente de surpresa, um esboço elétrico de corpo feminino, cabelos flamejantes e olhar mortífero deixou-se mostrar.

 

— Não. "O Problema" aqui não é você. Sou eu.

 

 

Há situações em que tudo que nos preenche nos faria chorar. Mas também existem outras e mais outras, tantas, que vão secando a reserva de lágrimas que existe no fundo de nossa alma. Até que um momento o choro acaba. Ficamos com a única reação que nos resta: o riso. Ele é a expressão máxima da alma, a principal demonstração de felicidade. Quando não há mais lágrimas disponíveis, em seu desespero, a alma só pode rir.

Assim foi o riso de Isabela ao encarar Pedro Mello. Assim foi o riso de Pedro Mello ao encarar Isabela. A hora em que luzes e trevas se re-encontravam.

— Mas o que é o destino, não é mesmo? — Pedro zombava, rindo de nervoso. — Já não acha que chega de atrapalhar minha vida, assombração? Não deveria estar presa ou morta?! Que raios você é?!

Enquanto falava ele mexia lentamente as mãos, prestes a conjurar novamente tudo que podia para cima dela, mas dessa vez, a forma luminosa de Isabela deu-lhe um choque antes que conseguisse. E entrou no jogo:

— Eu? Atrapalhar alguém? — deu uma pausa já ajustando a visão para atacar — Sabe como me chamavam na cadeia? Oclusiva. Era só não provocar que nunca teria ouvido falar no meu nome.

Uma rajada negra veio em sua direção, antes que os olhos disparassem. Ela sacudiu rapidamente o corpo, desviando a tempo. Precisava se concentrar. Estava nas suas mãos. Era o teste final de seus poderes. O resultado daquilo seria como tudo ou nada: salvaria o dia mesmo sendo anormal, ou teria que fugir para sempre. Lembrar isso não ajudou, e assim, caiu de costas no chão ao ataque seguinte de Pedro. Derrubada, olhou na direção de uma moita e viu lá Guilherme, mesmo tendo orientado ele a deixá-la ali, pelo perigo da situação. Tinham muitas vidas indefesas em jogo para que se permitisse vacilar. Levantou-se em milésimos de segundo e usou seu controle de radiações para gerar uma onda que também derrubasse Mello. Incansável, ele mal tropeçou para trás, já estava prestes a contra-atacar.

— Mas o que vocês ficam esperando?! — Ela berrou para as outras pessoas que estavam ali. — Aproveitem que enquanto apanho e fujam, ajam, façam alguma coisa! Eu não tô aqui a toa, tá bom?! — E levou um tapa na cara de Pedro Mello, ao terminar de falar. Sem largar a mão do rosto dela aproveitou a breve vulnerabilidade e concentrou seu poder ali, começando a lhe causar espasmos.

— Cala a boca, vadia! — Nisso, o castigo que aplicava começou a fazer a forma radioativa de Isabela falhar. Pedro conseguiu ver seus olhos sem os lazers. Passou um filme em sua cabeça — Você?! Há, é oficial: não aceita que já perdeu, não?! Eu te desintegrei, derrubei um presídio em cima de você, material radioativo e ainda assim... Ah... Por isso que é uma aberração. Já foi derrotada. Por mim. Antes de tudo isso. E para o resto da sua vidinha infeliz. — gargalhou mais doentiamente ainda. Aquelas palavras fizeram Isabela tirar um ódio sabe-se da onde para voltar a maldição aplicada contra ele mesmo, numa onda elétrica imensamente forte. Mas o "maluco do vídeo" também não se deixava vencer fácil. Contra-atacou com tudo. Os dois acabaram demandando exaustivamente o máximo de seus poderes. Raios de um lado, trevas do outro, numa quase queda de braço entre superpoderes para ver quem cairia primeiro.

Trap e Jonas, enquanto isso, ajudavam os reféns de Pedro recém acordados.

— Calma, já vamos embora. — Embora os vigilantes estivessem bastante intrigados com aquela figura elétrica, haviam vidas indefesas a se salvar e no momento isso era o mais importante.

Giovani, terminando de se recuperar do atordoamento, viu o corrompido saindo em direção ao carro de Trap e num rompante, decidiu atacar por trás. Guilherme vinha correndo do fundo da mata do acostamento no mesmo instante. Ele até tentou permanecer escondido na ambulância por dentro da trilha que usou com Isabela para chegar ali, como a morena instruiu ameaçadoramente. Mas os trovões ouvidos estavam lhe desesperando, não conseguia ficar simplesmente aguardando enquanto ela podia estar apanhando ou coisa pior. Ao alcançar a estrada, a primeira coisa que viu foi o enfermeiro com uma adaga na direção de Jonas:

— Olha para trás!

O jovem virou os olhos e mais rápido que o atacante, cegou-lhe com uma borduada nos olhos.

— Já estava sobre controle. — O adolescente disse, não conseguindo deixar de se mostrar nem naquela situação. — Mas foi uma boa tentativa de ajuda.

— Ahn, obrigado, eu acho.

Carol se enfezou:

— Pelamor, vão ficar tricotando no meio disso? Ô da camisa do Bahia, volta para seu mato se quiser se salvar, não cabe mais um fio de cabelo aqui dentro! Arac, vamos levar esse restante depressa!

Pedro e Isabela que ainda duelavam perceberam quando o carro deu partida. A garota já imaginava como o oponente iria reagir, então, mexeu os braços em forma de onda, soltando uma última descarga elétrica que fez Mello voar para trás, antes que pudesse impedir a fuga. Ele conjurou suas forças novamente a tempo e ficou suspenso no ar, sem cair. Ela por sua vez, esperava a pior resposta possível pelo seu golpe, então acelerou mais e jogou uma última rajada de energia onde ficava armazenado o combustível do blindado da agente. Antes que os passageiros dessem conta, o carro saiu tal qual um rojão, perigosamente, mas ficou fora do alcance de Pedro. Aquele "olé" deu um ânimo extra para a já cansada criatura oclusiva. Mas foi passageiro; ela logo sentiu o chão tremer. Pedro Mello em sua ira pôs as duas mãos no asfalto e canalizava seu poder através da terra, causando uma rachadura na estrada que crescia ameaçadoramente na direção da moça.

— Depois de um show de pirotecnia o que é mais uma estrada esburacada no Brasil? — O homem de capa e cabelos cacheados zombava — Pena que não dê para ir contra a gravidade com suas luzes neon.

Isabela ergueu os olhos eletrônicos na direção de Guilherme. Precisava mais que nunca, pensar rápido. O torcedor tinha ficado para trás, ao voltar a se esconder atrás da mata do acostamento. Estava com sorte por Pedro ainda não tê-lo notá-lo, mas no ritmo que a coisa avançava, em pouco tempo o chão cederia lá também. Giovani e Félix estavam do lado oposto da pista, mas esses ela não se sentiria tão mal por não conseguir salvar. Nesses 0,5 segundos de observação, teve uma ideia. Não era agradável, contudo faltavam alternativas melhores. Voltou à sua forma normal.

— A-aahhh, eu não...me d-desculpa, v-você estava certo, sou só uma... aberração! Frustrada! N- não quero morrer! Me tira daquiiii!

   Com seus óculos escuros Pedro se atrapalhou nas palavras seguintes. Não havia sido ele mesmo um adolescente infeliz? Não estava ali agora querendo mostrar seu poder ao mundo? Sacudiu a cabeça. — Francamente, eu tenho mais trabalho a fazer do que ouvir perdedoras patéticas! — E chamou mais bestas. Se apoiou nelas forçando uma pose imponente — Vamos atrás daqueles outros idiotas. Já desperdiçamos muito tempo aqui!

Saiu abandonando Giovanni, Félix e Isabela para trás, em meio às fendas. Porém, sem seus comandos, as rachaduras não aumentavam mais. A menina ficou lá, de pé, sem cair mais nenhum centímetro. 

 

 


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