Oclusiva escrita por S Q, WSU


Capítulo 4
Can't Be Tamed


Notas iniciais do capítulo

Imagem inicial referente à forma que Isabela assume ao liberar a totalidade dos poderes. Nos próximos capítulos, virão outras imagens para ilustrar melhor. Espero que gostem ;)



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A inteligência de Isabela não lhe ajudava a se sentir surpresa com as coisas que descobria. Mas não conseguir ver o próprio corpo, foi um pouquinho demais, e criou uma espécie de ansiedade nela. Conforme o sangue foi fervendo cada vez mais de adrenalina, sua energia se concentrou na maior bomba lazer que já havia feito na vida: todo o presídio tremeu.

Com isso, mais liberação de estimulantes no sistema cardiovascular.

Conseguiu reverter o sentido da radiação emitida e captar uma imagem do presídio inteiro de uma só vez: um cenário certamente apocalíptico.  Na imagem, podia ver inclusive a si mesma, como estava agora: um vulto de pessoa, com chamas no lugar dos cabelos e os olhos num tom perigosamente azul, que certamente nada tinha a ver com seus olhos normais: eram puras partículas aceleradas, prontas para serem disparadas e causarem um estrago enorme. A própria pele absorvia a radiação presente no lugar então se parecia com um camaleão, só que radioativo; os próprio espectro de luz que saía de si ganhava ritmo e coloração tais que só era possível ver um vulto.

O presídio inteiro podia ser observado por ela agora e, em consequência, conseguira ver Pedro Mello. Também sabia que ele tinha notado uma possível ameaça. Não tinha tempo para se acostumar àquela forma ativada no calor da emoção. Precisava agir.

Rajadas de fogo vieram em sua direção no mesmo instante em que super acelerou desferindo um golpe a 300 m/s na barriga de Pedro. Gargalhou de nervoso: as flamas que ele mandou passaram por ela como se não houvesse nada ali.

— MAS QUE PORR... —  Antes que o sujeito, caído assustado no chão, completasse a frase, Isabela aproveitou para lhe desestabilizar ainda mais: jogou a brasa em que o cabelo havia se transformado na cara dele, enquanto berrava para as outras duas mulheres que Pedro torturava:

— Corram logo, lerdas! Ele vai recuperar as forças a qualquer momento!

E estava certa: mal elas se levantaram cambaleando, ele, ainda sem ter se recuperado gritou sem ar para as criaturas de energia negativa que conjurara:

— Botem pra FUDER!

Sombras avançaram na direção  das três, as mais fortes indo de encontro com Isabela. Essa atirou com os olhos em cima dos espectros, antes que se materializassem completamente e correu na direção dos outros, aniquilando-os da mesma forma. As mulheres, mesmo aterrorizadas ficaram de boca aberta com a garota. Aquilo estava indo muito mais longe do que Mello planejou.

— Sua pirralha! Você arruinou minha vida de vez... Mas não vai acabar com a minha VINGANÇA!

— Mas que raios você tá falan… AAAAARRGGHHHH!

Pedro apelou: tocou nela concentrando toda a magia infernal que possuía para cima da moça. Não ligava mais para as outras duas que fugiam desesperadas, de modo destrambelhado, vendo sua salvadora sucumbindo daquela forma. Foi algo tão forte que nem uma das meninas mais rápidas do mundo conseguiu dobrar o tempo para escapar. Narrar o que ela estava sentindo seria impossível, foi tudo de uma vez só: voltou ao normal e começou a se auto sugar, num intenso atrito consigo mesma, os olhos revirando, o esqueleto em espasmos, sangue saindo de suas entranhas. Pedro só parou quando acreditou que já estivesse morta. E  disse vitoriosamente, de maneira psicopática:

— Pentelha insuportável, sempre aparecendo na hora errada e no lugar errado. Heh, agora não tem mais como me atrapalhar. Perdi a velha gorda e a patricinha, mas… conquistei um prêmio que nem imaginava bwahahah. Achar a dona do meu orfanato não vai ser difícil assim, garotinha. Muito menos a puta da minha ex. Vou ferrar as duas de qualquer maneira e consegui um brinde. — Fez uma pausa reflexiva — Morreu em vão garotinha. —  suspirou —  Acho que nesse momento  eu poderia sentir pena… — arregalou os olhos com o que disse. Então sacudiu rápido a cabeça  — Não, emoções não fazem parte do pacto! Já fui benevolente demais demorando para atacar essas pessoas. Elas que realmente arrancaram minha alma! —  Ainda assim olhou mais uma vez, hesitante, para o que tinha feito. O estado do lugar era realmente deplorável, tremeu um pouco ao observar as ruínas e os corpos pelo presídio, mas precisou se curvar para cuspir o sangue proveniente do soco que levara de Isabela. Converteu o que quer que estivesse sentindo por raiva novamente: — Não posso ser um servo fraco.

Agarrando a capa, se retirou dali.

 

 

 

Vala subterrânea - Mesma Tarde

 

 A confusão estava maior que o normal. Vários seres das trevas estavam reunidos brigando entre si. Tudo porque desde o ataque à prisão, as energias do lugar saíram da frequência habitual balançando as mínimas estruturas das terras obscuras.

— Ninguém me disse que isso era exclusividade do Mefisto!

— Eu te dei um voto de confiança e você conseguiu fazer isso ainda pior que ele! Não se fazem mais asseclas como antigamente! — No momento que apenas a voz desse ressoou pelas crostras da vala todos os outros, criaturas mais perigosas do universo, arregalaram os olhos e puseram o rabo entre as pernas.

— Desculpe, chefe… — Um declarou

— Desculpe? Desculpe?! O que você disse?! Agora escutem aqui. Ninguém está aqui para pedir desculpa! — Falou com a voz mais monstruosa que possuía. — Consertem essa bagunça ou vão aí sim vão aprender o que é pedir desculpa! Seus merdas incompetentes.

   E foi embora, mas não sem antes derrubar todos que estavam ali.

— Dar os segredos das valas para um moleque fraco fazendo vingancinha. Era só o que me faltava. Pior foram as faltas de energias de pesadelos que tivemos. Não dá para fazer castigos bons assim. — Comentou consigo o mais inferior dos seres.

 

 

 

MutaGenic - Base de São Paulo - Três dias depois

 

Isabela abriu rapidamente os olhos. Ainda estava assustada com o que Pedro Mello lhe fez e queria revidar. Precisava revidar. Ling correu para o seu lado no mesmo instante:

— Calma, calma. Você está bem agora. Está muito bem.

Ela piscou depressa. Só então começou a reparar onde estava: num quarto branco, cheio de máquinas que não conhecia.

— Por um acaso… eu… morri?

Ling riu satisfeito. Os poderes de Isabela não estavam funcionando ali dentro. Ele mandou seus subordinados encherem o quarto com todos os materiais anti-radioativos possíveis, assim que conseguiu a oportunidade de trazer a garota para lá. Por isso ela não conseguia compreender o que estava acontecendo. Inclusive, mesmo acordando assustada, não houve nenhum raio;nada. Ele aproximou as mãos do rosto da garota, visto que agora sabia que estava seguro examiná-la melhor, mas ela grunhiu:

— Não toque em mim!

Nem tudo estava sob controle naquele lugar. O velho cientista já esperava por isso. Levantou os braços e se afastou em defesa.

— Eu te conto todos os detalhes de como veio parar aqui contanto que me deixe examiná-la melhor depois.

Ela ponderou um pouco. Não estava mais acostumada a raciocinar devagar. Sempre tentou segurar os poderes mas agora que estava sem eles, se sentia… estranha. Acabou respondendo:

— Não sei mais se quero saber.  

E se levantou meio desesperada, indo o mais rápido que dava em direção à porta do quarto. Era uma decisão tola, mas estava atordoada, precisava ir para fora. Tinha tido um pico de eletrocinese e agora, depois de muito tempo, era como se o corpo estivesse limpo. Se livrar era tudo que sempre quis, mas recuperara a fragilidade no momento mais inoportuno possível. E não haviam respostas.

Ling se pôs na frente da menina e falou sério:

— Você está na MutaGenic. Eu não arriscaria sair correndo por esses corredores com um uniforme de cobaia. Com certeza já ouviu boatos suficientes sobre nós para saber do que estou falando. E já viveu muitas desgraças por nossa causa.

Só então ela olhou para baixo e viu que estava vestindo uma camisola de hospital. Nela estava escrito: Experimento 0.

Voltar para a cama era tentador para a criatura ainda esgotada de sobrecarga e perdida por ter se desacostumado à normalidade. Mas ao mesmo tempo, tão aterrorizante quanto ficar amarrada a um ninho de predadores.

— E você acha que vou ficar aqui parada, enquanto confirma todos os medos de anos dos meus pais?! Não mesmo. — Em seguida, deu um chute nas pernas de Ling desestabilizando-o e aproveitou para tentar correr novamente. Já estava com a porta aberta quando o chinês disse entre dentes:

— O medo do seu pai não é da Mutagenic. É dos corrompidos. E sua mãe… ela falou comigo esses dias, você sabe que ela não consegue confiar no próprio discernimento por não ser “estudada”.— falou imitando a maneira de Josefina falar.

— Até parece que eu vou acreditar em qualquer coisa que você diga. — Ela comentou debochada. Já estava confusa demais para ele ainda tentar aliviar a barra da empresa nessa altura do campeonato. Preferiu ao invés disso, continuar correndo atrás de qualquer sinal de alguma saída, só correr. Depois descobria como tinha acordado ali. Aliás, precisava também entender o que tinha acontecido na cadeia. De onde saíra aquele cara que não via há anos e como ele ficou tão poderoso? Enquanto corria atormentada por todas essas coisas, sentiu algo como uma corrente elétrica correndo em suas veias; um vazio que não havia percebido até então como era grande, começava deliciosamente a passar. Parou de correr, respirando fundo, entre a normalidade e seu estado habitual. No meio de toda aquela confusão, estava começando a aceitar o que sabia que já deveria ter internalizado há anos: os poderes se tornaram parte de quem ela era.  E não dava para voltar atrás.

— Ling, seu nome né? — disse, apoiando o braço na parede, os cabelos voltando a liberar energia. Os olhos estavam voltando a ficar como na noite da briga na cadeia de tanta determinação para cumprir o plano que passou por sua mente em menos que milésimos de segundo — Me conte tudo que você sabe. — E virou-se para ele encarando-o de frente, a carga ocular aumentando. — Eu quero toda a verdade. Do contrário, sabe que consigo te matar. — E queimou o jaleco dele. O homem começou a tremer dos pés à cabeça

— V-vamos lá para…

— Aqui no corredor. — Ela declarou impassível.

 

 

 

Ruínas do Presídio de Guararé

 

Muitos jornalistas, fofoqueiros, investigadores e até mesmo alguns políticos de Guararé estavam no local até aquele dia. Desde o fim da própria madrugada o lugar estava assim atolado de gente. Não se falava de outra coisa no interior da Bahia. Ainda estavam sendo localizados muitas das presidiárias, contudo o enfoque da mídia era para a filha delinquente do dono da rede Glam’s. Aparentemente ninguém tinha notícias da localização da garota e parecia que os pais dela haviam se tornado inacessíveis. Na verdade, Romário e Josefina sabiam exatamente onde a filha estava, mas não iam revelar isso à ninguém. Ling soube do ocorrido mais cedo que os dois, pois além da ex-namorada e da dona do orfanato onde cresceu, uma das mulheres que Pedro atacou, era justamente uma antiga faxineira da MutaGenic, que havia indicado no dia do incidente que tinha visto o delinquente invadir o laboratório de pesquisas químicas. Ela, após fugir do presídio, foi buscar ajuda no lugar conhecido mais perto dali: a sede do antigo emprego. Ling ligou logo em seguida para Romário, pedindo para cuidar de sua filha em troca de tirá-la daquele lugar sem envolver o empresário. Garantiu também enviar-lhe resultados de exames que testassem se Isabela era uma corrompida ou não.  Josefina foi comunicada sobre o acordo mais tarde, e mesmo indignada, não tinha o que pudesse fazer. Lhe aconselharam ainda a não atrair atenção da imprensa e continuar com suas novenas.

As informações que os jornais tinham eram que um sujeito chamado Pedro Mello havia invadido o presídio e feito duas reféns. Quem salvou-as não foi nenhum membro de algum grupo heróico, mas sim, um ser “muito brilhante”, “atirava raios e fogo” na descrição de uma de suas vítimas, no caso, a tal antiga dona do orfanato onde Pedro crescera. O que todos se perguntaram é o que seria esse ser misterioso. E muitos sociólogos e políticos de whatsapp aproveitavam para causar caos: onde estavam os vigilantes nesse momento? Como a polícia tinha deixado um homem entrar no presídio feminino? Esse ser era bom? Onde ficariam as presidiárias sobreviventes tendo em vista a superlotação das penitenciárias brasileiras? Secretários da prefeitura de Guararé acompanhavam o trabalho dos investigadores. Esse era resumidamente o cenário de caos do antigo presídio.

Infiltrada no meio disso, Carol estava entre os agentes que notificavam os corpos encontrados. Ela também queria saber porque nenhum envolvido com sua Frente tinha sequer ideia do que pôde ter acontecido.


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Notas finais do capítulo

A Frente Unida/vigilantes e a agente Carol podem ser encontrados em WSU: A Frente Unida.
Carol também aparece em: Karen Maximus.



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